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Magia do Caos PSICO

Panpsiquismo e Magia

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 excerto de “The Apophenion” de Peter J Carroll

“Tudo está cheio de deuses.” – Tales de Mileto

The Apophenion foi o quarto livro de Peter J. Caroll após os seus relativamente mais famosos Liber Null. Liber Kaos e PsyberMagick, lançados nos anos 80 e 90.  Com “The Apophenion”, Peter começou em 2008 uma nova fase de seus escritos mágicos na qual se utiliza de dados fornecidos pela pesquisa científica atual para criar uma base bastante sólida em seu paradigma mágico.

Neste capítulo Peter Carroll mostra como a coisificação da realidade é o que faz o panpsiquismo parecer algo infantil. Mas quando percebemos que uma pedra, uma cadeira ou uma pessoa não existem realmente como coisas mas sim como processos formados por quantas, uma nova perspectiva se forma para a teoria de que a mente é uma característica fundamental e onipresente da realidade.

A fase pós-I.O.T de Peter possui ciência suficiente para perturbar os mágicos, magia suficiente para perturbar os cientistas, blasfêmia suficiente para perturbar os transcendentalistas e religião o bastante para fazer os materialistas se coçarem. É enfim um livro capaz de ofender a todos.

– LöN Plo

Parte 1 – A Metafísica do Não-Ser

Metafísica supõe uma série de suposições que delineiam a forma como interpretamos os fenômenos observados. Grandes suposições como a existência da mente, da matéria, de deuses, da casualidade e aleatoriedade caem nessa categoria.

A palavra fenômeno meramente denota os eventos percebidos. Ao nos refrear a falar sobre as “coisas” nós nos percebemos fazendo muitas assumpções iniciais, em particular nós evitamos o questionável conceito da “coisidade”.

Podemos encontrar “O universo em um grão de areia”?

Bom talvez, mas uma pedra é mais fácil de visualizar.

Exames seguidos de um simples fenômeno como pedras sugere que por si mesmas elas não façam muita coisa.

De simples observações nós construímos modelos inteiramente falsos da realidade com linguagens e filosofias equivalentes.

Um exame mais detalhado de uma pedra pede a invenção de extensões artificiais para a nossas escassas habilidades sensórias. Por algumas poucas centenas de anos nós usamos a ideia de que pedras não fazem nada por si só, mas no último século nós percebemos que mesmo o mais simplório pedaço de pedra faz muita coisa.

Por trás do aparentemente imóvel exterior de qualquer pedaço de pedra há um rodopiante mundo de alta atividade energética conduzindo a si mesma em velocidades surpreendentes.

Para começar, uma pedra ativamente interage com a luz, seletivamente absorvendo certas frequências e emitindo outras, o que significa que exibirá cores distintas. As moléculas dentro da pedra vibram em uma frequência de acordo com sua temperatura. Se a vibração cessa, a temperatura cai ao zero absoluto e ela encolherá a seu tamanho mínimo. Os elétrons nos átomos que compõem as moléculas da pedra possuem grandes velocidades orbitais, na ordem das centenas de milhares de quilômetros por hora enquanto eles mesmos seguem um complicado padrão vibratório de spin enquanto orbitam. No núcleo dos átomos da pedra processos complexos envolvendo energias ainda mais elevadas ocorrem sem cessar. A pedra também interage com todo universo gravitacionalmente, parcialmente curvando o espaço-tempo ao seu redor e respondendo a curvatura espaço-temporal de objetos maiores como planetas e estrelas.

Portanto em suma, uma pedra consiste de muitos processos. Se você a empurra ela empurra de volta com sua inercia, se você a cutuca seus elétrons respondem para repelir os elétrons do seu dedo.

Nós não podemos realmente perguntar o que uma pedra “é”, nós só podemos perguntar o que ela faz, ao que se assemelha e como a sentimos.

Nós não temos nenhuma razão para supor que ela consiste de qualquer outra coisa que a totalidade do que ela faz.

