Categorias
Demônios e Anjos

O Testamento de Salomão

Leia em 62 minutos.

Este texto foi lambido por 324 almas essa semana.

Thiago Tamosauskas

O que temos aqui é um antigo catálogo de demônios, um Pseudepigráfico do Antigo Testamento e um dos grimórios mais antigos da tradição salomônica datado do Primeiro ao Terceiro Século d.C. Também chamado de “Atos de Salomão” O livro mostra como os demônios são invocados pelo Rei Salomão, e como eles podem ser controlados utilizando-se o Anel de Salomão o nome de anjos e outras técnicas mágicas.

Esta tradução é baseada nas traduçoes em inglês de F. C. Conybeare, Jewish Quarterly Review (1898) e D. C. Duling (1983) com consultas a versão em espanhol de Reise Fleck Wissensch.

SUMÁRIO

Introdução

Eu, Robson Belli, em colaboração com o tradutor desta obra, meu nobre irmão, estimado colega e um amigo pessoal Thiago Tamosauskas, orgulhosamente apresento “O Testamento de Salomão”, uma obra que não somente se aprofunda nas raízes do misticismo e da história, mas também se estende como um elo entre o passado e o presente. Este texto, transcende a natureza de um mero documento, abre um portal para um universo atemporal e rico, onde a figura de Salomão se destaca monumentalmente na arte do exorcismo e do domínio sobre entidades sobrenaturais, revelando camadas ocultas de sabedoria e poder.

Esta obra, “O Testamento de Salomão”, é mais do que uma narrativa; é um compêndio de conhecimentos ancestrais, um legado de uma época em que o místico e o tangível estavam inextricavelmente ligados. Salomão, o rei sábio e enigmático, emerge das sombras do tempo como uma entidade quase mítica, um mestre supremo nas artes ocultas, cujo legado e influência se estendem muito além de sua era. Suas proezas e conhecimentos, encapsulados neste texto, são um testemunho da intersecção entre a fé, a magia e a sabedoria ancestral.

O “Testamento de Salomão” não apenas destaca as capacidades exorcistas e mágicas de Salomão, mas também oferece uma visão introspectiva sobre a complexidade da natureza humana e o eterno embate entre o bem e o mal. Ao explorar este texto, somos conduzidos por um labirinto de histórias e lendas que formam a base do conhecimento esotérico sobre demônios e entidades sobrenaturais, uma base que influenciou gerações de místicos, magos e estudiosos do oculto tal como eu.

Esta obra é, portanto, essencial para compreender a evolução do pensamento místico e esotérico ao longo dos séculos. Ela serve como uma ponte entre as antigas tradições mágicas e as práticas contemporâneas, oferecendo insights valiosos sobre as origens e o desenvolvimento da magia cerimonial e da demonologia. Através do “Testamento de Salomão”, temos uma janela para o mundo antigo, onde o sobrenatural era parte integrante da experiência humana e onde Salomão reinava como um ícone de sabedoria e poder.

“O Testamento de Salomão”, uma obra que se estende além de seu contexto histórico e religioso, penetrando no tecido da cultura popular, das artes e do entretenimento. Este antigo texto, enraizado nos “Atos de Salomão” bíblicos e nas práticas exorcistas descritas por Flávio Josefo, serve de base para uma vasta rede de influências que abrangem o judaísmo, o islamismo e o cristianismo.

No mundo da música, a figura de Salomão ressoa até os nossos dias em diversos gêneros. Por exemplo, na música clássica, temos o oratório “Solomon” de Handel, que com sua majestosa abertura, “The Arrival of the Queen of Sheba”, evoca a grandiosidade do rei bíblico. No rock, bandas como Black Sabbath, em sua música “The Wizard”, tecem narrativas que, embora não mencionem Salomão diretamente, capturam a essência de sua sabedoria e domínio místico.

Nos quadrinhos, Salomão é frequentemente retratado como uma figura de grande poder e sabedoria. Um exemplo notável é a série “The Sandman” de Neil Gaiman, onde a figura de Salomão surge em um universo repleto de mitologia e fantasia, mostrando a amplitude de sua influência.

No cinema, Salomão tem sido um tema recorrente. Filmes como “O Rei Salomão” (1959) e “As Minas do Rei Salomão” (2004) exploram a riqueza e o mistério associados ao seu nome. Além disso, em filmes de aventura modernos, como “Indiana Jones”, o simbolismo e os artefatos ligados a Salomão frequentemente surgem como elementos-chave da trama.

Na televisão, séries como “Supernatural” apresentam episódios onde os protagonistas se deparam com demônios e artefatos ligados à tradição salomônica. A série habilmente entrelaça elementos místicos e históricos, demonstrando a persistente fascinação por Salomão no imaginário popular.

Em jogos de vídeo, como na série “Uncharted”, encontramos referências a Salomão, onde os jogadores embarcam em jornadas que remetem às lendas e tesouros associados ao rei. Estes jogos oferecem uma imersão em um mundo onde o mito e a história se encontram, permitindo aos jogadores explorar o legado de Salomão de maneira interativa.

O “Testamento de Salomão” é mais do que um manuscrito antigo; é uma parte integral de um vasto mosaico cultural. Suas raízes históricas e espirituais se estendem por gerações, influenciando a arte, a música, a literatura, o cinema, a televisão e os jogos, e continuam a inspirar e fascinar pessoas em todo o mundo. Ao mergulharmos neste texto, somos convidados a explorar não apenas um documento de uma época passada, mas um elemento vivo e pulsante da cultura humana.

Além disso, a tradição salomônica permeia os grimórios medievais, como o “Lemegeton”, que detalha o controle de Salomão sobre 72 demônios. Este e outros textos semelhantes, escritos durante a Renascença, são influenciados por obras anteriores de cabalistas judeus e magos árabes, incorporando aspectos da magia greco-romana da Antiguidade Tardia​​​​​​​​.

A história de “Mil e Uma Noites”, com um gênio preso por Salomão, e a lenda do Shamir no Talmude Babilônico, oferecem mais evidências da penetração da figura de Salomão no imaginário popular e místico, atravessando culturas e épocas​​​​​​​​.

No cristianismo primitivo, Salomão foi visto como um precursor da atividade exorcista de Jesus, moldando as noções de magia e divinação cristãs. Esta tradição do “Solomão O Mago” tornou-se cada vez mais sincretista ao longo do tempo, integrando e reinterpretando as várias facetas de Salomão como um mago e exorcista supremo​​​​.

Portanto, ao explorar o “Testamento de Salomão”, somos convidados a mergulhar em um mundo onde o sagrado, o profano e o místico se entrelaçam. As páginas deste livro não apenas revelam a sabedoria e o poder de Salomão, mas também refletem um mosaico cultural e espiritual que se estende do primeiro século aos grimórios da Renascença e além. Que esta obra sirva como um farol para todos os que buscam entender a complexa figura mítica de Salomão e seu legado duradouro no reino do ocultismo e da espiritualidade.

É com imenso respeito e uma sincera apresso pessoal que celebro o trabalho de Thiago Tamosauskas, não apenas como um colega no campo do ocultismo e demonologia, mas como um verdadeiro amigo e irmão de alma. Sua jornada e contribuições para o estudo do ocultismo transcendem o mero acadêmico, refletindo uma dedicação que fala de uma profunda conexão espiritual, possivelmente forjada ao longo de muitas vidas.

Thiago não é apenas um estudioso; ele é um farol de sabedoria e conhecimento, cuja paixão por seu campo é contagiosa e inspiradora. Ele possui uma habilidade única de tecer o místico com o real, o antigo com o novo, criando uma tapeçaria de conhecimento que é tão rica quanto é profunda. Seu trabalho não é apenas uma contribuição com o mundo ocultista, mas um legado espiritual, um presente para aqueles que buscam compreensão e iluminação.

Além de sua erudição, Thiago é um ser humano excepcional, cuja bondade, empatia e compreensão transcendem o ordinário. Nossa conexão, que parece estender-se além das fronteiras desta vida, enriqueceu minha jornada pessoal e profissional de maneiras incontáveis. Sua amizade é um tesouro, e sua fraternidade uma bênção, marcando cada encontro nosso com momentos de verdadeira revelação e crescimento.

Em Thiago, encontro não apenas um colega de estudos, mas um espelho para as maiores qualidades humanas – compaixão, sabedoria, e um inabalável compromisso com a busca do conhecimento. Sua presença é um lembrete constante do poder do conhecimento unido à humanidade e do potencial ilimitado do espírito humano quando dedicado ao estudo e à compreensão do desconhecido.

Thiago Tamosauskas é mais do que um notável ocultista e demonologista; ele é um irmão de alma, um amigo de inúmeras jornadas, cuja influência em minha vida é uma fonte contínua de alegria, inspiração e profundo respeito.

O Morte Súbita Inc., desde sua origem em 1996, tem desempenhado um papel crucial na formação e educação de inúmeros ocultistas (particularmente me incluo nisso) e entusiastas das artes mágicas. Este portal, descrito como uma “agência de blasfêmias e um santuário de heresias”, dedica-se a explorar realidades alternativas e apoiar minorias conceituais, estabelecendo-se como um recurso inestimável para aqueles interessados em conhecimentos proibidos e práticas esotéricas​​.

O objetivo maior do Morte Súbita Inc. é expandir a consciência das pessoas, disponibilizando conhecimentos e tecnologias abstratas, especialmente aquelas que já foram proibidas em algum momento da história. Este compromisso com a liberdade de conhecimento é evidente em sua missão de trazer ao alcance de todos ensinamentos que outrora foram considerados tabu ou perigosos​​.

Além disso, a plataforma se destaca por sua política de promoção da liberdade, diversidade e um estilo irreverente, caracterizado por uma abordagem “sem vergonha na cara”. Valoriza a diversidade de culturas, raças, religiões, sexos e expertises, incentivando o contato com ideologias opostas e a celebração das diferenças. Este ethos é uma parte fundamental de seu estilo único e contribui para um ambiente de aprendizado rico e diversificado​​.

O site também enfatiza a importância da liberdade de pensamento e de crença, respeitando a diversidade de cultos religiosos e práticas espirituais. Encoraja seus usuários a questionar e duvidar, promovendo um ambiente de discussão aberto e crítico​​. Além disso, mantém um compromisso com a integridade intelectual, esforçando-se para dar crédito aos autores originais de todos os materiais publicados, refletindo seu respeito pela autoria e pelo conhecimento compartilhado​​.

