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Sufismo

Psicologia Sufi e o Islam

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O Islam é um oceano tão infinito quanto Allah (swt), pois foi Ele quem nos presenteou o Islam. O sufismo é, dentre outras, uma técnica para nos aprofundarmos neste imenso oceano do Islam e conhecê-lo em minúcias, como um explorador pode mergulhar em corais, estudá-los e nos trazer imagens lindíssimas do oceano. O sufismo pode levar o(a) muçulmano(a) a explorar o Islam e possibilitá-lo(a) a tomada de consciência de como é lindo o Islam.

O sufismo também é um oceano. Com uma profundidade incomensurável. Vamos tentar expor aqui parte desta profundidade, explorando e “mergulhando” na psicologia sufi e seu embasamento no Islam Sunita Tradicional.

Vamos ver o que é o ego (NAFS), suas camadas e o que é a alma. Será que alma e espírito são a mesma coisa? Não basta apenas entender estes conceitos e conhecê-los teoricamente. É necessário viver estes conceitos e conhecê-los como manifestações dentro de nós. Para elucidar um pouco sobre estes pontos, este texto esta organizado em uma primeira parte, sobre o ego. A segunda parte trata sobre os níveis do ser. Em seguida é feita uma análise do uso da palavra alma no Alcorão e seus significados. A quarta parte deste texto fala sobre a importância do autoconhecimento. E por fim, a conclusão aponta quais caminhos seguir, a partir das mais diferentes situações pessoais.

1- O Ego

Sheikh Nazim diz o seguinte sobre o assunto:

“Você ainda não sabe sobre você mesmo. Quando você olha para si mesmo, você pode entender sobre si mesmo passo a passo. Mas estamos ocupados com tudo ao nosso redor. Estamos olhando para fora, não para dentro de nós mesmos. Enquanto você olha para fora, não se preocupa com o seu ‘eu’. Se você puder olhar para dentro de si mesmo, encontrará outra coisa. Você olha para sua fotografia ou olha no espelho e ainda vê a visão externa de si mesmo, mas deve pensar em si mesmo e em que lhe foram dados segredos Divinos. O universo que você recebeu dentro de você é algo como uma pequena gota no oceano. Existem cinco tesouros secretos escondidos em seu coração. O coração não é aquele pedaço de carne em você. Esse é o coração do corpo físico. Você tem algo mais dentro de você. Essa é a sua personalidade na Presença Divina. Você recebeu cinco tesouros, cinco universos. Cada um é mais largo do que o outro e mais profundo. O mais profundo, que não tem limites, é o trono do seu Senhor. É o trono do seu Senhor porque nada pode conter o seu Senhor. É impossível. Nem os mundos nem o céu podem conter o seu Senhor Todo-Poderoso, apenas o seu coração, os corações dos filhos de Adão (as) o contêm. Isso significa que não há limite para o seu coração.” [O Reino Divino – Vol 1; Sheikh Nazim al-Haqqani (40º Mestre da Ordem Naqshbandi, falecido em 2014); pag. 34].

O ego se relaciona com a camada de nossa alma na qual vivemos. Inclusive no Alcorão e na literatura sufi muitas vezes a palavra “alma” é sinônimo de ego. Algumas vezes a palavra “alma” é usada como sinônimo de espírito. Iremos explorar isso adiante. Mas agora, se quisermos entender o que é o ego, temos que entender as camadas de nossa alma, ou as camadas do NAFS. Se buscarmos entender um pouco esta passagem de Sheikh Nazim,  acima, vamos ver que estes “cinco tesouros secretos escondidos”, que ele cita, que estão no seu coração e no coração de cada ser humano são os LATAIF. Vamos tentar entender agora como os LATAIF se relacionam com o EGO.

Mas, o que o Islam fala sobre isso? “Não vi o Profeta (saas) falando em LATAIF”, diz o salafi inovador, acusando os outros de inovação. Será que não? O Profeta Muhammad (saas) disse o seguinte, sobre o coração de um verdadeiro muçulmano(a): Abu ‘Inabah relatou: O Mensageiro de Allah (saas), disse: “Na verdade, Allah tem vasos entre as pessoas da terra, e os vasos de seu Senhor são os corações de seus servos justos. Os mais amados deles são os mais suaves e brandos deles.” [Musnad al-Shāmiyyīn 840 Grau: Qawi (forte) de acordo com Al-Albani]. Um Hadith Qudsi, que foi mencionado no livro “AlIhya”, aponta que o Profeta (saas) disse: “Allah declarou: ‘Nem os céus nem a terra me envolvem, mas o coração brando do meu servo crente sim.’” Com estes hadices, já começamos a vislumbrar que o Profeta (saas) apontou sim que há muitos mistérios no coração do ser humano, pois o coração pode envolver, conectar a pessoa a Allah (swt). Então, há algo sagrado aí. Abu Huraira relatou: O Mensageiro de Allah (saas), apontou para o seu coração e disse: A justiça está aqui. [Ṣaḥīḥ Muslim, 2.564]. E Ibn Abbas relatou: O Mensageiro de Allah (saas), disse: Na verdade, quem não guarda nada do Alcorão em seu coração é como uma casa em ruínas. [Sunan al-Tirmidhī, 2.913. Grau: Sahih].

Há uma vasta gama de Hadices e passagens no Alcorão mostrando que o coração é muito mais do que um pedaço de carne. Perceba neste Hadith que segue, como o Profeta (saas) começa a expor os tipos de coração que existem no ser humano: “Existem quatro tipos de coração: um coração polido, brilhante como uma lâmpada, radiante. Há o coração selado, com um nó amarrado em volta dele. Há o coração que está de cabeça para baixo. E há o coração que está embrulhado. Quanto ao coração polido, é o coração do crente e sua lâmpada é a luz da fé. O coração selado é o coração do incrédulo. O coração virado de cabeça para baixo é o coração de um hipócrita puro, pois ele tinha conhecimento, mas o negou. Quanto ao coração que está envolvido, embrulhado, é o coração que contém fé e hipocrisia. A parábola da fé neste coração é a parábola da erva que é sustentada por água  pura, e a parábola da hipocrisia nela é a parábola de uma úlcera que prospera em sangue e bicho; o que for maior dominará.” [Musnad Aḥmad, 10.745].

