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Embora seja menos celebrado do que outros grimórios, o Clavis Inferni se destaca pela sua ligação, tradicionalmente atribuída a São Cipriano, que o tornou um emblema da sabedoria esotérica pretendida pelo livro. Efetivamente, é um manual de evocação que atrairá especialmente os magistas mais tradicionais. Ele detalha métodos para chamar e controlar demônios, bem como rituais de proteção e feitiços. Para aqueles interessados neste tipo de magia, organizei um curso de cinco horas no qual detalho toda a estrutura deste sistema e compartilho algumas dicas práticas, frutos de minha própria experiência.
Acredito que este livro também tem algo a oferecer a todos os magistas, independentemente do sistema que praticam, particularmente no que diz respeito à evocação de entidades. Vamos explorar alguns desses aspectos:
Autoridade
Existe um problema em praticar magia completamente desvinculada da religião, como proposto pela Magia do Caos: sem o suporte de uma egrégora forte, recai sobre o magista toda a responsabilidade de impor sua autoridade, que, convenhamos, é frequentemente tão fraca que não consegue nem impedir o consumo de junk food ou o abandono do vício em redes sociais. Essa fragilidade não é exclusiva da modernidade. O Clavis, assim como outros grimórios tradicionais, sempre soube que “a carne é fraca” e os demônios e entidades invocados também o sabem.
É por isso, e não por um pietismo superficial, que as invocações começam com Nomes Sagrados, Nomes de Poder ou simplesmente com frases como “Em nome do Pai”, “Em nome de Deus” e “Em nome do Senhor”. A ironia disso é que os mesmos magistas que se orgulham de não se submeter a Deus são os que acabam mendigando favores a servidores e agradecendo publicamente a eles com a humildade de um devoto fervoroso. Não estou sugerindo que o magista precise se converter, mas se você não possui uma força de vontade sobre-humana capaz de impor respeito a seres milenares, talvez seja prudente buscar uma autoridade que possua.
Legalismo
Em um mundo onde “vale tudo”, muitos magistas esquecem que podem estabelecer algumas regras. Muitos dos problemas que surgem em rituais de evocação poderiam ser evitados estabelecendo condições prévias de como a entidade deveria se manifestar. Vejamos o exemplo do Exclamatio usado no “Clavis Inferni”:
“… que apareças aqui ao lado do Círculo em bela forma visível humana, e sem qualquer distorção.”
ou ainda
“… que o chamado possa vir subjugado e constrangido a responder minhas perguntas satisfatoriamente, sem fúria, sem terror ou prejuízo, mas que ele possa ser rapidamente obediente a nós em todas as coisas.”
Por que se arriscar a interagir com algo horrível, ameaçador ou invisível, se você está no comando? Pense nisso.
Dedicação
Finalmente, percebe-se na contemporaneidade uma tendência a usar (e misturar) sistemas mágicos sem muito critério. Em um mesmo altar, encontramos figuras tão distintas como Ganesha e Lilith. Hoje, pratica-se Magia Enoquiana e amanhã canaliza-se um alienígena Arcturiano. Como resultado, o próprio refinamento e preparação para o uso de cada sistema acabam sendo prejudicados. Para seu próprio benefício, a pessoa convence a si mesma de que basta cartolina e canetinhas para utilizar as Clavículas de Salomão, o que definitivamente não é suficiente.
A falta de compromisso leva à falta de reverência. A falta de reverência leva à falta de dedicação. A falta de dedicação leva à pobreza dos resultados. Por isso, é fácil perceber que muitas das evocações modernas não passam de meros psicodramas. Os magistas modernos têm seus motivos para psicologizar seus sistemas, pois são, de fato, incapazes de conseguir a presença real das entidades.
Um magista do caos mal treinado irá, antes do ritual, não fazer nada (pois não acredita em nada) e, após o ritual, também não fará nada, a não ser tentar esquecer o que fez. Isso cria uma barreira interessante, pois se você realmente esquecer, não saberá que fracassou.
Por outro lado, todos os grimórios tradicionais atribuem grande importância ao que vem antes e ao que vem depois do ritual. Há uma pré-ritualística, que envolve a confecção dos instrumentos e a purificação de si mesmo e do ambiente, e uma pós-ritualística, que inclui não apenas rituais de banimento, mas também meditações, documentação e orações apropriadas.
Conclusão
Reforço aqui que nenhuma dessas críticas é direcionada A Magia do Caos em si, que eu mesmo por vezes uso e tenho bons resultados. Mas as faltas apontadas de fato existem, em especial em que nunca praticou outro sistema senão o caótico. Acredito que não é necessário escolher entre Caos x Tradição, “um ou outro” mas que ambos podem se beneficiar de um diálogo entre ambos.
Ao explorar as profundezas do “Clavis Inferni”, percebemos o valor inestimável dos conhecimentos antigos e a importância de uma prática mágica estruturada e respeitosa. Se você se sente atraído por essa fascinante vertente da magia cerimonial e deseja aprofundar-se ainda mais nos mistérios que não surgiram como uma ferramenta editorial mas são fruto do trabalho de magistas históricos que os desvendaram, convido-o uma última vez a participar do meu curso detalhado sobre o “Clavis Inferni“. Neste curso, não só exploraremos os intricados rituais e evocações descritos no grimório, mas também a hierarquia de seres descrita no livro, e a estrutura de evocação e pacto descrita nele de forma prática e segura, garantindo que você possa exercer sua prática com autoridade e eficácia.
Robson Belli, Estudioso e praticante da tradição esoterica ocidental, com foco em magia cerimonial (tradicional e moderna), colaborador fixo do MorteSubita.net . Cohost dos podcasts Bate Papo Mayhem, sendo também autor de inúmeros projetos e iniciativas relativas a magia cerimonial incluindo: Enochiano.com.br, Secretumsecretorum.com.br, Treinamentomagico.com.br, Lemegeton.com.br, Trithemius.com.br e muitos outros…
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