Em resumo, o Morte Súbita Inc. não é apenas um repositório de conhecimento ocultista; é um farol de liberdade intelectual, diversidade e irreverência, que desempenha um papel vital na comunidade ocultista global. Seu impacto no desenvolvimento de ocultistas e na disseminação das artes mágicas é imensurável, tornando-o um recurso inestimável para todos aqueles que buscam explorar os mistérios do ocultismo e da magia.

A tradução de textos esotéricos e ocultistas, como o “Testamento de Salomão”, para o português é essencial para a disseminação e compreensão desses conhecimentos em comunidades de língua portuguesa. Esta tarefa não é apenas uma tradução linguística, mas uma ponte cultural que traz múltiplas vantagens:

Ampliação do Acesso ao Conhecimento: A tradução desses textos permite que falantes do português tenham acesso a um leque mais amplo de conhecimentos esotéricos, que de outra forma permaneceriam inacessíveis devido a barreiras linguísticas.

Enriquecimento Cultural: Esses textos, uma vez traduzidos, tornam-se recursos valiosos para a preservação e o estudo da cultura e do pensamento esotérico. A tradução não é apenas uma transposição de palavras, mas um ato de interpretação e adaptação cultural, trazendo novas dimensões ao material original.

Fomento à Pesquisa Acadêmica: A disponibilidade de textos traduzidos estimula a pesquisa e o estudo em campos como a história das religiões, antropologia, filosofia e literatura comparada. Conforme apontado por Umberto Eco em “Dire Quasi la Stessa Cosa” (2003), a tradução é um processo de “negociação” entre culturas e épocas, crucial para o entendimento e a disseminação do conhecimento.

Diversificação de Perspectivas: A tradução contribui para uma maior diversidade de interpretações e entendimentos, permitindo que o material seja examinado sob diferentes prismas culturais e filosóficos.

Despertar de Interesse nas Artes Mágicas: Tornando o material disponível em português, mais pessoas são incentivadas a explorar o ocultismo e as artes mágicas, expandindo a comunidade de praticantes e estudiosos.

Preservação de Textos Antigos: Como assinalado por Walter Benjamin em “A Tarefa do Tradutor” (1923), a tradução é essencial para a sobrevivência de textos antigos, garantindo que continuem relevantes e acessíveis para gerações futuras.

Em suma, a tradução de obras esotéricas como o “Testamento de Salomão” para o português não é apenas um exercício linguístico, mas um ato de preservação cultural, educação e expansão do conhecimento. É uma contribuição inestimável para a riqueza cultural e espiritual da comunidade de língua portuguesa.

Encerro este texto com a menção do prazer enrome que sinto em introduzir uma obra tão significativa para um tradutor tão querido é um momento de grande satisfação. Não existem palavras suficientes para expressar a alegria e o privilégio de compartilhar um trabalho tão enriquecedor com alguém cuja paixão e dedicação ao ofício das artes ocultas são tão evidentes. A colaboração com um tradutor de tal calibre não é apenas um intercâmbio de textos e palavras, mas uma verdadeira troca de saberes e experiências, enriquecendo a todos os envolvidos neste nobre processo de transmissão do conhecimento.

E, finalmente, parabenizo você, leitor, por ter este livro em mãos. Ter acesso a uma obra tão rica e traduzida com tamanha habilidade é um privilégio raro e valioso. Você agora possui um tesouro (ou testamento) de conhecimento que certamente enriquecerá sua jornada intelectual e espiritual. Parabéns por buscar o saber e por se permitir mergulhar nas profundezas de um trabalho tão significativo. Que este livro seja uma fonte contínua de descobertas e inspiração para você.

Deixo vocês com a benção Salomônica que o mestre exorcista deve fazer sobre seus discípulos:

תִּתְחַדֵּשׁ, טָהוֹר וּמְזוּכָּךְ, בִּשְׁם הָאֵל הַגָּדוֹל וְהַנִּצְחִי, וִיבָרֵךְ אוֹתְךָ בְּשָׁלוֹם וּבְחֶסֶד. וִיהִי כֹחֲךָ לְהַשִּׂיג אֶת מִשְׁאֲלוֹת לִבְּךָ. אָמֵן.

(Tradução livre para o Hebraico do “The Key of Solomon the King “Clavicula Salomonis”

1ª. Edição de 1888 de Samuel Liddell “McGregor” Mathers, Livro II Cap III, 3º. paragrafo)

 

Por Robson Belli

Japão, Shizuoka, Fujinomiya

5º. Ano da era Reiwa (2023)