Cada ser humano deve mergulhar em seu coração, tentar localizar nele a erva daninha e eliminá-la, antes que ela sufoque e mate a sua fé. Aqui começaremos a entender um pouco da psicologia do ego. O ego quer dominar o nosso coração, quer nos dar sugestões, nos influenciar e quer ser o nosso senhor. O ego quer que vivamos nas camadas mais superficiais da nossa alma. O trabalho da psicologia sufi é mitigar o espaço do ego, deixá-lo cada vez mais fraco, diminuir sua influência sobre nós, limitar cada vez mais o espaço que ele ocupa em nosso coração. Quando este espaço vai diminuindo, a conseqüência é que vai “sobrando” mais espaço em nosso coração, de maneira que nosso espírito, nossa essência vai expandindo e tomando conta deste espaço quase infinito que existe no coração. Como saber o tamanho deste espaço interno do coração? Será que sabemos tudo sobre os mistérios do coração? Como saber qual é a realidade de seu coração? Será que o salafi tem domínio pleno neste assunto do coração para negar que há uma realidade misteriosa aí que vai muito além dos livros de Fiqh (Jurisprudência)? As realidades da alma humana são insondáveis. A alma está fora do espaçotempo. A alma é eterna e imutável. Nossa mente esta contida nestes ossos e carne, que chamamos de corpo. A mente tem suas claras limitações. O que o ser humano chama de pensamento é apenas o “primeiro andar” da mente. É possível ascender ao “segundo andar” da mente, mas aí já estamos no domínio da alma. Na relação entre a mente e a alma. Poderíamos chamar este “segundo andar” da mente, que não é acessado nem pelo mais altos QIS, de Razão Superior. Superior, pois se relaciona com Allah (swt). O mais eminente intelectual, que usa 100% do seu “primeiro andar” da mente, se não tiver conexão com o Superior, com Allah (swt) nunca ascenderá ao “segundo andar da mente”.

Allah (swt) mostrou claramente ao ser humano o que pode fazer (Halal) e o que não pode (Haram) no Alcorão e na Sunnah. Allah (swt) deu vontade e liberdade de escolha, livre arbítrio, para nós. O ser humano é testado a partir do seu ego (NAFS), para que ele possa evoluir ou involuir a partir de sua interação com o ego. Se ele sempre optar em seguir o ego, irá cada vez  estar mais predisposto ao mal. Mas, se ele conseguir resistir ao ego, dominá-lo, montar em seu ego, usando-o como um burro de transporte, então, assim, será senhor de si mesmo, isto é, dominará seu ego. Desta forma, ele poderá evoluir espiritualmente. Poderá expandir seu espírito. In Shaa Allah poderá se tornar um Wali, um amigo íntimo de Allah (swt). Os conceitos espírito e alma, e, de ego e nafs são diferentes, mas algumas vezes se misturam. Ruh (espírito) e alma são usados, no Alcorão, em contextos diferentes. Há uma parte imortal de nossa alma que faz uma longa viagem que começa junto de Allah (swt) [Qulu Bala], vem para a dunya (vida aqui na Terra), depois vai para o reino do intervalo (Barzakh – vida póstuma) e por fim ao Paraíso (Jannah), in Shaa Allah. Se estaremos no mais alto do Paraíso, ou em Jahannan (inferno), dependerá de nossa relação com nosso ego. Por isso, expondo de uma maneira bem direta, para que não haja dúvida, e saibamos quem é o nosso ego, para que possamos começar a nos dar conta de nossa relação com ele, devemos ter claro que nosso nafs, ou ego, é o que chamamos, mil vezes por dia, quase a todo o momento de “eu”: “Eu acho que deveria falar tal coisa para fulano”; “Eu acho que tal pessoa não está certa, ela errou”… Sempre quando aparece este “eu” em nossos pensamentos e emoções é o ego que está fazendo-nos crer que é a nossa essência, para nos influenciar. E isto acontece quase a cada segundo de nossas vidas. Mas, Allah (swt) também colocou em nós algo de seu sopro (Ruh) e atributos, embora eles possam estar “suprimidos” em nós pela atuação do ego. Podemos ter acesso a estas partes mais nobres de nossa alma, mas isso requer esforços. Porém, quanto mais o ego estiver nos influenciando com ilusões, que se incorporam à nossa consciência, mais viveremos na mentira e longe destes atributos divinos. Poderíamos colocar mais um elemento aqui, Shaytan, que é chamado de “o ilusor” no Alcorão. Shaytan trabalha em nós influenciando nosso ego. E este, por sua vez, nos influencia e nos leva à ilusão, mentira e em última instância, para o mal. O ego quer que pensemos que somos dono de nós mesmos, que temos que ser livres, que somos poderosos, que temos PODER, poder de fazer, assim traímos o que nos é confiado por Allah (swt), pois só Ele é quem tem PODER. Isso é um tipo muito sutil de Shirk (idolatria), que quase todos os seres humanos cometem, que é a egolatria. Assim, facilmente o ser humano pode se desviar de Allah (swt), pois se tornou “aquele que tomou seu desejo de  ser seu deus…” (Alcorão 25:43). Assim somos testados. Aquele que sucumbe ao mal, que é refém destas sutilezas do ego, está vivendo na camada mais grosseira da alma (nafs). Que recebe o nome de Nafs al-Ammara. No Alcorão, em (12:53) diz: “E eu não me absolvo. De fato, a alma é um persistente indutor do mal, exceto aqueles sobre os quais meu Senhor tem misericórdia. De fato, meu Senhor é Perdoador e Misericordioso”. Outras traduções do Alcorão trazem, nesta parte, assim: “a alma ordena ao mal”. O Nafs al-Ammara é apenas uma das sete camadas do nafs, a que ordena a cometer o mal. Vamos ver agora sobre os níveis do ser, para entendermos as outras camadas do nafs.

2- Os Níveis do Ser

Vimos acima que “a alma que ordena ao mal”, chama-se Nafs alAmmarah. Esta é a nossa camada mais baixa. Estas camadas não são estáticas, paradas, elas sobem à consciência. Todas as 7 camadas vêem à nossa consciência, nem que seja por uma fração de segundos. Cabe a nós decidirmos qual tipo de pensamento vamos alimentar e dar continuidade. Para aqueles literalistas que não se aprofundam no Islam, podemos facilmente provar que este assunto está no cerne do Islam: Abu Huraira relatou: “O Mensageiro de Allah (saas) disse: ‘Na verdade, quando o servo comete um pecado, uma marca negra aparece em seu coração. Se ele abandonar o pecado, buscar perdão e se arrepender, então seu coração será polido. Se ele voltar ao pecado, a escuridão aumentará até dominar seu coração. É a cobertura que Allah mencionou no Alcorão: Não, ao contrário, uma cobertura está sobre seus corações com o que eles ganharam’.” (83:14) [Sunan alTirmidhī 3.334, Grau: Sahih]. O Nafs al-Ammara é o ego Shaytânico. Totalmente à mercê do controle de Shaytan, que escurecerá cada vez mais o coração daquele que estiver neste nível.

A seguinte camada é o Nafs al-Awwamah. O nafs desta categoria não comanda mais cometer o mal. Além disso, lamenta se cometer um mal, isto é, a pessoa que vive sob maior influência deste ego sentirá arrependimento quando cometer um mal. A base disso está no Alcorão: “…Nós ouvimos, e obedecemos: (Procuramos) Teu perdão, nosso Senhor, e a Ti é o fim de todas as jornadas”. (Alcorão, 2:285). Ou seja, nesta camada do ego a pessoa se questiona e vê seus defeitos. Ao encontrá-los, ela pede perdão a Allah (swt). Mesmo assim, ele não pôde se abster de cometer falhas, mas lamenta-se por causa dos pecados que comete. Esta situação é um progresso em relação ao Nafs al-Ammarah. À medida que a pessoa progride constantemente no caminho reto de Allah (swt), seguindo as orientações e regras do Islam, uma pessoa vai se distanciando cada vez mais desta camada shaytânica do ego. Agora ela deve começar a olhar para si própria e menos para o outro. Isto a sedimenta nesta etapa. É o que chamamos de SADRA.

