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C.W. Leadbeater 

Excerto do livro “Os Chakras” 

Transcorreram já cerca de vinte anos desde que escrevi a maior parte das informações que sobre os chakras contêm as páginas precedentes, e naquela ocasião era muito superficial o meu conhecimento da copiosa bibliografia que o idioma sânscrito possui sobre tal assunto. Contudo, desde aquela época se publicaram em inglês vários tratados importantes sobre os chakras; entre eles The Serpent Power, tradução  do  Shatchakra Nirupana, por Arthur Avalon; Thirty Minor Upanishads, traduzido por K. Narayanaswami Aiyar; e o Shiva Samhita, traduzido por Sri Chandra Vidyar- nava. Estas obras tratam extensamente dos chakras, mas há muitas outras obras que incidentalmente se referem ao mesmo assunto.

O livro de Avalon está ilustrado  com  uma  excelente  série  de gravuras coloridas de todos os  chakras,  na  forma  simbólica  em  que  sempre os representam os iogues hindus.

Este aspecto da ciência hindu é dia a dia mais conhecido no Ocidente; em atenção ao leitor, esboçarei um dados sobre esse particular.

SÉRIE HINDU DOS CHAKRAS

Os chakras mencionados nos citados livros sânscritos são os mesmos aqui expostos, com exceção do esplênico, substituído pelo swadhisthana. Diferem ligeiramente no número de pétalas, mas no conjunto coincidem com os de nossa série, ainda que por algum motivo não incluam o chakra coronário ao que chamam o sahasrara padma, ou  lótus  de  mil pétalas, limitando a seis os chakras propriamente ditos. Os autores hindus também observaram e devidamente descreveram o chakra de doze pétalas no interior do coronário. Ao sexto chakra atribuem duas pétalas em vez de noventa e seis, mas sem dúvida se referem às duas metades do disco desse chakra, mencionadas no capítulo primeiro.

As discrepâncias quanto ao número de pétalas não têm importância. Por exemplo, o Ioga Kundali Upanichade conta  dezesseis pétalas no chakra cardíaco? em vez de doze; e o Dhyanabindu Upanichade e o Sandilya Upanichade atribuem doze pétalas, não dez, ao chakra umbilical.

Alguns tratados hindus referem-se a outro chakra situado debaixo do coração e a vários outros entre o frontal e o coronário, todos eles importantíssimos. O Dhyanabindu Upanichade diz que  o  chakra  cardíaco tem oito pétalas, mas ao descrever o uso deste chakra na meditação, dá a entender, como mais adiante veremos, que se refere ao chakra cardíaco secundário já mencionado.

Quando à cor das pétalas, há também alguma discrepância, como se infere da tabela seguinte traçada por comparação das cores por nós observadas com as descritas nalguns dos principais livros hindus.

Não são de estranhar estas diferenças, porque indubitavelmente os chakras variam segundo os povos e raças, assim como também variam as faculdades dos observadores. O exposto  no capítulo primeiro é o resultado de cuidadosa observação por parte de alguns estudantes ocidentais que tomaram escrupulosas precauções para cotejar notas e comprovar as respectivas observações.

Os desenhos traçados pelos iogues hindus para uso de seus discípulos são sempre simbólicos, e não guardam relação com o efetivo aspecto do chakra, exceto a indicação da cor e o número de pétalas.

No centro de cada um dos citados desenhos há  uma  forma geométrica, uma letra do alfabeto sânscrito,  um  animal,  e  duas  divindades, uma masculina e outra feminina. Reproduzimos o desenho do chakra cardíaco (figura 10), tomado de The Serpent Power, de Arthur Avalon, e procuraremos explicar o significado dos símbolos.

 

Chakra Nossas observações Schatckakra

Nirupana

Siva Samhita Garuda Purana
1 Laranja-avermelhado

vivo

Vermelho Vermelho  
2 Brilho do sol Vermelhão Vermelhão Brilho do sol
3 Vários matizes

vermelhos e verdes

Azul Dourado Vermelho
4 Dourado Vermelhão Vermelho-

escuro

Dourado
5 Azul-prateado Purpúreo-

escuro

Ouro

brilhante

Prateado
6 Amarelo e purpúreo Branco Branco Vermelho

CORES DAS PÉTALAS AS FIGURAS DOS CHAKRAS

O objetivo da Laya-Ioga ou Ioga Kundalini é o mesmo que o das demais modalidades de Ioga, ou [ seja, a união da alma com Deus, e para isso são necessárias três espécies de esforços: de amor, de pensamento e de ação. Ainda que em determinada escola de Ioga, como nos ensinamentos dos sutras, prevaleça o esforço da vontade, e nas instruções de Krishna e Arjuna no Bhagavad Gita1 predomine o amor sempre se ensina que os esforços têm de ser feitos nas três direções assinaladas de amor, pensamento e ação.