Texto Integral

O Anel de Salomão
  1. Testamento de Salomão, filho de Davi, que foi rei em Jerusalém, e dominou e controlou todos os espíritos do ar, da terra e debaixo da terra. Por meio deles, ele realizou todas as obras transcendentais do Templo. Também narra sobre as autoridades que eles exercem sobre os homens e por meio de quais anjos esses demônios são aniquilados. Do sábio Salomão:
  2. Bendito és tu, Senhor Deus, que concedeste a Salomão tal autoridade. Glória a ti e poder pelos séculos. Amém.
  3. E eis que, quando o Templo da cidade de Jerusalém estava sendo construído, e os artífices estavam trabalhando nele, Ornias, o demônio, veio entre eles ao entardecer; e ele tirou metade do salário do filhinho do principal projetista, assim como metade de sua comida. Ele também continuou a sugar o polegar de sua mão direita todos os dias. E a criança ficou magra, embora fosse muito amada pelo rei.
  4. Então, o rei Salomão chamou o menino um dia e o questionou, dizendo: “Não te amo mais do que todos os artesãos que trabalham no Templo de Deus? Não te dou salário dobrado e uma provisão de comida duplicada? Como é que dia após dia e hora após hora você fica mais magro?”
  5. Mas a criança disse ao rei: “Eu te imploro, ó rei. Ouça o que aconteceu com tudo o que teu filho tem. Depois de sermos liberados do trabalho no Templo de Deus, após o pôr do sol, quando me deito para descansar, um dos demônios malignos vem e tira de mim metade do meu salário e metade da minha comida. Então ele também segura minha mão direita e suga meu polegar. E eis que minha alma está oprimida, e assim meu corpo fica mais magro a cada dia.”
  6. Agora, quando ouvi isso, entrei no Templo de Deus e orei com toda a minha alma, noite e dia, para que o demônio fosse entregue em minhas mãos e eu pudesse ganhar autoridade sobre ele. E aconteceu por meio da minha oração que a graça me foi dada pelo Senhor Sabaoth, por meio de seu arcanjo Miguel. [Ele me trouxe] um pequeno anel, tendo um selo composto por uma pedra gravada, e disse-me: “Pega, ó Salomão, rei, filho de Davi, o presente que o Senhor Deus enviou a ti, o altíssimo Sabaoth. Com isso, tu fecharás todos os demônios da terra, masculinos e femininos; e com a ajuda deles, tu edificarás Jerusalém. [Mas] deves usar este selo de Deus. E esta gravação do selo do anel que te enviei é um Pentalfa.”
  7. E eu, Salomão, fiquei muito feliz e louvei e glorifiquei o Deus do céu e da terra. E no dia seguinte, chamei o menino, dei-lhe o anel e disse-lhe: “pega isso, e na hora em que o demônio vier até ti, joga este anel no peito do demônio e diz a ele: ‘Em nome de Deus, o rei Salomão te chama para cá.’ E então venha correndo até mim, sem ter dúvidas ou medo em relação ao que possa ouvir do demônio.”
  8. Assim, a criança pegou o anel e foi embora; e eis que, na hora costumeira, Ornias, o feroz demônio, veio como um fogo ardente para tirar o salário da criança. Mas a criança, de acordo com as instruções recebidas do rei, jogou o anel no peito do demônio e disse: “O rei Salomão te chama para cá.” E então ele foi correndo até o rei. Mas o demônio gritou em voz alta, dizendo: “Criança, por que fizeste isso comigo? Tira o anel de mim, e eu te darei o ouro da terra. Apenas tire isso de mim e deixe de me levar para Salomão.”
  9. Mas a criança disse ao demônio: “Pela vida do Senhor Deus de Israel, eu não te suportarei. Então venha aqui.” E a criança veio correndo, regozijando-se, até o rei, e disse: “Eu trouxe o demônio, ó rei, como tu me ordenaste, ó meu senhor. E eis que ele está diante dos portões do pátio do teu palácio, clamando e suplicando com voz alta; oferecendo-me a prata e o ouro da terra se eu apenas o trouxer até ti.”
  10. E quando Salomão ouviu isso, levantou-se do seu trono, saiu para o vestíbulo do pátio do seu palácio; e lá viu o demônio, tremendo e tremendo. E ele lhe perguntou: “Quem és tu?” E o demônio respondeu: “Eu sou chamado Ornias.”
  11. Então Salomão lhe disse: “Dize-me, ó demônio, a que signo zodiacal estás sujeito.” E ele respondeu: “Aquário”. E aqueles que são consumidos pelo desejo pelas virgens nobres na terra […], a esses eu estrangulo. Mas, caso não haja disposição para dormir, eu me transformo em três formas. Quando os homens se enamoram das mulheres, eu me metamorfoseio em uma bela mulher; e eu agarro os homens enquanto dormem e brinco com eles. E depois de um tempo, eu volto a ter asas e me escondo nas regiões celestiais. Eu também apareço como um leão, e todos os demônios me obedecem. Eu sou descendente do arcanjo Uriel, o poder de Deus.”
  12. Eu, Salomão, ao ouvir o nome do arcanjo, orei e glorifiquei a Deus, o Senhor do céu e da terra. E eu impus o selo ao demônio e o coloquei para trabalhar na escultura de pedras, para que ele pudesse cortar as pedras no Templo, que, deitadas ao longo da costa, haviam sido trazidas pelo Mar da Arábia. Mas ele, temeroso do ferro, continuou e disse a mim: “Eu te suplico, Rei Salomão, deixa-me ir livre; e eu te trarei todos os demônios.” E como ele não estava disposto a se sujeitar a mim, orei ao arcanjo Uriel para vir em meu socorro; e imediatamente vi o arcanjo Uriel descendo do céu até mim.
    O Subjugo de Beelzebol e a construção do Templo
  13. E o anjo ordenou que as baleias do mar saíssem do abismo. E ele lançou seu cativo no chão, e aquele cativo sujeitou o grande demônio a ele. E ele ordenou ao grande demônio e ao destemido Ornias que cortassem pedras no Templo. E assim, eu, Salomão, glorifiquei o Deus do céu e Criador da terra. E ele ordenou que Ornias viesse com seu destino e lhe deu o selo, dizendo: “Vai embora, e traze-me aqui o príncipe de todos os demônios.”
  14. Então Ornias pegou o anel e foi até Beelzeboul, que tem realeza sobre os demônios. Ele lhe disse: “Aqui! Salomão te chama.” Mas Beelzeboul, ao ouvir, disse a ele: “Dize-me, quem é esse Salomão de quem tu falas para mim?” Então Ornias jogou o anel no peito de Beelzeboul, dizendo: “O rei Salomão te chama.” Mas Beelzeboul gritou alto com uma voz poderosa, e lançou uma grande chama ardente; e ele se levantou, seguiu Ornias e veio até Salomão.
  15. E quando vi o príncipe dos demônios, glorifiquei o Senhor Deus, Criador do céu e da terra, e disse: “Bendito és tu, Senhor Deus Todo-Poderoso, que destes a teu servo Salomão sabedoria, o conselheiro dos sábios, e submeteste a mim todo o poder do diabo.”
  16. E eu o questionei e disse: “Quem és tu?” O demônio respondeu: “Eu sou Beelzebub, o exarca dos demônios. E todos os demônios têm seus assentos principais perto de mim. E sou eu quem manifesta a aparição de cada demônio.” E ele prometeu trazer a mim, em correntes, todos os espíritos imundos. E novamente glorifiquei o Deus do céu e da terra, como sempre dou graças a ele.
  17. Então, eu perguntei ao demônio se havia mulheres entre eles. E quando ele me disse que sim, eu disse que desejava vê-las. Assim, Beelzeboul foi embora rapidamente e me trouxe Onoskelis, que tinha uma forma muito bonita e a pele de uma mulher de tez clara; e ela balançava a cabeça.
  18. E quando ela veio, eu disse: “Dize-me, quem és tu?” Mas ela me disse: “Eu sou chamada Onoskelis, um espírito criado… espreitando sobre a terra. Há uma caverna de ouro onde eu repouso. Mas eu tenho um lugar que está sempre mudando. Às vezes, eu estrangulo os homens com um laço; em outros momentos, eu subo da natureza para os braços. Mas meus lugares de morada mais frequentes são os precipícios, cavernas e ravinas. Muitas vezes, no entanto, eu me relaciono com os homens na aparência de uma mulher, e acima de tudo com aqueles de pele escura. Pois eles compartilham minha estrela comigo; pois são eles que secretamente ou abertamente adoram minha estrela, sem saber que estão se prejudicando, apenas aguçando meu apetite por mais malevolência. Pois eles desejam obter dinheiro por meio de celebrações e eu forneço um pouco àqueles que me adoram justamente.”
  19. E eu, Salomão, a questionei sobre seu nascimento, e ela respondeu: “Eu nasci de uma voz intempestiva, o chamado eco de um excremento humano caído em uma floresta.”
  20. E eu lhe disse: “Sob qual estrela tu passas?” E ela me respondeu: “Sob a estrela da lua cheia, pelo motivo de que a lua viaja sobre a maioria das coisas.” Então eu disse a ela: “E qual anjo é aquele que te frustra?” E ela me disse: “Aquele que em ti [ou “por meio de ti”] está reinando.” E eu pensei que ela zombava de mim e ordenei a um soldado que a golpeasse. Mas ela gritou alto e disse: “Eu estou [sujeita] a ti, ó rei, pela sabedoria de Deus dada a ti e pelo anjo Joel.”
  21. Então eu ordenei a ela que fiasse o cânhamo para as cordas usadas na construção da casa de Deus; e assim, quando a tinha selado e amarrado, ela foi tão dominada e reduzida a nada que ficou de pé noite e dia fiando o cânhamo.
  22. E eu imediatamente ordenei que outro demônio fosse trazido até mim; e instantaneamente se aproximou de mim o demônio Asmodeus, amarrado, e eu lhe perguntei: “Quem és tu?” Mas ele me lançou um olhar de raiva e fúria, e disse: “E quem és tu?” E eu disse a ele: “Assim punido como estás, respondes a mim?” Mas ele, com raiva, me disse: “Mas como posso te responder, pois tu és um filho do homem; enquanto eu nasci da semente de um anjo por uma filha do homem, de modo que nenhuma palavra de nossa natureza celestial dirigida aos nascidos da terra pode ser arrogante. Portanto, minha estrela é brilhante no céu, e os homens a chamam, alguns de Carruagem, e outros de filho do dragão. Eu me mantenho perto dessa estrela. Então, não me perguntes muitas coisas; pois teu reino também, após pouco tempo, será desfeito, e tua glória é apenas por uma estação. E curta será tua tirania sobre nós; e então teremos novamente amplo domínio sobre a humanidade, de modo que eles nos reverenciarão como se fôssemos deuses, sem saber, homens que são, os nomes dos anjos colocados sobre nós.”