Vemos isso na Sunnah também: Abu Huraira relatou: “O Mensageiro de Allah (saas) disse: ‘Os fortes não são aqueles que derrotam as pessoas. Os fortes são aqueles que derrotam seu ego’.” [Mushkil al-Āthār 1.426, Grau: Sahih]. A pessoa não está interessada mais nas outras. Vencer uma discussão, mostrar que é “o melhor”. A pessoa quer vencer o seu ego, seus defeitos, suas debilidades. Nesta grande guerra contra seu ego (Jihad al-Akbar), há um momento em que se dá uma das batalhas principais: quando o ego sai da porta do coração e esta porta está sob o nosso comando, a partir de então. Neste momento acessamos o Primeiro Tesouro Secreto escondido no Coração.

Acessamos assim o Nafs al-Mulhamah, “o nafs inspirado”. Este é um grande passo. Poucos são os seres humanos que o dão. E aqui a pessoa tem uma confirmação de Allah (swt) de que está progredindo espiritualmente. Ela tem esta certeza. Pois, viver neste nafs é muito diferente do que viver nos dois anteriores. Quando o servo se aproxima de Allah (swt) através da sua progressão espiritual, Allah (swt) também se aproxima dele. Allah (swt) o inspira sobre o que é certo e o que está errado (isto é, a pessoa entende o porquê das regras da Shariah), pela própria aproximação de Allah (swt). Vemos isso na Sunnah também, em parte deste Hadith: “…Meu servo continua a se aproximar de Mim com atos voluntários de adoração para que eu o ame.

Quando o amo, sou sua audição com a qual ele ouve, sua visão com a qual ele vê, sua mão com a qual ele golpeia e seu pé com o qual ele caminha. Se ele pedisse [algo] de Mim, eu certamente lhe daria…”. [Hadith Qudsi – Sahih alBukhari, 81:38:2]. Aquele que vive neste nafs começa a perceber essa inspiração que anteriormente lhe foi comunicada antes de nascer [Qulu Bala]. “Quem purifica é resgatado” (Alcorão 91: 9). Este é um princípio. Quem purifica seus nafs é salvo. O Primeiro Tesouro Secreto escondido no coração, que se abre para aquele que chegou e permaneceu neste nafs, neste Maqam, ou nesta Estação é o Latif Qalb.

No nível seguinte, o coração encontra ainda maior satisfação:

Nafs al-Mutmainnah. O nafs (ego) se torna Mutmainnah (tranquilizado) neste nível. A pessoa que vive nesta camada do nafs sabe e VIVE a realidade de que não há lugar para “coincidências” e que é Allah (SWT) que domina todas as coisas, é Ele a Causa Primária de tudo, todas as situações vividas, cada acontecimento provém de Allah (swt), e nosso papel é estarmos satisfeitos com Ele. Por isso, nesta etapa, o ego está tranqüilo. Como foi dito anteriormente, as camadas da alma (ou do ego) podem emergir em nossa consciência. Pode ser que tenhamos sentido por instantes esta realidade vivendo em camadas anteriores a esta. Podemos encontrar menção a esta realidade no Alcorão (89:27-28), que diz: “E tu, ó alma em paz, Retorna ao teu Senhor, satisfeita (com Ele) e Ele satisfeito (contigo)!” Aqui a pessoa encontrará o Segundo Tesouro Secreto escondido no coração, o Latif Sir. Para a Naqshbandiyya, esta etapa é o viver plenamente o Nazar bar Qadam (um dos 11 Princípios da Ordem Naqshbandi), que é “Acompanhar os Passos”. Isto é, manter os “olhos em seus pés”. Manter os olhos em seus pés significa salvaguardar sua visão. O que seus olhos estão vendo não é para este dunya (mundo material), nossos olhos deveriam ser para ver os Céus. Logo, nesta etapa, a pessoa que está neste Maqam, tem controle total de sua visão exterior e passa a abrir sua visão espiritual, que é o sentido interno da visão. É viver uma vida na qual se abaixa o olhar. Viver uma vida na qual você aperfeiçoa o que está vendo e uma vida na qual você começa a experimentar: “Então você certamente o verá com os olhos/visão da certeza”. (Sagrado Alcorão, 102:7). Você está concluindo o treino de sua visão, limpou os olhos, baixou os olhos, lavou os olhos. É como  se a pessoa, que está neste nível, dissesse: não quero estar presa aos meus olhos, eu quero ver com o olho do meu coração, eu quero ver com o olho da minha alma. Então, começa-se a abrir essa realidade. Ao limpar o físico, Allah (swt) começa a abrir o espiritual.

Uma grande conquista, talvez a maior de todo este percurso que estamos descrevendo, é chegar a viver no Nafs ar-Radiyyah. Abdullah ibn Mas’ud relatou: “O Mensageiro de Allah (saas) disse: ‘Ó Allah, reúna nossos corações, reconcilie-se entre nós, guie-nos por caminhos de paz e nos livre das trevas para a luz. Mantenha-nos longe da imoralidade, exterior e interiormente, e abençoe-nos em nosso ouvir, ver, nosso coração, nosso cônjuge e nossos filhos. Aceite o nosso arrependimento, pois só o Senhor é o que Origina, o Misericordioso. Faça-nos gratos por Suas bênçãos, louvando-as e aceitandoas, e dê-nos na íntegra’.” [Sunan Abī Dāwūd 968, Grau: Sahih]. Somente nesta etapa o ser humano pode dizer que está íntegro, inteiro, completo. Ele está ouvindo a realidade. Começa a ouvir sua consciência de maneira plena. Está recebendo, desta maneira, todos os conselhos de Allah (swt). É como se Allah (swt) viesse, através de sua consciência e lhe desse um conselho: “Faça assim, faça assado, fale isso ou fale aquilo”. Tudo direcionado ao bem e à Vontade de Allah (swt). Quando estes seres humanos estão ouvindo estes conselhos e abrem de maneira mais plena a visão espiritual, vêem o que Allah (swt) quer que eles vejam, então começam a ouvir e ver o Haqq (Verdade). “De fato, esta é a verdadeira certeza” (Alcorão, 56:95). À medida que abre o Haqq para eles, eles se tornam mais sutis, e começam a sentir que a sensação do tato espiritual está se abrindo. Quando estão ouvindo, com o ouvido espiritual, é porque o tato espiritual irá começar a se abrir. Quando estão ouvindo e vendo o Haqq, começam a senti-Lo. Quando fazem Dhikr, todas essas experiências se tornam Haqiqa [Realidade]. Estão ouvindo a realidade, estão sendo treinados para ver a realidade, sentir a realidade, e ela se torna, agora, concreta, real, palpável. Este ser humano se tornou sutil e o sentido do tato espiritual está se abrindo de maneira plena. Ele está vivendo no Terceiro Tesouro Secreto escondido no coração. Ele está vivendo no Latif Sir Sir.

O Quarto Tesouro Secreto escondido no coração é o Latif Khafa e quem encontrou este tesouro vive no Maqam correspondente ao Nafs al- Mardiyyah. A pessoa abre definitivamente o sentido interno do olfato. Ela pode começar a cheirar as fragrâncias do Paraíso e cheirar as fragrâncias de Shaytan. Quando esta pessoa vai a algum lugar, pode cheirar algo que não está correto, porque ela atua neste mundo através desta camada de sua alma.