Assim Patanjalí propõe que o candidato comece por um curso de tapas ou esforços de purificação, um Swadhyava ou estudo das coisas espirituais e a Ishwara pranidhana ou devoção a Deus em todo o tempo.

Analogamente, Sri Krishna, depois de manifestar a seu discípulo que a sabedoria é o mais valioso instrumento de serviço, a maior oferenda que o homem pode fazer, acrescenta que a sabedoria só pode ser adquirida por devoção, pesquisa e trabalho, terminando sua prática com estas palavras significativas: “Os sábios, os videntes da verdade, te ensinarão Sabedoria.”

Em Aos Pés do Mestre, moderníssimo epítome dos ensinamentos orientais, aparece a mesma triplicidade, porque as qualidades são: discernimento, boa conduta e amor a Deus, ao Mestre e aos homens.

Para compreender os desenhos dos chakras traçados pelos iogues hindus, convém considerar que seu objetivo era auxiliar o aspirante naquelas três direções de adiantamento. É necessário que conheça a constituição do mundo e do homem (o que agora chamamos Teosofia) e que aumente sua devoção por meio do culto interno à Divindade enquanto se esforça por atualizar os graus superiores do kundalini e  conduzi-la1  a circular pelos chakras.

Com estes objetivos em vista, achamos em cada chakra símbolos relacionados com a sabedoria e a devoção, sem que seja necessário considerá-los como parte integrante do chakra.

Nos serviços da Igreja católica liberal que são  práticas  de  Ioga coletiva, temos no Ocidente um exemplo do mesmo, pois também mediante a magia dos ritos procuramos fomentar a devoção e infundir conhecimento espiritual. Também deve-se levar em consideração que naqueles  remotos tempos os iogues, nômades ou residentes no ermo, tinham  poucos  recursos para escrever nas folhas de palma com que se faziam os livros, e portanto, necessitavam da ajuda mnemotécnica dos símbolos. Às vezes permaneciam sentados aos pés de seus instrutores, e depois podiam recordar e recapitular os ensinamentos aprendidos  naquelas  horas,  com  o  auxílio  das  notas  que lhes proporcionavam os desenhos.

O CHAKRA CARDÍACO

Como seria dificílimo explicar por completo a simbologia de todos os chakras, basta assinalar o significado provável dos símbolos do chakra cardíaco, ou anahata em sânscrito, representado na figura 10. Uniu das maiores dificuldades com que para isso deparamos é a diversidade de interpretações de cada símbolo, e o fato de os yogues hindus se oporem a responder a perguntas do investigador, e recusarem-se absolutamente a comunicar seus conhecimentos quando não seja um discípulo aceito, que se entregue por completo à obra da Laya-Ioga, ou durante toda a sua vida, ou até alcançar o seu propósito.

O anahata ou chakra cardíaco está descrito nos versículos 22 a 27 do Shatchakra Nirupana. Extraímos da tradução de Avalon os parágrafos seguintes:

O lótus do coração é de cor da flor banadhuka e em suas doze pétalas estão as letras ka e tha com Bindu sobre elas de cor de vermelho. No pericárpio está o hexagonal vayu mandala de cor enfumaçada, e em cima o suryva mandala com o trikona que reluz como se tivesse dez milhões de fulgores de raio cm seu interior. Sobre ele está o vayu bijay de cor de fumo, sentado num antílope negro, com quatro braços e empunhando o acicate (angkusha). No regaço do vayu bija está Isha, o de três olhos. Como Hangsa (Hangsabha), estende os braços em gesto de outorgar dons e desvanecer o temor. No pericárpio destes e Lótus, e sentada num lótus vermelho está o shakti Kakini. Tem quatro braços e usa o laço corrediço (pasha), a caveira (kapala) e faz os sinais de outorgar dons e desvanecer o temor. É de cor dourada, com vestimentas amarelas, adornadas com toda classe de jóias e uma grinalda de ossos. Seu coração está suavizado com néctar. Em meio do trikona está Siva em figura de Vana-Lingga, com a meia-lua e Bindu em sua cabeça. É de cor de ouro. Seu olhar é jubiloso e denota desejo impetuoso. Debaixo dele está o Hangsa semelhante a um Jivatma. É como a tranqüila chama de uma lâmpada. Debaixo do pericárpio deste Lótus está o lótus vermelho de oito pétalas com a cabeça voltada para cima. Neste lótus vermelho está a árvore Kalpa, o altar enfeitado com jóias, coberto com toldo e adornado com bandeiras. É o lugar do culto mental.

