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O Que Aprendi Ouvindo Metal

Leia em 5 minutos.

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Repetindo um mantra que aprendi há algum tempo: “Pagode é crime, pagodeiro criminoso e quem gosta desse tipo de música é conivente com o crime” – e já afirmo agora que coloco axé, sertanejo, funk no mesmo balaio. Óbvio que isso no âmbito musical, não digo que todo pagodeiro faz parte ativa no narcotráfico, apenas que não considero isso que chamam de música como sendo música. Claro que surgem os “coniventes do crime” afirmando que metaleiros – ou quem gosta de rock, seja pesado ou não – é preconceituoso, que opinião musical é como cú, cada um tem o seu. “O que não pode é ter preconceito, tem música boa em todos os estilos!” Mas será tem mesmo?

Em uma conversa recente surgiu a discussão que pagode – e todos os outros estilos musicais que seguem no mesmo balaio – são manifestações da cultura popular brasileira. Cultura? Respondi que esses estilos tem tudo menos cultura. A resposta veio como um raio partindo do céu: E essa barulheira que você gosta? Isso é cultura?

Este texto é minha tréplica.

Qualquer pessoa que pegue uma tabela periódica, com as devidas legendas, com todos os 118 elementos conhecidos pela raça humana que compões tudo o que forma o universo, encontra apenas 20 elementos considerados Não Metais, ou seja, o universo para existir precisa do metal. O Metal é responsável por mais de 83% de tudo o que te cerca. Claro que muitos podem achar que evocar a química neste ponto não mostra como o metal pode gerar mais cultura do que o Pagode (que passo a escrever com maiúscula para representar todos os outros estilos musicais do balaio).

Vou então um pouco além, para nossa realidade prática.

Em 2007 o jornal britânico The Telegraph publicou um artigo entitulado: Heavy metal ‘a comfort for the bright child’ – Metal Pesado, um conforto para a criança brilhante.

O artigo mostra os resultados de um estudo feito pelo psicólogo da Universidade de Warwick, Stuart Cadwallader, com mais de 1000 indivíduos que fazem parte dos 5% de jovens mais brilhantes da Inglaterra. Esses resultados mostram que adolescentes inteligentes geralmente acabam ouvindo Heavy Metal para ajudar a lidar com as pressões decorrentes de seus talentos. Os pesquisadores descobriram que longe de serem delinquentes rebeldes e ignorantes, com uma vida escolar repleta de notas baixas, muitos adolescentes metaleiros são extremamente brilhantes, e usam a música como uma forma de conforto contra o stress de serem marginais dotados de uma inteligência acima da média.

Na verdade, o próprio mundo do rock e do metal é formado por roqueiros são exemplos de que o gênero em questão é o que mais possui representantes na orla acadêmica:

*Freddie Mercury tinha formação superior em Design Gráfico.

*Bryan May, guitarrista do Queen formou-se em Ciências Físicas e Matemática Imperial, em Londres. Em 2007 ele concluiu seu doutorado em astrofísica.

*Thomas Baptist Morello, da banda Rage Against The Machine, é formado em Ciência Política, em Harvard.

*Bryan Keith Holland, da banda Offspring, é mestre em biologia molecular.

* John Lennon era formado em Artes Gráficas pelo Liverpool Institute of Arts, de Liverpool.

*Greg Graffin, do Bad Religion, formou-se em Antropologia e Geologia na Universidade da California, e concluiu doutorado em palenteologia evolucionária na Cornell University.

*Dave Rowntree e Alex Jones, da banda inglesa Blur, parciparam da missão especial Beagle 2, para buscar sinais de vida em Marte. Dave formou-se em Ciências de Computação na Politécnica de Thames. Alex é astrofísico e trabalha com o Departamento de Astrofísica na conceituada Universidade de Oxford.

e não poderia deixar de fora

*Bruce Dickinson, do Iron Maiden, que além de piloto de avião é historiador. Em 2011 ele recebeu título Honoris de doutorado pela Universidade Queen Mary College, de Londres, pela sua contribuição à indústria musical.

Talvez isso explique uma matéria publicada em 2011 no jornal O Estadão, de São Paulo, com o título “Gostar de rock começa a pesar na avaliação profissional”.

No artigo, Marcelo Moreira escreve sobre a experiência de uma empresa multinacional instalada no ABC (Grande São Paulo) que penava para contratar um estagiário para a área de contabilidade e administração. Ela já havia analisado diversos currículos e entrevistado 24 jovens ainda na faculdade ou egressos de cursos técnicos.

Segue trecho do artigo:

“[o gestor] Conversou com todo o tipo de gente, do mais certinho ao mais despojado, do mais conservador à mais desinibida e modernosa. Preconceitos à parte, procurou focar apenas a questão técnica e os conhecimentos exigidos.

Alguns candidatos até possuíam a maioria dos requisitos exigidos, mas acabaram desclassificados em um quesito fundamental para o gerente: informação geral, que inclui hábitos culturais.

O escolhido foi um rapaz de 20 anos, o penúltimo a ser escolhido. Bem vestido, mas de forma casual, usando rabo de cavalo, mostrou segurança e certa descontração, além de bom vocabulário e de se expressar de forma razoável, bem acima da média.

Durante as perguntas, o gestor observou que o garoto segurava um livro e carregava um iPod. O livro era a biografia de Eric Clapton. Após a quinta pergunta, direcionou a conversa para conhecimentos gerais e percebeu que o rapaz lia jornais e se interessava pelo noticiário.

“Você gosta de rock?”, perguntou o gerente. “Sim, e de jazz também”, respondeu o garoto. O entrevistador não se conteve e indagou se o rapaz se importava de mostrar o que o iPod continha. E viu um gosto eclético dentro do próprio rock: havia muita coisa de Black Sabbath, Deep Purple, AC/DC, mas também de Miles Davis e big bands.

“Não aprecio rock, não suporto o que minhas filhas ouvem, mesmo seja Rolling Stones, meu negócio é Mozart, Bach e música erudita. Mas uma coisa eu aprendi nas empresas em que passei e nos processos seletivos que coordenei: quem gosta de rock geralmente é um profissional mais antenado, que costuma ler mais do que a média porque se interessa pelos artistas do estilo. Geralmente são mais bem informados sobre o que acontece no mundo e respondem bem no trabalho quando são contratados. Nunca me arrependi ao levar em consideração também esse critério”, diz o gerente.

O resultado é que o garoto foi contratado após 15 minutos de conversa, enquanto cada entrevista com os outros candidatos durava 40 minutos. “Não tive dúvida alguma ao contratá-lo. E o mais interessante disso: percebo que essa é uma tendência em parte do mercado há pelo menos três anos, pois converso muito com amigos de outras empresas e esse tipo de critério está bastante disseminado. Quem gosta de rock é ao menos diferenciado”, finalizou o gestor.”

Chegamos em outro ponto da resposta. Isso nos mostra que talvez, pessoas inteligentes sejam atraídas pelo Metal, mas não necessariamente que o Metal seja cultura, ou que o Metal traga cultura, nem seja uma manifestação de cultura. Bem, para isso então segue-se uma compilação que preparei. Claro que para fazê-la, tive que aprender inglês, uma segunda língua, e para apreciar realmente o Metal em todos os nuances, tive que aprender inglês muito bem, diferente do Pagode, em que temos que desaprender o português.

Resolvi escolher bandas que ouvia na minha adolescência – e ouço até hoje – de forma aleatória e, através de sua música, mostrar o que eu aprendi ouvindo metal. Desafio Pagodeiros a fazer o mesmo.

Por Rev. Obito

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