A alma é muito sutil, ela capta a fragrância das pessoas. Ela pode captar quando alguém tem um pensamento ruim, uma má intenção no coração, enfim, ela tem um odor poderoso para qualquer tipo de sujeira. Ela pode sentir o cheiro e a partir dele compreender o que está acontecendo. Além de já estar com a visão e a audição superior atuando nela. Ibn Taymiyyah (Ulema e sufi do séc XIV, seguia a Escola Hanbali) explica melhor: “Os milagres dos santos são absolutamente verdadeiros e corretos, e reconhecidos por todos os estudiosos muçulmanos. O Alcorão apontou para isso em diferentes lugares, e os Hadices do Profeta (saas) os mencionam, e quem quer que negue o poder milagroso dos santos é inovador ou seguindo inovadores.” [Mukhtasar al-Fatawa alMasriyya]. Esta pessoa está plenamente contente nas adversidades. Como as adversidades que passaram os Profetas Ibrahim (as), Nuh (as), Isa (as) e Muhammad (saas). É uma satisfação plena da pessoa com Allah (swt) e de Allah (swt) com a pessoa. Por esse motivo, quando o Imam Said Nursi (Mufti da Escola Shafi – do início do séc. XX), disse: “você deve buscar o prazer de Allah (swt) em suas ações!”, no primeiro princípio do seu “Tratado sobre Sinceridade”, o objetivo que ele propõe para os estudantes de Risale-i Nur, são os níveis de radhiyya e mardhiyya. Annas relatou: “O Mensageiro de Allah (saas) disse, ao se referir a Allah (swt): ‘Ó virador de corações, afirme meu coração sobre sua religião! Annas disse: ‘Ó Mensageiro de Allah, nós acreditamos em você e naquilo com que você foi enviado. Você teme por nós?’

O Profeta (saas) disse: ‘Sim, pois os corações estão entre os dedos de Allah. Ele os transforma da maneira que quiser’.” [Sunan al-Tirmidhī 2.140, Grau: Sahih]. Este nível do ser é uma completa transformação em relação ao primeiro nível. É como se Allah (swt) tivesse colocado no lugar, para toda a eternidade, aquele coração que estava invertido.

O próximo nível é o mais alto dos nafs: Nafs as-Safiyyah. É o nível mais alto, pois quem o atinge, chega à perfeição possível ao ser humano. Para progredirmos espiritualmente, nos aprofundarmos nestas camadas do  nafs, temos que cultivar algumas qualidades: IRĀDAH: compromisso com Allah (swt); ISTIQĀMAH: firmeza no caminho com Allah (swt); HĀYA: vergonha em cometer o mal; ḤURĪYYAH: liberdade do mundo; FATOOT: traço de masculinidade (no sentido de persistência ao servir), como um serviço contínuo para os outros; ḤUB amor a Allah (swt); ABOODIYAH: servi exclusivamente Allah (swt); MARAQIBA: foco completo em Allah (swt); DUʿĀʾ: súplicas; SALAT: orações; FAQAR: abandono do materialismo; TASAWWUF: ciência islâmica do aprimoramento do ser (sufismo) ; SUHBAT: companhia dos justos; ADAB: seguir protocolos de respeito, excelência e gentileza. Enfim, quem consegue se aprofundar ao máximo em cada um destes pontos até se tornar pleno em todos, encontrará o Quinto Tesouro Secreto escondido no coração – Latif Akhfa. E estará então vivendo na camada mais profunda da alma, que é o Nafs as-Safiyyah. Sheikh Nazim disse, lá no texto mencionado no início, sobre o ego: “O mais profundo, que não tem limites, é o Trono do seu Senhor. É o trono do seu Senhor porque nada pode conter o seu Senhor. É impossível.

Nem os mundos nem o céu podem conter o seu Senhor Todo-Poderoso, apenas o seu coração, os corações dos filhos de Adão o contêm.” Isso significa que não há limites para o coração. Neste Maqam/Estação Espiritual, o ser humano deixa para trás todos os limites que estavam encerrados em cada latif de seu coração e se une de maneira plena Àquele que NÃO TEM LIMITES, é Infinito e é Eterno. Ibn Abbas relatou: “O Mensageiro de Allah (saas) disse: ‘Ó Allah, ilumine meu coração, ilumine minha audição, ilumine minha visão, ilumine minha língua e dê-me luz em abundância’.” [Musnad Aḥmad 3.291].

Neste Maqam o ser humano está transbordando luz de seu coração. Aqui ele tem acesso às mais elevadas realidades. Ele está ouvindo, vendo, cheirando e experimentando com todos os seus sentidos internos o mais cheiroso e lindo universo possível ao ser humano. Pereba o abismo que existe entre dominar as palavras e conceitos que compõem o Islam (conhecê-lo só na teoria) e vivê-lo em sua completude. Pode haver uma pessoa que tem um pleno domínio das palavras. Ela pode dominar toda a lógica do kalam (ciência islâmica da lógica e domínio dos conceitos), mas, por mais excelente que ela seja nesta ciência, ainda estará no “primeiro andar” da razão, porque Allah (swt) nos diz que: “Vou selar sua boca quando você subir aos céus.” (36:65). Logo, Allah (swt), como é dito no Alcorão e na Sunnah, está interessado em nosso coração e não em nossa mente. No Dia do Juízo, nenhuma palavra conceitual livrará alguém, a pessoa pode se utilizar de todo o arcabouço lógico islâmico, mas não conseguirá sequer manifestar isso, como aponta o ayat mencionado, que agora vemos na íntegra: “Naquele dia, selaremos sobre suas bocas, e suas mãos falarão conosco, e seus pés testemunharão sobre o que elas costumavam ganhar”. (Alcorão Sagrado, Yasin 36:65).

3- A Alma ou Espírito

Rūḥ em árabe é a parte imortal e essencial de uma pessoa, ou seja, o “espírito” ou a “alma”. O Alcorão descreve Rūḥ, em alguns contextos, como a parte que anima a matéria inanimada. Vê-se no Alcorão (17:85): “Perguntar-te-ão sobre o Espírito. Responde-lhes: O Espírito está sob o comando [AMR] do meu Senhor, e só vos tem sido concedida uma ínfima parte do saber”. O espírito (alma: Rūḥ) é do Amr do teu Senhor. Em vários ayats (versos) do Alcorão, a palavra Amr tem sido usada com três significados: 1) Ordem, Mandamento ou Autoridade. 2) Trabalhos ou Tarefa. 3) Criar unicamente por Sua Vontade, do nada. Alguém pode se perguntar se a alma é auto-existente ou se é algo criado. A resposta é: Amr, ou seja, ela provém do trabalho de Allah (swt). Em outras palavras, a alma é algo criado e não autoexistente. Alguém pode ficar intrigado se a alma é algo material ou diferente da matéria: novamente a resposta é: Amr do Senhor (vontade dEle, criada do nada), ou seja, não é matéria, como a conhecemos, pelo menos. Se a pessoa estiver ainda confusa com a afirmação de outras de que a alma é igual a Allah (swt), neste ayat acima (17:85), vemos que a alma de fato é a criação do Senhor e, como tal, não pode ser igual ao Criador, porém nem pode também ser independente dEle.