AS PÉTALAS E AS LETRAS

Como vimos, as pétalas destes lótus ou chakras estão constituídas pela energia primária que os raios do chakra infundem no corpo. O número de pétalas está determinado pelo de potências pertences à energia que, como já dissemos, passa pelo respectivo chakra.

No caso do chakra cardíaco temos doze pétalas, e as letras nelas estampadas simbolizam certamente uma modalidade de potência criadora ou energia vital que penetra no corpo. As letras mencionadas em nosso caso são do ka ao tha, tomadas na ordem regular do alfabeto sânscrito, de natureza sumamente científica c sem nada que se lhe iguale nos idiomas ocidentais.

ALFABETO SÂNSGRITO

Suas quarenta e nove letras se ordenam na disposição indicada na Tabela 6, com acréscimo da letra ksha para completar as cinqüenta requeridas pelo conjunto de pétalas dos seis chakras.

No concernente à Ioga, considera-se o alfabeto sânscrito como se incluísse a soma total de sons da voz humana e fosse do ponto de vista da linguagem a espraiada manifestação material da Palavra criadora.

Da mesma maneira que a palavra sagrada Aum1, o alfabeto sânscrito simboliza todas as pala.vras criadoras, e portanto, um conjunto de potências, assinaladas na ordem seguinte: as dezesseis vogais ao chakra laríngeo; do ka ao tha ao cardíaco; do da ao pha ao umbilical; do ha ao Ia ao esplênico; e do va ao sa ao fundamental. O ka e ksha se atribuem ao chakra ajna, e o sahasmra ou coronário se considera como contendo vinte vezes, repetidas em conjunto, todas as letras do alfabeto sânscrito.

Não se vê a razão de se atribuírem a cada chakra as letras mencionadas, ainda que, à medida que  ascendemos na ordem  dos chakras, se nota maior número de potencialidades na energia primária. É possível que os fundadores do sistema da Laya-Ioga conhecessem em pormenor essas potencialidades e empregassem as letras de seu alfabeto para designá-las, assim como nós empregamos as do nosso para assinalar os ângulos das figuras em geometria, as quantidades em álgebra ou as emissões do rádio em química.

A meditação sobre estas letras sânscritas influi evidentemente no alcance do “som interno que  apaga  o  externo”,  como  em  adequado simbolismo diz A Voz do Silêncio.

A meditação científica dos hindus começa concentrando-se sobre um objeto representado, ou sobre um som, e quando o  iogue  consegue fixar a mente no objeto ou som, passa a indagar o seu  significado  espiritual. Assim, para meditar sobre um Mestre, representa primeiro sua forma física e depois se esforça por sentir as emoções do Mestre e compreender os seus pensamentos até que, se em seus esforços persevera, consegue identificar-se psiquicamente com ele.

No concernente aos sons, o iogue procura transcender o som, tal como o conhecemos e expressamos, até sua íntima qualidade e potência, o que lhe serve de auxílio para transportar sua consciência de um plano para outro. Importa pensar que Deus criou os planos recitando o  alfabeto sânscrito e que nossa linguagem falada é sua ínfima modulação. Na Laya– Ioga o aspirante se esforça por remontar a senda através de uma absorção interna e aproximar-se da Divindade. Em Luz no Caminho1 se nos exorta a escutar o canto da vida para lhe perceber as tonalidades ocultas.

OS MANDALAS

O mandala hexagonal, ou “círculo”, que ocupa o pericárdio do lótus do coração, simboliza o elemento ar. Considera-se que cada chakra está especialmente relacionado com um dos elementos terra, água ar, fogo, éter e mente, que não são elementos químicos, senão que simbolizam estados de matéria e equivalem respectivamente a sólido, líquido, gasoso, etérico, astral e mental. Também podem simbolizar os planos físicos, astral, mental, causal etc.  Esses  elementos  estão  representados  por  certos  yantras  ou  diagramas de caráter simbólico, que se indicam como segue (Tabela 7) no Shatchakra Nirupana e aparecem no interior do pericárdio do lótus (figura 10).

Às vezes substitui-se o amarelo pelo alaranjado-vermelho, o azul pelo esfumaçado, e o branco pelo negro no quinto chakra, embora advertindo que o negro equivale ao anil.