  23. E eu, Salomão, ao ouvir isso, o amarrei mais cuidadosamente e ordenei que fosse açoitado com tiras de couro de boi, e me disse humildemente seu nome e seu propósito. E ele me respondeu assim: “Eu sou chamado Asmodeus entre os mortais, e meu propósito é conspirar contra os recém-casados, para que não se entendam. Eu os separo completamente por muitas calamidades, e esvazio a beleza das mulheres virgens e afasto seus corações.”
  24. E eu disse a ele: “Isso é tudo o que fazes?” E ele me respondeu: “Eu transporto os homens para acessos de loucura e desejo, quando têm esposas próprias, de modo que as deixam e vão de noite e de dia para outras que pertencem a outros homens; com o resultado de que cometem pecado e caem em atos assassinos.”
  25. E eu o adjurei pelo nome do Senhor Sabaoth, dizendo: “Teme a Deus, Asmodeus, e me diga por qual anjo és frustrado.” Mas ele disse: “Por Rafael, o arcanjo que está diante do trono de Deus. Mas o fígado e a bílis de um peixe me põem em fuga, quando defumados sobre cinzas do tamarisco.” Eu o questionei novamente e disse: “Não esconda nada de mim. Pois eu sou Salomão, filho de Davi, Rei de Israel. Me diga o nome do peixe que tu reverencias.” E ele respondeu: “É chamado Glanos, e é encontrado nos rios da Assíria; portanto, é por isso que eu vagueio por essas regiões.”
  26. E eu disse a ele: “Tu não tens mais nada contigo, Asmodeus?” E ele respondeu: “O poder de Deus sabe, que me prendeu com os vínculos indissolúveis daquele selo. Tudo o que te disse é verdade. Eu te suplico, Rei Salomão, não me condene à [ir para a] água.” Mas eu sorri e disse a ele: “Pela vida do Senhor Deus de meus pais, vou colocar ferro em você para usar. Mas também farás o barro para toda a construção do Templo, pisoteando-o com os pés.” E ordenei que lhe dessem dez jarras de água para carregar. E o demônio gemeu terrivelmente e fez o trabalho que lhe ordenei. E isso eu fiz porque o feroz demônio Asmodeus conhecia até o futuro. E eu, Salomão, glorifiquei a Deus, que me deu sabedoria, a mim, Salomão, seu servo. E o fígado do peixe e sua bílis eu pendurei na ponta de uma vara e queimei sobre Asmodeus por sua força, e sua malícia insuportável foi frustrada dessa forma.
  27. E chamei novamente para ficar diante de mim Beelzeboul, o príncipe dos demônios, e o sentei em um trono de honra elevado, e disse a ele: “Por que estás sozinho, príncipe dos demônios?” E ele me disse: “Porque eu sozinho sou deixado pelos anjos do céu que desceram. Pois eu fui o primeiro anjo no primeiro céu, chamado Beelzeboul. E agora eu controlo todos os que estão aprisionados no Tártaro. Mas eu também tenho um filho, e ele assombra o Mar Vermelho. E em qualquer ocasião adequada, ele vem até mim, estando sujeito a mim; e me revela o que ele fez, e eu o apoio.
  28. Eu, Salomão, disse a ele: “Beelzeboul, qual é tua ocupação?” E ele me respondeu: “Eu destruo reis. Eu me alio a tiranos estrangeiros. E eu envio meus próprios demônios para os homens, para que estes acreditem neles e se percam. E aos servos escolhidos de Deus, sacerdotes e homens fiéis, eu incito a desejos por pecados perversos e heresias malignas, e ações ilegais; e eles me obedecem, e eu os levo à destruição. E eu inspiro nos homens a inveja, e [desejo por] assassinato, e por guerras e sodomia, e outras coisas más. E eu destruirei o mundo.”
  29. Então eu disse a ele: “Traga-me teu filho, que está, como tu dizes, no Mar Vermelho.” Mas ele me disse: “Eu não o trarei a ti. Mas virá a mim outro demônio chamado Ephippas. Eu o amarrarei, e ele o trará do fundo até mim.” E eu disse a ele: “Como teu filho está no fundo do mar, e qual é o nome dele?” E ele me respondeu: “Não me perguntes, pois não podes aprender de mim. No entanto, ele virá até ti por qualquer comando, e
  30. Eu disse a ele: “Diga-me por qual anjo tu és frustrado.” E ele respondeu: “Pelo santo e precioso nome do Deus Todo-Poderoso, chamado pelos hebreus por uma série de números, cuja soma é 644, e entre os gregos é Emmanuel. E se um dos romanos me adjurar pelo grande nome do poder Eleéth, eu desapareço imediatamente.”
  31. Eu, Salomão, fiquei espantado ao ouvir isso; e ordenei que ele serrasse mármores tebanos. E quando ele começou a serrar os mármores, os outros demônios gritaram com voz alta, uivando por causa de seu rei Beelzeboul.
  32. Mas eu, Salomão, o questionei, dizendo: “Se queres ganhar um respiro, fala comigo sobre as coisas no céu.” E Beelzeboul disse: “Ouve, ó rei, se queimares incenso, e alcatrão, e bulbo do mar, com nardo e açafrão, e acenderes sete lâmpadas durante um terremoto, então fixarás firmemente tua casa. E se, estando puro, acenderes essas lâmpadas ao amanhecer com o sol brilhando, então verás os dragões celestiais, como eles serpenteiam e arrastam a carruagem do sol.”
  33. Eu, Salomão, ao ouvir isso, o repreendi e disse: “Silêncio por agora, e continue a serrar os mármores como eu te ordenei.” E eu, Salomão, louvei a Deus e ordenei que outro demônio se apresentasse diante de mim. E veio até mim um espírito que carregava o rosto erguido no ar, mas o resto do espírito se enrolava como um caracol. Ele rompeu pelos poucos soldados, levantou também uma terrível poeira no chão e a carregou para cima; e depois a lançou de volta para nos assustar, perguntando que perguntas eu poderia fazer normalmente. Eu me levantei, cuspi no chão naquele lugar e selado com o anel de Deus. Imediatamente o vento de poeira parou. Então eu o questionei, dizendo: “Quem és tu, ó vento?” Então ele mais uma vez sacudiu a poeira e me respondeu: “O que queres, rei Salomão?” Eu respondi a ele: “Me diga como te chamas, e eu gostaria de te fazer uma pergunta. Mas até agora agradeço a Deus que me tornou sábio para responder aos seus planos malignos.”
  34. Mas [o demônio] me respondeu: “Eu sou o espírito das cinzas (Tephras).” E eu lhe disse: “Qual é tua ocupação?” E ele disse: “Eu trago escuridão aos homens e incendeio campos; e reduzo casas a nada. Mas sou mais ativo no verão. No entanto, quando tenho oportunidade, eu me insinuo nos cantos da parede, de noite e de dia. Pois sou descendente do maioral, e nada menos que isso.” Então eu disse a ele: “Sob qual estrela você está?” E ele respondeu: “Na ponta do chifre da lua, quando é encontrada no sul. Lá está minha estrela. Pois fui ordenado a restringir as convulsões da febre hemitertiana; e é por isso que muitos homens oram à febre hemitertiana, usando estes três nomes: Bultala, Thallal, Melchal. E eu os curo.” E eu disse a ele: “Eu sou Salomão; então, quando quiseres fazer mal, por meio de quem o fazes?” Mas ele me disse: “Pelo anjo, por quem também a febre do terceiro dia é acalmada.” Então eu o questionei, dizendo: “E por qual nome?” E ele respondeu: “Pelo nome do arcanjo Azael.” E eu chamei o arcanjo Azael, e coloquei um selo no demônio, e ordenei que ele pegasse grandes pedras e as lançasse para os trabalhadores nas partes mais altas do Templo. E, compelido, o demônio começou a fazer o que lhe foi ordenado.
  35. E eu glorifiquei a Deus novamente, que me deu essa autoridade, e ordenei que outro demônio se apresentasse diante de mim. E apareceram sete espíritos, femininos, amarrados e entrelaçados, belos em aparência e formosos. E eu, Salomão, ao vê-los, os questionei e disse: “Quem sois vós?” Mas elas, de comum acordo, disseram com uma só voz: “Somos dos trinta e três elementos do governante cósmico das trevas.” E a primeira disse: “Eu sou Engano.” A segunda disse: “Eu sou Contenda.” A terceira: “Eu sou Klothod, que é batalha.” A quarta: “Eu sou Ciúmes.” A quinta: “Eu sou Poder.” A sexta: “Eu sou Erro.” A sétima: “Eu sou a pior de todas, e nossas estrelas estão no céu. Sete estrelas humildes em brilho, e todas juntas. E somos chamadas como se fôssemos deusas. Mudamos de lugar todas juntas, e juntas vivemos, às vezes na Lídia, às vezes no Olimpo, às vezes numa grande montanha.”
  36. Então eu, Salomão, as questionei uma por uma, começando pela primeira e indo até a sétimo. A primeira disse: “Eu sou Engano, eu engano e teço armadilhas aqui e ali. Eu afio e instigo heresias. Mas tenho um anjo que me frustra, Lamechalal.”
  37. Da mesma forma, também a segunda disse: “Eu sou Contenda, a luta das lutas. Eu trago madeiras, pedras, penduradores, minhas armas no local. Mas tenho um anjo que me frustra, Baruchiachel.”
  38. Da mesma forma, também a terceira disse: “Eu sou chamada Klothod, que é Batalha, e faço com que os bem-comportados se dispersem e se enfrentem uns aos outros. E por que devo dizer tanto? Eu tenho um anjo que me frustra: “Marmarath.”
  39. Da mesma forma, também a quarta disse: “Eu faço os homens esquecerem sua sobriedade e moderação. Eu os divido e os separo em grupos; pois Contenda me segue de mãos dadas. Eu separo o marido da companheira de sua cama, e filhos de pais, e irmãos de irmãs. Mas por que dizer tanto contra mim? Eu tenho um anjo que me frustra, o grande Balthial.”
  40. Da mesma forma, também a quinta disse: “Eu sou Poder. Com poder eu levanto tiranos e derrubo reis. Para todos os rebeldes, eu forneço poder. Eu tenho um anjo que me frustra, Asteraôth.”
  41. Da mesma forma, também a sexta disse: “Eu sou Erro, ó Rei Salomão. E eu te farei errar, assim como já te fiz errar antes, quando te fiz matar teu próprio irmão. Eu te levarei ao erro, para investigar túmulos; e ensinarei àqueles que cavam, e levarei almas errantes para longe de toda piedade, e muitos outros males são meus. Mas eu tenho um anjo que me frustra, Uriel.”
  42. Da mesma forma, também a sétima disse: “Eu sou o pior, e farei você pior do que você era; porque imporei as amarras de Ártemis. Mas o gafanhoto me libertará, pois por meio dele está destinado que você realize meu desejo […]. Pois se alguém fosse sábio, não se voltaria para mim.”
  43. Então eu, Salomão, ouvindo e admirando, as selava com meu anel; e, como elas eram tão consideráveis, ordenei que cavassem os alicerces do Templo de Deus. Pois o comprimento dele era de 250 côvados. E ordenei que fossem diligentes, e com um murmúrio de protesto conjunto, elas começaram a realizar as tarefas ordenadas.