Entretanto nossa escassa e limitada capacidade sensória encoraja os programas mais simples de nosso cérebro a conceitualizar uma pedra como tendo uma espécie de estado estático de “ser” porque não conseguimos perceber seus processos diretamente, ou facilmente perceber a maior parte do que esta se passando. Esta má compreensão do “ser” nos levou a erguer assumpções e filosofias inteiramente falaciosas. Isso resultou em sérias consequências práticas e matou milhões de pessoas (Você entenderá como a seguir).

Os autores de ciência popular parecem se deliciar em revelar que átomos, que compõem o mundo, nós e as estrelas, consistem quase que inteiramente de espaços vazios. Eles geralmente usam a analogia de que um átomo aumentado para o tamanho de uma sala de concertos teria um núcleo do tamanho de uma ervilha na ponta da batuta do maestro com elétrons do tamanho da ponta de um alfinete orbitando na distância das arquibancadas do fundo.

Isso vai depender do que você considera ser “espaço vazio”. Parece muito improvável que qualquer coisa parecida com um espaço vazio realmente exista. Embora as vezes elétrons se comportem como pontos sem dimensão, quando orbitam um núcleo de átomos ele se comportam como nuvens difusas espalhadas por toda sua órbita. Uma pedra também exibe certa quantidade de gravidade, e gravidade consiste em uma curvatura do espaço e tempo. Nós normalmente não percebemos a curvatura do espaço e tempo das pedras, mas as grandes pedras como a lua e os planetas exibem curvaturas que não podem ser negadas, atrai objetos menores e os fazem caírem em suas superfícies. Esta curvatura se estende por todo universo, então em certo sentido todo objeto se estende por todo universo. A superfície aparentemente limitada de um objeto surge em nossa percepção apenas enxergam as forças eletroestáticas de curta distância sua interação entre os elétrons e a luz. Criaturas que percebessem apenas gravidade experimentariam qualquer objeto como um fenômeno que se entende do seu centro e gradualmente perde intensidade ao se espalhar pelos limites do universo.

As forças de curta distância dentro de um átomo provavelmente também consiste de uma espécie particular de curvatura do espaço-tempo, então ele esta de certa forma cheio e não vazio. Em outras palavras o espaço tempo tem uma estrutura que emerge da presença da matéria nela, ou posto de outra forma, a curvatura do espaço tempo é vista por nós como a presença da matéria.

A ideia de que partículas subatômicas tenham algum tipo de tamanho definido faz pouco sentido de qualquer forma. Elas possuem largura de onda mensurável que podem determinar o tamanho dos espaços pela qual pode passar, mas largura de onda é algo que tende a decrescer com a massa das partículas quânticas ou com o decréscimo de sua energia ou velocidade. Elétrons em átomos podem absorver ou emitir fótons (quantas leves) que aparecem para nós como “maiores” do que os próprios elétrons.

Nossos parcos sentidos tendem a nos encorajar um modelo de espaço e tempo como fenômenos privados (que meramente consiste na ausência de eventos). Morte por exemplo não existe em um sentido positivo, mas consiste meramente na ausência de atividade vital, e similarmente Trevas consiste meramente na ausência de atividade de quantas luminosos.

Entretanto não podemos mais considerar o espaço como a ausência de algo e tempo como o intervalo entre eventos. Espaço-tempo tem uma estrutura definida pela presença da matéria e energia, grandes concentrações de matéria curvam o espaço-tempo e grandes velocidades mensuravelmente o deforma.

Assim se queremos pensar claramente sobre o universo em que nos encontramos, não devemos mais considerar espaço e tempo como um palco passivo no qual objetos tem um “ser” e executam ações sob a influência de energia.

Numa inspeção mais próxima, toda “coisidade” do objetos que conceitualizamos até hoje na escala macroscópica (tamanho humano) simplesmente evapora.

Nenhum fenômeno exibe um “ser”. Todo fenômeno consiste em processos contínuos, consistem em várias ações.

A cerca de dois mil e quinhentos anos, os primeiros filósofos budistas reconheceram a impermanência e a natureza ilusória e assim a “vacuidade” de todos os fenômenos, exceto o da própria mudança. Da observação de que muitos fenômenos mudam se você observá-los por tempo o bastante, eles procederam por indução a ideia de que todos os fenômenos o fazem.

