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Paganismo

Como celebrar a Saturnália

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Prof. Roberto Zarco Câmara

Saturnália era o mais popular de todos os festivais na Roma Antiga. Era feito em honra a Saturno, deus que ensinou ao homem a agricultura e as artes da vida civilizada. Era celebrada na época em que o ciclo das plantações estava fechado, logo após a colheita. Uma época de festividade e abundância pelo fim de outro ano proveitoso. Durante a Saturnália o comércio as cortes e escolas tinham suas atividades suspensas.

Apesar da origem em rituais gregos mais antigos, a Saturnália foi instituída por volta de 217 a.c pelo Império como uma forma de elevar a moral de seus cidadãos depois de uma derrota militar no Cártago. Originalmente era celebrado no dia 17 de dezembro do calendário Juliano (1º dia de capricórnio). Entretanto sua popularidade a festividade cresceu até se tornar um evento de uma semana que terminava dia 23 do mesmo mês.  O principal motivo para essa extensão do feriado foi a incorporação de outras celebrações que ocorriam no mesmo período, como a Sigilia e Opalia.

A Sigillaria era uma festividade que ocorria no bairro de igual nome aonde pequenas figuras em geral feitas com material arenoso eram confeccionadas e vendidas para então serem dadas de presente as crianças. A Opalia por sua vez eram os louvores festivos feitos à deusa romana Ops, esposa de Saturno. Sendo Ops deusa dos frutos e da abundância foi questão de tempo unir suas honras às de Saturno, deus das sementes e da agricultura. Para uma visão mais aprofundada confira a história de Saturno mais a frente neste mesmo artigo. Houveram esforços entre as autoridades romanas de tentar reduzir o tempo das festividades de fim de ano. Augusto tentou reduzir para três dias, Calígula para cinco. Contudo, todas as tentativas resultaram em revolta civil e tiveram que ser abolidas.

A Saturnália era celebrada de duas formas: um ritual público organizado pelo estado e um ritual privado organizado pelas famílias. No ritual público um príncipe da Saturnália era eleito como mestre de cerimônias que envolvia sacrifícios animais no altar frente ao templo de Saturno e a retirada do manto que cobria a estátua de Saturno no restante do ano.

As cerimônias privadas incluem a dispensa de todos, incluindo escravos, de suas obrigações. Além disso eram trocados presentes entre as pessoas (saturnalia et sigillaricia), haviam descontos promocionais no comércio (sigillaria) e as apostas eram temporariamente legalizadas para todos, novamente incluindo os escravos. Acima de tudo era uma época de banquetes, bebidas e celebração. A costumeira toga era trocada pela synthesis, mais coloridas e informais “roupas de jantar” e os pileus, gorros semelhantes as do papai noel de hoje eram usadas por todos. Outro ponto interessante é que os escravos não podiam ser castigados nesta época de modo que podiam tratar seus senhores com uma informalidade muito maior. Nos banquetes eles se sentavam lado a lado com seus donos, e em alguns casos eram servidos por eles em uma inversão de papeis.

Com a conversão de Constantino ao cristianismo o feriado pagão mais popular da época não podia ser extinto, foi portanto transformado. Muitos dos costumes natalinos dos dias de hoje são herança direta da celebração romana, misturado com teologia cristã e outros costumes da época como o aniversário de Mitras (25 de dezembro). Caso você não se sinta bem com a egrégora cristã ensinamos a seguir como você pode reviver em sua casa o espírito da celebração privada da Saturnália resgatando o aspecto original das festas de fim de ano:

Quem é Saturno

A Saturnália é a festa dedicada à Saturno, portanto o primeiro passo é conhecer melhor esta divindade:

