Categorias
Thelema

 Chamando (novamente) os filhos e filhas do sol

Leia em 12 minutos.

Este texto foi lambido por 295 almas essa semana.

Rodrigo Lamore (@rodrigolamorerock)

Esse é um chamado à você, homem, mulher, ou qualquer característica que queria ser chamado (a) e reconhecido (a). A palavra mais falada atualmente é “Liberdade”, mas os mesmos que se utilizam dela, são os que mais cerceiam-na. A individualidade é algo sagrado que deve ser respeitada e cultivada, porém não podemos nos esquecer que vivemos em sociedade, e que no nosso planeta há mais de 7 bilhões de viventes, ou seja, são mais de 7 bilhões de individualidades coabitando o mesmo sistema planetário, e se caso você deseja viver bem e em harmonia, deve considerar entender e aceitar todas elas, assim como espera que todas elas lhe aceitem e lhe entendam. Diferentemente do que dizem alguns, não é a competição o caminho para a vitória, mas sim, a colaboração, a consciência da coletividade em meio às diferenças de cada um.

Ao longo da história da humanidade, seres de altíssima capacidade intelectual, artística, física ou política, encarnaram na Terra, e foram identificados como avatares, iluminados, professores, messias, etc. Alguns afirmam que estes são na verdade a mesma pessoa que periodicamente desce no meio do povo para instruí-los sobre determinados assuntos, facilitando e elevando as faculdades mentais e físicas dos humanos. Certas linhas de análise do mundo ocultista sustentam que, indivíduos que atingiram um nível muito alto de desenvolvimento magicko, a ponto de conseguirem escapar da Roda de Samsara, não conseguem de fato se elevarem ao Pleroma pois, a gravidade espiritual das pessoas no nosso globo os puxa para baixo, impedindo-os de prosseguirem em sua jornada de volta ao Inefável. Dessa forma, se sentem obrigados a contribuírem com a evolução do mundo, pois assim serão beneficiados, consequentemente com uma reação natural, como o Empuxo da Física, lhes impulsionando para cima, com a ajuda da energia que se eleva e se purifica no planeta, no momento em que se cria uma massa crítica de pessoas que receberam, entenderam e assimilaram aquele novo conhecimento, trazido por esses avatares. Mais especificamente, nos séculos XIX e XX, tivemos as presenças de diversos homens e mulheres estudando, desenvolvendo e divulgando numerosos conhecimentos que são, em última instância, libertadores na sociedade, senão do ponto de vista físico, porém do ponto de vista mental, cultural e comportamental. No caso da nossa série de artigos, separamos dois que considero fundamentais para a total alforria dos povos no mundo: Karl Marx, no plano econômico e político, e Aleister Crowley no campo esotérico, religioso e costumes. “Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei”, no entanto, se você não tem dinheiro nem pra pegar um táxi, ou pra comer um misto quente, como poderá “fazer o que quiseres”? Então, apenas os ricos ou os de classe média é que poderão viver a filosofia de Thelema. Mas podemos resolver esse problema unindo os dois conceitos para se chegar à liberdade plena da população.

“De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades” – Karl Marx

Aos que irão achar que esse texto é, na verdade, uma refutação da obra intitulada “Chamando Os Filhos do Sol” do primeiro thelemita brasileiro, Marcelo Ramos Motta, fiquem à vontade. Aos que entenderão que todo o conteúdo exposto aqui é apenas uma continuação de um debate amplo, que envolve temas relacionados ao Oculto, e nesse momento, acrescentando temas políticos, PARABÉNS! E aos neutros, que estão aqui apenas a fim da zoeira, PARABÉNS TAMBÉM!

