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Meditação Alquímica: Um Guia Prático do Chumbo ao Ouro – PARTE 2

Leia em 7 minutos.

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Tamosauskas

Após a publicação do artigo Meditação Alquímica: Um Guia Teórico do Chumbo ao Ouro um leitor entrou em contato animado com os insights que teve e pedindo uma forma mais estruturada e clara de integrar os conceitos orientais o ocidentais em uma prática unificada. O que passarei neste segundo texto é exatamente isso. Não se trata de nenhuma nova forma de meditação revolucionária é apenas a forma que eu utilizo que acredito estar bastante afinada com a tradição alquímica, mas que inclui muito das práticas yogues, budista e do Quarto Caminho de Gurdjieff com as adaptações empíricas do que funcionou melhor para mim.

É um roteiro para uma prática diária que pode ser dominada entre uma e duas semanas mas que pode ser aperfeiçoada infinitamente com maior tempo e dedicação. Ela inclui fases do Nigredo, Albedo, Citrinitas e Rubedo. Você pode estender qualquer um desses momentos o quanto quiser para se adequar as suas necessidade pessoais e fazer uma meditação mais focada em uma delas, mas é importante passar brevemente por todos eles todas as vezes.

Os melhores resultados são, como sempre obtidos quando feito em conjunto com outras práticas mais estruturantes de uma via mística levada a sério. Mas em absoluto não se sinta pressionado a avançar muito rapidamente: “seja gentil com o fogo”.

Glossário alquímico:

Segue um breve glossário que será usado. Seu simbolismo está extremamente simplificado para esta prática. Para uma visão bem mais aprofundada do simbolismo alquímico consulte o Principia Alchimica

  • Chumbo: Sensações físicas
  • Cobre: Sentimentos
  • Ferro: Pensamentos
  •  Estanho: Intenções
  •  Mercúrio: Atenção
  • Nigredo: Purificação dos Metais
  • Albedo: Aprimoramento dos Metais
  • Citrinitas: Sacralização dos Metais
  • Rubedo: Compreensão real

I. Selando o Vaso de Hermes

  1. Escolha um lugar tranquilo e livre de distrações. Se possivel tome algumas gotas de uma tintura de uma planta mercurial e faça uma breve oração pela sabedoria.
  2. Sente-se com a coluna reta e descanse as mão sobre as pernas. Mantenha os olhos ainda abertos mas sem se prender a visão nenhuma em particular.
  3. Faça sete respirações profundas inspirando pelo nariz profundamente duas vezes antes de soltando pela boca uma vez. Respire forte o bastante para alguém que tivesse na sala pudesse ouvir você respirando.
  4. Fechar os olhos e permitir que qualquer estímulo externo se apresente: luz, som, humidade, vento, cheiros, seu peso no chão, o toque das suas roupas, etc… Você já buscou criar um bom ambiente mas não faz sentido “brigar” com cada estímulo que chegar até você. Apenas reconheça cada um deles sem se fixar em nenhum deles.

Nos primeiros dias medite apenas até este ponto por 5~10 minutos e pule para a parte IV: Encerramento. No dia que sentir que está em paz com seu entorno continue.

I. Nigredo: A Decomposição dos Metais

O objetivo do nigredo é purificar os metais de seus grânulos de forma a capacitá-los para as próximas etapas.

  1. Decomposição do Chumbo:
    Observe seu próprio corpo sondando-o do topo da cabeça até os dedos dos pés com uma luz em uma máquina copiadora. Observe a sensação física de cada parte sem tentar mudá-la apenas identificando pontos de relaxamento ou tensão. Note que você não é suas sensações, você é quem as experimenta.
  2. Decomposição do  Cobre:
    Observe agora sua predisposição emocional como um todo. Não force nem julgue o que encontrar apenas tome ciência dos sentimentos, emoções que surgirem. Deixe aflorar qualquer sentimento particularmente forte que tenha tido nos últimos dias e seja testemunha disto julgar a si mesmo ou a suposta causa. Depois retorne para o aqui e agora e sinta suas emoções atuais. Note que você não é seus sentimentos, você é quem os sente.
  3. Decomposição do Ferro:
    Agora observe seus pensamentos abstratos: memórias, projeções, imagens, mas também discursos internos e histórias que conta para si mesmo. Deixe emergir o que quer que tenha orbitado sua mente ultimamente, mas observe o pensamento desapegadamene e deixe-os passar.  Note que você não é nenhum desses pensamentos, acima deles, você é aquele que  pensa.
  4. Decomposição do Estanho
    Observe agora seus planos, propósitos, desejos e motivações. Eles são os mesmos de ontem, de uma semana ou de um ano atrás? E agora quais são? Deixem que se apresentem quaisquer intenções, e propósitos mas sem os forçar. Note que você tem muitas intenções e algumas delas podem ser opostas umas as outras. Você não precisa lidar com tudo isso agora. Apenas reconheça-os e deixe-os passar.

Observe estas Sensações, Sentimentos, Pensamentos e Intenções como nuvens: distantes, passageiras e impermanentes. Agora estão aqui, agora não estão. Ao reconhecê-los sem resistência eles naturalmente se diluem e nos purificam os metais.

Chumbo purificado nos dá o poder da Concentração. Cobre purificado nos dá Harmonia. Ferro purificado nos dá Foco. Estanho purificado nos dá Vontade. Se juntarmos Concentração, Harmonia, Foco e Vontade com a Atenção do Mercúrio adquirimos a Concentração de Acesso necessária para as próximas fases onde a Prata e o Ouro nos aguardam.