CHAKRA ELEMENTO FORMA COR
1 Tetra Quadrado Amarelo
2 Água Meia lua Branco
3 Fogo Triângulo Vermelho–vivo
4 Ar Dois triângulos enlaçados em

hexágono

Esfumaçado
5 Éter Círculo Branco
6 Mente   Branco

FORMAS SIMBÓLICAS DOS ELEMENTOS

Ao leitor ocidental parecerá estranho que a mente figure entre os elementos, mas não o estranhará o hindu, para quem a mente é um instrumento da consciência. O hindu considera as coisas de um ponto de vista tão alto, que parece situar-se no plano monádico. Por exemplo, na sétima estância do Bhagavad Gita diz Sri Krishna: “Terra, água, fogo, ar, éter, mente, discernimento e egoência, eis a óctupla divisão de Minha natureza.” E mais adiante acrescenta: “Esta é Minha natureza inferior.”

Os referidos elementos estão associados à idéia dos planos, como já dissemos; mas não parece que os chakras tenham relação com eles, ainda que, seguramente, quando o iogue medita sobre estes elementos e seus símbolos correlativos em cada chakra, recordará o esquema dos planos.

Essa meditação também pode servir ao iogue para elevar o seu centro de consciência através dos subplanos do plano em que atua, até o sétimo plano e por meio deste a outro superior.

Completamente à parte da possibilidade de nos transportarmos em plena consciência a um plano superior, temos na  meditação  o  meio  de enaltecer a consciência de modo a que receba e perceba a influência de um mundo superior, simbolizada  indubitavelmente  no  “néctar”  de  que  fala  o livro e do qual diremos algo mais ao tratar da  atualização  do  kundalini no centro superior.

OS YANTRAS

Na obra As Forças Sutis da Natureza o pandit Rama Prasad nos oferece um consciencioso estudo das razões das formas geométricas dos yantras. São demasiado extensas as explicações para serem aqui reproduzidas, mas resumiremos suas idéias capitais.

Diz ele que, assim  como existe  um  éter  luminoso  que  transmite  a luz aos olhos, assim há uma modalidade  especial  de  éter  para  o  olfato, paladar, ouvido e tato. Estes  sentidos  estão  relacionados  com  os  elementos que simbolizam os yantras: o olfato  com  elemento  sólido  (quadrado);  o paladar com o líquido (meia lua); a vista com o gasoso (triângulo); o tato com o aéreo (hexágono); o ouvido com o etérico (círculo). Acrescenta Rama Prasad que o som se propaga em círculo, ou seja, em radiações circulares,  e  daí  o círculo do quinto chakra. Afirma que a luz se propaga em forma de triângulo, porque um  ponto  dado  na  onda  luminosa  se move um pouco para frente e também em sentido normal à sua  direção,  de  modo  que  uma  vez  efetuado, seu movimento descreveu um triângulo, o que explica o triângulo no terceiro chakra. Diz igualmente que há um movimento distinto  do  éter  para  as vibrações do paladar, olfato e tato, e explica o porquê das formas correspondentes a estes sentidos nos respectivos chakras.

OS ANIMAIS

O antílope, por seu alípede, é um símbolo apropriado do ar; e o bija ou semente mântrica1 é Yam2. O til sobre a letra representa este som, e no til adora-se a divindade deste chakra: a Ilha de três olhos.

Outros animais são o elefante, símbolo da terra em razão de sua corpulência e do éter quanto à sua força de resistência; o crocodilo  que simboliza a água no  segundo  chakra;  e  o  carneiro  (evidentemente considerado como animal agressivo) no  terceiro  chakra.  Para  certos propósitos, o iogue pode-se  imaginar  sentado sobre  estes  animais  e  exercitar a faculdade simbolizada por suas qualidades.

AS DIVINDADES

Num destes mantras há uma formosa idéia que podemos explicar com referência à palavra sagrada Aum, que consta de quatro partes: a u m e o ardha-tnatra. Sobre esse particular diz A Voz do Silêncio:

Então não podem repousar entre as asas da Grande Ave. Sim; doce é descansar entre as asas do que não nasce nem morre, mas é o Aum pelos séculos eternos.

E a Senhora Blavatsky, num rodapé da mesma passagem, anota o seguinte sobre a Grande Ave:

Kala Hamsa, o cisne. Diz o Nadavindupanichade (o Rig-Veda) traduzido por Kumbakonam: “A sílaba A simboliza a asa direita do cisne; a Um, a asa esquerda; a Aí, a cauda, e o ardha-matra, a cabeça”.

O iogue, depois de chegar em sua meditação  à  terceira  sílaba, passa à quarta, ou seja, ao silêncio subseguinte. E neste silêncio pensa na divindade.

As divindades atribuídas a cada chakra variam segundo o livro. Por exemplo, o Shatchakra Nirupana coloca Brama, Vishnu e Siva no primeiro, segundo e terceiro chakras respectivamente, com diversos aspectos de Siva mais além deles, enquanto que o Siva Samhüa e algumas outras obras colocam Ganesha (o filho de Siva com cabeça de elefante)  no  primeiro chakra, Brama no segundo e Vishnu no terceiro. Evidentemente estas diferenças derivam da seita a que pertence o adorante.