Todos os que estudam Magia, sabem a respeito do novo Aeon de Hórus, das frequências energéticas atuais que vibram de acordo com as características referentes aos símbolos astrológicos de Aquário/Leão, e como tudo isso afeta nas vidas; ao mesmo tempo em que isso se mistura com o nosso sistema político econômico vigente no mundo, o capitalismo, sistema esse que viveu o seu ápice, na década de 20, durante o Século XX, e desde então vem sofrendo diversas crises, e com a ajuda de diversos mecanismos, estratégias e remendos, tanto com apoio estatal como também da própria burguesia (que controla o Estado), continua se mantendo, porém, aqueles que tem olhos, já identificaram várias formas de ganhar dinheiro e poder, com essa decadência, aproveitando o vácuo, como podemos ver nesse artigo anterior, aqui: https://mortesubita.net/satanismo/o-cristianismo-ja-acabou-e-voce-nao-viu/

Caso não haja uma reação daqueles que, igualmente também têm olhos e ouvidos, mas vivem em “berço esplendido”, tomando sua Caipirinha e assistindo suas séries na sua plataforma de streaming favorita, poderemos estar diante de um futuro similar ao período da Idade Média, mas agora com acesso a internet e dancinhas de tiquetoque.

É muito deprimente ver um ocultista ter o mesmíssimo discurso de um coach de youtube. Na concepção desse pessoal, se você não conseguiu realizar os seus sonhos, ser próspero, ter sorte no amor, ter saúde ou coisas do tipo, a culpa é toda e somente sua. Na verdade, coaches, pastores neopentecostais, magistas, só se diferenciam no uso dos seus jargões, típicos de cada área de atuação. No fim das contas, estão todos incutindo culpa em suas plateias, como sempre fez a Igreja Católica Apostólica Romana, mas com a diferença de que, enquanto essa cobra(va) para garantir um pedaço de terra no céu, a nova trinca de sacerdotes aproveitadores da Nova Era, cobram pra levar felicidade e motivação aos seus seguidores incautos em vida (que, a propósito continuam sem conseguirem se realizar, pois “não se esforçaram o suficiente”). É compreensível e possível entender esses fenômenos, quando se aprofunda sobre as consequências das manifestações de energias, sabendo da existência da dualidade da nossa 3ª dimensão, e das chamadas Oitavas, que podem ser altas ou baixas, fazendo com que existam os que se utilizam dos seus conhecimentos para se aproveitarem e explorarem o povo, e juntamente, havendo outros que possuem o mesmo domínio e compreensão, mas que aplicam em um trabalho de desatravancar a vida das pessoas, arvorando suas consciências e todas as suas capacidades enquanto seres viventes e únicos. O próprio Motta foi uma espécie de coach motivacional de quinta, mas isso tinha a ver com sua formação intelectual resultante da sua origem social de classe média, também conhecida como pequeno burguês, como podemos ver em algumas passagens importantes da sua primeira obra de 1962, “Chamando Os Filhos Do Sol”.

Exemplos que encontramos em seu manifesto:

“19 – Sobre Caridade

Vede em torno vosso, muitos indivíduos que se professam verdadeiros seguidores do verdadeiro Deus, porque praticam a caridade, isto é, dão esmolas aos mendigos, socorrem os famintos, montam orfanatos e promovem auxílio aos desempregados. Em verdade vos digo que esses são cegos conduzindo os cegos; tanto os que conduzem como os que são conduzidos reagiram sempre ao círculo vicioso do Karma instintivo do homem lunar. Pois aquele que dá esmolas aos mendigos incita seu próximo à mendicância; aquele que socorre os famintos afasta muita vez o aguilhão que desperta uma consciência animal à atividade humana; aquele que monta orfanatos deveria antes ensinar aos ignorantes a controlar os seus instintos; e aquele que oferece emprego indiscriminadamente a um desempregado o mais das vezes interrompe uma fase de deslocamento que leva um homem a descobrir sua verdadeira vocação e vontade. Pôr isto os Mestres não auxiliam os homens, mas fazem com que eles aprendam a se auxiliarem a si próprios.” (Chamando Os Filhos Do Sol, Marcelo Ramos Motta)

Já de início apresentamos a primeira contradição e em seguida os questionamentos: ora, se Thelema significa Vontade Verdadeira, e um dos motos da Nova Era de Aquário/Leão é “Faze o que tu queres”, não poderei eu praticar a caridade, algo que é da minha Verdadeira Vontade, e que o meu íntimo diz que é o correto a se fazer, porque não posso contrariar o que o Iniciado acima disse sobre o significado da caridade? Por que deveria eu seguir as ordens de uma pessoa, sendo que ela mesma cita, na mesma obra, outra passagem que diz: “…e digo-vos, enfim, que o maior crime que podeis cometer contra a Chama que queima em vosso coração é dobrar o joelho diante de qualquer relicário”. (Chamando Os Filhos Do Sol, Marcelo Ramos Motta).