Pensadores ocidentais menos pacientes simplesmente assumiram que o “ser” e então eventualmente, depois de francas pesquisas feitas por vários séculos descobriram o que as “coisas” realmente “são”., eles descobriram que todo fenômeno examinado passa por mudanças. O universo em si muda com o tempo. Estrelas explodem ou colapsam eventualmente. mundos acrescem do pó e gás e nada dura para sempre.

Ocidentais frequentemente interpretam mal a ideia budista de natureza ilusória como mais ou menos equivalente a denegrir o mundo material em prol de um plano espiritual, como ocorre em muito do pensamento monoteísta. Budistas estritos entretanto, consideram que o “espiritual” é tão impermanente quando o “material”. Ainda assim, o núcleo austero de ideias budistas raramente se manifesta, mas crenças e prática comuns. Onde que que você olhe elas geralmente aparecem vestida de trajes locais e contaminadas de superstições populares porque o povo geralmente prefere as religiões folclóricas confortantes e os rituais misteriosos do que lidar com ideias difíceis.

Uma pedra não tem nenhum tipo de “ser” delineando o que ela faz. Ela consiste inteiramente em suas ações e se estas cessarem ela não teria qualquer tipo de existência.

O assim chamado atributo do “ser” invariavelmente surge de algum tipo de fazer quando examinamos perto o suficiente.

Nós vivemos em um universo de eventos, não em um universo cheio de coisas. Fenômenos podem nos dar uma impressão macrocósmica de ter um “ser” ou “coisidade” mas apenas porque na verdade consistem de processos em ação.

Eu não sei quanto a você mas eu certamente não tenho nenhum tipo de ser intrínseco que exista separado das coisas que faço. Em minha juventude eu exibia muitos comportamentos, tinha muitos pensamentos, emoções e ações e expressava muitas opiniões e ideais. Em minha meia idade eu agora faço coisas diferentes, meu corpo parece diferente e contem átomos e moléculas diferentes das que o compunham décadas atrás. Eu sinto que perdi de forma irrecuperável muitas memórias de eventos triviais e tediosos. e minha mente agora contem muitas coisas que não continham em minha juventude. Quando, ou se, eu envelhecer, a versão mais velha poderá ser tão diferente da atual com relação a tudo que faz.

Assim eu concluo que eu não tenho um “ser”, eu consisto apenas na totalidade das coisas que faço. Eu procedo pelo tempo como um processo.

O conceito de “ser” pode parecer inofensivo ou apenas uma forma imprecisa de modelar a realidade mas ele leva a consequências terríveis. Todo uso de palavras do verbo ser esconde uma falsa e questionável premissa.

A declaração “Hoje “é” Quarta-Feira” tem apenas aplicabilidade limitada e pode não se aplicar a situação do outro lado do planeta. A frase ‘Pedro “é” burro.” é uma generalidade perigosa. Exibiria ele uma estupidez invariável?

A declaração que as pessoas Marrons, Brancas, Negras, Amarelas, Judias, Francesas “são” sujas, espertas, maliciosas, corajosas, estúpidas, sub-humanas, más ou qualquer coisa leva ao pensamento irracional de consequências medonhas, apesar de algumas pessoas nesses grupos ou de qualquer grupo possam exibir comportamentos tais algumas vezes em várias circunstâncias.

Se queremos filosofar com clareza não podemos dizer que nenhum fenômeno “é” nenhum outro fenômeno. Nós apenas podemos falar sobre ações, semelhanças e diferenças.

Se tentarmos definir que qualquer fenômeno “é” nós estamos apenas rotulando ele ou dizendo a que seu comportamento se assemelha. Nós podemos apenas definir fenômenos em termos de suas semelhanças com outros fenômenos e por implicação à aquilo que fazem.

Qualquer declaração sobre qualquer coisas “ser” só tem utilidade na extensão em que descreve o que ela faz.

Quando dizemos que algum fenômeno “faz” nós na verdade sugerimos o que nós achamos que aquilo tem feito e que fará.

“Ser” existe apenas como uma ilusão linguística e neurológica.