Podemos nos referir à diversas aplicações do uso da palavra alma no alcorão. Em alguns versículos, a alma é mencionada como uma entidade em paralelo à existência dos anjos: “O dia em que a alma e os anjos devem ficar em fileiras…” (78:38). Vemos, na seguinte passagem do Alcorão, uma outra perspectiva da palavra espírito: “Naquela noite, os anjos e o espírito santo descem, com a permissão de seu Senhor, para cada matéria decretada.” (97:04). A palavra espírito às vezes é utilizada para se referir a Jibril (as) – o Anjo Gabriel. Em alguns versículos, a palavra “alma” foi combinada com o “Espírito da alma santa” ou o “Espírito Santo” interpretado como Jibril (as) – Anjo Gabriel, por muitos estudiosos sunitas tradicionais, mas há outras interpretações também. Vemos isso novamente na seguinte passagem: “Com ele desceu o Espírito Fiel” (26:193) ou “Diga, o espírito santo revelou isso de seu Senhor com a verdade” (16:102). Vemos então, que não é tão simples definirmos, em algumas palavras o que é alma, ou o que é espírito. Ou como nossa alma se relaciona com o Espírito Fiel, por exemplo. E há outra forma ainda de aplicação da palavra alma no Alcorão, quando refere-se ao Profeta Jesus, Isa (as), que tem o título de “Rouh o llah”, como em: “O Messias, Isa, filho de Maria é apenas um mensageiro de Deus e é Sua palavra que Ele comunicou a Maria, com um espírito Dele.” (04:171). Estamos vendo aplicações da palavra “Rūḥ”, no Alcorão. E há outras ainda. Há a palavra Rūḥ como “Poder Espiritual” concedido aos profetas e crentes, tais como: “Estes são em cujos corações Ele impressionou a fé, e quem Ele fortaleceu com uma inspiração dEle.” (58:22). Ou: “E nós demos a Isa, filho de Maria, argumentos claros e o fortalecemos com o espírito santo.” (02:87). O Alcorão Sagrado nos lembra que a gravidez de Maryam [Maria, mãe de Isa (as)] não era normal, e sim era uma gravidez através do envio de uma força manifestada que Allah (swt) mandou: “lhe enviamos o Nosso Espírito, que lhe apareceu personificado, como um homem perfeito” (19:17). Alma ou Rūḥ aparece ainda como a origem da vida do ser humano, como o Sagrado Alcorão diz: “Recorda-te de quando o teu Senhor disse aos anjos: ‘Criarei um ser humano de argila, de barro modelável. E ao tê-lo terminado e alentado com o Meu Espírito, prostrai-vos ante ele’”. (15:28-29). Alma também aparece como sinônimo de nafs (ego). Nafs é uma palavra árabe que ocorre no Alcorão, que significa literalmente “eu”, e foi traduzida como “psique”, “ego” ou “alma”: Como é dito no Sagrado  Alcorão “Toda alma provará a morte” (29:57). Significa que cada um de nós, em termos de nafs e personalidade, morreremos. Ou também, alma é visto como nafs em (05:105): “Ó fiéis, resguardai as vossas almas, porque se vos conduzirdes bem, jamais poderão prejudicar-vos aqueles que se desviam; todos vós retornareis a Deus, o Qual vos inteirará de tudo quanto houverdes feito”. Então, alma é algo a ser resguardado, purificado, trabalhado. O que encaixa perfeitamente com o estudo dos “Níveis do Ser”, visto anteriormente. Parece haver uma diferença mais perceptível no Alcorão entre NAFS (alma e ego) e RUH (espírito). O Rūḥ pode dirigir o nafs. O nafs compreende desejos temporais e percepções sensoriais. O nafs pode assumir o controle do corpo se o Rūḥ se render aos impulsos corporais. O nafs está sujeito ao desejo corporal, enquanto o Rūḥ é a essência imaterial de uma pessoa, que vai além das emoções e instintos animais. Novamente estas idéias fecham perfeitamente com o estudo dos “Níveis do Ser”. Então, concluímos que no Alcorão ALMA aparece como espírito e em outras ocasiões ALMA aparece como ego ou nafs. ALMA aparece com parte de Allah (swt), uma manifestação dEle, ou mesmo como parte de um enviado dEle, como o Anjo Gabriel ou mesmo Jesus (as). Talvez esteja aí um segredo subjacente. Lá na mais profunda camada de nosso nafs, há um elo de conexão com nosso espírito. Que se conecta com os mensageiros de Allah (swt) e enviados, que se conecta com o Criador de tudo: Allah (swt).

4- O Autoconhecimento

Depois de estudarmos o ego, estudarmos as camadas de nossa alma e vermos que a palavra alma talvez signifique um elo com Allah (swt) ou algo que transpasse a nossa compreensão, por ser usada nas mais diversas conotações por Allah (swt), podem surgir algumas perguntas, como: Como teremos acesso a estes mistérios? Como teremos acesso às profundezas  incomensuráveis de nossa alma? Parte desta resposta está no autoconhecimento. Vemos a importância dele no Alcorão (50:16): “Fomos nós que criamos o homem e sabemos que sugestões sombrias sua alma lhe faz: pois estamos mais próximos dele do que sua veia jugular”. Se Allah (swt) está mais próximo de nós do que nossa veia jugular, logo, tenho que me voltar para dentro de mim mesmo para descobri-Lo. No Sagrado Alcorão, vemos na (12:53): “Porém, eu não me escuso, porquanto o ser é propenso ao mal, exceto aqueles de quem o meu Senhor se apiada, porque o meu Senhor é Indulgente, Misericordiosíssimo.” Para crescermos espiritualmente, temos que conhecer nossa propensão ao mal. Para não sermos vítimas dela. Eis uma importância bastante urgente e imediata do autoconhecimento. Agora na (75:02): “E juro, pela alma que reprova a si mesma”. A alma que reprova a si mesma é uma clara menção ao que chamamos de Nafs al-Awwamah, no estudo do “Níveis do Ser”. Esta camada do nafs, em questão, trabalha, quando está na sua melhor forma, com a auto-acusação. Fazendo-nos assim conhecermos nossos defeitos. Assim comprovamos que o auto-conhecer-se é uma indicação para os muçulmanos e muçulmanas. No Alcorão, vemos ainda: (91:09) “Que será venturoso quem a purificar (a alma)”. Outra menção explícita ao trabalho de aprofundamento em nossas camadas da alma. Há inúmeras menções indiretas no Alcorão quanto à importância do autoconhecimento: (13:28) “Aqueles que acreditam e cujos corações encontram satisfação na lembrança de Allah. Pois, sem dúvida, na lembrança de Allah, os corações encontram satisfação.” Todos aqueles que praticam o Dhikr (Lembrança de Allah) sabem que este é o mais poderoso instrumento de autoconhecimento, pois a partir dele é possível perceber quando o ego aparece em nossa mente, tentando nos influenciar. Na sura (43:14), diz: “E em verdade, a Nosso Senhor, de fato, devemos retornar!” E na (13:11), diz: “Em verdade, Deus nunca mudará a condição de um povo até que ele mude o que está em seus corações.” Como é possível mudar o que está em seu coração, que não seja conhecendo bem o que deve ser mudado? Alguém consegue mudar algo, para melhor, efetivamente, sem conhecer este algo? E esta última passagem é outra clara menção à possibilidade de “mergulho” nas camadas do nafs rumo ao estado de WALI [amigo íntimo de Allah (swt)]. E por fim: “…e não seja como aqueles que esqueceram de Deus, então Ele os fez esquecer a si mesmos” (41:53). Então,  diz o Alcorão, não podemos ser como aqueles que se esquecem de si mesmos. Temos que nos lembrar de nós mesmo. E isto passa pelo autoconhecimento, mas também, pelo Dhikr, pois a mais eficaz forma de lembrarmos de nós mesmo é lembrando de Allah (swt).