Lendo e pesquisando a vida e obra de Motta, é fácil notar que ele foi agraciado pela sua família, com uma vida confortável que lhe conferiu acesso à cultura, educação de qualidade, tendo domínio da língua inglesa, ainda mais levando em conta o período em que ele viveu, um Brasil em que a maioria dos cidadãos eram analfabetos (não analfabetos como uma força de expressão, eram analfabetos literalmente), com altíssimos índices de pobreza, e durante as constantes e altas migrações de nortistas para trabalharem na capital paulista, pois não havia emprego em outros lugares. Agora imaginemos que seus pais fossem praticantes dos ensinamentos de que, ajudar o próximo é um erro. Como Motta iria ter condições materiais e intelectuais de se tornar o que ele se tornou? Ou talvez, durante a escrita das suas análises particulares do Liber Al vel Legis, ele tenha se auto excluído, e que ele, e apenas ele, é que poderia ser beneficiado pela caridade de alguém. “Pimenta nos olhos dos outros é refresco”.

Aqui vemos, ademais outra incongruência:

“22 – Sobre o comunismo

Uma palavra a dizer-vos sobre o comunismo. Quer se disfarce como primitivo cristianismo, quer se chame a si próprio materialismo científico, não é nem uma coisa nem outra, pois os primitivos cristãos adoravam a Deus n’Eles mesmos; refiro-me aos Gnósticos, que a Igreja Católica ferozmente perseguiu e dizimou, porque os sabia conhecedores da natureza da grande feitiçaria. Quanto a materialismo científico, isto é coisa que o comunismo nunca foi, sendo baseado num certo número de axiomas romanescos e idealísticos que nada tem a ver com os fatos da ciência; como, por exemplo, que os homens são todos iguais, quando a evidência é farta de que a lei natural a este respeito é variação da norma; e como, por exemplo, que possessões pessoais ofendem a comunidade humana, o que é fundamentalmente falso e até tolo, pois se a propriedade pessoal fosse o roubo, como querem os socialistas, os homens teríamos todos um só corpo, um só cérebro, uma só língua, um só pênis e um só anus. Ainda mais, a organização social pregada por este “materialismo científico” está em flagrante contraste com a lei natural de evolução por mutação e seleção das espécies; pois a genética nos ensina, e a observação da conduta das espécies o demonstra, que variações da norma produzem evoluções, e que a sobrevivência sempre tem que ser dos mais aptos. Toda sociedade humana, portanto, que não permite o máximo de liberdade para cada indivíduo de desenvolver livremente e por escolha própria as suas tendências naturais, e de competir livremente e igualmente com outros sobre o campo de batalha da vida, é uma sociedade idealística, que nada tem a ver com materialismo ou com a ciência. Portanto, o comunismo, como qualquer outra tendência à uniformidade e sujeição do indivíduo aos interesses de um rebanho ou de uma entidade fictícia (o “Estado”), é uma tendência malsã, idealística e viciosa; combatei-o com todas as forças de vossa individualidade, vós que sois verdadeiros homens!”

(Chamando Os Filhos Do Sol, Marcelo Ramos Motta)

 Ao término dessa leitura, concluímos que o autor leu o exato número de 0 livros de Karl Marx e Friedrich Engels. Na verdade, nem mesmo os marxistas conseguem ler todos, uma vez que há muitos livros e todos eles são altamente complexos e requer tempo e dedicação não apenas para lerem por si só, mas para, da mesma forma, analisá-los, destrinchá-los, contextualizá-los, etc. No entanto, focaremos nesse parágrafo, e vamos a pequena e simples tarefa de o contrapor.

