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Abu Ali al-Husayn Ibn Sina, também conhecido como Avicena (979-1037), foi um filósofo e médico persa talentoso, cujos escritos foram amplamente estudados no Oriente Médio e na Europa.
Sabe-se mais sobre o início da vida de Ibn Sina do que sobre a maioria dos outros estudiosos muçulmanos medievais porque ele escreveu uma autobiografia sobre a sua juventude, complementada com detalhes sobre sua carreira adulta contribuídos por biógrafos muçulmanos posteriores.
Ele nasceu em uma vila perto de Bukhara (cidade no atual Uzbequistão) e foi educado sob a supervisão de seu pai, um homem culto com filiação a Ismaili, isto é, ao Xiismo Ismaelita.
Pensa-se que Ibn Sina tinha uma memória notável. Ele afirmava que aos 10 anos de idade ele havia memorizado o Alcorão e grandes quantidades de poesia árabe. Logo depois, ele estudou vários assuntos altamente complexos, incluindo lógica, lei e jurisprudência islâmicas (Fiqh) e a metafísica de Aristóteles, como explicado pelo filósofo turco al-Farabi (m. 950).
Ele também estudou a filosofia neoplatônica, que foi mantida em alta estima por eruditos ismaelitas, como a Irmandade da Pureza. Como lhe foi permitido o livre acesso à biblioteca real da Dinastia Samânida (819-999), ele próprio pôde se educar tão bem que se vangloriou de se tornar o professor dos tutores contratados por seu pai para educá-lo.
Quando completou 21 anos, ele já havia se tornado famoso por seus conhecimentos médicos e habilidades de cura e havia escrito seu primeiro livro sobre filosofia.
Quando seu pai faleceu em 1002, Ibn Sina deixou Bukhara e viajou para o oeste, encontrando empregos temporários nos tribunais de vários governantes locais. Ele continuou a ensinar e escrever enquanto servia em postos governamentais.
Por volta de 1020, Ibn Sina tornou-se médico da corte do governante xiita Shams al-Dawla (r. 997-1021) em Hamadan, no Irã ocidental. Ele foi preso em 1022 como resultado de intrigas políticas, mas conseguiu escapar para Isfahan, no sul do país, onde foi protegido de Ala al-Dawla Muhammad (r. 1008-41), o governante local.
Isfahan foi sua casa por 15 anos, onde ele continuou suas atividades acadêmicas e completou a escrita de suas principais obras. Ele morreu na companhia de Ala al-Dawla enquanto estava em uma expedição militar e foi enterrado em Hamadan, onde um túmulo monumental comemora suas contribuições à filosofia, medicina e ciência islâmica.
As estimativas sobre o número de livros e tratados que ele escreveu variam de 100 a 250. A maioria deles foram escritos em árabe, embora sua língua nativa fosse o persa.
O legado
Entre os mais exaustivos de suas obras sobre temas filosóficos e religiosos foi Kitab al-Shifa (O Livro da Cura). Ele tratava de quatro temas principais: lógica, medicina, matemática e metafísica. Os capítulos sobre a medicina incluíam discussões substanciais sobre a natureza da alma humana e sua relação com a mente e o corpo. Ele argumentou que todas as almas humanas eram imortais e, portanto, não estavam sujeitas a uma ressurreição do corpo.
Em sua discussão sobre metafísica, ele tentou mostrar que todos os seres tinham sua origem no que ele chamou de Existência Necessária, a primeira causa, ou Deus. O Deus de Ibn Sina representava a mais alta beleza, sem qualquer defeito; ele era tanto o amante essencial quanto o amado. Inspirado pelo neoplatonismo, Ibn Sina apoiou a ideia de que o resto da criação fluía de Deus em ondas, ou emanações. Tais ideias eram altamente ofensivas para os muçulmanos de espírito literal. Ele desenvolveu estas ideias em um grupo de escritos preocupados com o misticismo e a “Sabedoria Oriental”.
Ibn Sina também escreveu um livro enciclopédico sobre as artes curativas intitulado O Cânone da Medicina (Al-Qanun fi al-tibb), que se baseou extensivamente na literatura médica grega e árabe e até mesmo em algumas de suas próprias experiências pessoais. Ele incluiu suas recomendações sobre o cuidado de bebês, a criação das crianças e a educação.
A genialidade de Ibn Sina inspirou e desafiou os filósofos, homens de religião, místicos, médicos e cientistas no Oriente Médio e na Europa durante séculos após sua morte. Em terras islâmicas, estes incluíam luminários como Al-Ghazali (m. 1111), Ibn Rushd, Averróis (m. 1198), Ibn al-arabi (m. 1240), Abu Hafs al-Suhrawardi (m. 1294) e Mulla Sadra (m. 1640).
As traduções latinas do Livro da Cura e de O Cânone da Medicina foram lidas em universidades europeias já no século XII e ali foram estudadas durante séculos. O teólogo católico Tomás de Aquino (m. 1274), como seus homólogos no Oriente, também se beneficiou do aprendizado de Ibn Sina ao argumentar contra algumas de suas ideias sobre Deus, a alma e a criação.
Ainda hoje, o trabalho de Ibn Sina está sendo lido em muitos centros de aprendizagem ao redor do mundo. Em 1979-80, o aniversário de 1.000 anos de seu nascimento foi comemorado em muitos países. Hospitais no Oriente Médio e no Sul da Ásia levam seu nome, inclusive um em Bagdá, no Iraque.
Os iranianos o consideram como um herói nacional e a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) estabeleceu um prêmio para grupos e indivíduos nos campos da ética e da ciência em sua homenagem em 2004.
Leitura adicional:
– William Gohlman, The Life of Ibn Sina: A Critical Edition and Annotated Translation (Albany: State University of New York Press, 1974);
– Dimitri Gutas, Avicenna and the Aristotelian Tradition: Introduction to Reading Avicenna’s Philosophical Works (Leiden: E.J. Brill, 1988);
– Shams Inati, “Ibn Sina.” In History of Islamic Philosophy, edited by Seyyed Hossein Nasr and Oliver Leaman, 231–246 (London: Routledge, 1996);
– David Tschanz, “The Arab Roots of European Medicine.” Saudi Aramco World 48 (May/June 1997): 20–31.
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Fonte:
Encyclopedia of Islam
Copyright © 2009 by Juan E. Campo
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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.
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