  44. Mas eu, Salomão, glorifiquei o Senhor e ordenei que outro demônio viesse diante de mim. E foi trazido até mim um demônio tendo todos os membros de um homem, mas sem cabeça. E eu, vendo-o, disse a ele: “Diga-me, quem és tu?” E ele respondeu: “Eu sou um demônio.” Então eu disse a ele: “Qual?” E ele me respondeu: “Eu sou chamado Inveja. Pois eu me deleito em devorar cabeças, desejando assegurar para mim uma cabeça; mas eu não como o suficiente, mas desejo ter uma cabeça como a tua.”
  45. Eu, Salomão, ao ouvir isso, o selava, estendendo minha mão contra o peito dele. Com isso, o demônio pulou para cima, lançou-se ao chão e deu um gemido, dizendo: “Ai de mim! Onde eu cheguei? Ó traidor Ornias, eu não consigo ver!” Então eu disse a ele: “Eu sou Salomão. Diga-me então como consegues ver.” E ele me respondeu: “Por meio dos meus sentimentos.” Eu, então, Salomão, ao ouvir sua voz que se aproximava de mim, perguntei-lhe como ele conseguia falar. E ele me respondeu: “Eu, ó Rei Salomão, sou todo voz, pois herdei as vozes de muitos homens. Pois em relação a todos os homens chamados mudos, fui eu quem esmagou suas cabeças quando eram crianças e tinham atingido o oitavo dia. Então, quando uma criança está chorando à noite, eu me torno um espírito e deslizo por meio de sua voz […]. Nas encruzilhadas também tenho muitos serviços a prestar, e meu encontro é repleto de dano. Pois agarro instantaneamente a cabeça de um homem, e com minhas mãos, como com uma espada, a corto e a coloco em mim. E dessa forma, por meio do fogo que está em mim, através do meu pescoço, ela é engolida. Sou eu quem envia mutilações graves e incuráveis nos pés dos homens, e inflige feridas.”
  46. E eu, Salomão, ao ouvir isso, disse a ele: “Diga-me como você emite o fogo? De quais fontes você o emite?” E o espírito me disse: “Do Estrela da Manhã. Pois aqui ainda não foi encontrado aquele Elburion, a quem os homens oferecem orações e acendem luzes. E seu nome é invocado pelos sete demônios antes de mim. E ele os acaricia.”
  47. Mas eu disse a ele: “Diga-me seu nome.” Mas ele me respondeu: “Eu não posso te dizer. Pois se eu disser seu nome, me torno incurável. Mas ele virá em resposta ao seu nome.” E ao ouvir isso, eu, Salomão, disse a ele: “Diga-me então, por qual anjo você é frustrado?” E ele me respondeu: “Pelo clarão de fogo do raio.” E eu me curvei diante do Senhor Deus de Israel e ordenei que ele ficasse sob a guarda de Beelzeboul até que Iax viesse.
  48. Então ordenei que outro demônio viesse diante de mim, e veio até mim um cão, tendo uma forma muito grande, e falou com voz alta, dizendo: “Salve, Senhor, Rei Salomão!” E eu, Salomão, fiquei espantado. Eu disse a ele: “Quem és tu, ó cão?” E ele me res pondeu: “Eu, de fato, pareço a ti ser um cão, mas antes de tu existires, ó Rei Salomão, eu era um homem que praticava muitas ações ímpias na terra. Eu era excessivamente versado nas letras e tão poderoso que conseguia deter as estrelas do céu. E muitas obras divinas eu preparei. Pois eu faço mal aos homens que seguem nossa estrela e os converto para […].E eu agarro os homens enlouquecidos pela laringe e os destruo.”
  49. E eu, Salomão, disse a ele: “Qual é o teu nome?” E ele respondeu: “Rabdos” (Rabdo). E eu disse a ele: “Qual é o teu trabalho? E que resultados tu podes alcançar?” E ele respondeu: “Dá-me o teu homem, e eu o levarei para um local montanhoso, e mostrarei uma pedra verde oscilante, com a qual tu podes adornar o templo do Senhor Deus.”
  50. E eu, Salomão, ao ouvir isso, ordenei que meu servo fosse com ele, levando consigo o anel com o selo de Deus. E eu disse a ele: “Quem quer que te mostre a pedra verde, sela-o com este anel. E marca o local com cuidado, e traga o demônio para mim.” E o demônio mostrou a pedra verde, e ele a selou, e trouxe o demônio para mim. E eu, Salomão, decidi confinar com meu selo em minha mão direita os dois, o demônio sem cabeça e também o cão, que era tão grande; ele deveria ser amarrado também. E eu ordenei ao cão que guardasse o espírito ardente, para que lâmpadas como se fossem pudessem lançar sua luz dia e noite através de sua boca sobre os artesãos trabalhando.<LACUNA NO TEXTO>
  51. E eu, Salomão, retirei da mina daquela pedra 200 siclos para os suportes da mesa de incenso, que era semelhante em aparência. E eu, Salomão, glorifiquei o Senhor Deus e depois cerquei o tesouro daquela pedra. E eu ordenei novamente aos demônios que cortassem mármore para a construção da casa de Deus. E eu, Salomão, orei ao Senhor e perguntei ao cão, dizendo: “Por qual anjo tu és frustrado?” E o demônio respondeu: “Pelo grande Brieus.”
  52. E eu louvei o Senhor Deus do céu e da terra, e ordenei que outro demônio se apresentasse a mim; e veio diante de mim um na forma de um leão rugindo. E ele ficou de pé e me respondeu dizendo: “Ó rei, na forma que tenho, sou um espírito totalmente incapaz de ser percebido. Sobre todos os homens que estão prostrados pela doença, eu salto, vindo furtivamente; e eu enfraqueço o homem, de modo que seu hábito de corpo é enfraquecido.
  53. Mas eu tenho também outra glória, ó rei. Eu expulso demônios, e tenho legiões sob meu controle. E sou capaz de ser recebido em meus lugares de habitação, juntamente com todos os demônios pertencentes às legiões sob meu comando.” Mas eu, Salomão, ao ouvir isso, perguntei a ele: “Qual é o teu nome?” Mas ele respondeu: “Portador de leão, Rath por espécie.” E eu disse a ele: “Como tu podes ser frustrado junto com tuas legiões? Que anjo é aquele que te frustra?” E ele respondeu: “Se eu te disser meu nome, não me amarro a mim mesmo sozinho, mas também às legiões de demônios sob meu comando.”
  54. Então eu disse a ele: “Eu te conjuro pelo nome do Deus Sabaoth, para me dizer por qual nome tu és frustrado junto com tua horda.” E o espírito me respondeu: “O ‘grande entre os homens’, que sofrerá muitas coisas pelas mãos dos homens, cujo nome é o número 644, que é Emanuel; é ele quem nos amarrou, e que então virá e nos lançará da íngreme sob a água. Ele é divulgado nas três letras que poe abaixo.”
  55. E eu, Salomão, ao ouvir isso, glorifiquei a Deus e condenei sua legião a carregar lenha do matagal. E condenei o próprio que tinha forma de leão a serrar a lenha pequena com seus dentes, para queimar no forno inextinguível para o Templo de Deus.
  56. E eu adorei o Senhor Deus de Israel e ordenei que outro demônio se apresentasse. E veio diante de mim um dragão de três cabeças, de cor horrível. E eu o questionei: “Quem és tu?” E ele me respondeu: “Eu sou um espírito semelhante a uma tribolha, cuja atividade é em três linhas. Mas eu cego crianças no ventre das mulheres e giro suas orelhas. E eu as torno surdas e mudas. E tenho novamente em minha terceira cabeça meios de me infiltrar. E eu ferro os homens na parte sem membros do corpo, e os faço cair, e espumar, e ranger os dentes. Mas eu tenho meu próprio modo de ser frustrado, sendo indicada Jerusalém por escrito, até o lugar chamado ‘da cabeça.” Pois está predestinado o anjo do grande conselho, e agora ele habitará abertamente na cruz. Ele me frustra, e a ele estou sujeito.”
  57. “Mas no lugar onde tu estás sentado, ó Rei Salomão, ergue-se uma coluna no ar, de púrpura. O demônio chamado Ephippas a trouxe do Mar Vermelho, do interior da Arábia. Ele é aquele que será fechado em uma garrafa de couro e trazido diante de ti. Mas na entrada do Templo, que tu começaste a construir, ó Rei Salomão, está armazenado muito ouro, que tu deves desenterrar e levar.” E eu, Salomão, enviei meu servo e descobri que era como o demônio me disse. E eu o selei com meu anel e louvei o Senhor Deus.”
  58. Então eu disse a ele: “Como tu és chamado?” E o demônio disse: “Eu sou a crista dos dragões.” E eu o ordenei fazer tijolos no Templo. Ele tinha mãos humanas.
  59. E eu adorei o Senhor Deus de Israel e ordenei que outro demônio se apresentasse. E veio diante de mim um espírito na forma de uma mulher, que tinha uma cabeça sem membros, e seu cabelo estava desgrenhado. E eu disse a ela: “Quem és tu?” Mas ela me respondeu: “Não, quem és tu? E por que queres saber sobre mim? Mas, se queres aprender, aqui estou eu, amarrada diante do teu rosto. Vai, então, aos teus armazéns reais, lava as tuas mãos. Em seguida, senta-te novamente diante do teu tribunal e me faça perguntas; e tu aprenderás, ó rei, quem eu sou.”
  60. E eu, Salomão, fiz como ela me ordenou e me contive por causa da sabedoria que habita em mim; para que eu pudesse ouvir sobre suas ações, repreendê-las e manifestá-las aos homens. E eu me sentei e disse ao demônio: “Quem és tu?” E ela disse: “Eu sou chamada entre os homens de Obizuth; e à noite eu não durmo, mas percorro todo o mundo e visito mulheres no parto. E adivinhando a hora, eu tomo minha posição; e se eu tiver sorte, estrangulo a criança. Mas se não, eu me retiro para outro lugar. Pois eu não posso, por uma única noite, falhar. Pois eu sou um espírito feroz, de miríades de nomes e muitas formas. E agora daqui para lá, agora para lá eu ando. E para as partes do poente eu faço minhas rondas. Mas como está agora, embora tu me tenhas selado com o anel de Deus, tu não fizeste nada. Eu não estou diante de ti, e tu não serás capaz de me comandar. Pois eu não tenho outra ocupação além da destruição de crianças, de tornar seus ouvidos surdos, e de fazer o mal aos seus olhos, e de amarrar suas bocas com uma corda, e de arruinar suas mentes, e de causar dor a seus corpos.”
  61. Quando eu, Salomão, ouvi isso, maravilhei-me com sua aparência, pois vi agora todo o seu corpo em trevas. Mas seu olhar era totalmente brilhante e esverdeado, e seu cabelo estava jogado selvagemente como o de um dragão; e todas as suas extremidades eram invisíveis. E sua voz era muito clara ao chegar até mim. E eu disse astutamente: “Diga-me por qual anjo tu és frustrada, ó espírito maligno?” Mas ela me respondeu: “Pelo anjo de Deus chamado Afarôt, que é interpretado como Rafael, por quem eu sou frustrada agora e para sempre. Se algum homem conhecer o nome dele e o escrever na mulher que está dando à luz, então eu não serei capaz de entrar nela. Esse nome tem o número 640.” E eu, Salomão, tendo ouvido isso e glorificado o Senhor, ordenei que seu cabelo fosse amarrado e que ela fosse pendurada na frente do Templo de Deus; para que todos os filhos de Israel, ao passarem, pudessem ver e glorificar o Senhor Deus de Israel, que me deu essa autoridade, com sabedoria e poder de Deus, por meio deste selo.