O comportamento do fenômeno quântico grosseiramente se assemelha ao comportamento de qualquer outra coisa. Assim todas as tentativas de defini-lo em termos do que “são” terminam em fracasso.

No melhor dos casos podemos esperar descrever o que fazem com base no que sabemos que tem feito e esperamos que façam. Isso na verdade implica o mesmo em que todo fenômeno do universo se formos estritamente lógicos.

A suposição que o elétron é ou deve ser, uma onda ou partícula, ou que “seja” qualquer coisa, torna a física quântica completamente incompreensível.

O conceito de “ser” implica em um certo tipo de essência metafísica ou qualidade em fenômeno que exista independente do que de fato nós o observamos fazer.

Esta dualidade ser-fazer leva diretamente as confusões do dualismo espírito-matéria que está por trás de todas as ideias religiosas e do dualismo mente-matéria ou mente-corpo que dá origem a problemas e paradoxos insolúveis mas ilusórios na filosofia, psicologia e em nossas ideias sobre consciência.

Assim a aparentemente inócua ideia do “ser” encoraja pensamento inexato e preconceitos, que nos permite criar ideias religiosas néscias, nos impede de entender como o universo funciona, e nos torna incompreensíveis para nós mesmos.

A linguagem estrutura o pensamento ao menos na medida em que reflete o pensamento. Apenas com muita dificuldade nós podemos formular um pensamento que envolva um conceito para o qual nos falte uma palavra. Cada palavra que você não entende representa uma ideia que você não tem acesso, mas por outro lado palavras podem nos dar realidades espúrias para conceitos que não tem correlação com o mundo real.

Em particular as sentenças com estrutura sujeito-verbo-objeto do idioma inglês, e de muitos idiomas, encorajam seus usuários a pensar em termos de sujeitos terem alguma espécie de “ser” separado daquilo que fazem.

Palavras como “sou”, “é”, “são”, “era”, “eram” deviam ser usadas apenas como parênteses para propósitos ilustrativos.

O abandono da linguagem e conceito do “ser” leva a um Monismo estrito e elimina qualquer tipo de dualismo espírito-matéria ou mente-corpo.

Se afirmarmos a realidade tanto de espírito e matéria ou de mente e matéria nós devemos fazê-lo apenas em termos do que estes fenômenos fazem, e não supor o que “sejam”.

Quando olhamos para quais tipos de eventos realmente ocorrem, descobrimos que precisamos apenas de uma única classe de fenômeno para prestar contas, e não faz diferença se o chamamos de espírito ou de matéria.

Vamos deixar o espírito de fora do argumento porque ele não parece fazer nada exceto alegadamente agir como a mente de supostas criaturas super-humanas.

Agora que sabemos bastante sobre como o corpo funciona, não temos razão para supor que um corpo consiste em nada além de matéria. Assim não precisamos considerar a dualidade mente-matéria.

A maior parte dos adultos modernos experimentam as ações da mente subjetivamente como separadas das atividades da matéria, apesar disso nossos ancestrais e nossas crianças geralmente não faziam e não fazem essa distinção rígida e personificam o que hoje geralmente chamamos de forças naturais.

Adultos modernos também continuam atribuindo mentes a mamíferos, pássaros e répteis e muitos incluem insetos na categoria dos fenômenos com mentes. Mas muitas pessoas legam aos oceanos, montanhas e arvores como fenômenos de categoria puramente materiais.

Aqueles que agora teorizam sobre a a natureza da mente em termos não-teológicos em sua maioria concluíram que ela emergem quando sistemas nervosos biológicos atingem certo grau de complexidade e sofisticação. Este Emergismo descreve a mente como um mero epifenômeno da matéria, tal como podemos descrever arco-iris como fruto da meteorologia planetária. A teoria de Darwin da Evolução das Espécies deu considerável suporte a ideia do Emergismo, uma vez que mostra um gradual crescimento na complexidade resultando em algumas criaturas que pensam ter mentes.

Entretanto uma visão radicalmente diferente continua possível. Talvez a mente constitua a propriedade fundamental da matéria, e toda matéria tem algum grau de atividade mental e não possa ser considera morta ou inerte.