Junto com Isha temos no chakra do coração  outra  Divindade, Shakti Kakini. A palavra shakti significa energia, e assim se chama shakti da mente à energia mental. Em cada um dos seis chakras há uma Divindade feminina na ordem seguinte: Dakini, Rakinh Lakini, Kakini e Hakini, que alguns autores identificam com as potestades dos vários dhatus ou substâncias corporais. No chakra que consideramos  está  Kakini  sentada num lótus vermelho. Diz-se que tem quatro braços, símbolos de quatro faculdades ou funções. Com duas de suas mãos faz gestos de outorgar dons e desvanecer temores de forma análoga a Isha. Com as outras duas mãos sustem um laço corrediço, símbolo variado da cruz ankh, e uma caveira, representação indubitável do vencimento e morte da natureza inferior.

Às vezes, as meditações usualmente prescritas  para  estes  chakras têm por objetivo todo o corpo, segundo se infere do seguinte extrato do upanichade Yogatattwa:

Há cinco elementos: terra, água, fogo, ar e éter. No corpo há uma quíntupla concentração dos cinco elementos. A região da terra  abrange desde os pés até os joelhos. É de forma quadrada, de cor amarela e tem a letra Ia. Deve-se meditar sobre esta região aspirando com a letra Ia ao longo da região dos pés até os joelhos, e contemplando o quadrifaceado Brama cor de ouro.

A região da água estende-se dos joelhos ao ânus. Tem forma de meia lua, é de cor branca, e sua semente é va. Aspirando com a letra va ao longo da região da água, deve-se meditar no deus Narayana, que tem quatro braços, cabeça coroada, é de cor de puro cristal, está vestido com roupas de cor alaranjada e não decai. . .

A região do fogo está compreendida entre o ânus e o coração. É de forma triangular, de cor vermelha, e tem por  semente  a  letra  ra.  Retendo alento com a letra ra que o faz esplandecer, ao longo da região do fogo, deve- se meditar em Rudra, que tem  três  olhos,  concede  tudo  que se  deseja,  é  de cor do sol meridiano, está todo tisnado de sagradas cinzas e possui aspecto agradável…

A região do ar está compreendida entre o coração e o ponto entre as sobrancelhas. É hexagonal, de cor preta, e brilha com a letra ya. Levando o alento ao longo da região do ar, deve-se meditar em Ishwara, o onisciente, de rosto voltado para todos os lados…

A região do fogo está compreendida entre o ânus e as celhas até o alto da cabeça. É circular, de cor esfumaçada e brilha com a letra ha. Levantando o alento ao longo da região do éter deve-se meditar em Sudashiva, considerando-o nos seguintes aspectos: produtor de  felicidade; em forma de gota; o Deva supremo; em forma de éter; brilhante qual puro cristal; com a meia lua sobre a cabeça; cinco rostos,  dez  cabeças  e  três olhos; atitude pacífica; armado de todas as armas; engalanado com toda classe de ornamento; com a deusa Uma numa metade de seu corpo; disposto a outorgar favores; e causa de todas as causas.

Isto confirma até certo ponto nossa opinião de que nalguns casos os princípios sobre os quais se nos exorta a meditar se aplicam às partes do corpo com objetivo exclusivamente mnemotécnico e não com deliberada intenção de influir naquelas partes.

OS NÓS

No centro do lótus do coração ou chakra cardíaco está desenhado um trikona ou triângulo invertido.

Não é ele uma característica de todos os chakras, mas tão-somente do fundamental, do cardíaco e do frontal, nos quais há três nós especiais ougran this através dos quais o kundalini tem de abrir passagem.

Ao primeiro nó se costuma chamar o nó de Brama; ao segundo o de Vishnu; ao terceiro o de Siva. Este simbolismo parece significar que a penetração destes chakras requer uma especial mudança de estado, possivelmente da personalidade ao ego e do ego à mônada, as regiões em que podemos afirmar que governam os citados Aspectos do Supremo. Contudo, também pode se considerar esta verdade dum modo secundário ou subalterno, porque temos observado que o chakra cardíaco recebe impressões da parte superior do corpo astral, o chakra laríngeo, do mental e assim sucessivamente. Em cada triângulo a deidade está representada como um linga ou instrumento de união. O Jivatma (literalmente “ser vivente” dirigido para cima “como a chama de uma lâmpada”) é o ego, assim representado provavelmente porque os acidentes da vida material não o afetam como à personalidade.