  62. E novamente ordenei que outro demônio se apresentasse diante de mim. E ele veio, rolando-se, com a aparência de um dragão, mas tendo o rosto e as mãos de um homem. E todos os seus membros, exceto os pés, eram de um dragão; e ele tinha asas nas costas. E quando o vi, fiquei atônito, e disse: “Quem és tu, demônio, e como tu és chamado? E de onde tu vens? Dize-me.”
  63. E o espírito respondeu e disse: “Esta é a primeira vez que estou diante de ti, ó Rei Salomão. Eu sou um espírito transformado em um deus entre os homens, mas agora anulado pelo anel e sabedoria concedidos a ti por Deus. Agora, eu sou o chamado dragão alado, e eu não me relaciono com muitas mulheres, mas apenas com algumas de beleza notável, que possuem o nome de xuli, desta estrela. E eu me uno a elas na forma de um espírito com asas, e tenho intercurso de procriação. E aquela sobre quem eu saltei fica pesada de filho, e o que nasce dela se torna eros. Mas, como tal descendência não pode ser carregada por homens, a mulher em questão solta vento. Tal é o meu papel. Supõe então somente que eu estou satisfeito, e todos os outros demônios incomodados e perturbados por ti falarão toda a verdade. Mas aqueles compostos de fogo farão com que a matéria dos troncos que eles coletarão para a construção no Templo seja queimada pelo fogo.”
  64. E enquanto o demônio dizia isso, eu vi o espírito saindo de sua boca, e ele consumiu a madeira da árvore de incenso e queimou todos os troncos que tínhamos colocado no Templo de Deus. E eu, Salomão, vi o que o espírito havia feito, e me maravilhei.
  65. E, tendo glorificado a Deus, perguntei ao demônio em forma de dragão e disse: “Diga-me, por qual anjo tu és frustrado?” E ele respondeu: “Pelo grande anjo que tem seu assento no segundo céu, que é chamado em hebraico Bazazeth.” E eu, Salomão, tendo ouvido isso, e tendo invocado o anjo, o condenei a serrar mármores para a construção do Templo de Deus; e eu louvei a Deus e ordenei que outro demônio se apresentasse.
  66. E veio diante de mim outro espírito, como se fosse uma mulher na forma que tinha. Mas em seus ombros ela tinha mais duas cabeças com mãos. E eu a questionei e disse: “Diga-me, quem és tu?” E ela me disse: “Eu sou Enêpsigos, que também tem miríades de nomes.” E eu disse a ela: “Por qual anjo tu és frustrada?” Mas ela me disse: “O que procuras, o que perguntas? Eu sofro mudanças, como a deusa que sou chamada. E eu mudo novamente e passo a possuir outra forma. E não desejes, portanto, saber tudo que me diz respeito. Mas, já que estás diante de mim por isso, ouve. Eu tenho minha morada na lua, e por essa razão eu possuo três formas. Às vezes sou magicamente invocada pelos sábios como Cronos. Em outros momentos, em conexão com aqueles que me trazem, eu desço e apareço em outra forma. A medida do elemento é inexplicável e indefinível, e não pode ser frustrada. Então, mudando para essas três formas, eu desço e me torno como me vês; mas sou frustrada pelo anjo Rathanael, que está no terceiro céu. Por isso eu falo contigo. Aquele templo não pode me conter.”
  67. Eu, portanto, Salomão, orei ao meu Deus, e invoquei o anjo de quem Enêpsigos me falou, e usei meu selo. E eu a selou com uma corrente tripla e (coloquei) sob ela o fecho da corrente. Usei o selo de Deus, e o espírito me profetizou, dizendo: “Isso é o que tu, Rei Salomão, fazes conosco. Mas depois de um tempo, teu reino será quebrado, e novamente em tempo esse Templo será rasgado em pedaços; e toda Jerusalém será desfeita pelo Rei dos Persas e Medos e Caldeus. E os vasos deste Templo, que tu fazes, serão utilizados para usos servis dos deuses; e junto com eles, todos os jarros nos quais tu nos aprisionas, serão quebrados pelas mãos dos homens. E então, sairemos com grande poder daqui para lá e seremos dispersos por todo o mundo. E vamos desencaminhar o mundo habitado por um longo tempo, até que o Filho de Deus seja estendido na cruz. Pois nunca antes surge um rei como ele, frustrando-nos a todos, cuja mãe não terá contato com homem. Quem mais pode receber tal autoridade sobre os espíritos, exceto ele, a quem o primeiro diabo tentará tentar, mas não prevalecerá? O número do seu nome é 644, que é Emmanuel. Portanto, ó Rei Salomão, teu tempo é mau, e teus anos são curtos e maus, e a teu servo será dado teu reino.”
  68. E eu, Salomão, tendo ouvido isso, glorifiquei a Deus. E, embora eu maravilhasse com as desculpas dos demônios, não acreditei nelas até que se tornassem verdadeiras. E eu não acreditei em suas palavras; mas quando elas se realizaram, então eu entendi, e à minha morte escrevi este Testamento para os filhos de Israel e dei a eles, para que conhecessem os poderes dos demônios e suas formas, e os nomes de seus anjos, pelos quais esses anjos são frustrados. E eu glorifiquei o Senhor Deus de Israel e ordenei que os espíritos fossem amarrados com laços indissolúveis.
  69. E, tendo louvado a Deus, ordenei que outro espírito se apresentasse diante de mim; e veio diante de mim outro demônio, tendo na frente a forma de um cavalo, mas atrás de um peixe. E ele tinha uma voz poderosa, e disse a mim: “Ó Rei Salomão, eu sou um espírito feroz do mar, e sou ganancioso por ouro e prata. Eu sou tal espírito que se arredonda e vem sobre as vastidões da água do mar, e eu derrubo os homens que navegam ali. Pois eu me arredondo em uma onda, e me transformo, e então me jogo sobre os navios e venho direto até eles. E esse é meu negócio, e minha maneira de conseguir dinheiro e homens. Pois eu pego os homens e os viro comigo, e lanço os homens para fora do mar. Pois eu não cobiço os corpos dos homens, mas os lanço para fora do mar para longe. Mas como Beelzeboul, governante dos espíritos do ar e daqueles sob a terra, e senhor dos terrestres, tem um reinado conjunto conosco no que diz respeito aos feitos de cada um de nós, por isso eu subi do mar para obter uma certa perspectiva em sua companhia.
  70. Mas eu também tenho outro personagem e papel. Eu me metamorfoseio em ondas e venho do mar. E me mostro aos homens, para que aqueles na terra me chamem Kunospaston, porque assumo a forma humana. E meu nome é verdadeiro. Pois, ao passar para os homens, eu provoco uma certa náusea. Eu vim então para aconselhar com o príncipe Beelzeboul; e ele me amarrou e entregou-me em tuas mãos. E estou aqui diante de ti por causa deste selo, e agora tu me atormentas. Vê agora, em dois ou três dias, o espírito que conversa contigo falhará, pois não terei água.”
  71. E eu disse a ele: “Diga-me por qual anjo tu és frustrado.” E ele respondeu: “Pelo Iameth.” E glorifiquei a Deus. Ordenei que o espírito fosse colocado em um frasco junto com dez jarras de água do mar, de duas medidas cada. E os selai acima dos mármores e asfalto e betume na boca do recipiente. E, tendo selado com meu anel, ordenei que fosse depositado no Templo de Deus. E ordenei que outro espírito viesse diante de mim.
  72. E surgiu diante de mim outro espírito escravizado, tendo obscuramente a forma de um homem, com olhos cintilantes e segurando uma lâmina. E perguntei: “Quem és tu?” Mas ele respondeu: “Eu sou um espírito lascivo, gerado por um homem gigante que morreu no massacre na época dos gigantes.” Eu disse a ele: “Diga-me em que estás ocupado na terra e onde tens tua morada.”
  73. E ele disse: “Minha morada é em lugares férteis, mas meu procedimento é este. Eu me sento ao lado dos homens que passam entre os túmulos, e em época inadequada, assumo a forma dos mortos; e se eu pegar alguém, eu o destruo imediatamente com minha espada. Mas se eu não puder destruí-lo, eu faço com que ele seja possuído por um demônio, e devore sua própria carne, e os cabelos caiam do seu queixo.” Mas eu disse a ele: “Então teme o Deus do céu e da terra, e me diga por qual anjo tu és frustrado.” E ele respondeu: “Aquele que está destinado a ser Salvador me destrói, um homem cujo número, se alguém o escrever em sua testa, me derrotará, e com medo eu recuarei rapidamente. E, de fato, se alguém escrever este sinal nele, eu terei medo.” E eu, Salomão, ao ouvir isso e glorificar o Senhor Deus, prendi este demônio como os outros.
    Os Trinta e Seis Demônios do Zodíaco
  1. E ordenei que outro demônio viesse diante de mim. E diante de mim vieram trinta e seis espíritos, suas cabeças sem forma como cães, mas em si mesmos eram humanos na compleição; com rostos de jumentos, rostos de bois e rostos de pássaros. E eu, Salomão, ao ouvi-los e vê-los, maravilhei-me, e os perguntei e disse: “Quem sois vós?” Mas eles, de uma só voz, disseram: “Nós somos os trinta e seis elementos, os governantes mundiais desta escuridão. Mas, ó Rei Salomão, tu não nos prejudicarás nem nos prenderás, nem nos darás comandos; mas, uma vez que o Senhor Deus te deu autoridade sobre todo espírito, no ar, e na terra, e sob a terra, portanto, nos apresentamos diante de ti como os outros espíritos, desde carneiro e touro, gêmeos e câncer, leão e virgem, libra, escorpião, sagitário, capricórnio, aquário e e peixes.
  2. Então eu, Salomão, invoquei o nome do Senhor Sabaoth e questionei cada um sobre qual era seu caráter. E ordenei que cada um se aproximasse e contasse suas ações. Então o primeiro se aproximou e disse: “Eu sou o primeiro decano do círculo zodiacal, e sou chamado de carneiro, e comigo estão estes dois.” Então eu lhes fiz a pergunta: “Quem sois vós chamados?” O primeiro disse: “Eu, ó Senhor, sou chamado Ruax, e faço com que as cabeças dos homens fiquem vazias, e pilho suas testas. Mas deixe-me ouvir apenas as palavras, ‘Miguel, prenda Ruax’, e imediatamente eu recuo.”
  3. E o segundo disse: “Eu sou chamado Barsafael, e faço com que aqueles que estão sujeitos à minha hora sintam a dor da enxaqueca. Se eu ouvir apenas as palavras, ‘Gabriel, prenda Barsafael’, imediatamente eu recuo.”