Dedique alguns dias para meditar no Nigredo antes de prosseguir. Nesta ocasiões pode pular em seguida para a parte IV: Encerramento. Em mais ou menos uma semana de prática avance para o próximo passo. Para trabalhos específicos do Nigredo estenda esse momento o quanto quiser.

II. Albedo: A Destilação da Consciência

  1. Como somos nós que criamos nossos pensamentos e motivações vamos criar uma para agora. Lembre a si mesmo do porque estar fazendo este exercício.  Qual sua motivação? Formule em uma frase simples e lembre-se de incluir os benefícios que as pessoas do seu entorno também desfrutação com esta prática.
  2. Concentre-se em sua própria respiração. Não é preciso ensinar o corpo a respirar, ele já sabe fazer isso. Apenas observe. Para ajudar conte de 1 a 10 incluindo nessa contagem cada inspiração e expiração. Quando acabar recomece a contagem. Tanto na Dissolução como na Coagulação, quando surgir em sua mente qualquer pensamento que o afaste da pura observação classifique o fenômeno como Chumbo, Cobre, Ferro ou Estanho e deixe-o ir retornando suavemente ao seu foco.
  3. Se desejar este é o momento ideal para fazer um exercício de Imaginação Ativa. Escolha um ponto de concentração. Pode ser um emblema do Atalanta Fugiens, uma carta de tarô, uma vela ou sua própria respiração. É importante manter-se o mais interessado, objetivo e curioso possível. Concentre-se neste ponto focal mas não pense sobre ele.

Medite até este ponto por alguns dias e pule para a parte IV: Encerramento. Após alguns dias prossiga o roteiro. Para trabalhos específicos do Albedo estenda esse momento o quanto quiser.

III. Citrinitas: A Sublimação Amorosa

  1. Deixe seu ponto focal de lado e feche os olhos.
  2. Escolha uma palavra com o significado mais sagrado que puder. Algo que verdadeiramente toque seu coração como uma ideia elevadíssima: Luz, Paz, Amor, Deus, INRI, Tao, Iesu-Maria, Buda, Allah, OM etc.
  3. Repita o nome mentalmente várias vezes suave e lentamente até sentir que seu coração está preenchido e então silencie a mente.
  4. Sempre que um outro fenômeno mental se manifestar repita gentilmente a palavra sagrada escolhida e silencie.

Alternativas para o Citrinitas para usar no lugar da palavra sagrada:

  • Uma pequena oração como “Ave Maria..” ou “Namo Amitaba Buda” “Hare Krishna..” ou “La ilaha il Allah”, conforme sua tradição.
  • Uma frase significativa como “que todos os seres possam livrar-se do sofrimento e encontrar a Paz”
  • Um simples sentimento de amor e benevolência por todos os seres.
  • A própria presença divina do Sagrado sem nenhuma palavra de apoio.

Descubra o que funciona melhor para você. Medite até este ponto por alguns dias antes de continuar. Comece com cinco minutos de Citrinitas e pule para a parte IV: Encerramento.

IV. Rubedo: A Conjunção

  1. Após as três etapas anteriores abandone agora qualquer foco e concentração e deixe a mente completamente livre para fazer o que quiser. Apenas contemple o que vier. Comece com um minuto ou dois e encerre e vá aumentando este tempo aos poucos.
  2. Quatro coisas podem acontecer, mas o fracasso é impossível:
    1. Pensamentos aleatórios: Neste caso simplesmente identifique se é um agregado de Chumbo, Cobre, Ferro ou Estanho e se desapegue como anteriormente. Você está se aperfeiçoando o Mercúrio.
    2. Sensações de frio nos membros. Neste caso você está se aproximando do limiar do umbral, não permaneça nele, apenas siga para o encerramento por hoje e repita no outro dia.
    3. Insights e intuições elevadas: Não são pensamentos como os anteriores e você prontamente os reconhecerá pelo que são. Agradeça as lições e depois tome nota. Você está aperfeiçoando a Prata.
    4. Não acontecer nada: Este é o melhor dos casos pois você se aproxima do que Jean Dubuis chamou de Experiência da Eternidade, a não-dualidade. Esta vacuidade fora do tempo e espaço é o Ouro dos filósofos que estamos procurando.

Em minha experiência a concentração nos emblemas tendem a resultar em experiências de Prata, o que pode ser bastante instrutivo e inspirador. Por outro lado o foco apenas na respiração tem resultado em experiências de Ouro com maior frequência e intensidade.

No início será dificil manter este momento por mais de um minuto. Mas em para trabalhos específicos do Rubedo estenda esse momento o quanto quiser.

IV. Encerramento

  1. Mantenha os olhos fechados e observe sem forçar nada sua própria respiração.
  2. Aos poucos retorne ao ambiente prestando atenção aos sons e estímulos do lugar
  3. Abra os olhos devagar e permanece ainda sem se mexer por um breve instante. Tente trazer a consciência meditativa para o que quer que vá fazer em seguida.

Conclusão

Este modelo é o que tenho usado por algum tempo. Sinta-se livre para adaptá-lo para sua própria realidade. Lembre-se que a Meditação é uma Alquimia Mental. Ela não esgota a tradição alquímica nem substitui a reforma moral da Alquimia Espiritual ou os benefícios práticos da Espagiria. Todas estas são ferramentas que quando usadas de forma inteligente colaboram umas com as outras. Alquimia é mais do que uma única prática isolada, ela é uma cultura e não há nada mais próprio desta cultura do que o empirismo e a experimentação.

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