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Adão segundo o Martinismo

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Sar Naquista

“O Homem é o Único Livro escrito pela mão de Deus; todos os outros livros que chegaram até nos, Deus ordenou ou permitiu que fossem escritos”.
– Louis-Claude de Saint-Martin (Ministério do Homem Espírito)

O Homem Original foi emanado após os primeiros Espíritos prevaricarem. Contudo ele mesmo não havia sido afetado por esta rebeldia e ainda era puro em seu estado original. Martinez de Pasqually nos ensina que esta emanação ocorreu para cumprir a missão de reconduzir ao Amor de Deus todos os seres que se afastaram dEle e sendo o instrumento da Justiça e da Clemencia de Deus, reconduzir todos a Reintegração Universal. Uma vez emanado foi imediatamente emancipado na esfera inferior da imensidade Supraceleste para cumprir sua missão.

Quando usamos o termo Homem, precisamos lembrar que tanto Pasqually como outros autores martinistas usam a terminologia de seu tempo e usando uma metonímia, quando falam Homem estão ou falando de um Ser andrógino anterior a separação dos sexos, ou não de um ser Ser Único, mas de toda a Humanidade em sua potencialidade.

Neste tocante é Jean-Baptiste Willermoz que nos traz uma explicação em uma carta dirigida ao Barão de Turckheim:

“Uma multidão incontável de inteligências humanas formando assim a totalidade de sua classe, mas não a totalidade definitiva pois o Criador, sendo infinito ainda pode, quando Lhe apraz, emanar Dele novas inteligências humanas posteriores as primeiras para, junto com elas, formar a classe das inteligências humanas”.

Mas dentro desta Humanidade assim emanada, um Ser foi escolhido para exercer a autoridade Divina sobre os Espíritos prevaricadores. É este ser que chamamos de Adão Primordial, nas palavras de Pasqually:

“ o primevo Pai temporal, ou Réaux, que significa Homem-Deus, fortíssimo em sabedoria, virtude e poder”

Desta forma Adão ocupou o lugar central na Imensidade Celeste Septenária para exercer seu poder. Em “Dos Erros e da Verdade”,  Louis-Claude de Saint-Martin também assim comenta, de sua forma simbólica:

“A região onde o Homem devia combater estava coberta por uma floresta formada por sete amores. . . E nesse lugar de delicias, a morada da felicidade do Homem e o trono de sua gloria, que ele teria permanecido para sempre feliz e invencível; porque, tendo recebido ordem de ocupar seu centro, ele podia dali observar sem dificuldade tudo o que se passava ao seu redor”.

O Corpo Glorioso de Adão

O Martinismo  entende que o Paraíso Terrestre da narrativa bíblica está dentro da Criação Universal, na imensidade Celeste bem ao centro da área cercada pelos quatro primeiros círculos desta imensidade.

Estando dentro a Criação Universal Adão precisou revestir-se de um corpo para cumprir sua missão. Conforme ensina Martines de Pasqually:

“Todo ser emancipado, para realizar as vontades do Criador, produz um envoltório temporal corporal que serve de véu a sua ação espiritual transitória. Sem esse revestimento, não poderia de nenhuma maneira atuar sobre os outros seres temporais sem consumi-los com a faculdade inata do Espírito puro de dissolver tudo de que se aproxima”.

O envoltório de Adão, ou seja, seu corpo não era um corpo material como o que possuímos atualmente, mas um  “corpo glorioso”, uma armadura impenetrável que controlava e variava conforme sua vontade e que não era sujeito a nenhuma influência externa. Este Corpo de Luz ou “corpo impassível”,  para usar um tempo de Martines de Pasqually não necessitava alimentação, limpeza ou sono e era incorruptível. Essa qualidades eram lhe garantidas pois era composto das três Essências Imateriais (Encofre, Mercúrio e Sal) em seu estado mais puro.

A Lança do Verbo Divino

Além de sua armadura ao Homem-Deus (Réaux) foi dada para que cumprisse sua missão um poder extraordinário que o destaca de todos os outros seres. Este poder Saint-Martin em seu simbolismo descreve como uma lança feita da uma combinação de quatro metais tão amalgamados que, desde a origem do mundo, ninguém jamais poderá separar.” A lança é o Tetragrammaton, o Nome Sagrado de Deus e os quatro metais são as letras que o compõem:

A Lança Sagrada é o poder do Verbo Divino. Esta é a marca quaternária que trazemos em nosso íntimo até hoje e nos distingue de todos os outros seres criados. Ela caracteriza o Homem e a razão deste ser chamado por Pasqually de “Espirito Menor Quaternário”. Esta lança representa por si só a missão de Adão na Criação ao traduzir o fato de que ele foi criado a imagem de Deus, sua Justiça e sua Clemência.

Os Filhos de Adão

Além do Corpo de Luz e da Lança do Nome de Deus, Martines de Pasqually diz ainda que o Adão Primortial poderia produzir cópias iguais a si e totalmente e acordo com o seu modelo, sem qualquer prejuízo para si mesmo, tanto quanto fossem necessários para cumprir sua missão.

