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Sobre a Educação das Crianças

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Aleister Crowley

Cada criança deve desenvolver sua própria Individualidade, e Vontade, ignorando Ideais alheios.

Na Abadia de Cefalú seus recursos e originalidade são testados em contraste com vários meios.

São confrontados com vários tipos de problemas como nadar, escalar, tarefas de casa, e deixamos que elas os solucionem de seu próprio modo.

Seus subconscientes são impressionados com composições literárias da mais alta qualidade, as quais são deixadas para infiltrar automaticamente as suas mentes sem stress seletivo ou perguntas conscientes de compreensão.

Nada é ensinado, exceto Como pensar por si mesmo.

Elas são tratadas como seres responsáveis e independentes, encorajadas à auto-realização, e respeitadas por auto-afirmações.

Educar é assistir uma alma a se expressar por si mesma. Toda a criança deve ser apresentada a todas as possibilidades de problemas e deve ser permitido que ela registre suas próprias reações; isto deve ser feito com a finalidade de que ela enfrente todas as contingências à sua volta até que ela tenha superado cada uma com sucesso.

Sua mente não deve ser influenciada, mas apenas lhe ser oferecido todos os tipos de alimento. Suas qualidades inatas irão permitir que ela selecione o alimento apropriado para a sua natureza.

Respeite sua individualidade! Submeta todos os fatos da vida à sua inspeção, sem comentários.

Verdade ensina entendimento, liberdade desenvolve vontade, experiência confere desembaraço, independência inspira auto-confiança. Deste modo, o sucesso se torna certo.

Toda a criança é Deus em seu próprio Universo.

A educação desenvolve o controle disso.

Nada deve ser ensinado exceto como governar seu ambiente.

Verdade é a primeira condição; ela deve contemplar todos os fatos cientificamente.

Coragem, a segunda; ela deve lidar com todos os fatos resolutamente.

Organização, a terceira; ela deve integrar impressões com ordenação.

Deve lhe ser permitida a absoluta autoridade sobre suas próprias reações, mas a tendência de enganar a si mesma ou evitar a realidade deve ser cauterizada pela confrontação insistente com as realidades que lhe são repugnantes.

Esta deve saber claramente, desafiar intrepidamente, desejar integralmente, e manter silencio sublimemente.

A Educação prepara os indivíduos para enfrentar o meio.

Desde a infância as crianças devem enfrentar os fatos de forma não adulterada por explicações.

Deixe que elas pensem e atuem por si mesmas; deixe que a integridade inata delas as inicie!

Faça com que elas explorem todos os mistérios da vida, domine todos os perigos desta.

Falsidade e medo são seus únicos inimigos na guerra.

Deixe que elas testemunhem o nascimento, casamento, morte; deixe que elas ouçam poesia, filosofia, história; incentive à apreensão, mas não à sua expressão articulada. Faça com que elas enfrentem penhascos, grandes ondas e animais, descobrindo sua própria fórmula de conquista.

Impulsione Autenticidade nelas incansavelmente, cuidado somente em tornar todo o seu âmbito compreensível; acredite nelas para usar isto.

Deixe as crianças educarem a si mesmas para que sejam elas mesmas. Aqueles que as adestram para padrões as enfraquecem e deformam. Ideais alheios impõem perversões parasitas.

Toda a criança é uma Fênix; ninguém conhece seus segredos além dela mesma; presumes Ignorância para iniciar Isis?

Deixe que a Fênix medite em seu segredo, até a sua hora; podemos apenas assistir deixando-a contemplar a existência. Deixe que ela contemple todas as coisas na Terra e no Céu.

Guarde-a inviolavelmente; fortaleça-a através de batalhas sucessivas. Seja ela onisciente, onipotente, aperfeiçoada por sua própria Virtude para servir a seu próprio propósito – individual, independente, iniciada – Ela mesma!

Professores Procrustianos [1] assumem por Eles Mesmos as “Medidas da Humanidade”, deformam crianças, deliberadamente, em favor de Ideais.

Jardineiros nunca assimilaram papoulas por batatas; eles alimentam cada planta pelas normas próprias desta, em busca da excelência nas propriedades particulares da mesma.

Até mesmo a educação elementar deve ser adaptada aos indivíduos; cada mente tem suas próprias peculiaridades. Porque não colocar os corpos dos meninos em moldes de gesso de “Perfeição”?

Toda a compressão sobre material plástico é perniciosa, contraria a sua verdadeira tendência, e perverte as suas proporções. Um crescimento disforme compensa as constrições.

A educação deve acostumar a mente a encontrar todas as eventualidades, interpretando, julgando, e reagindo conforme ordena a necessidade individual.

