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“Quem dá a outra Face é um cão covarde”: Um Ensaio Sobre Perdão

Leia em 2 minutos.

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por Angrboda M.

SATÃ

Capro e revel, com os fabulosos cornos
Na fronte real de rei dos reis vetustos,
Com bizarros e lúbricos contornos,
Ei-lo Satã dentre os Satãs augustos.

Por verdes e por báquicos adornos
Vai c′roado de pâmpanos venustos
O deus pagão dos Vinhos acres, mornos,
Deus triunfador dos triunfadores justos.

Arcangélico e audaz, nos sóis radiantes,
A púrpura das glórias flamejantes,
Alarga as asas de relevos bravos…

O Sonho agita-lhe a imortal cabeça…
E solta aos sóis e estranha e ondeada e espessa
Canta-lhe a juba dos cabelos flavos!

Cruz e Souza

É impossível não encarar o perdão como um ato enraizado em tudo aquilo que aprendemos no seio cristão. De pouco em pouco é possível observar essa vasta necessidade de “deixar pra lá” aquilo que nos foi feito de errado e, esquecer nem sempre nos traz de fato paz interior, mas nos acomete de fantasmas que ficam bem alocados no nosso mais profundo inconsciente. 

O sentir é algo extremamente pessoal. A forma como recebemos uma informação ou atitude é única. O que nos fere provoca reações que vão até a química do nosso cérebro e podem nos causar profundos traumas. Portanto essa ideia “tóxico-positiva” de perdão pode não só nos acometer de um sentimento de culpa sobre um fato do qual fomos vítimas, bem como pode nos fazer eternos reféns de lembranças dolorosas que nunca iremos digerir. 

Gosto muito do lado da magia do Caos que trabalha o inconsciente, aliada à psicanálise. Esse ato de “perdoar” deve ser trabalhado seguido de muita terapia até trazer à tona o inconsciente. De minha parte vejo muitos atos como imperdoáveis e mesmo não sendo mais satanista, levo para a vida a frase que dá nome a este texto retirada da Bíblia Satânica segundo LaVey: “Quem dá a outra face é um cão covarde”.

Mas o perdão não deveria ser um ato imposto. Há não ser que o indivíduo decida por si que deve perdoar e que, perdoando será capaz de se livrar dos fantasmas do trauma, ninguém tem o direito de impor o ato do perdão. 

Uma mãe cujo filho foi brutalmente assassinado deve perdoar o assassino? Uma mulher que foi estuprada e torturada deve perdoar seu algoz? Eu poderia passar o restante desde texto citando exemplos do quanto a prática do perdão é complexa diante de crimes hediondos e de erros cometidos contra outras pessoas. Mas o que de fato gostaria de elucidar com este texto é: não importa o que te causou mágoa ou sofrimento, você deve abraçar sua dor, senti-la e, somente você será capaz de decidir se deve ou não perdoar. 

Caso decida ou não pelo perdão, o importante é estar bem consigo, não sentir culpa caso decida não perdoar ou não perdoar pelo simples fato de que isso é uma convenção social aceitável. Nos velhos tempos do satanismo, aprendi que bondade deve ser dada a quem merece e, se você quer se vingar por algo que te foi feito, você não será menos nobre do que aquele que se decidiu pelo perdão. Afinal, Envelhecendo, percebemos que a vingança é ainda a forma mais segura de justiça.” (Henry Becque)

É completamente possível ser justo apenas não perdoando a quem te ofendeu. O primeiro perdão, o mais importante de todos é quando perdoamos a nós mesmos pois os outros são apenas os outros. 

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