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ACHAD: o filho mágicko da BESTA

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 Rafael Ward Cury @SeuChaos

Assim como seu “pai”, foi uma das figuras mais controversas do ocultismo moderno. De profano contador a um dos graus mais altos de uma Ordem mágicka e secreta a filho mágicko de Aleister Crowley. Conheça agora a vida mágicka de Frater Achad e o “nascimento” do filho da Besta!

Charles Stansfeld Jones nasceu em Londres em 1886 e aos 20 anos, quando ainda trabalhava como contador, começou a voltar sua atenção para os mistérios da vida e a investigar o Espiritualismo, principalmente com a ideia de refutá-lo, já que além de profano era muito cético. Durante três anos, suas pesquisas o levaram por caminhos variados: espiritualismo, esoterismo, misticismo, fé e outros vários “ismos” da vida. De um lado, a vida profana; de outro, a busca pela luz.

Jovem Charles Stansfeld Jones , foto Restaurada por @SeuCHAOS.

No final de 1909, ele entrou em contato com a obra de Aleister Crowley por meio do livro “The Equinox vol I number I”, que tinha sido lançado no início daquele ano, Jones já teria entrado em contato com a A.A. por meio de uma caixa postal no final do livro, o mesmo já estava com o Juramento em mãos e em 24 de Dezembro de 1909 decidiu se tornar o vigésimo Probacionista da Santa Ordem. Após pensar cuidadosamente, ele assinou o Juramento de Probacionista sob o Motte de V.I.O (Unus in Omnibus) em latim, “Um em Tudo”, e iniciou seu trabalho mágico sob a instrução de um Neófito chamado Fuller (John Frederick Charles Fuller). Mais tarde, em 1913, depois de ficar cansado da fama repentina e das loucuras do tio Crowley e “por Crowley não o defender perante as calúnias do povo”, ele saiu da A.A. (Essa briga entre os dois envolveu uma figura muito conhecida ao público do ocultismo; Samuel Liddell “MacGregor” Mathers, um dos fundadores da ordem Golden Dawn, porém essa treta eu te conto outro dia.). Sendo assim, Crowley tomou V.I.O como seu instruído. Lembre-se que Jones tinha começado seus estudos em 1906, aos seus 20 anos. Em 1913, já eram sete anos de estudos ocultos quando a Besta o adotou. Jones estava no auge de sua carreira mágica até então e se esforçando ao máximo.

Crowley sobre isso :

“(Fra —— após uma semana evitando a primeira pessoa.

Sua fidelidade é boa; sua vigilância é ruim.

Não está nem perto de ser bom o suficiente para passar).”

Ao assinar o juramento de Neófito, Jones adquiriu o Motto ACHAD, que em hebraico significa “Um”, e que usou até o final de sua vida em suas publicações. Nesse tempo, Achad foi para a cidade de Colúmbia Britânica, no Canadá.

ACHAD em seu templo em Vancouver, onde iria se tornar a Loja Agape da O.T.O. Foto Retirada da palestra do “Michael Staley” e Restaurada por @SeuCHAOS.

Jones continuou seu trabalho com Crowley, até que decidiu tomar o Juramento do Abismo e se tornar um Mestre do Templo. Segundo ele, “tomar 8=3, caso fosse o que o Mestre realmente precisasse”, ou seja, reivindicar o grau de Magister Templi, ajudando assim no avanço de Crowley para o grau posterior, o grau de Magus, ocupando a posição mais alta na época, da hierarquia da A.A. Observe que, apesar dos votos de obediência, o serviço a um superior não faz parte do sistema ético da A.A. Jones assumiu a obrigação de Mestre do Templo (ou seja, “o Juramento do Abismo”) porque ele quis e só notificou Crowley depois.

A notícia veio como uma profunda revelação para Crowley. Nove meses antes, ele havia se envolvido em um conjunto de operações de magia sexual com Hilarion (Jeanne Foster) em um esforço aparentemente sem sucesso para conceber um filho. Crowley observou o intervalo de nove meses e concluiu que o “nascimento” de Jones como um “Bebê do Abismo” o qualificava como o “filho mágico” de Crowley e Hilarion. Ele deu as boas-vindas a Jones na Terceira Ordem e declarou que ele era seu “filho amado”. Eventualmente, instigado por sugestões de Jones e impressionado por suas percepções cabalísticas sobre O Livro da Lei, Crowley passou a considerar o homem mais jovem como a “criança” e o “um” profetizado em Liber Legis I:55-56 e passagens similares.

“Soror Hilarion”

De acordo com Richard Kaczynski autor de “Perdurabo” o fato de Crowley ter encontrado um sucessor como Magister Templi lhe dava o direito de avançar para o grau de Magus. O Magus era uma conquista especial, pois apenas sete outros no passado haviam alcançado esse grau Crowley juntou-se como o oitavo “Magus” na história da humanidade. Como Mago, a tarefa de Crowley era proferir uma palavra mágica que representasse a essência de seu ensinamento.