  4. O terceiro disse: “Eu sou chamado Arôtosael. Eu causo dano aos olhos e os prejudico gravemente. Deixe-me ouvir apenas as palavras, ‘Uriel, prenda Aratosael’ (sic) e  imediatamente eu recuo.”<LACUNA NO TEXTO>
  5. O quinto disse: “Eu sou chamado Iudal, e causo bloqueio nos ouvidos e surdez. Se eu ouvir, ‘Uruel Iudal’, eu recuo imediatamente.”
  6. O sexto disse: “Eu sou chamado Sphendonaêl. Eu causo tumores na glândula parótida, inflamações nas amígdalas e recurvação tética. Se eu ouvir, ‘Sabrael, prenda Sphendonaêl’, eu recuo imediatamente.”
  7. O sétimo disse: “Eu sou chamado Sphandôr, e enfraqueço a força dos ombros, faço-os tremer; e paraliso os nervos das mãos, e quebro e machuco os ossos do pescoço. E, eu, eu sugo a medula. Mas se ouvir as palavras, ‘Araêl, prenda Sphandôr’, eu recuo imediatamente.”
  8. O oitavo disse: “Eu sou chamado Belbel. Eu distorço os corações e mentes dos homens. Se ouvir as palavras, ‘Araêl, prenda Belbel’, eu recuo imediatamente.”
  9. O nono disse: “Eu sou chamado Kurtaêl. Eu causo cólicas nos intestinos. Eu induzo dores. Se ouvir as palavras, ‘Iaôth, prenda Kurtaêl’, eu recuo imediatamente.”
  10. O décimo disse: “Eu sou chamado Metathiax. Eu faço as costas doerem. Se ouvir as palavras, ‘Adônaêl, prenda Metathiax’, eu recuo imediatamente.”
  11. O décimo primeiro disse: “Eu sou chamado Katanikotaêl. Eu crio discórdia e injustiças nos lares dos homens e lanço sobre eles temperamentos difíceis. Se alguém quiser paz em sua casa, que escreva em sete folhas de louro o nome do anjo que me frustra, junto com estes nomes: Iae, Ieô, filhos de Sabaôth, em nome do grande Deus, que o impeça Katanikotaêl. Então, que lave as folhas de louro em água e borrife sua casa com a água, de dentro para fora. E imediatamente eu recuo.”
  12. O décimo segundo disse: “Eu sou chamado Saphathoraél, e eu inspiro partidarismo nos homens e me deleito em fazê-los tropeçar. Se alguém escrever em papel esses nomes de anjos, Iacô, Iealô, Iôelet, Sabaôth, Ithoth, Bae, e, tendo dobrado, usá-lo ao redor do pescoço ou contra a orelha, eu recuo e dissipo a embriaguez.”
  13. O décimo terceiro disse: “Eu sou chamado Bobêl (sic), e eu causo doenças nervosas com meus ataques. Se ouvir o nome do grande ‘Adonaêl, prenda Bothothêl’, eu recuo imediatamente.”
  14. O décimo quarto disse: “Eu sou chamado Kumeatêl, e eu causo tremores e torpor. Se eu ouvir apenas as palavras: ‘Zôrôêl, prenda Kumentaêl’, eu recuo imediatamente.”
  15. O décimo quinto disse: “Eu sou chamado Roêlêd. Eu causo frio, geada e dor no estômago. Se eu ouvir apenas as palavras: ‘Iax, não aqueças, não esquentes, pois Salomão é mais belo do que onze pais’, eu recuo imediatamente.”
  16. O décimo sexto disse: “Eu sou chamado Atrax. Eu infligo febres incuráveis nos homens. Se quiser me prender, pique coentro e esfregue nos lábios, recitando a seguinte fórmula: ‘A febre que é da sujeira. Eu te exorcizo pelo trono do Deus altíssimo, afaste-se da sujeira e afaste-se da criatura formada por Deus.’ E imediatamente eu recuo.”
  17. O décimo sétimo disse: “Eu sou chamado Ieropaêl. Sento-me no estômago dos homens e causo convulsões no banho e na estrada; e onde quer que eu seja encontrado, ou encontre um homem, eu o derrubo. Mas se alguém disser aos aflitos em seu ouvido esses nomes, três vezes seguidas, no ouvido direito: ‘Iudarizê, Sabunê, Denôê’, eu recuo imediatamente.”
  18. O décimo oitavo disse: “Eu sou chamado Buldumêch. Separo esposa do marido e causo rancor entre eles. Se alguém escrever os nomes de teus ancestrais, Salomão, em papel e colocar na antecâmara de sua casa, eu me retiro de lá. E a lenda escrita será a seguinte: ‘O Deus de Abraão, e o Deus de Isaac, e o Deus de Jacó ordena-te — retira-te desta casa em paz.’ E eu recuo imediatamente.”
  19. O décimo nono disse: “Eu sou chamado Naôth, e eu me sento nos joelhos dos homens. Se alguém escrever em papel: ‘Phnunoboêol, afaste-se Nathath, e não toque o pescoço’, eu recuo imediatamente.”
  20. O vigésimo disse: “Eu sou chamado Marderô. Envio febre incurável aos homens. Se alguém escrever na folha de um pergaminho: ‘Sphênêr, Rafael, afaste-se, não me arraste, não me despedace’, e amarrar ao redor do pescoço, eu recuo imediatamente.”
  21. O vigésimo primeiro disse: “Eu sou chamado Alath, e eu causo tosse e dificuldade de respirar em crianças. Se alguém escrever em papel: ‘Rorêx, persiga Alath’, e prender ao redor do pescoço, eu recuo imediatamente…”
  22. O vigésimo terceiro disse: “Eu sou chamado Nefthada. Eu faço os rins doerem e causo disúria. Se alguém escrever em uma placa de estanho as palavras: ‘Iathôth, Uruêl, Nephthada’, e prender ao redor da cintura, eu recuo imediatamente.”
  23. O vigésimo quarto disse: “Eu sou chamado Akton. Causo dores nas costelas e nos músculos lombares. Se alguém gravar em material de cobre, retirado de um navio que perdeu sua ancoragem, isso: ‘Marmaraôth, Sabaôth, persiga Akton’, e prender ao redor da cintura, eu recuo imediatamente.”
  24. O vigésimo quinto disse: “Eu sou chamado Anatreth, e divido queimaduras e febres nos intestinos. Mas se eu ouvir: ‘Arara, Charara’, imediatamente eu recuo.”
  25. O vigésimo sexto disse: “Eu sou chamado Enenuth. Roubo as mentes dos homens, mudo seus corações e faço um homem ficar sem dentes. Se alguém escrever: ‘Allazoôl, persiga Enenuth’, e amarrar o papel nele, eu recuo imediatamente.”
  26. O vigésimo sétimo disse: “Eu sou chamado Phêth. Eu torno os homens consumidos e causo hemorragias. Se alguém me exorcizar em vinho, doce e não misturado pelo décimo primeiro aeon, e dizer: ‘Eu te exorcizo pelo décimo primeiro aeon para parar, eu exijo, Phêth (Axiôphêth)’, então dê para o paciente beber, e eu recuo imediatamente.”
  27. O vigésimo oitavo disse: “Eu sou chamado Harpax, e causo insônia nos homens. Se alguém escrever ‘Kokphnêdismos’, e amarrar ao redor das têmporas, eu recuo imediatamente.”
  28. O vigésimo nono disse: “Chamo-me Anostêr. Eu gero mania uterina e dores na bexiga. Se alguém misturar em óleo puro três sementes de louro e esfregar, dizendo: ‘Eu te exorcizo, Anostêr. Pára por Marmaraô’, imediatamente eu me retiro.”
  29. O trigésimo disse: “Chamo-me Alleborith. Se, ao comer peixe, alguém engolir um osso, então ele deve pegar um osso do peixe, tossir, e imediatamente eu me retiro.”
  30. O trigésimo primeiro disse: “Chamo-me Hephesimireth e causo doenças prolongadas. Se você jogar sal esfregado na mão no óleo e esfregar no paciente, dizendo: ‘Serafins, Querubins, ajudem-me!’, eu me retiro imediatamente.”
  31. O trigésimo segundo disse: “Chamo-me Ichthion. Eu paraliso músculos e os contundo. Se eu ouvir ‘Adonaêth, ajuda!’, eu me retiro imediatamente.”
  32. O trigésimo terceiro disse: “Chamo-me Agchoniôn. Eu fico entre as fraldas e no precipício. E se alguém escrever em folhas de figueira ‘Licurgo’, retirando uma letra de cada vez e escrevendo ao contrário, eu me retiro imediatamente. ‘Licurgo, icurgo, curgo, urgo, rgo, go, o.'”
  33. O trigésimo quinto disse: “Chamo-me Phthenoth. Eu lanço o mau-olhado em todo homem. Portanto, o olho que muito sofre, se for desenhado, me frustra.”
  34. O trigésimo sexto disse: “Chamo-me Bianakith. Tenho rancor contra o corpo. Eu arraso casas, faço a carne apodrecer e tudo mais que for semelhante. Se um homem escrever na porta da frente de sua casa: ‘Mêltô, Ardu, Anaath’, eu fujo desse lugar.”
  35. E eu, Salomão, ao ouvir isso, glorifiquei o Deus do céu e da terra. E ordenei que trouxessem água no Templo de Deus. E orei ao Senhor Deus para fazer com que os demônios que atrapalham a humanidade sejam amarrados e levados ao Templo de Deus. Alguns desses demônios eu condenei a fazer o trabalho pesado na construção do Templo de Deus. Outros eu aprisionei em prisões. Outros ordenei que lutassem com o fogo na fabricação de ouro e prata, sentados ao lado de chumbo e colher. E para preparar lugares para os outros demônios, onde deveriam ser confinados.
    A Sabedoria de Salomão
  36. E eu, Salomão, tive muita paz em toda a terra, e passei minha vida em profunda paz, honrado por todos os homens e por todos sob os céus. E construí todo o Templo do Senhor Deus. E meu reino era próspero, e meu exército estava comigo. E, para o resto, a cidade de Jerusalém estava em repouso, regozijando-se e encantada. E todos os reis da terra vieram até mim dos confins da terra para contemplar o Templo que eu construí para o Senhor Deus. E, tendo ouvido da sabedoria que me foi concedida, prestaram homenagem a mim no Templo, trazendo ouro, prata e pedras preciosas, muitas e diversas, e bronze, ferro, chumbo e madeira de cedro. E trouxeram-me madeira que não apodrece, para o equipamento do Templo de Deus.
  37. E entre eles também a rainha do Sul, sendo uma bruxa, veio com grande preocupação e se curvou diante de mim até a terra. E, ouvindo minha sabedoria, ela glorificou o Deus de Israel, e ela fez um teste formal de toda a minha sabedoria, de todo o amor com o qual a instruí, de acordo com a sabedoria que me foi concedida. E todos os filhos de Israel glorificaram a Deus.
  38. E eis que, naqueles dias, um dos trabalhadores, de idade avançada, se prostrou diante de mim e disse: “Rei Salomão, tenha piedade de mim, porque sou velho.” Então eu ordenei que ele se levantasse e disse: “Diga-me, velho, tudo o que você quiser.” E ele respondeu: “Eu te imploro, rei, tenho um filho único, e ele me insulta e me bate abertamente, arranca os cabelos da minha cabeça e me ameaça com uma morte dolorosa. Portanto, eu te suplico, vinga-me.
  39. E eu, Salomão, ao ouvir isso, senti compaixão ao olhar para sua velhice; e ordenei que o filho fosse trazido até mim. E quando ele foi trazido, o questionei se era verdade. E o jovem disse: “Eu não estava tão cheio de loucura a ponto de bater em meu pai com as mãos. Seja gentil comigo, ó rei. Pois não ousei cometer tamanha impiedade, pobre de mim.” Mas eu, Salomão, ao ouvir isso do jovem, exortei o velho a refletir sobre o assunto e aceitar as desculpas do filho. No entanto, ele não quis, mas disse que preferia deixá-lo morrer. E como o velho não cedia, eu estava prestes a pronunciar sentença sobre o jovem, quando vi Ornias, o demônio, rindo. Fiquei muito zangado com o riso do demônio em minha presença; e ordenei que meus homens removessem as outras partes e trouxessem Ornias diante do meu tribunal. E quando ele foi trazido diante de mim, disse-lhe:
  40. “Maldito, por que olhaste para mim e riste?” E o demônio respondeu: “Rogo-te, ó rei, não foi por tua causa que eu ri, mas por causa deste infeliz velho e do infortunado jovem, seu filho. Pois daqui a três dias seu filho morrerá prematuramente; e eis que o velho deseja fazer dele um fim infame.”
  41. Mas eu, Salomão, ao ouvir isso, disse ao demônio: “Isso é verdade que tu falas?” E ele respondeu: “É verdade, ó rei.” E eu, ao ouvir isso, ordenei que removessem o demônio e que novamente trouxessem diante de mim o velho com seu filho. Ordenei que se reconciliassem e lhes forneci comida. E então disse ao velho para trazer seu filho até mim novamente aqui depois de três dias, disse eu, “e cuidarei dele.” E eles me saudaram e foram embora.
  42. E quando partiram, ordenei que Ornias fosse trazido à minha frente e disse-lhe: “Conta-me como tu sabes disso;” e ele respondeu: “Nós demônios ascendemos ao firmamento dos céus e voamos entre as estrelas. E ouvimos as sentenças que se pronunciam sobre as almas dos homens, e imediatamente viemos, e, seja por influência, seja por fogo, seja por espada, seja por algum acidente, velamos nosso ato de destruição; e se um homem não morre por algum desastre prematuro ou por violência, então nós demônios nos transformamos de tal maneira a parecer aos homens e sermos adorados em nossa natureza humana.”
  43. Eu, Salomão, ao ouvir isso, glorifiquei o Senhor Deus e novamente questionei o demônio, dizendo: “Conta-me como vós podeis subir ao céu, sendo demônios, e misturar-vos entre as estrelas e os santos anjos.” E ele respondeu: “Assim como as coisas são cumpridas no céu, assim também na terra são cumpridos os tipos de todas elas. Pois existem principados, autoridades, governantes mundiais, e nós demônios voamos pelo ar; e ouvimos as vozes dos seres celestiais e observamos todos os poderes. E como não temos um solo sobre o qual pousar e repousar, perdemos força e caímos como folhas das árvores. E os homens, ao nos verem, imaginam que as estrelas estão caindo do céu. Mas não é realmente assim, ó rei; mas caímos por nossa fraqueza e porque não temos nada em que nos segurar; e assim caímos como relâmpagos no meio da noite e de repente. E incendiamos cidades e queimamos campos. Pois as estrelas têm bases firmes nos céus, assim como o sol e a lua.”
  44. E eu, Salomão, ao ouvir isso, ordenei que o demônio fosse guardado por cinco dias. E depois dos cinco dias, lembrei-me da epístola de Adares, rei da Arábia. Chamei meu servo e disse-lhe: “Prepare teu camelo, pegue uma garrafa de couro e leve também este selo. E vá para a Arábia até o lugar onde o espírito maligno sopra; e lá pegue a garrafa e coloque o anel selador na frente da boca da garrafa e os coloque em direção ao sopro do espírito. E quando a garrafa estiver soprada, tu entenderás que o demônio está dentro. Então amarre rapidamente a boca da garrafa e sele-a com segurança com o anel, e coloque-a cuidadosamente no camelo e traga-a até mim. E se, no caminho, ela oferecer a você ouro, prata ou tesouro em troca de deixá-la ir, veja para não ser persuadido. Mas acerte sem usar juramento liberá-la. E então, se ela apontar os lugares onde há ouro ou prata, marque os lugares e sele-os com este selo. E traga o demônio para mim. E agora, vá e adeus.”
  45. Então o jovem fez como lhe fora ordenado. E ordenou ao seu camelo, colocou uma garrafa nele e partiu para a Arábia. E os homens daquela região não acreditaram que ele seria capaz de pegar o espírito maligno. E quando amanheceu, o servo ficou diante do sopro do espírito, colocou a garrafa no chão e o anel selador na boca da garrafa. E o demônio soprou pelo meio do anel selador para dentro da boca da garrafa e, entrando, soprou a garrafa. Mas o homem rapidamente ficou de pé, apertou com a mão a boca da garrafa, em nome do Senhor Deus dos Exércitos. E o demônio permaneceu dentro da garrafa. E depois disso, o jovem permaneceu naquela terra por três dias para fazer o teste. E o espírito não soprou mais contra aquela cidade. E todos os árabes souberam que ele havia aprisionado com segurança o espírito.
  46. Então o jovem prendeu a garrafa no camelo, e os árabes o enviaram em seu caminho com muita honra e presentes preciosos, louvando e magnificando o Deus de Israel. Mas o jovem trouxe a garrafa e a colocou no meio do Templo. E no dia seguinte, eu, o rei Salomão, entrei no Templo de Deus e me sentei em profunda angústia sobre a pedra angular. E quando entrei no Templo, a garrafa se levantou e deu sete passos e então caiu de boca para baixo e me prestou homenagem. E eu me maravilhei que mesmo junto com a garrafa, o demônio ainda tinha poder e podia andar; e ordenei que ele ficasse de pé. E a garrafa se levantou, ficou de pé com a boca soprada. E o questionei, dizendo: “Dize-me, quem és tu?” E o espírito de dentro disse: “Eu sou o demônio chamado Ephippas, que está na Arábia.” E eu disse a ele: “Este é o teu nome?” E ele respondeu: “Sim; para onde eu quiser, eu desço, provoco incêndios e causo a morte.”
  47. Dizendo isso, eu o pressionei, e a garrafa ficou como se estivesse sem ar. E eu a coloquei debaixo da pedra, e o espírito se cingiu e a levantou para cima da garrafa. E a garrafa subiu os degraus, carregando a pedra, e a colocou no final da entrada do Templo. E eu, Salomão, ao ver a pedra levantada e colocada em um alicerce, disse: “Verdadeiramente, a Escritura se cumpre, aquela que diz: ‘A pedra que os construtores rejeitaram, essa se tornou a cabeça da esquina’. Pois isso não é para eu conceder, mas de Deus, que o demônio seja forte o suficiente para levantar uma pedra tão grande e colocá-la no lugar que eu desejava.”
  48. E Ephippas liderou o demônio do Mar Vermelho com a coluna. E ambos pegaram a coluna e a levantaram do chão. E eu enganei esses dois espíritos, para que não pudessem abalar a terra inteira em um momento. E então eu selava ao redor com o meu anel deste lado e daquele, e dizia: “Vigiai.” E os espíritos permaneceram sustentando-a até o dia de hoje, como prova da sabedoria concedida a mim. E ali a coluna estava pendurada de enorme tamanho, no ar, sustentada pelos ventos. E assim os espíritos apareceram por baixo, como ar, sustentando-a. E se alguém olhar fixamente, a coluna está um pouco obliqua, sendo sustentada pelos espíritos; e é assim até hoje.
  49. E eu, Salomão, questionei o outro espírito que subiu com a coluna das profundezas do Mar Vermelho. E eu lhe disse: “Quem és tu e o que te chama? E qual é o teu negócio? Pois ouço muitas coisas sobre ti.” E o demônio respondeu: “Eu, ó Rei Salomão, sou chamado Abezithibod. Sou descendente do arcanjo enquanto estava sentado no primeiro céu, cujo nome é Ameleouth –  sou um espírito feroz e alado, com uma única asa, tramando contra todo espírito sob o céu. Eu estava presente quando Moisés entrou diante de Faraó, rei do Egito, e endureci seu coração. Eu sou aquele a quem Iannes e Iambres invocaram com Moisés no Egito. Eu sou aquele que lutou contra Moisés com maravilhas e sinais.”
  50. Eu disse a ele: “Como foste encontrado no Mar Vermelho?” E ele respondeu: “No êxodo dos filhos de Israel, endureci o coração de Faraó. E eu o incitei, bem como a seu coração e ao de seus ministros. E eu os fiz perseguir os filhos de Israel. E Faraó seguiu comigo e todos os egípcios. Então eu estava presente lá, e seguimos juntos. E todos nós chegamos ao Mar Vermelho. E aconteceu que quando os filhos de Israel atravessaram, a água voltou e cobriu todo o exército dos egípcios e todo o seu poder. E eu permaneci no mar, sendo mantido sob esta coluna. Mas quando Ephippas veio, enviado por ti, fechado em um vaso de garrafa, ele me trouxe até ti.”
  51. Eu, portanto, Salomão, ao ouvir isso, glorifiquei a Deus e conjurei os demônios a não me desobedecerem, mas a permanecerem sustentando a coluna. E ambos juraram, dizendo: “Vive o Senhor teu Deus, não soltaremos esta coluna até o fim do mundo. Mas no dia em que esta pedra cair, então será o fim do mundo .”
    A Queda de Salomão
  52. Eu, Salomão, glorifiquei a Deus e enfeitei o Templo do Senhor com toda beleza. E eu estava alegre em espírito em meu reino, e havia paz em meus dias. E eu tinha inúmeras esposas de todas as terras. E marchei contra os jebuseus, e lá eu vi a jebuseia, filha de um homem: e me apaixonei violentamente por ela, e desejei tomá-la como esposa junto com minhas outras esposas. E disse aos sacerdotes: “Dai-me a sunamita como esposa.” Mas os sacerdotes de Moloc disseram-me: “Se amas esta donzela, entra e adora os nossos deuses, o grande deus Raphan e o deus chamado Moloc.” Eu, então, temi a glória de Deus e não segui para adorar. E disse-lhes: “Não adorarei um deus estranho. Que proposta é essa, que me obrigais a fazer?” Mas eles disseram: “é por nossos pais.”
  53. E quando respondi que de maneira alguma adoraria deuses estranhos, disseram à donzela para não dormir comigo até que eu concordasse e sacrificasse aos deuses. Então, fui levado, mas o astuto Eros trouxe e colocou ao meu lado cinco gafanhotos, dizendo: “Pegue estes gafanhotos e esmague-os juntos em nome do deus Moloc; e então dormirei contigo.” E isso eu realmente fiz. E imediatamente o Espírito de Deus se afastou de mim, e eu me tornei fraco, bem como tolo em minhas palavras. E depois disso, fui obrigado por ela a construir um templo de ídolos para Baal, e para Rapha, e para Moloc, e para outros ídolos.
  54. Eu, miserável como sou, segui o conselho dela, e a glória de Deus se afastou completamente de mim; e meu espírito ficou escurecido, e me tornei brinquedo de ídolos e demônios. Portanto, escrevi este Testamento, para que vós que o possuirdes possais ter piedade e atender às últimas coisas, e não às primeiras. Para que possais encontrar graça para todo o sempre. Amém.
Fontes consultadas:

Deixe um comentário

Traducir »