Vimos inúmeras menções à importância do autoconhecimento e também a ele ser um dos veículos de purificação do coração. Veremos agora algumas passagens da Sunnah que se remetem, essencialmente, a mesma idéia e também veremos o que disse grandes Ulemas [sábios], sobre o assunto: “Aquele que conhece a si mesmo, conhece a seu senhor” [Livro: AlFatāwa al-Hadīthiyya, pg 206. De Abdullah al-Herawi al-Ansari (sufi do séc. XI, citado exaustivamente por Imam Nawawi e Imam Taymiyyah]. Al-Ghazali (grande Ulema Sunita e sufi do séc. XII) disse: Aquele que conhece a si mesmo, conhece seu Senhor Todo-Poderoso, e isso é o suficiente para remover a arrogância. Não importa o que ele realmente saiba sobre si mesmo, ele saberá que é humilhado em todos os sentidos, ele é pequeno em todos os sentidos [Iḥyā ‘Ulūm al-Dīn 3/358]. O processo de se autoconhecer resulta em se auto-humilhar. E Allah (swt) eleva aquele que se humilha. Vejamos o que diz o Profeta (saas): “Quem entre vocês vê um mal em si, deve tirá-lo com a mão e se ele não é capaz, então com a língua e se não é capaz, deve odiar isso em seu coração, e esse é o nível mais fraco de fé.” [Muslim e Ahmed]. O Profeta (saas) disse “quem entre vocês vê em si!”, isto é, ele (saas) está nos exortando a nos auto-conhecermos, em vermos em nós os nossos defeitos. Ibn alMubarak relatou: “Sufyan al-Thawri (era um estudioso e jurista islâmico alTābi‘īn – primeiras gerações depois do Profeta – saas, foi fundador da madhhab de Thawri. Ele também foi um ótimo compilador hadith) disse: ‘Se você se conhece, não será prejudicado pelo que for dito sobre você’.” [Ḥilyat al-Awliyā ‘6/390]. Por isso, temos que estar primeiro seguros de nos conhecermos, para estarmos seguros quando qualquer um apontar algo de nós. Aí, mais próximos de nosso coração, estaremos seguros de nossa intenção. Aquele que não sabe nada de si, como vai ensinar algo sobre o outro ou sobre Allah (swt)? O Profeta (saas), disse: O exemplo do erudito que ensina coisas boas às pessoas, mas se esquece é o de uma lanterna, que ilumina as pessoas, mas se queima.” [AtTabarani].  Sheikh Nazim também nos ensina sobre o autoconhecimento:

“Quem se lembra de seu Senhor tem uma Luz Divina em seu coração que impede a entrada de Shaytan e seus soldados. Portanto, quanto mais você se lembrar e meditar, mantendo um olhar atento em seu coração, mais bem-sucedido será em impedir seu inimigo mortal. Mas, se você não se lembrar, se estiver ocupado demais para ficar de olho no coração, certamente Shaytan entrará furtivamente, basta um momento de desatenção e ele começará a fazer você sofrer.”

Autoconhecimento é também esta vigília constante sobre si.

Termos uma atenção plena em nós mesmos nos ajudará a conhecer o nosso Senhor. Vigiar o nosso ego é fundamental para entrarmos em nosso interior. Em árabe, o autoconhecimento é chamado de Ma’rifatul-Nafs. O que é Ma’rifatul-Nafs ou autoconhecimento? É conhecimento sobre nós, nos vigiarmos, isto é, vigiar a si mesmo, vigiar seu nafs (ego). Abu Nu’aym relatou: Sahl ibn Abdullah (Ulema Sunita, grande conhecedor de Tafsir e sufi do séc. IX) disse: “Se alguém conhece o inimigo, conhece seu Senhor. Se alguém se conhece, conhece seu status com seu Senhor. Se alguém conhece sua mente, conhece seu estado entre ele e seu Senhor. Se alguém conhece o conhecimento sagrado, conhece sua jornada. Se alguém conhece o mundo, conhece o outro. E Sahl foi questionado sobre o ditado: ‘Quem se conhece, conhece seu Senhor’. Sahl disse: ‘Quem se define por causa de seu Senhor, seu Senhor define por causa de si mesmo’.” E não é esta passagem deste sufi de épocas próximas ao do Profeta (saas) que sintetiza tudo dito até aqui?

Então, sejamos responsáveis por nós mesmo. Nos conheçamos para que possamos conhecer o nosso Senhor e todos os mistérios de nossa alma. O Alcorão nos pede isso, na sura (5:105): “Ó vós que crestes, sobre vós é responsabilidade de vós mesmos. Aqueles que se perderam não o prejudicarão quando você for guiado.” Allah (swt) está nos dizendo para cuidarmos de nós mesmos, prestarmos atenção a nós mesmos, que devemos ter cuidado com o bem-estar de nosso espírito, nossa alma, que devemos estar cientes das doenças de nossa alma e de como curá-las. Ele (swt) também nos diz que devemos prestar atenção aos nossos deveres, que nos são obrigatórios como  muçulmanos(as). Então, Ele (swt) nos diz que, se entendermos o caminho (das camadas do nafs), se formos fiéis e crentes comprometidos, aqueles que são enganados (que estão perdidos) não nos prejudicarão. A partir disso, entendemos que nosso primeiro dever, quanto a esta questão, é cuidar, vigiar a nossa alma. E para tal é necessário conhecê-la. O Alcorão diz, na (41:53):

“Mostraremos a eles nossos sinais nos horizontes e dentro de si mesmos até que fique claro para eles o que é a verdade. Mas não basta ao seu Senhor que Ele seja, acima de tudo, uma Testemunha?” Allah (swt) está disposto a nos mostrar quem somos. Ele quer nos indicar vias interiores para nos aproximarmos dEle. Podemos acessar estas “rodovias espirituais” até Ele. A partir desses versículos, fica claro para nós que os muçulmanos e as muçulmanas são incentivados(as) por Allah (swt) a se concentrarem em suas almas e a observarem a si mesmos(as). Logo, devemos focar nesta “rodovia espiritual” interior que dá acesso a você mesmo, à sua essência e a Allah (swt). Você não deve se perder de você mesmo, para não se perder de Allah (swt). A maioria das pessoas não se vigia, não se percebe, e não está conectada a Allah (swt). Alcorão: “Certamente o homem está perdido, exceto aqueles que crêem e fazem o bem e se vinculam à verdade e à paciência” (103:1- 3). Vincule-se verdadeiramente à Verdade. A Ordem Naqshbandi é Haqqani. Tariqa Naqshbandi Haqqani significa: caminho para você gravar Deus dentro de você a partir da Verdade ou da Realidade Última.