Inspirado pelo quinto ponto da Tarefa de um Zelator no sistema da A.A(5. Além de tudo isso, ele se dedicará a trabalhar para a A∴A∴ sob sua própria responsabilidade.)., Jones pediu a Crowley autoridade para iniciar o trabalho da O.T.O. no Canadá. O resultado foi a fundação da Loja n.º 1 da Colúmbia Britânica, onde os fundadores originais da Loja Agape foram iniciados. Baphomet (Aleister Crowley) não concedeu a ACHAD o Nono Grau até que demonstrasse conhecimento do suficiênte em correspondências com Crowley.

Em sua admissão ao Nono Grau, ele adotou o Motto (nome mágicko) Parzival. Jones tornou-se Grande Tesoureiro Geral depois que Crowley removeu George Macnie Cowie do cargo em 1918. Crowley e Jones logo entraram em desacordo sobre a administração dos fundos da Ordem, e Jones pediu demissão da O.T.O. porém Crowley não aceitou seu pedido.

ACHAD manteve seu trabalho tanto na A.A quanto na O.T.O. Em setembro de 1920, seis toneladas de livros chegaram do nada direto de Crowley, destinadas a ACHAD e o mesmo ficou espantado. Ele teve que implorar e pedir dinheiro emprestado para pagar o imposto de importação desses livros, que depois foram armazenados em um Depósito na cidade de Detroit. Ele os vendeu em paralelo, por meio da Universal Book Stores, em um esforço para “recuperar” seu dinheiro. Quando se mudou para Chicago, ele de alguma forma perdeu essas caixas – isso se tornaria um ponto de atrito entre ele e Crowley

Jones abriu uma caixa postal com o nome “Collegium ad Spiritum Sanctum” (Colégio do Espírito Santo) para vender os livros de Crowley e publicar seus próprios livros.

Em 1921, Jones juntou-se à “Universal Brotherhood” (U.B.). Esse grupo vinha recrutando ativamente entre os teosofistas há uma década ou mais, e Jones foi um dos vários Thelemitas proeminentes que acabaram aderindo.

Os métodos da U.B. envolviam correspondência um a um, com um elaborado conjunto de regras relativas ao sigilo estrito das instruções (uma mistura de A.A. com Serviços de Espionagem e Esquisoterices), envelopes dentro de envelopes, fitas roxas de máquina de escrever e clipes especiais. Os aspirantes recebiam palestras datilografadas sobre tópicos metafísicos, usando termos como “integralidade” e “partitividade”.

Em janeiro de 1922, quase 2 anos depois do início das vendas do Equinox por Achad e Ryerson, a franquia “Universal Books” estava falindo, e isso ajudou ainda mais a rolar uma série de “exposeds” na mídia local, que Ryerson chamou de “a bagunça na imprensa”. O primeiro desses artigos expôs a existência do “culto do amor” de Detroit, como os jornais divulgaram “O.T.O. A sacerdotisa nua do Equinox e o cristianismo morto na forca”. Se isso já daria “muito pano pra manga” hoje em dia, imagina naquela época, né?

Os jornais chocaram tanto seus leitores que um Promotor Federal comentou:

“Considero esse livro o mais notável e mais degenerado que já vi. Vou interromper a venda dele e instruir a polícia a apreender todos os exemplares encontrados nas livrarias desta cidade. Além disso, se houver um capítulo dessa organização em Detroit, nós o eliminaremos. Os ritos descritos em The Equinox exigem um tipo de conduta que não vamos tolerar em Detroit.”

Esse mau gerenciamento do dinheiro dos livros, azedou muito sua amizade com Crowley. Depois que dois de seus artigos foram publicados no periódico de Crowley (The Equinox) Jones publicou por conta própria seu livros; o primeiro “QBL”, era uma versão thelêmica resumida dos ensaios cabalísticos do “The Equinox vol I”, embora isso fosse aceitável. Seu livro seguinte, “Crystal Vision through Crystal Gazing” (1923), irritou Crowley por usar seus trechos não reconhecidos, de seu livro “Visão e a Voz” que Crowley decidiu cortar na edição antes de publicar o livro.

Em 14 de abril de 1923, Jones concluiu o manuscrito de seu próximo livro, “The Egyptian Revival”. Nele, ele alegava restaurar a ordem dos caminhos na Árvore da Vida, invertendo sua disposição convencional. Depois de terminar esse livro, ele teve uma visão que inspirou o topo de sua obra cabalística, “The Anatomy of the Body of God” (A Anatomia do Corpo de Deus)

Sobre os livros de seu “filho”, Crowley escreveu:

 “Os livros – mesmo sem contar a absurda nova atribuição proposta para os Caminhos – são irremediavelmente ruins em quase todos os aspectos – inglês, estilo, sentido, ponto de vista, oh, tudo! – mas eles podem fazer bem às pessoas para as quais foram escritos.”

