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Sitra Achra

Piedade – Pequeno Tratado Satânico do Pecado

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A piedade é arte de inferiorizar o ser humano. Os problemas são naturais na vida, nada mais do que um convite à luta para transpor a própria limitação. Viver da caridade alheia não passa de uma vampirização. Todavia, a piedade não se confunde com a ajuda necessária a uma pessoa querida.  Também não se confunde com a indulgência, de que LaVey menciona.

O poeta D. H. Lawrence assim se expressa: “Nunca vi um animal sentir pena de si mesmo. O pássaro cai congelado do galho sem nunca ter sentido pena de si mesmo.”  A compaixão pelos outros já é perniciosa, por si mesmo é pior ainda. É que a compaixão é um sentimento que nada contribui para ninguém.

De acordo com Nietzsche, “O Cristianismo é chamada a religião da piedade. A piedade se opõe a todas as paixões revigorantes que aumentam a sensação de viver: é deprimente. Por obra da piedade, aquele esgotamento de forças que acarreta o sofrimento é multiplicado mil vezes. A piedade torna o sofrimento contagioso; em certas circunstâncias, pode levar a um total sacrifício da vida e da energia vital.”

A auto-compaixão é combatida por grupos, como os Alcoólicos Anônimos, porque uma pessoa que sente pena de si mesma inferioriza-se e não parte para a luta necessária a acabar com o vício. É um engodo para ficar na mesma situação, aparentemente cômoda, e não empregar os meios necessários a acabar com a situação deletéria em que se encontra.

Você pode ajudar alguém da sua estima, mas não sinta compaixão por ela, pois estará inferiorizando uma pessoa que não merece tal tratamento. Dê-lhe ânimo, força de vontade, mostre a pessoa o caminho para melhorar a sua qualidade de vida. Aja justamente na direção inversa.

Se você tem compaixão pelo seu inimigo, não possui auto-estima. Vai ajudar a quem não merece nada de você e, depois, ele vai desprezá-lo por ser um idiota. É claro que, se você estiver envolvido numa estratégia em que precisa convertê-lo num amigo, então tudo muda de figura. Neste caso, não é compaixão, e sim um artifício empregado para alcançar a meta desejada.

Quanto à auto-compaixão, lembre-se  de que você é um ser cheio de possibilidades e este sentimento não leva à nada, a não ser se manter num patamar inferior ao das demais pessoas. Os problemas, as crises, são salutares, uma vida sem problemas seria insípida. Observe e analise o problema, seja criativo e produtivo!

Uma crise anda de mãos dadas com uma grande oportunidade. É capaz de promover, às vezes, até uma mudança  radical na sua vida. Não tema o novo. Tema, sim, padrões mortos e obsoletos, a mesmice que nada lhe acrescenta. Fala a sabedoria oriental que Se o destino te lança uma faca, há duas maneiras de apanhá-la: pela lâmina ou pelo cabo. Apanhe-a sempre pelo cabo.

Conta I. Asimov que Frederico, o Grande, rei da Prússia, inspecionou um dia a prisão de Berlim. Os prisioneiros caíram de joelhos diante dele, cada um afirmando a sua inocência. Um só homem permaneceu afastado e silencioso. Frederico chamou-o.
–    Ei, você, por que está aqui?
–    Por roubo à mão armada, Majestade.
–    É inocente ou culpado?
–    Culpado, Majestade. Mereço meu castigo.
Frederico chamou o guarda.
–    Guarda, liberte este canalha de criminoso imediatamente. Não permitirei que ele permaneça aqui a corromper toda esta gente boa e inocente.

A auto-compaixão é a grande aliada do embuste e sempre alimenta a auto-ilusão. Se você errou, é natural que reconheça o seu erro e não o cometa de novo. Por que esconder algo que lhe serviu de uma grande lição? Contudo, a sociedade desaprova de modo geral o reconhecimento do erro como demonstração de fraqueza. Então ninguém sai por aí apontando os seus próprios defeitos, basta o reconhecimento sincero diante de si mesmo.  A sinceridade do prisioneiro diante do monarca partiu, na verdade, desse reconhecimento. Ele sabia que era inútil mentir, seria apenas uma demonstração de fraqueza. Já dizia Nietzsche – “Todos os valores nos quais a humanidade coloca as suas mais altas aspirações são valores de decadência.”

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