5- Conclusão

Ao compreendermos um pouco o ego, ao vislumbrarmos as etapas possíveis que um ser humano pode galgar, ao tentarmos entender melhor o que é a nossa alma ou espírito (se considerarmos alma como sinônimo de espírito e não como sinônimo de ego), podemos, in Shaa Allah, aplicar este conhecimento teórico juntando-o ao conhecimento prático da auto- observação, do autoconhecimento. Quando mergulharmos para dentro de nós mesmos com sinceridade e com um guia verdadeiro, enfim com estes “equipamentos adequados” para mergulho, “rodovias espirituais” se abrirão internamente e em nossos corações. In Shaa Allah estas “rodovias” estarão iluminadas, para sabermos qual a direção que devemos seguir. E a luz desta rodovia é Mawlana Sheikh Mehmet. Ele não é a fonte da luz. A fonte da luz é Allah al-Nur, mas Mawlana estará lá, nestas “rodovias espirituais” que existem dentro de nós, nos sinalizando com um “bastão de luz” o caminho que devemos seguir para irmos de maneira direta e rápida a Allah (swt).

O salafismo não ensina o autoconhecimento, até zomba desta eficaz ferramenta, não conhece o Islam profundamente, na sua prática plena, pois, além disso, também não ensina o caminho para se conquistar o próprio coração. Logo, não aponta para o conhecimento da Realidade do Senhor. Portanto, não conhece o Islam plenamente. Se um salafi mergulhar para dentro de si, ao mergulhar talvez reconheça algumas “rodovias espirituais”, pois o Islam as ensina. Mas, elas estarão apagadas, porque o salafi nega a necessidade de um guia para percorrer estes caminhos internos rumo a Allah (swt).

Já aquele que nega o Islam, ou está no Islam e acha que não precisa fazer o Salat, ou que não precisa cumprir qualquer um dos 5 Pilares, ao tentar mergulhar para dentro de si, verá apenas estradas de terra indo nas mais diferentes direções e nenhuma delas estará iluminada. Perder-se-á. Não chegará a lugar algum.

Pela Misericórdia de Allah (swt), Ele (swt) poderá salvar a alma do salafi, e in Shaa Allah também daquele que negou o Islam por não tê-lo entendido, se este aprendeu o Islam com um salafi e, logo, não tem culpa de ter aprendido o Islam completamente errado, pois é assim que ensina o salafismo/wahabismo. Será salvo, in Shaa Allah, se não associar nada a Allah (swt) e não acreditar que qualquer outro, além de Allah (swt), tenha poder, se assim for, então Allah (swt) poderá salvar esta alma.

Mas, aquele que aprende o Islam corretamente, através dos Ahlus Sunnah wal Jammah (como o Islam ensinado pela Ordem Naqshbandi, que se  baseia na Madhab de Fiqh Hanafi e na Aqidah Maturidi, tornando assim a Naqshbandi vinculada ao sunismo tradicional), e depois nega o Islam, ou nega a necessidade de fazer as 5 orações obrigatórias, ou nega qualquer um dos 5 Pilares do Islam ou dos 6 Pilares da crença, este talvez não tenha tanta sorte. É isso que ensina a Escola de Aqidah Maturidi.

Pode parecer, até mesmo para alguns muçulmanos e muçulmanas, que estamos mostrando aqui uma opinião muito drástica sobre aqueles que tiveram um bom entendimento do Islam, afirmando ser o Islam o único caminho válido para a salvação destes. A pessoa pode dizer: “essa afirmação só pode vir do salafismo ou do wahabismo.” Mas, não. Esta é a posição do Islam Sunita Tradicional e das Escolas de Aqidah do sunismo tradicional.

Os seres humanos não estão indo na direção que Allah (swt) indicou. Qual é esta direção: copiarmos a Sunnah do Profeta Muhammad (saas). Esta é a única saída para a humanidade. O único caminho. O Islam reconhece a salvação para as pessoas do Povo do Livro (Judeus e Cristãos) que forem verdadeiros monoteístas e que não tiveram a chance de conhecer realmente o Islam, de serem realmente instruídos sobre o Islam verdadeiro. Logo, o salafismo e wahabismo não contam, pois ensinam um Islam deformado. Perguntaram sobre a noção de “validade universal” de todas as religiões e a sua relação com o sufismo para o Mufti e sufi contemporâneo, Nuh Ha Mim Keller. Ele falou que responderia esta pergunta com base em Ibn Arabi (Ulema Sunita e sufi do séc. XIII) e com base em Abdul Qadir al-Jaza’iri (herói Argelino e sufi do séc. XIX), também com base no Alcorão e na Sunnah. Ele disse: “Embora a Lei Sagrada do Profeta (saas) tenha superado todas as leis religiosas anteriormente válidas, era idêntica a elas em crenças, tais como tawhid ou ‘unicidade de Deus’, e assim por diante, um fato que o Profeta (saas) enfatizou dizendo: ‘Que nenhum de vós diga que sou superior a Jonas [profeta]’, [Bukhari, 4. 193: 3412]. Quanto a hoje, só o Islam é válido ou aceitável [quanto a outros caminhos e religiões] agora que Allah (swt) o enviou a todos os homens, pois o Profeta (saas) disse, ‘Por Ele em cuja mão está a alma de Muhammad, qualquer pessoa desta comunidade, qualquer judeu, ou qualquer cristão que ouça falar de mim e morra sem acreditar naquilo com que  fui enviado será um habitante do inferno’ [al-Baghawi: Sharh al-sunna 1.104].