O LOTUS SECUNDÁRIO DO CORAÇÃO

O segundo lótus, representado imediatamente abaixo do maior, é também uma característica especial deste chakra. Utiliza-se como lugar de meditação com a forma do instrutor ou do aspecto da  Divindade  que  o adorador invoca ou se lhe assinala como objeto de meditação. Aqui o devoto imagina uma ilha de pedras preciosas, com formosas árvores e um altar para adoração segundo o Gheranda Samhita descreve nos seguintes termos:.

Que o devoto imagine haver um mar de néctar em seu coração; que no meio deste mar há uma ilha de pedras preciosas, com pó de diamantes e rubis por areia; que por toda parte medram kadambas carregados de flores perfumadas; que junto destas árvores, à maneira de baluarte, há outras em flor, tais como o  malati, mallika, jati, kesara, cbampaka, parjada padma, cuja fragrância se difunde por todos os âmbitos da ilha.

O iogue deve imaginar que em meio deste jardim se ergue uma formosa árvore kalpa com quatro ramos repletos de flores e frutas que simbolizam os quatro Vedas. Zumbem os insetos e canta o  cuco.  Imagine o iogue junto da árvore uma suntuosa tarina de pedras  preciosas  e  sobre  a tarima um riquíssimo trono coalhado de jóias, e que neste trono se senta sua particular Deidade, segundo  lhe  ensinou  o  seu  instrutor.  Que  medite  de forma apropriada nos ornamentos e veículos desta Deidade.

O adorador imagina esta formosa cena tão vividamente, que se arrouba em seu pensamento e se esquece, entretanto, por completo, do mundo exterior. Contudo, o processo não é estritamente imaginativo, porque é também um meio de se por constantemente em contato com o Mestre. Assim como as imagens pessoais que o ego forja no mundo celeste são vitalizadas pelos egos das personalidades imaginadas, assim o Mestre enche com Sua presença real a pira e às vezes o instrui.

Interessante exemplo disso nos ofereceu um cavalheiro hindu, que vivia  como  iogue  num povoado da presidência de Madras,  e  assegurava que era discípulo do Mestre Moria. Ao viajar este pela índia há cerca de quarenta e cinco anos, passou pelo povoado onde vivia aquele indivíduo, o qual, com efeito, chegou a ser seu discípulo, e dizia que não se havia separado de seu Mestre depois  da  despedida  pessoal,  porque  este  lhe  aparecia freqüentemente para instruí-lo por meio de  um  centro  de  energia  residente em seu interior.

Os hindus dão muita importância à necessidade de se ter um instrutor, a quem reverenciam grandemente desde o momento em que o encontram, e repetem sem cessar que é mister considerá-lo como a um deus.

O upanichade Tejobindu diz a esse respeito que “o extremo limite de todos os pensamentos é o Instrutor”. Afirmam os hindus que ainda que o discípulo pensasse nas gloriosas qualidades do divino Ser, sua imaginação pousaria nas perfeições do Mestre.

Aqueles dentre nós que conhecem os Mestres se apercebem da verdade de semelhante afirmação, pois seus discípulos acham neles esplêndidas e gloriosas alturas de consciências, mais além de toda expectativa. Não é que considerem o Mestre igual a Deus, senão que o grau de divindade alcançado pelo Mestre supera tudo o que os discípulos suspeitam.

EFEITOS DA MEDITAÇÃO

O Siva Samhita descreve como segue  os  benefícios  que  obtém  o iogue pela meditação no chakra cardíaco:

O iogue adquire imensos conhecimentos, conhece o passado, o presente e o futuro, tem clariaudiência e clarividência e pode subir aos ares aonde lhe apraza. Vê os adeptos e as deusas iogues; obtém a faculdade chamada khechari e vence as criaturas que se movem no ar.

Quem medita diariamente no oculto Banalinga, indubitavelmente obtém as faculdades psíquicas chamadas khechari (mover-se pelos ares) e bhuchari (ir à vontade por todos os âmbitos do mundo).

Estas poéticas descrições das diversas qualidades dispensam comentário, porque o estudante as saberá ler nas entrelinhas. Contudo, também podem ser tomadas em sentido literal algumas dessas afirmações, porque realmente denotam misteriosas faculdades, prodígios tais como andar indene pelo fogo, a habilidade hipnótica e outras semelhantes, que efetuam os autênticos iogues da índia.

O KUNDALINI

Os iogues hindus, que escreveram livros chegados até nós, não se interessaram pelas características fisiológicas e anatômicas do corpo, senão que se imergiram em profunda meditação e atualizaram o kundalini com o propósito de enaltecer sua consciência ou de se elevarem aos planos superiores. Tal pode ser a razão pela qual os tratados sânscritos nada ou mui pouco digam acerca dos chakras etéricos, mas apenas falem, e muito, dos chakras da espinha dorsal e da passagem de kundalini por eles.