Ao tentar comparar Comunismo com Cristianismo, ele cai no mesmo buraco daqueles que acham que o modelo político econômico proposto por Marx é a ajuda aos pobres defendidos por Cristo ou São Francisco de Assis. Como não há tempo nem espaço para discussões mais aprofundadas, apenas direi que, dentro do ponto de vista marxista, a existência dos pobres no mundo, sob o regime capitalista, após a queda do sistema feudal, e das suas respectivas classes: Rei, Clero e Nobreza, é causada pela existência e manutenção da Propriedade Privada, fazendo com que muitos trabalhem para poucos, e esses poucos fiquem com os lucros e repassem valores apenas para a subsistência desses muitos (atividade conhecida como Mais Valia), criando-se assim, duas classes: proletários e burgueses. Portanto, a tal “defesa dos pobres”, exprimido de forma dúbia pelo autor, nada mais é que a destruição da propriedade privada e, à vista disso, a libertação do proletariado do trabalho.

Quando se diz que “os homens são todos iguais”, na visão da doutrina de Marx, mais uma vez está se referindo a questões político econômicas, e não de biologia, gênero, ou coisa parecida, como deixa a entender Motta. Em seguida, eis que surge o famoso discurso da “liberdade”, como se isso fosse apenas uma questão de decisão. “Eu terei liberdade, basta eu querer” (bullshit). Ele também cita o Estado como uma entidade fictícia, assim como falam os neoliberais e ancaps, no entanto, esses mesmos clamam pela polícia e pelo sistema judiciário (órgãos estatais), quando se sentem atingidos por algo ou alguém. Mal sabem eles que Marx também defendia a abolição do Estado.

Mais contradições acerca da querela da caridade. Em dado momento ele escreve sobre os Rosa Cruz:

“29 – Sobre a Rosa e a Cruz…

…Quarto, os ROSA-CRUZ adoram periodicamente em um Templo do Espírito Santo, onde aprendem a curar os doentes, transmutar os metais e onde comungam uns com os outros…

…Sexto, não se segue, de que os ROSA-CRUZ se dedicam a curar os doentes, que eles sejam médicos por profissão…” (Chamando Os Filhos Do Sol, Marcelo Ramos Motta)

Então os Rosa Cruz curam os doentes? E eles fazem isso mesmo não sendo médicos por profissão, ou seja, não cobram pelos seus serviços? Ora, ora… Isso me parece algo…

Assim sendo,  como foi externado anteriormente nesse artigo: https://mortesubita.net/sociedades-secretas-conspiracoes/a-ausencia-dos-mais-pobres-nas-ordens-secretas-e-porque-isso-e-um-problema/, quero enfatizar sobre a verdade do conceito de Colaboração, enquanto um modo correto de viver em coletividade, e ao mesmo tempo contradizer a ideia erronia da Meritocracia, uma aberração, uma mentira contada para levar os confusos para o abismo. Se alguém conseguiu chegar a algum lugar, foi pela ajuda e colaboração de outros, que facilitaram, deram oportunidades, apoios financeiros, dicas, instruções, conselhos. Se hoje temos acesso a bens materiais, tecnologia, avanços científicos, extinção de doenças, abolições de sistemas escravistas, e o caminho aberto para a continuação da evolução e progresso, foi porque milhares de pessoas contribuíram de algum modo no passado para que isso se materializasse. Façamos então nossas contribuições para o nosso presente e para o futuro dos nossos irmãos e irmãs.

Quero acrescentar que, Marcelo Ramos Motta, apesar dos erros causados pelos seus parâmetros de análise e crítica, resultados de sua origem pequeno burguesa, de ter estudado em escola militar e ter vivido num período conturbado do nosso país, foi e sempre será o pioneiro de Thelema no Brasil; e se hoje temos o conhecimento e sabedoria a respeito de magia, Aleister Crowley, A.’. A.’., O.T.O., e tudo o que veio depois, é graças a ele. O mundo é complexo!

Uma resposta em “ Chamando (novamente) os filhos e filhas do sol”

é o cinza, onde precisamos separar o preto e o branco para entender como ele se formou e aí, fazer uma análise, mas para tanto, é preciso conhecer anteriormente, a Teoria das Cores. Temos a presença de antinomia, que pode levar os incautos à dissonância cognitiva e emocional.

Deixe um comentário

Traducir »