De volta aos dias em que os pensadores temiam expor qualquer grau de ateísmo a ideia da matéria como uma substância vivente encontrou expressão no Panteísmo. Para um panteísta o universo em si constitui a mente de deus. Cada estrela a átomo constitui um componente da mente de um deus que não existe separadamente do universo que como um todo funciona como uma criatura vivente, e nos podemos considerar nós mesmos como pensamentos dentro da mente do universo.

Gradualmente o teísmo foi eliminado do panteísmo conforme se tornou aparente que o universo não agia conforme a mente correspondente a algum tipo de ancião vingativo com uma rígida agenda moral.

A dualidade espírito-matéria meramente compreende uma distinção moral. Se todo o universo consistisse em um espírito ou se todo o universo consistisse de matéria, então não teríamos maneira de distinguir no que ele consiste, porque nos dois casos teria que agir de maneira idêntica para produzir o universo como percebemos. Religiões em geral dependem das suposições de que o universo consiste em um bom espírito e uma matéria má e que em algum momento eles se confundem e formam maus espíritos e alguma forma aceitável de matéria, ou pelo menos em alguma forma de comportamento aceitável no plano material.

Assim se pensarmos que o panteísmo deve abandonar o teísmo e buscar um paradigma monista rígido no qual espírito, mente e matéria consistem em um mesmo fenômeno, o que teríamos? Isso nos leva ao Panpsiquismo.

Parte 2 – Pampsiquismo

Panpsiquismo em uma história. Alguns antropologistas identificam as ideias panpsiquistas no animismo e nos sistemas xamâmicos. Nós podemos identificar as ideias panpsiquistas em várias obras de muitos filósofos incluindo Tales na Grécia antiga, Cardano e Giordano Bruno na renascença, e em trabalhos posteriores de Spinoza, Leibniz e Schopenhauer (e Hegel), e mais recentemente nas obras de Whitehead e Chalmers. (ver Alfred Morth Whotehead. Philosopher and Metaphysician. 1861-1947 e David Chalmers, The Conscious Mind: In search of a Fundamental Theory (1996). Oxford University Press.)

Panpsquismo resolve o problema mente-matéria de uma vez. Se matéria naturalmente inclui mente, então a presença da mente no universo não deve ser surpresa nem criar nenhum tipo de paradoxo metafísico, pois ocorre em toda parte. Panpsiquistas atribuem a aparente falta de atividade mental das xícaras de chá, mesas e cadeiras a ideia de que elas ocorrem tão lentamente que não podemos percebê-las, ou que tais fenômenos ocorrem em seus constituintes mais ou menos coerentes entre si e portanto no todo não demonstra tanta atividade mental quanto estas partes que o constituem.

Entretanto a onipresença da mente proposta por estes filósofos não encontra favor entre teólogos cristãos que querem manter uma separação rígida entre espírito e matéria, e o interesse nesta ideia declinou de um apogeu no século dezenove em favor do emergentismo mecanicista impulsionado pelo sucesso da teoria evolucionária de Darwin.

Mas então chegou a Física Quântica, e depois de um tempo se tornou aparente que o comportamento dos blocos fundamentais da matéria e energia exibem comportamentos que se assemelham a mente de certas perspectivas.

A física quântica tem a reputação de produzir resultados experimentais contra intuitivos que permitem um amplo espectro de interpretações sobre que tipo de realidade os delineia. Uma interpretação diz que não há realidade nenhuma os delineando. Isso parece menos chocante quando você considera que quantização significa que não podemos dividir a natureza de forma contínua ( e esta é também a solução de todos os paradoxos criados por Zenão de Eleia). Em algum ponto teremos o menor dos bits possíveis da realidade, e se não há nada mais simples ou fundamental então a cadeia da causa e efeito termina ali.