Descrevem esta energia como uma devi ou deusa, refulgente como raio, que dorme no chakra fundamental, enroscada como uma serpente em três voltas e meia em torno do linga swayambhu, e impedindo com a sua cabeça a entrada do sushumna. Os livros nada dizem a respeito de se a camada externa da energia está ativa em todos os homens, ainda que tal se infira implicitamente da frase que diz: “mesmo enquanto dorme, mantém todo ser vivente”, e é chamada o Shabda Brama no corpo humano. Shabda significa palavra ou som; portanto, temos aqui uma referência ou alusão simbólica à energia peculiar do terceiro aspecto do Logos.

Diz-se que no processo da criação este som teve quatro etapas. Provavelmente não erraríamos ao associar esta idéia com o nosso conceito ocidental, dos três princípios: corpo, mente e espírito, e um quarto que seria a união com Deus.

ATUALIZAÇÃO DO KUNDALINI

A finalidade dos iogues é atualizar o aspecto latente de kundalini e impelir gradualmente esta energia pelo canal sushumna. Para isso prescrevem vários métodos, entre eles o esforço da vontade, maneira de respirar, mantras e várias atitudes e movimentos. O Siva Samhita descreve dez métodos, que qualifica dos melhores para este propósito, alguns dos quais compreendem simultaneamente todos os ditos esforços.

Ao tratar da eficácia de um de tais métodos, descreve Avalon como segue a atualização das camadas internas ou aspectos superiores de kundalini:

Então se torna fortíssimo o calor do corpo, e ao notá-lo, o kundalini desperta de seu sono, como  serpente  que  silva  e  se  ergue  ao  sentir  a pancada de um bastão. Depois entra em sushumna.

Diz-se que nalguns casos kundalini  tem sido despertado, não só pela vontade, mas também por um acidente ou por pressão material. Não há muito me disse um de nossos conferencistas teósofos que havia presenciado um caso dessa índole quando viajava para o  Canadá.  Uma  senhora,  que nada sabia destas coisas, caiu pela escada do porão de sua casa. Esteve por momentos desacordada, e ao voltar a si era clarividente, capaz de ler o pensamento alheio e de ver o que sucedia em todos os aposentos da casa, e não perdeu essa faculdade. Depreende-se que, neste caso, ao cair, a senhora recebeu na base da coluna vertebral uma pancada cujo estremecimento despertou o kundalini, e também teria  posto  em  atividade  outro  chakra  se nele houvesse recebido a pancada.

Às vezes os livros sânscritos recomendam a meditação nos chakras sem o prévio despertar  do  kundalini,  segundo  se  nota  nos  seguintes versículos do purana Garuda:

Muladhara,  Swadhishtana,  Manipuraka,  Anahatam,  Visuaddhi  e

Ajna são os seis chakras.

É preciso meditar respectivamente nos chakras  sobre  Ganesa, Vidbi (Brama), Vishnu, Siva, Jiva, Guru e Parambrama, que tudo penetra.

Depois de adorar mentalmente em todos os chakras, com fixidez invariável, deve o devoto repetir o ajapa-gayatri segundo as instruções do Mestre.

Tem de meditar no randhra, com o lótus de mil pétalas invertido, sobre o bem-aventurado Instrutor, que mora no Hamsa e cuja lótica o livra de temor. O devoto tem de considerar o seu corpo como se estivesse banhado na veia de néctar que flui dos pés do Mestre. Depois de adorar da quíntupla maneira tem de prostar-se e cantar os louvores do Mestre.

Depois meditará sobre kundalini, imaginando-o como se movesse para cima e para baixo, e circulasse pelos seis chakras, colocado em três e meia espirais.

Finalmente deve meditar sobre sushumna que sai do randhra, e deste modo chegará ao estado supremo de Vishnu.

O OBJETIVO DO KUNDALINI

Os livros insinuam, mais do que explicam, o que sucede ao subir o kundalini pelo conduto medular. Chamam nerudanda à coluna  vertebral,  e dizem que é o cetro de Meru, “o eixo central  da  criação”,  embora  caiba presumir se refiram à criação do corpo humano.

Acrescentam que no nerudanda há um canal chamado sushumna, e no interior deste, um outro denominado vajrini, e dentro deste terceiro, o chitrini, “tão delgado como a teia de aranha”,  no  qual  estão  enfiados  os chakras, “à maneira dos nós de uma vara de bambu”.

Kundalini ascende lentamente por chitrini, à medida que o iogue emprega a sua vontade na meditação. No primeiro esforço não atingirá um ponto muito alto, mas no segundo subirá um pouco mais, e assim sucessivamente. Ao chegar a um chakra, atravessa-o e a corola do lótus que estava para baixo se volta para cima.

