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Sobre o tempo que a magia leva para acontecer

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Eduardo Berlim[1]

É certo que, se o meu amigo anônimo CAIO não fosse tão ansioso quanto aos efeitos de seus trabalhos mágicos, este tipo de conversa jamais teria ocorrido. Porém, como não é o caso, posso dizer que foram muitas as conversas pertinentes a este tema. Afinal, qual é o tempo necessário para que uma magia ocorra? E caso ela demore demais, o que devo fazer?

Há uma ansiedade latente em nossos tempos que nos faz perder de vista o tempo necessário para qualquer ação. Nos acostumamos com os instantâneos stories do Instagram e com os vídeos do TikTok, e isso parece nos fazer esquecer que mudanças demandam tempo. Curiosamente, algumas das pessoas mais bem-sucedidas na nossa sociedade são justamente as que conseguem ter essa percepção em alguma área de suas próprias vidas. Isso é bastante evidente pela quantidade de influenciadores digitais do mundo fitness e do “meio maromba”: não dá para acelerar a velocidade com que um corpo fica “sarado”.

O tempo de maturação de uma magia depende muitas vezes de uma gama de fatores que nos são desconhecidos e uma série de pequenas questões precisam se ajustar para alcançar o resultado. Isso acaba fazendo com que alguns praticantes emendem um trabalho no outro, com a esperança de que eles possam resolver a questão. Mas, como diz um amigo meu: “nove mulheres não fazem um filho em um mês”.

A verdade é que toda ação de magia depende da chamada ‘via de manifestação’, que é o caminho pelo qual a magia age no mundo real. Nunca me esqueço de alguns relatos sobre pessoas que fizeram a chuva acontecer ou parar em determinada localidade e, por mais de uma vez, reiterei que o fenômeno físico é facilmente explicado no campo da ciência: não há nada de misterioso na formação de nuvens, sua locomoção e as causas que fazem com que elas se precipitem e causem a chuva. O que há de mágico nestes fenômenos está em como o mago moldou a vontade do fenômeno ao seu favor em determinado local e período.

Não são novos os relatos sobre alguém que realizou um ato estranho e criou uma redoma em meio à tempestade para que não chovesse em meio a um ritual a céu aberto ou mesmo para desfrutar de um piquenique. Um círculo seco em meio ao temporal é um fenômeno climático deveras raro, mas é possível que seja tão raro quanto encontrar um mago realmente capaz de realizar tal feito. Meteorologicamente, há uma explicação, e aí está a ‘via de manifestação’.

Da mesma forma, me lembro de uma história sobre a ação de uma magia específica realizada por um marido em prol de sua esposa. Esta queria trabalhar em uma determinada empresa por motivos que me escapam da memória e teve uma entrevista marcada. Mesmo com a magia feita, ela não foi aprovada e seu currículo entrou na lista dos “inaptos para a vaga”, fazendo com que suas chances estivessem arruinadas – afinal, que empresas olham novamente para currículos já descartados?

Os meses seguintes foram complicados, pois a esposa fora demitida de seu emprego. Acabou por aproveitar o tempo para estudar e fez uma nova especialização em segurança da informação ou algo assim. Por intermédio de um de seus colegas de curso, acabou conseguindo uma vaga em outra empresa. Quase um ano após sua negativa na empresa almejada, foi chamada a concorrer a uma nova vaga na mesma empresa, que encontrou seu currículo como profissional de segurança de dados. Ela foi aprovada e terminou por descobrir que a empresa buscava aprimorar seu banco de dados desde que um ex-funcionário havia destruído um enorme banco de dados da empresa, onde constava sua entrevista e reprovação.

Esse tipo de “estranha coincidência” ocorre com certa normalidade no meio mágico. Este caminho tortuoso pelo qual os Espíritos ou demais forças agem em busca do resultado nos dá duas informações valiosas sobre as ‘vias de manifestação’: elas necessariamente precisam existir e você não deve se preocupar com elas nem por um único instante.

O melhor dos escritores talvez não fosse capaz de produzir uma obra de ficção convincente com o mesmo número de coincidências que a realidade traz nessas situações, mas vale lembrar que não é apenas na magia que isso ocorre. Afinal, quantas coincidências e momentos únicos em sua vida precisaram ocorrer para que você chegasse até aqui, neste texto? Talvez tenha passado por uma ou duas faculdades, um punhado de empregos, talvez até uns cinco ou seis divórcios, para que resolvesse cuidar dos aspectos empacados na sua vida. Pode ter topado com um ou dois vigaristas até ver um podcast com algum tipo de Marcelo Del Debbio ou Marcos Keller que citou o Morte Súbita e, em busca da melhor qualidade de conteúdo ocultista no Brasil, você acabou por aqui. Ou talvez você só tenha jogado no Google algo como “Espíritos são capazes de falar?” e acabou aqui do mesmo jeito…

No fim, o que vale desta pequena conversa é compreender que a magia pode precisar de um tempo maior para manifestar aquilo que você busca em sua vida. Um trabalho para encontrar um grande amor pode te trazer algumas unidades de péssimos namorados que vão te desiludir, fazendo com que você se torne uma pessoa completa por si mesma, que encontrará outra pessoa completa – ao invés de tentar ser a metade da laranja de algum Fábio Jr. Ou pode ser que aquela magia financeira demande que as lojas dos concorrentes vão todas à falência no teu bairro para que você possa prosperar (especialmente se você esqueceu de incluir no sortilégio cláusulas para não fazer mal a outrem em teu prol).

Nem todo ato mágico funcionará rapidamente. Mesmo quando eu uso o arcano do Carro para acelerar a fila do Outback, eu preciso esperar (às vezes tem umas cem mesas na minha frente, afinal). Velocidade não combina tão bem com magia. Pelo menos não com magia bem-feita. Lembrem-se sempre de que o que vem fácil, vai mais fácil ainda e que só damos valor ao que nos custa caro.


Eduardo Berlim é músico, tarólogo e estudante de hermetismo com vasta curiosidade. Tem apetite por uma série de correntes diferentes de magia e se considera um eterno principiante. Assumidamente fanboy dos projetos da Daemon e das matérias do Morte Súbita inc.


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