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Por Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden.
O DÉCIMO-SEGUNDO caminho ou kala é atribuído ao planeta Mercúrio e sua sombra remonta na forma de Baratchial cujo sigilo é este (no livro), e cujo número é 260. O sigilo deve ser pintado em um amarelo mais profundo do que aquele usado para o sigilo de Amprodias, sobre uma placa em forma de vaso (vesica) de índigo raiado com violeta. O nome Baratchial deve ser vbrado na clave de ‘E’, como com o sentinela anterior, mas deveria haver uma sugestão de ‘som trepidante’ ou ‘risada silenciosa’ acompanhando a vibração, que não deve ser uniforme.
260 é a soma da série (vide fórmula no livro), 8 sendo o número de Mercúrio como uma zona de poder cósmico. 260 é o número de Tiriel, a Inteligência de Mercúrio, assim esperaremos encontrar uma reflexão e inversão muito precisa desta entidade nas profundidades do abismo onde o caminho se torna um túnel transmitindo influências infernais. E isso de fato encontramos, pois 260 é também o número de TMIRA, o ‘escondido’ ou ‘oculto’, e de KMR, ‘um sacerdote’, não da Luz mas das Trevas, pois KMR significa ‘escuridão’, sendo sua raiz [proveniente] do egípcio Kam, ‘negro’. Muito embora o 12 o caminho seja aquele do Mago ou Magus, o sacerdote negro ou oculto não deve ser identificado com o mago negro, mas com o Irmão Negro.
Este é o kala dos Feiticeiros, os Monnim (também igual a 260) que transmitem a luz diretamente de além de Kether para Saturno via fórmula da dualidade498. A dualidade é expressa zoomorficamente pelas duas serpentes Od e Ob499, e pelo símio – a sombra do Mago que, segundo a tradição, distorce e perverte a Palavra do Mago assim fazendo uma zombaria de sua obra, como fazem os Irmãos Negros com sua fórmula de dualidade500.
Isto é evidenciado pelos símbolos de Baratchial: duas espadas com as pontas voltadas para dentro, sugerindo intensa concentração no ego como oposto ao Si (Self) do Todo, ladeando uma face espectral (máscara) encimada por uma lua crescente. O sigilo é um glifo da falsidade e ilusão refletidas na corrente da dualidade que revela a Sombra de Thoth na imagem de seu símio ou cinocéfalo.
Esta doutrina é expressada no segundo verso do CCXXXI:
Os relâmpagos aumentaram e o Senhor Tahuti (i.e., Thoth) ergueu-se à frente. A Voz veio do Silêncio. Então o Um correu e retornou.
O Um é Kether, e este retornou à sua própria zona de poder porque a vibração deste kala é ilusória e não pode transmitir verdade. Sua vibração duplica aquela do kala anterior, assim criando um mero simulacro do espírito criativo.
O Irmão Negro tem língua bifurcada, como a serpente, o que é significativo, pois o poder mágico atribuído ao aspecto anverso do qual este caminho é o túnel, é o Dom das Línguas, o Dom da Cura, e um Conhecimento das Ciências. A cura aqui é contudo a cura do ego, que meramente agrava com ilusão a doença da falsa identidade criando por meio disto uma corrente de sofrimento sem fim. Igualmente, as Ciências de cujo conhecimento é dado são as ciências da escuridão. Ainda assim não se deve supor que estas são necessariamente más, é meramente que nas mãos de um Irmão Negro elas necessariamente tendem a esterilidade porque são direcionadas rumo ao cumprimento de ambições totalmente pessoais. As ciências negras deste caminho contém os segredos dos kalas do vazio, e daquela Corrente Kaliniana que obtém no mundo de turbilhão [horário_?] da anti-luz.
Os bruxos e feiticeiros deste túnel falam com ‘vozes’ que são refletidas na aura do Adepto pelo mecanismo de acústica não-natural associado ao misterioso ventriloquismo de Bath Kol, a Voz do Oráculo. O bath ou beth é a casa ou útero do kala supremo, e da fonte daquele ventriloquismo que era primitivo nos mitos do homem, pois a Palavra estava dotada de carne e era emitida da barriga da mãe. Aqui novamente o número de Baratchial, 260, confirma a doutrina deste caminho de beth pois este é o número de MINMON, ‘prazeres’, ‘delícias’, e de IRKIK, ‘tuas coxas’, o que revela a natureza sexual destes prazeres.
A doença típica deste caminho é Ataxafasia que aqui se refere especificamente à distúrbios da faculdade da fala, tipificado pelos uivos bestiais ou cachinnations(?) da criação pré humana e por aquela ‘fala monstruosa’ (mencionada no Liber VII501) que vibra além do véu do vazio.502
Os perigos contínuos ao uso deste kala são extremos, embora as vantagens que podem ser ganhas pareceriam sobrepujá-los no que o Adepto é capaz de transcender a transmissão de imagens meramente conceitual. Ele é assim capaz de manobrar atavismos específicos em um nível mais profundo do que aqueles que ele poderia penetrar como um Magus. Eis o porque o silêncio dos espaços externos, como a música as esferas, pode ser apreendido apenas quando o trepidar simiesco do veículo do Mago tenha sido subjugado pelo contato com as forças transcósmicas que varrem através deste túnel desde os caminhos do Grande Vazio. O último é o Ain, ou Vazio, o olho que não pisca que emite raios invisíveis que reificam por entre os santuários mais internos do não-ser do Adepto. Ele então se torna o Mago do Poder503 em um sentido verdadeiro e totalmente diferente daquele no qual este poder tenha sido compreendido em qualquer aeon anterior. Pois aquele poder (Shakti) é primal e não existe separado da sombra, sendo que a solidificação disto é o Magus entificado cuja Palavra é nada mais que falsidade e fascinação.
Este kala particular mostra claramente como a face da Árvore é – e apenas pode ser – uma fachada. Isto é porque uma interpretação reificada e portanto dualista das correntes ocultas de energia, que pulsam através dos túneis no outro lado da Árvore, transmitem as energias do Não-ser. É neste sentido que o ‘Um correu e retornou’. Para onde ele retornou? A Palavra manifesta retornou ao silêncio da não-manifestação.
498 A letra beth que é atribuída ao 12º kala, é sinônimo de nossa palavra ambos (both), implicando dualidade.
499 Mas não em sua forma equilibrada como no anverso da Árvore.
500 i.e., ilusão. É o 1 refletido que se torna 2. Igualmente 11, onze, é o número daqueles ‘que são de nós’.
501 Prólogo do Não Nascido, verso 10.
502 Seus sentidos.
503 O título do trunfo do tarô equacionado com o caminho anverso.
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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.
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