Terminada a meditação, retorna o kundalini pelo mesmo caminho ao seu assento no chakra fundamental, ou maladahara; mas nalguns casos não desce além do chakra cardíaco, onde se instala como em sua própria câmara.

Alguns livros assinalam o chakra umbilical como residência do kundalini; e conquanto nunca o tenhamos visto em semelhante lugar nas pessoas comuns, refere-se essa afirmação àqueles que, havendo atualizado o kundalini, tenham uma espécie de depósito desta energia no chakra umbilical.

Aduzem os livros sânscritos que ao passar o kundalini por uma chakra em seu curso ascendente, atualiza ou desperta.de seu estado latente (daqui o termo laya) as funções psíquicas do chakra e o vitaliza muito extensamente. Mas como o seu objetivo é alcançar o ápice, continua ascendendo até  que chega ao chakra coronário, ou lótus  sahasrara, onde goza da beatífica união com seu senhor Paramabhiva; e ao retornar pelo seu caminho, devolve a cada chakra, muito intensificadas, as suas faculdades específicas.

Tudo isto supõe um processo de êxtase parcial pelo qual tem de passar quem medita profundamente1, porque ao concentrarmos  toda  a nossa atenção num assunto elevado, cessamos de perceber tudo quanto ocorre ao nosso redor.

Diz Avalon que geralmente se necessita de anos inteiros, a partir do início das meditações, para impelir o kundalini  até  o  sahasrara,  ou chakra coronário, embora, em casos excepcionais, seja mais curto o tempo. A prática facilitará o processo, de modo que aquele que estiver muito bem treinado poderá fazer subir e descer o kundalini numa hora,  se  bem  que  o possa manter quanto tempo quiser no chakra coronário.

Dizem alguns autores que quando o kundalini sobe, esfria-se  a parte do corpo que ele não atinge. Sem dúvida isso sucede nas práticas que suscitam o êxtase prolongado mas não pelo emprego habitual do kundalini. Na Doutrina Secreta cita Blavatsky o caso de um iogue que encontram na ilha adjacente a Calcutá, com as raízes das árvores enroscadas em seus membros, e que nos esforços feitos para despertá-lo e cortar as raízes, recebeu tantos danos que lhe ocasionaram a morte.

Também menciona Blavatsky outro caso  de  um  iogue  nas vizinhanças de Allahabad, que, com propósitos deliberados, esteve cinqüenta e três anos sentado numa pedra. Seus  discípulos  o  banhavam  no  rio  toda noite, e depois do banho recolocavam-no sobre a pedra. Durante  o  dia retornava, às vezes, sua consciência ao plano  físico,  e  então  instruía  e ensinava.

O OBJETIVO DO KUNDALINI

Os últimos versículos de Shatchakra Nirupana descrevem com beleza o objetivo da atuação do kundalini:

A devi Shudâha atravessa os três lingas e depois de passar por todos os lótus do nadi de Brama, brilha neles na plenitude de seu fulgor. Depois volta ao seu estado sutil, brilhante como relâmpago e delicado como a fibra de lótus. Ascende até a flamígera Siva, a suprema bem-aventurança, e de súbito determina a felicidade da libertação.

A formosa Kundalini sorve o delicioso néctar vermelho que emana de Para Siva, e dali onde mora a eterna e transcendente felicidade em todo o seu esplendor, regressa pela senda de kula ao muladhara. O iogue que conseguiu fixidez mental, oferece ao Ishta devata, aos Devata dos seis chakras, a Dakini e outros, a corrente de néctar celestial que está no vaso de Brahmanda, cujo conhecimento adquiriu pela tradição dos Instrutores.

Se o iogue devoto de seu Instrutor, com imperturbado cora-ração e mente concentrada, lê este livro que, irrepreensível, puro e secretíssimo, é a fonte suprema da libertação, então certamente sua mente dançará aos pés do seu Ishta-devata.

CONCLUSÃO

Os hindus concordam conosco em que os resultados da Laya-Ioga também podem ser obtidos pelos demais métodos de Ioga. Nas sete escolas da índia e entre os estudantes ocidentais, todos quantos a compreendem e entendem, anelam alcançar a meta suprema do esforço humano,  que  é aquela liberdade superior ainda à libertação. Porque não só inclui a união com Deus nos excelsos reinos além de toda manifestação terrena, senão, também, todas aquelas potências e faculdades que convertem o homem num Adhi-kari Purusha, um ministro ou operário a serviço  da Divindade na obra de alçar os milhões de seres humanos sofredores para a glória e felicidade que a todos aguardam.

Aum, aim, klim, strim.


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