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Encontros com Mescalito

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O primeiro contato de Castaneda com o que ele mesmo conceituou de Realidade Não Comum foi proporcionado pelo consumo do botão o Peiote (ou Mescalito). O debut ocorreu em um encontro ritualístico realizado para o que os participantes estabeleçam comunicação, em nível pessoal, com o Mestre, o Espírito do Peiote.

Esses encontros, tradicionais entre as práticas da magia religiosa pré-hispânica, são chamados, segundo Castaneda, Mitotes. Nessas ocasiões o consumo do Peiote é intercalado com a ingestão de pequenas porções de “comida de poder”. No caso, carne bovina seca ou milho cozido. Não é aconselhado beber nada, apenas usar goles de água que não são engolidos mas, cuspidos pois a intensão é somente para minorar o efeito de boca seca.

Quando os alcaloides do Peiote começam a fazer efeito, o Espírito da planta aparece, assumindo uma forma pela qual se faz reconhecer na condição de Mestre. O usuário, frente ao espírito-Mescalito é um discípulo a quem será transmitida alguma Sabedoria.

De acordo com Don Juan, Mescalito ensina somente àqueles que aceita em seu círculo de simpatia:  …ele ou aceita as pessoas ou as rejeita, não importando que sejam índias ou não. (CASTANEDA, 1968 – p 21)

Ou seja, considera-se, assim, que o Ente vegetal ( e o mesmo vale para o Psilocybe e a Datura) é dotado de um discernimento próprio que avalia a compatibilidade ou não daqueles que desejam integrar-se com eles de desfrutar dos poderes que são capazes de conferir. O iniciante saberá se foi aceito ou não pelo efeito geral experimentado: uma bad trip ou entrar “numas de terror” é sinal de que a Entidade não aceita o usuário.

* Este articulista pensa exatamente o contrário: se a experiência com determinado psicotrópico é porque esse tipo de substância, em particular, não combina com a natureza do experimentador.

Por exemplo, uma pessoa hiperativa, de natureza agressiva, precipitada, ansiosa, irreflexiva, não combina com estimulantes (legalizados ou não) como cocaína, anfetamina ou bebidas alcoólicas. Isso é para gente extremamente lenta, para os desinteressados da vida que beiram à mediocridade patológica (como uma doença). Eeeeeeeeeee… Não! Não me deterei nesse assunto.

Castaneda relata três ocasiões em que consumiu ou mascou os botões de Mescalito e dá a impressão de que essas foram suas únicas experiências nas quais ingeriu a substância. Logo depois da primeira experiência o Don Juan afirmou que Mescalito tinha gostado do novato …porque ele brincou com você…

Sobre a Natureza e as manifestações de Mescalito

… Não pode ser domesticado e usado como se pode fazer com um aliado. Mescalito está fora da gente. Ele resolve mostrar-se em muitas formas para quem estiver defronte dele, não importando que essa pessoa seja um brujo ou um peão de fazenda. …Ele aconselha. Responde a todas as perguntas que você fizer. (Idem, 1968, p 27)

Ele aparece em qualquer forma para aqueles que só o conhecem um pouco, mas para aqueles que o conhecem bem, é sempre constante. …às vezes, como homem, como nós, ou como uma luz. Apenas uma luz. (Ibdem, p 27)

Mescalito tira a pessoa dela mesma para ensinar-lhe. Um aliado a tira para lhe dar poder (p 27)… Você o pode conservar consigo sempre e ele velará para que nada de mau lhe aconteça (p 45). Ensina a viver direito. …Mostra coisas e diz o que são (p 46).

Os sinais inquestionáveis de que um “candidato” foi aceito pelo Mestre Peiote são três: 1. Ele aparece em duas formas constantes e iguais para todos os aprovados, a saber, em forma humanoide e como uma luz; 2. o vínculo é confirmado quando a Entidade revela seu nome, diferente para cada aprendiz e secreto; 3. Ensina canções exclusivas para o peiotista. Tanto o nome quanto as canções não podem ser mencionados/ensinados a ninguém e ambos servem para chamar o Mestre.

Castaneda recebeu mais que a simpatia de Mescalito, foi formalmente aceito quando recebeu os três privilégios mencionados: viu o espírito do vegetal na forma de um vegetal humanoide, viu-o como uma coluna de luz, obteve a revelação do nome e foi contemplado com a inspiração de duas canções exclusivas.

Em um Mitote relatado em Uma Estranha Realidade (1971), participando apenas como auxiliar e expectador, o antropólogo vivenciou uma experiência de consciência alterada durante a qual teve uma visão reveladora e prolongada da própria mãe e o vislumbre da Realidade Não Comum da luz que emana de todo os homens.

Sobre esse episódio, Don Juan, afirmou que ele e todos os outros participantes daquele Mitote haviam percebido a presença de Mescalito manifestado em uma luz que pairava sobre o pesquisador, mesmo sem que este tivesse consumido os botões. O Xamã, considerando o acontecimento um presságio extraordinário sentenciou: Castaneda era um discípulo especial, uma espécie de escolhido pela Entidade, definitivamente destinado a trilhar o Caminho do Guerreiro.

Ligia Cabus

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