Saturno é acima de tudo o deus do Tempo. Sua festa existe para relembrarmos quais foram as principais “colheitas”, nossas conquistas e fortunas. Logo cedo Saturno depõe seu pai Urano de sua posição soberana entre os deuses, mas recebe a profecia de que ele mesmo seria deposto por seus filhos no futuro. Casa-se com Ops, deusa da Terra e têm com ela diversos filhos. Por causa da profecia ele os devora assim que nascem, incluindo os deuses Vesta, Ceres, Juno, Plutão e Netuno. Para salvar o recém nascido Júpiter a Réia embrulha uma pedra em panos e as dá para Saturno comer em seu lugar. O deus passa mal com a pedra e então vomita todos os filhos que haviam sido devorados. Eles então se unem numa luta ao lado de Júpiter para derrotar seu pai que é então exilado no Tártaro. Isso nos lembra que tudo o que temos e somos será eventualmente é devorado pelo tempo a não ser que ativamente nos coloquemos contra isso.

Este é o aspecto sombrio do tempo que não pode ser negado. Contudo em um segundo momento Saturno reaparece na região de Lácio apresentando agora seu outro lado. Lá ele inicia uma Idade de Ouro e transmite sua sabedoria para os  seres humanos. Ensina os segredos da agricultura e da civilização e colabora com a formação de Roma. Em outras palavras, o tempo também trás sabedoria. Mais do que isso, quando o tempo usado com sabedoria rende ótimos frutos. Se por um lado as coisas são passageiras nem por isso devem deixar de ser desfrutadas. Afinal onde estão hoje todas as colheitas do passado? De que serviram se não foram aproveitadas? O tempo leva tudo embora é verdade, mas é ele também que tudo nos trás. É este aspecto positivo de Saturno que é celebrado na Saturnália.

Lectisternium: O banquete em honra a Saturno

A celebração privada da Saturnália é um banquete feito para comemorar a abundância das colheitas. Os passos abaixo seguem a antiga tradição pagã romana de como esta festa era celebrada:

– Convide seus amigos e familiares para o banquete que deve acontecer entre os dias 17 e 27 de dezembro. O dia mais indicado é dia 21, pois é o primeiro dia de Capricórnio no calendário Gregoriano.

– Caso tenha empregados em sua casa, convide-os também, trate-os como convidados de honra.

– Use as cores tradicionais do feriado: verde e dourado. Convide os convidados a fazerem o mesmo.

– Enfeite o cenário do banquete com velas acesas, nozes e amêndoas. As portas, janelas e escadas devem ser decoradas com verde e dourado. Girlandas são o ornamento tradicional.

– Assim com era em Roma a mesa e o lararium (Altar) serão uma só coisa em seu jantar de Saturnália. Portanto no centro da mesa disponha uma imagem ou estátua de Saturno em posição de destaque. Ele é tradicionalmente retratado como um senhor de longas barbas brancas opcionalmente carregando uma ampulheta ou foice de colheita. Mantenha-o o altar limpo e sem bagunça. Disponha os limentos e bebidas ao seu redor.

– Caso possua árvores ou plantas em sua propriedade enfeite-as com símbolos solares, estrelas e a face do deus Janus (que observa o fim do ano velho e o começo do ano novo). Na Roma Antiga as árvores não eram colocadas dentro das casas, mas eram decoradas onde cresciam.

– O prato principal deve ser uma carne bem preparada que foi previamente oferecida a Saturno.

– Faça ou compre biscoitos no formato de símbolos da fertilidade, do sol, da lua das estrelas e de animais.

– Quando os convidados chegarem distribua se possível pileus verdes, as tocas de Saturnália.

– A saudação tradicional na ocasião era “Io, Saturnalia!”, “Io” pronunciasse “e-o saturnalea” e significa “Viva a Saturnália”.

– A bebida oficial da Saturnália é o mulsum, feito de vinho e mel

– Antes de iniciar o banquete conte o significado da data e a história de Saturno aos convidados.

– No final distribua presentes para os convidados, incluindo pequenas lembranças como doces e velas. Inclua nos presentes bilhetes com poemas tradicionais como os do poeta romano Martial, nas obras “Xenia” e “Apophoreta”.

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