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Sitra Achra

O Caminho da Mão Esquerda: Fundamentos e Comentários (Resenha)

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Morbitvs Vividvs

Afinal qual o significado da expressão Caminho da Mão Esquerda? Seria algo relacionado a pilar negro da severidade na Árvore da Vida? Ou será a contraparte gnóstica da via cardíaca, a tal da via sapientiae? Ou quem sabe uma forma de se opor a Cristianismo já que tantas vezes a bíblia diz que o Filho está a Direita do pai? Para responder essa pergunta, não de forma simplista mas com profundidade Damien Vorhees (Phyrexia) escreveu um livro bastante abrangente sobre o assunto: “O Caminho da Mão Esquerda: Fundamentos e Comentários“. O objetivo autodeclarado da obra é duplo: uma homenagem aos Sombrios e um auxílio aos que pretendem ingressar na Senda ou que já caminham através dela e o autor já  é conhecido por escrever diversos livros canhotos e artigos para o blog Arautos do Caos

A questão da definição clara do Caminho da Mão Esquerda é resolvida rápida e de uma vez por todas logo no primeiro capítulo (Sim você terá que ler o livro para saber) e logo em seguida às primeiras perguntas de quem está chegando neste caminho são antecipadas: A Mão Direita é boa e a Mão Esquerda é má? Quem está em um desses caminhos fica preso a ele? Devo me tornar satanista ou demonólatra? E principalmente… Como começar?

Em seguida conceitos como Hermetismo e Heresias são expostos de um ponto de vista novo e a questão do Antinomianismo é gradualmente explorada. Aqui vale uma citação:

“Inicialmente o termo foi usado por Lutero para se referir a doutrina protestante que consistia na não aderência  a Leis morais de seu tempo, já que Jesus Cristo, tendo padecido na Cruz, havia tido completa vitória sobre o pecado(…) A doutrina da Mão Esquerda, valendo-se  desse ‘lapso’ teológico que surgiu dentro do seio da cristandade adotou também a Antinomia como uma de suas principais características, porém em outro contexto…”

Esse contexto se expressa de muitas formas como no Satanismo, e Luciferianismo, correntes de pensamento que o autor apresenta e demonstra que são complementares. Termos como Demonologia e Demonolatria também são esclarecidos desde os Daemons gregos até os indescritíveis pesadelos lovecraftianos. Para quem quiser sentir o sabor da escrita, o capítulo “Ao Diabo o Status Quo” foi disponibilizado pelo autor.

O livro foi construído de uma maneira curiosa, pois mais ou menos na metade há um capítulo chamado o “Principio Feminino Opositor” que faz contraponto ao sexismo tão comum de se encontrar nas religiões abraâmicas e sendas da Mão Direita. O curioso aqui é que depois deste capítulo e gradualmente a o obra vai se tornando cada vez mais  iniciática e mais poética conforme avança para o final. E o que começou com artigos objetivos se torna mais místico e imaginativo como se o próprio autor quisesse dar uma palha de como pode ocorrer a alquimia de que fala.

Há um capítulo sobre a Não Linearidade da Iniciação que apresenta uma visão alquímica que Junji-Ito com certeza iria gostar, um sobre uma visão sinistra do conceitos como o Sagrado Anjo Guardião e o Demônio Guardião e outro sobre a fórmula mágica DEVA que guarda as três jóias da coroa de Lúcifer. Os capítulos finais são os mais deliciosos na medida que o Arauto do Caos se permite, uma vez esclarecido os conceitos, navegar pelos mares da parábola e da imaginação, incluindo aqui um mito gnóstico sinistro da criação que não apela para conceitos judaico-cristãos.

Como conclusão podemos dizer que o livro “O Caminho da Mão Esquerda: Fundamentos e Comentários” não é a obra definitiva de nenhuma das muitas opções da via sinistra. Mas é um hal de entrada com muitas portas e um anfitrião que insiste em não mostrar o rosto para que os caminhantes decidam por si sós onde querem passar a noite. Se você tem algumas décadas de caminhada talvez encontre aqui uma sabedoria que já tenha encontrado em muitos outros lugares, mas se este é seu primeiro livro sobre o assunto não consigo pensar em um lugar melhor para começar. Não é um livro profundo nem denso, mas é um livro necessário. Uma obra que com certeza precisava ser escrita por alguém. Que bom que foi o Damien.

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