 Em 1923, em outra entrada do diário de Crowley:

“Observe que Aleph brilha pela luz refletida de Binah e Beth, idem a de Chokmah. Assim, Parzival é um tolo por se enxergar acima de mim; eu sou um Magus!” Nessa entrada, o “velhusca dá aquela cutucada sincera em Jones”. Achad começa com a letra A em hebraico (Aleph); no tarô, isso significa “o tolo“.

Essa é uma crítica a Achad por ele ter mudado os Caminhos na Árvore da Vida no seu livro “QBL” e por afirmar ser um Ipsissimus.

“Annie Besant”

Em 1924, Jones estava supervisionando cerca de 70 membros da “U.B.” e elaborou um plano para incluir Thelema na U.B. como um “Corpo Integral”, que perpetuaria alguns materiais da O.T.O. e da A.A de acordo com ele “em sua forma pura”. Ele comunicou essa ideia a Wilfred Smith, que era seu instruído na U.B. e na A.A., mas o interesse de Smith pela U.B. já estava acabando. Annie Besant, como diretora da Sociedade filiação entre “Thelema” e a “U.B.”. Quando Crowley tomou conhecimento do envolvimento de seus seguidores, ele também denunciou a “U.B.” chamando-a de “fraude” em correspondência com Jones. Muitos dos que trocaram a Sociedade Teosófica pela U.B. sob pressão de Besant se converteram mais tarde ao catolicismo romano.

 

Mesmo depois de Achad ter se renunciado da O.T.O., Crowley não aceitou isso, e ele acabou sendo nomeado Grão-Mestre da América. Jones e o iniciado alemão Heinrich Traenker foram os Grão Mestres que confirmaram Crowley em sua sucessão ao cargo de Cabeça Externa da ORDEM em 1925. Porém, em agosto do mesmo ano, a separação entre A Besta e seu Filho já se tornava inevitável. Embora Jones tivesse ajudado Crowley a se tornar Cabeça Externa da Ordem, Crowley achava seus livros sobre a cabala intoleráveis.

Junto com a história do ACHAD não conseguir contabilizar as vendas de livros em Detroit, Crowley perdeu a confiança nele, suspendeu o cargo de O.T.O de Jones e colocou Max Schneider como responsável por seu estoque pessoal. Schneider chegou a Detroit e encontrou dois baús de coisas do Crowley desaparecidos, de um lado ACHAD jurando sua inocência e do outro Crowley acreditando ter sido roubado, a treta dos dois nunca mais seria resolvida.

Jones continuou em seu próprio caminho espiritual e por volta de 1930, ele se tornou Chefe da “U.B.”. Por volta dessa mesma época, ele se converteu ao catolicismo. Finalmente, em seu artigo “Os Ensinos do Novo Aeon”, ele atacou Crowley e Thelema: “…A Besta pode ser considerada como seu pior inimigo, mas Aiwass é evidentemente o inimigo da humanidade e deve ser reconhecido como tal, esse novo sistema, é deliberadamente calculado para provocar a autodestruição da raça humana….” Sua expulsão da O.T.O. ocorreu logo em seguida pela besta, embora formalmente só tenha sido feita em 1936.

Como Jones e sua esposa haviam se filiado à Igreja Católica, seus filhos foram criados como católicos. De acordo com Tony Stansfeld Jones (filho de ACHAD), os pais realizaram missas católicas em sua casa em Deep Cove por muitos anos e depois as realizaram em um salão comunitário local.

Mesmo Achad tendo sido expulso da O.T.O. em 1936, ele se considerou “Past Grand Master for the United States of America” até sua morte. Os livros que destruíram o relacionamento de Achad e Crowley permaneceram esquecidos em Detroit até serem redescobertos em 1958. A maioria dessa coleção foi parar no Harry Ransom Humanities Research Center em Austin, Texas. Achad morreu em 1950, três dias depois de ter sido internado com pneumonia, que pegou esperando por um ônibus, ele está enterrado no Cemitério de North Vancouver, Canadá.

Trecho de texto de ACHAD; “Mestre do Templo” que saiu no Equinox:

“Quaisquer que sejam seus erros, por mais pobres que sejam seus resultados ou que seus fracassos sejam ridículos, há uma coisa a ser dita: ele nunca voltou atrás.”


Rafael Ward Cury
São Paulo, SP, Brasil
06.09.2023
Autor: Rafael Ward Cury  @SeuChaos
Restauração de Imagens : @SeuChaos
Notas – Tales de Azevedo @Tauhanu
Correções e Layout : Débora Chabes & Rafael Salomão (Frater F418)

Bibliografia:


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