Muitas pessoas enganam as crianças propositadamente, alegando protege-las. Uma fraude confunde a concepção correta; o cérebro, confuso, logo encontra a evidencia conflitante. A contradição entre os fatos observados e os ensinados revolta a sua retidão.

As crianças desconfiam do Universo; a inteligência se revolta; anos de dolorosa incerteza vingam a decepção original. As crianças são também treinadas a falsificar, sofisticar, prejudicar ou esquecer fatos; proibida de enfrentá-los.

Empunhando armas erradas, eles encontram inimigos desconhecidos ou extraviados.

A natureza traidora se volta; elas destroem a si mesmas; como a formação de bilhar de Gilbert, elas jogam “sobre o pano incorreto com o taco torto e bolas de bilhar elípticas.” [2]

Na Abadia de Thelema de Cefalú as crianças são adultas. Realidades são o seu direito; elas observam imparcialmente e agem responsavelmente. Elas são feitas para se livrarem de emergências graduais. Elas se exercitam, nadam, escalam, jogam jogos, exploram a cidade ou o campo sozinhas; elas prestam atenção a palavras testadas no tempo. Elas usam suas mentes de modo adequado, nunca em formas forçadas.

Elas aprendem a visão verdadeira, coragem, cortesia e independência; para cuidar de seus próprios negócios e respeitar os direitos de outros, enquanto ressentem interferências.

Apreendendo a realidade de maneira apurada e agindo de maneira adequada nela, em vez de chorar, se apegar, bajular, e “fazer acreditar”, elas são senhoras de si e das circunstâncias.

Cérebros jovens armazenam impressões sensoriais sem necessariamente julgá-las. As faculdades mentais mais elevadas se desenvolvem gradualmente.

É criminoso forçar o crescimento, especialmente em direções dogmáticas. Reflexão, classificação e coordenação são dispositivos da mente em crescimento para lidar com o acúmulo de detalhes. A Educação deveria fornecer fatos de maneira simples, compreensíveis ou não, de toda a ordem. Evitar comentários, explicações ou julgamentos morais; a mente da criança deve administrar seu próprio material.

A verdade deve ser ensinada como a condição de relação correta, coragem como a de reação certa.

O indivíduo do mesmo modo que seu meio, desenvolve-se em perfeição. As crianças educadas desta forma são absolutamente elas mesmas, ajustadas para apreender e agir pela evolução autônoma.

A evolução demanda indivíduos excepcionais, aprimoradores de seu próprio ambiente, assim como o de seus companheiros. A espécie prospera pela imitação de excêntricos eficientes.

Mediocridade e moralidade próprias, protegem o incompetente, mas impedem o progresso, desencorajam a adaptabilidade, e asseguram a ruína final da raça.

Padrões de educação, ideais de Certo-e-Errado, convenções, credos, códigos, causam a estagnação da Humanidade. Estimulam pessoas originais.

Precavenha-se de tornar quadrada a Pedra Fundamental, ou de tê-la por entre refugos!

A mediocridade procura o farmacêutico de Keats, o banqueiro de Gaugin, o escriturário de Clive, o homem que dirige o camelo de Mohammed! [3]

Natureza precisa de nobreza
Vitalidade justifica variedade.
Proeminência traz progresso.
Superioridade protege sobrevivência.
Irregularidade previne atrofia.
Criar para Behemoth!

Toda criança é absoluta.
Não se atreva a influencia-la ou limitá-la!
Dê à semente um jogo justo para brotar!
Na maturidade sua própria mente
Deverá aperfeiçoar sua própria fruta,
Auto-determinada, auto-designada!

Atreves-te a encurvar aquela brandura
Por teu capricho ou teorias?
Quem te intimou a avaliar
Prodígios dos teus olhos ocultos?
Intrometido, desordeiro!
É a tua suposição
Garantida, magnifico sábio?

Deixe que ela encontre e avalie coisas,
Combine a si mesma em contraste com elas, abarque
Com segurança o abismo – a Terra canta:
“Se você sabe e quer, você pode!”

Por: Crowley, Aleister
Tradução: O. Naob (Sor.)

– Notas –

[1] Procrustes foi uma figura mitológica Grega que fazia alguns viajantes se encaixarem em sua cama esticando ou amputando seus membros.

[2] Gilbert e Sullivan, O Micado, ou a Torre de Titipu (1885); veja os trabalhos citados.

[3] John Keats (1795-1821) foi um dos poetas favoritos de Crowley. O pintor Paul Gaugin (1848-1903)foi tornado um Santo Gnóstico pelo Crowley. Baron Robert Clive de Plassey (1725-1774) estabeleceu as regras coloniais Inglesas na Índia. Mohammed (570-632), o profeta e fundador do Islã, originalmente dirigia camelos.

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