Na prática todo universo parece rodar um número bastante econômico de quantas. Átomos tem apenas elétrons orbitando dois tipos de quark que compõem os prótons e os nêutrons do núcleo. Nós também temos fótons que dão conta da luz e de outras formas de radiação. Duas versões pesadas dos elétrons e dois tipos de quark aparecem as vezes, mas eles tem pouca participação nas atividades do universo. Um par de outras partículas que trocam energia parecem fazer os processos nucleares trabalharem e o universo é enxameado de neutrinos minúsculos que parecem não fazer muito exceto ajudar estrelas velhas e exaustas a explodir. O comportamento deste pequeno número de quantas nos leva a toda esplendida complexidade e eventos peculiares que observamos no universo.

O Panpsiquismo quântico se baseia na ideia que os quantas básicos de matéria e energia exibem comportamento semelhante ao da mente. Mente e quantas exibem uma mistura de comportamentos aparentemente causais e aleatórios.

Se considerarmos “Livre Arbítrio” como uma qualidade definidora, ou talvez como a principal qualidade definidora da mente, nós não podemos explicá-la satisfatoriamente nem em termos determinísticos nem em termos de aleatoriedade, e teremos um paradoxo. Poucas pessoas gostam de pensar que seu comportamento sempre surge como uma resposta automática a uma circunstância. Poucas pessoas gostam de pensar que seu comportamento gera a si mesmo de forma randômica.

Entretanto, em uma inspeção mais próxima do processo do pensamento, parece que na verdade conjuramos o livre arbítrio satisfatoriamente de uma mistura de processos mentais randômicos e determinísticos.

Se não podemos decidir entre alternativas porque cada uma tem seu apelo lógico ou emocional, então escolhemos randomicamente ou por mero capricho. Se nenhuma alternativa se sugere em uma situação então eu permito que ideias surjam e se combinem aleatoriamente até eu encontrar uma que tenha lógica ou sentido emocional.

Na prática eu na verdade uso uma complexa e estratificada mistura desses processos para chegar a uma decisão. Livre arbítrio não teria utilidade se significasse absoluta liberdade de todas as condições e exigências das situações correntes.

Assim, misturando processos determinísticos e randômicos eu chego a decisões que estão dentro de limites mas que nenhum agente, nem mesmo eu, poderia prever com certeza de antemão. Eu aceito que o livre arbítrio consiste precisamente neste tipo de atividade.

Se alguém clama ter livre arbítrio, pergunte a ele “livre do que exatamente”?

Nós poderíamos construir com facilidade máquinas que exibem um grau de livre arbítrio usando os princípios acima. Entretanto nós geralmente preferimos usar as máquinas para fazer exatamente o que queremos. Quando agem de modo inesperado tendemos a ficar incomodados.

Embora o quanta tenha uma forma simples de livre arbítrio, porque exibem comportamento randômico dentro de limites, muitas formas de matéria bruta se comporta de maneira bastante determinística e nós podemos descrever seu comportamento em termos de causa e efeito. Isso corre devido a lei dos grandes números. Jogue um dado e qualquer um dos seis números ficará no topo, mas jogue seis milhões de dados e terá quase que exatamente um milhão de cada um dos seis números. O total de números sorteados. Quanto mais dados você usar, menor o desvio de exatamente uma em seis chances de aparecer qualquer um dos números.

O comportamento randômico quântico pode levar a um comportamento macrocósmico aparentemente causal,

Agregados maiores de quantas como bolas de milhar assim se comportam de modo previsível e aparentemente determinístico por curtos períodos de tempo.

Ainda assim se agregados de matéria se organizam de forma que alguns de seus componentes quânticos possam afetar o comportamento do todo então o todo começa a agir como se tivesse livre arbítrio (e.g “Consciência Humana”. Mesmo as pouco mentais bolas de bilhar exibem comportamento não-causam eventualmente. A posição final de uma bola de bilhar se torna progressivamente menos determinística conforme aumentam as colisões subsequentes. Se colocamos momentum o bastante para ela bater sete vezes na lateral da mesa, sua posição final será uma forma indeterminada até que aconteça. Nós podemos calcular os limites desta indeterminância mas ele seria muito próximo de toda área da mesa, então a bola pode acabar em qualquer lugar.

Alguns filósofos delegam o Panpsiquismo, paradigma da onipresença da mente, como nem provável nem falseável, e portanto sem uso ou consequências, e assim a classificam como um mero sistema de crenças místico.