Este hadith foi também relatado por Muslim no seu Sahih e por `Abd al-Razzaq no seu Musannaf, e outros. É uma prova rigorosamente autenticada (sahih) que clarifica a palavra de Allah (swt). No Alcorão, na surat Al ‘Imran: ‘Quem procura uma religião diferente do Islam nunca terá aceite da Sua parte, e será daqueles que realmente falharam na vida seguinte’ (Alcorão 3:85). O Islam é a única religião válida que resta, acreditar nisso é sabido como necessário e parte da nossa religião, e acreditar em qualquer outra coisa que não seja isto é descrença (kufr), que coloca uma pessoa fora do Islam, como diz o Imam Nawawi [Livro Rawda al-talibin, 10.70]. Esta não é apenas a posição da escola de jurisprudência Shafi’i, representada por Nawawi, mas é também a posição registrada de todas as outras três escolas sunitas: Hanafi [Ibn ‘Abidin: Radd almuhtar 3.287], Maliki [al-Dardir: al-Sharh al-saghir, 4.435], e Hanbali [al-Bahuti: Kashshaf al-qina’, 6.170]. Os estudiosos do Direito Sagrado são unânimes sobre a ab-rogação de todas as outras religiões pelo Islam, porque é a posição do próprio Islam. Ibn Arabi afirmou a este respeito: ‘Cuidado para nunca dizer nada que não esteja em conformidade com a Lei Sagrada pura. Saiba que a fase mais elevada dos aperfeiçoados (rijal) é a Lei Sagrada de Muhammad (saas). E saibam que o esotérico que viola o exotérico é uma fraude.’ [alBurhani: al-Hall al-sadid, 32].” Adiante, este Mufti e sufi contemporâneo cita Ibn Arabi, expondo o escrito por este grande sufi no livro Futuhat: “‘As leis religiosas (shara’i’) são todas luzes, e a lei de Muhammad (saas) entre estas luzes é como a luz do sol entre a luz das estrelas: se o sol sair, as luzes das estrelas já não são vistas e as suas luzes são absorvidas pela luz do sol: o desaparecimento das suas luzes assemelha-se ao que, das leis religiosas, foi ab-rogado (nusikha) pela sua lei. É por isso que somos obrigados pela nossa lei universal a acreditar em todos os mensageiros proféticos (rusul) e a acreditar que todas as suas leis são verdadeiras, e não se transformaram em falsidade ao serem ab-rogadas: essa é a imaginação dos ignorantes. Assim, todos os caminhos regressam para olhar para o caminho do Profeta (saas): se os mensageiros proféticos tivessem estado vivos no seu tempo, tê-lo-iam seguido tal como as suas leis religiosas seguiram a sua lei’”.

O muçulmano e a muçulmana devem acreditar nisso: depois da revelação do Islam, todas as outras religiões e caminhos foram revogados. Aqueles que não conhecem o Islam e são monoteístas puros, terão salvação, in Shaa Allah. Mas, para aqueles que conhecem o Islam, automaticamente todos os outros caminhos deixam de ter validade e não mais os salvarão. Esta é a crença da Aqidah Maturidi, que é a Escola de Crença das pessoas que seguem a Fiqh Hanafi [Jurisprudência] e logo, dos Naqshbandis – que são Hanafis e Maturidis. Já a Escola de Aqidah Shafi é mais taxativa, diz que só há salvação no Islam, independente da pessoa conhecer ou não o Islam. Mas, nosso foco aqui é a Hanafi e a Aqidah Maturidi, a qual a Naqshbandi segue e não a Escola de Aqidah Shafi. Vemos a mesma idéia, num livro clássico: “Allah (swt), por fim enviou o maior de todos os profetas, Muhammad (saas) para toda a humanidade. Através dele, Ele transmitiu os mandamentos da religião islâmica, que é a verdade de todas as religiões em sua mais perfeita e plena forma. Hoje sobre a face da Terra existe apenas uma única religião, e é esta que será a última até o dia do julgamento [Grande Manual Islâmico – Manual Hanafi]”.

A partir da perspectiva da salvação da alma, se você não está no Islam, deveria entrar o mais rapidamente possível, pois nunca saberá quando irá morrer, e não tem a garantia plena da salvação (apesar de ela estar prevista para este caso, no Islam, na Escola Maturidi).

Se você é de outra ordem sufi, diferente da Naqshbandi, veja o que diz Sheikh Nazim:

“Hoje, todo poder vem da ordem Naqshbandi porque ela está crescendo e consegue tocar os corações de todas as pessoas. A tariqa Naqshbandi também possui Jaziba, Tariqa Jasbathat. Jazba significa atração – atração Divina – é capaz de conduzir os 5 corações e controlálos. Esperamos que Allah Todo-Poderoso faça com que Seus servos conectem seus corações e para isso o poder de Jazba é extremamente necessário. Esperamos que as brigas e discussões não separem as pessoas e que elas sejam atraías ao caminho de Deus Todo-Poderoso. Assim terão paz em seus corações através do Dhikr. Todas as tariqas  usam o Dhikr feito oralmente. A Naqshbandi é a única que usa o Dhikr feito pelo coração e somente esse Dhikr pode controlar os corações. Se o Dhikr não vier do coração, Shaytan têm a oportunidade de controlar aquele coração. Quando o Dhikr existe no coração, Shaytan escapa e foge daquele coração. O Dhikr destas outras quarenta ordens não penetra no coração, e, portanto, não há autoridade que cuide destes corações e os controlem. Isso acontece somente na Mais Eminente Tariqa Naqshbandi. Todos os Imames estão agora usando seus poderes através da Tariqa Naqshbandi, incluindo Seyyadi Abdul Qadir Jilani, que está revestido desse poder, de modo que pode controlar seus murids (seguidores) do tempo em que ele se encontra até o tempo presente.

Hoje há apenas um Imam ou pilar central na Tariqa Qadiriya, o Iman Muhiyaldin Abdul Jilani, que também usa o poder Naqshbandi para controlar os corações. (…) Os Imames das outras quarenta ordens também se alimentam desse poder, do mesmo modo que Abdul Qadir al-Jilani alcança o poder Naqshbandi e é desse modo que eles controlam seus murids.” (“Esmeraldas do Paraíso”; Sheikh Nazim alHaqqani). Se você for um(a) naqshbandi, seja responsável com seu espírito e faça pelo menos o básico: as 5 orações obrigatórias. Quem sabe Allah (swt) faça com que seus olhos espirituais sejam abertos e você reconheça as “rodovias espirituais”, então perceberá que elas estão iluminadas pelo nosso mestre e que você poderá alcançar os mais elevados níveis espirituais.

Se você for um salafi/wahabi, que Allah (swt) te proteja de você mesmo e tenha misericórdia de você e mantenha-o longe do Shirk, aí sim está prevista a tua salvação. Mas, a tendência é você não ascender aos níveis mais elevados de Jannah (paraíso), por não ter orientação alguma de o que deve fazer para esta finalidade. Mas, você pode ainda tentar alcançar o mais alto paraíso (Firdaws), pois está vivo e pode entrar para um caminho no qual encontrará “rodovias iluminadas” rumo ao Senhor (swt).

O Islam é a única religião que prevê a salvação para aqueles que estão fora da própria religião, neste caso, o Islam prevê a salvação para cristãos e judeus. Se eles forem monoteístas puros e não conheceram o Islam. Aquele que for um monoteísta verdadeiro alcançará a salvação. Apesar de os salafis estarem no erro, inovando o Islam com suas Bidahs que apontam para coisas que não são Haram, mas eles inventam que são, mesmo assim, se eles ficarem longe do Shirk [idolatria], alcançarão a salvação. É o que está previsto no Islam. Pessoas de outras ordens sufis, mantendo o monoteísmo e ficando longe do Shirk [idolatria], alcançarão a salvação. In Shaa Allah! Mas, neste texto nós estamos falando sobre a psicologia sufi, que trata sobre como o homem pode dominar o seu ego e atingir o máximo de sua espiritualidade. Então, o foco aqui não é somente a salvação, é o que o ser humano deve fazer para atingir os mais elevados níveis espirituais em vida, para que permaneça eternamente nos mais elevados patamares do Paraíso. Mergulhemos para dentro de nosso coração rumo à descoberta de nossa essência divina, para estarmos satisfeitos aqui e na vida eterna!

E Allah (swt) sabe mais!

Abdul Qadir, 06/01/21 (texto baseado em dezenas de sites).25

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