Para compreender melhor essa afirmação é preciso entender que a essa altura Adão era o único ser emancipado conforme nos ensina Jean Baptiste Willermoz:

“Adão foi o primeiro e o único emancipado de seu circulo a habitar o centro das quatro regiões celestes do universo criado e ai conhecer e exercer a missão que lhe seria encarregada, mantendo-se em sintonia de pensamento e de vontade com os outros seres da classe que ainda não podiam estar em sintonia de ação com ele, uma vez que ainda não eram emancipados para realizar nenhuma ação de forma Livre e consciente; e só podendo sê-lo após obterem de Deus, no momento certo, a emancipação temporal que Adão lhe teria solicitado para auxiliá-lo em suas funções”.

Em sua posição Adão, continuava em comunhão com o Pensamento Divino e com os outros seres que permaneciam na imensidade Celeste. Foi lhe dada ainda a faculdade de criar uma descendência espiritual, ou seja, ele podia produzir corpos gloriosos como o seu e concede-los aos menores de sua classe, os quais o Criador emanciparia para assisti-lo em sua tarefa.

A Queda

Com tudo o que foi dito está claro que o Ser primeiro que chamamos Adão Primordial estava mais do que capacitado e empoderado para cumprir sua missão. Seu poder era sem precedentes, seu corpo resistente a qualquer influência externa e poderia ainda criar tanta descendência de si quanto fosse necessária para lhe auxiliar. A única coisa que poderia dar errada é se ele quebrasse de dentro para fora, ou seja, se também prevaricasse.

Foi exatamente isso o que aconteceu. Adão deu ouvido aos espíritos que haviam prevaricado antes dele e sobre os quais tinha guarda e poder, e tentou criar uma descendência sem a colaboração de Deus. Mas ao invés de um corpo glorioso que teria feito com a colaboração do Criador, produziu uma copia de si sem Deus, ou seja, uma forma tenebrosa, um corpo material e não um envoltório espiritual.

Desta forma, Adão perdeu sua posição da Imensidade Celeste e sua natureza gloriosa. Pois ao prevaricar, Deus o colocou em um corpo de carne como o que havia criado e o lançou ao Mundo Terrestre onde seria obrigado a a viver até se reconciliasse e participasse da reintegração.

Importante frisar que Adão não tomou essa decisão sozinho, mas com a anuência de toda Humanidade que ainda estava na Imensidade Supraceleste e com a qual comungava em pensamento e vontade. Assim, por nossa culpa fomos condenados ao exílio material “gemendo e chorando neste vale de lágrimas.” enquanto que antes poderíamos nos deslocar por toda a Criação Universal e corpos incorruptíveis.

Eva

Para auxiliar Adão em sua reconciliação Deus emancipou um espírito para animar o primeiro corpo material criado por Adão. Assim o martinismo entende o surgimento de Eva de sua costela. Ou seja, o Adão Primordial era andrógino, foi apenas sua incorporação material que provocou a separação entre os sexos. Isso explica porque as Sagradas escrituras possuem duas narrativas sobre a criação humana nos capítulos I e II de Gênesis.

A partir deste momento Adão só poderia ter uma descendência por meio de sua companheira e portanto uma descendência de natureza material e todos os outros seres humanos precisariam a partir de então aguardar novos corpos serem produzidos por seus pais terrestres para descer a matéria e iniciar seu processo de reconciliação.

Estes corpos tem ainda a mesma forma que o corpo de glória original, embora os de Adão tenha isolado as características masculinas e os de Eva as características femininas. Mas a parte disso a única diferença é que os veículos materiais, ao contrário dos envoltórios espirituais, são passiveis de deterioração e suscetíveis a influências do mundo material. As Três Essências Imateriais ainda estão conosco, porém de forma embrutecida. Em particular o Mercúrio se relaciona as partes solidas do corpo, como os ossos, o enxofre a partes fluídica, especialmente ao sangue e o Sal aos tecidos e superfícies de nossos músculos e orgãos.

Ressureição

Nosso Espírito contudo conserva nossas qualidades originais, mas perdemos nossa qualidade quaternária. O que ocorreu foi o que Martines de Pasqually chama de “extraviou do quatro ao nove”, ou seja o poder da Lança foi agora perdido, ou melhor, adormecido quando caímos no mundo material. Em outras palavras, nosso corpo agora é submisso as forças cegas da natureza, mas nosso ser permanece livre. De fato, a missão humana agora é recriar seu corpo glorioso, naquilo que as Sagradas Escrituras chamam de “Ressurreição dos Corpos”.

Como está em I Corintios 15,44: “Semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual.” Essa não é uma tarefa trivial e conforme ensina Louis-Claude de Saint-Martin:

“A medida que avançamos nesta tarefa, nos revestimos com o manto de Elias… Nada existe a não ser esse manto de Elias – ou nossa veste pura e primitiva – que possa conservar a Palavra em nos, da mesma forma que o nosso manto terrestre conserva nosso calor corporal. O ser animal não consegue absolutamente conter em si essa palavra viva; apenas o nosso corpo virginal pode fixá-la”.

A única forma de conseguir isso é nos regenerando em todos os planos até que possamos restituir nossa supremacia espiritual. Para isso será preciso reencontrar nossa real natureza que está agora oculta por trás do manto de carne que criamos. Este trabalho interior nos permitirá reencontrar nossa Lança sagrada.

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