Entretanto os quantas exibem um número de comportamento que nem sempre aparecem na escala macrocósmica das mesas, cadeiras e pedras, e parecem muito mais como algo mental do que o comportamento que estamos acostumados em escala macro. Em particular em certas circunstâncias o quanta “lembra” o que aconteceu com ele, em outros parece “se comunicar” com outro sem qualquer contato aparente.

Tais atividades quânticas podem explicar como um cérebro aparentemente “material” executa atividade aparentemente “mental” e porque alguns eventos parapsicológicos ocorrem.

O Panpsiquismo pode talvez nos dar uma explicação bastante econômica de como a magia funciona e nos dar algumas ideias de como melhorar a eficiência em sua prática.

Parte 3 – Panpsiquismo e Magia

No paradigma dualístico espírito-matéria ou mente-matéria, todo tipo de mente, para afetar a matéria (incluindo o pensamento ordinário) parece misterioso ou parapsicológico. (Como a mente faz a matéria se mover?) Os efeitos da matéria na mente ou da matéria no espírito permanecem igualmente incompreensíveis (Como a dor e o prazer são transferidos da matéria para a mente?)  e ainda mais se você colocar o espírito em algum tipo de posição superior.

Agora os dualistas do espirito-matéria frequentemente ciam milagres como evidencias da realidade do espirito ou de agentes espirituais. Clamam que milagres pontuam muitas religiões e muitas religiões tem o hábito de interpretar anomalias triviais como evidência concreta.

Magos não-religiosos tentem a confiar em eventos parapsicológicos como evidência para outro tipo de magia, porque estas podem ocorrer em contextos não religiosos e também em contextos de religiões que especificamente negam a validade umas das outras.

Toda religião que considera outra religião falsa se coloca em uma posição ridícula de ter que atribuir qualquer milagre ocorrido em outras religiões como tendo origem no diabo de sua própria fé.

O panpsiquismo sugere que nós invertamos todo argumento e interprete os eventos parapsicológicos como evidencia da ausência de espírito ou mente como um fenômeno separado da matéria.

Milagres, atividades paranormais, eventos mágicos tendem a ocorrer de maneira caprichosa e infrequente na escola macrocósmica. Entretanto na escala quântica ocorrem com frequência e de maneira muito mais contextualizado. O nível quântico da realidade é repleto de estranhezas quantas parecem se teletransportar desaparecendo a aparecendo em outro lugar, parecem se comunicar instantaneamente pelo espaço e provavelmente pelo tempo também, as vezes parecem existir em dois lugares simultaneamente, ou em dois estados contraditórios ao mesmo tempo e podem voltar no tempo.

Então temos evidências para reconhecer no nível quântico da realidade o verdadeiro lar dos fenômenos mágicos e a fonte do que chamamos livre-arbítrio. Quando os amontoados de quantas se organizam de certa forma os fenômenos que convencionamos chamar de livre-arbítrio, mente e magia, surgem no nível macrocósmico. Quando o quanta se agrega de forma que sua estranheza individual e comportamento randômico cancelam um ao outro, observamos o comportamento causal que associamos com a matéria inerte.

No nível prático nós sabemos que magia, como uma atividade deliberadamente humana, funciona muito melhor se a desenrolamos contra fenômenos que retenham algo do fluxo comportamental de seu componente quântico. Influencias o clima ou outro comportamento humano ou lançar dados, tem melhores chances de sucesso do que tentar partir pedras usando apenas nossas mentes, embora pedaços moderadamente finos de vidro possam ser quebrados. (Vidro possuem stress induzido por esfriamento que o tornam sucediveis a fratura espontânea ou atividades do tipo poltergeist para aqueles com talento para gnosis de raiva.

Neste artigo eu atribui comportamento semelhante a mente mas não “consciência” ao quanta, e um certo grau de mentalidade para todo fenômeno composto de quantas (ou seja, todos os fenômenos). Eu não tenho bases para atribuir “consciência” aos quanta, mas eu não tenho bases para atribuir tal coisa nem a mim mesmo.

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