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Mary Wollstonecraft

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“A mulher deve forçar sua mente no sentido de alargá-la e será o fim da obediência cega”. – Mary Wollstonecraft

Se como Nietzsche disse, alguns homens nascem póstumos, então a vida de Mary Wollstonecraft só vem acrescentar o corolário de que o algumas mulheres também nascem antes de seu tempo. Marry de certa forma antecipou em sua própria vida mudanças que só viriam acontecer muito tempo depois para o restante das mulheres.  Ela não esperou o mundo concordar com suas idéias para começar a colocá-las em prática e nada a impediu de viver como uma mulher livre, nem mesmo ter nascido na antiquada Inglaterra Industrial de 1750.

Marry nasceu numa família da classe média em Spitalfields, Londres.  Recusando-se a viver o destino programado para as garotas como ela, teve bem cedo seu primeiro emprego como governanta onde começou a rascunhar os primeiros traços daquelas que iria ser as declarações mais fortes feitas por uma mulher desde a Grécia Antiga.  Aos vinte e poucos anos começa a assistir os sermões do ministro Richard Price na capela de Hackley.

Como você pode ler, Marry freqüentava sim uma capela. Mas sua visão de mundo incluía uma visão pessoal de uma espécie de religião natural. Apesar de ser  declaradamente protestante, Wollstonecraft deixou de ir a Igreja na última década de sua vida e criticava abertamente o hipócrita clero anglicano. Sua principal critica era que a Igreja era sustentada pelas classes ricas da Inglaterra para em retribuição distrair as classes pobres das necessidades de profundas reformas econômicas e políticas pelas quais urgiam a Sociedade Inglesa.

De qualquer forma o pastor Richard alvo da atenção de Marry era um pastor anglicano com idéias bastante avançadas para o seu tempo, e até para as igrejas de hoje. O grupo encabeçado por ele era conhecido como Dissidentes Racionais e defendiam a necessidade de promover o raciocino  até mesmo sobre a fé. O grupo pregava que era função da razão e não do dogma revelar a verdade, e era função da consciência individual, e não das leias divinas, orientar as decisões e o comportamento humano. Não demorou é claro para o pastor ser acusado de ateísmo e afastado de seu cargo pela sociedade anglicana para passar o resto de seus dias em confinamento. Mas o “estrago” já estava feito e Marry Wollstonecraft foi grandemente influenciado pelos discursos do pastor.

Em novembro de 1789, Richard Price faz um sermão em favor da Revolução Francesa, no qual afirma que o povo inglês também tinha o direito de destronar um rei, se este fosse cruel. O sermão motiva Mary a dedicar-se a escritos políticos sobre os mais variados temas, do tráfico de escravos à forma injusta como os pobres eram tratados.

Foi também por intermédio do pastor Richard que Mary conhece Joseph Jonhson, livre pensador e dono de uma editora que encomenda-lhe um livro sobre suas idéias a respeito do papel da mulher na sociedade e da educação feminina. Em 1786 Marry publica Reflexões sobre Educação de Filhas, sua primeira obra de impacto. Neste livro Marry expõe a situação de opressão imposta ao feminino e a podridão do sistema que perpetuava a ignorância e a dependência das mulheres em relação aos homens.  A partir deste ponto Marry seria tema freqüente nas rodas intelectuais de grande parte da Europa.

Para se ter uma idéia de como Marry pensava  bastaria relatar seu total estimulo e apoio a sua irmã Eliza em abandonar seu marido em uma época onde o divorcio era  um grande escândalo. Em 1784 funda com a irmã uma escola feminina em Newington Green e começa sua trajetória como jornalista, editora e ativista dos direitos da mulher.

Marry passa a escrever sobre diversos temas políticos que vão do tráfico de escravos a necessidade do povo destronar o Rei caso este seja cruel e a relação entre pobres e ricos em sua sociedade.  Em 1792 escreve “A Reinvidicação dos Direitos da Mulher”, chama a atenção de pensadores como Willian Blake, Voltaire, Rousseau e lança as bases do que se tornaria o feminismo moderno.

Wollstonecraft defendia que uma sociedade nunca seria verdadeiramente livre enquanto não existisse igualdade de oportunidade para ambos os sexos e foi verdadeiramente a mulher mais satânica de seu tempo. Nunca dependeu do sustento de marido, aprendeu a desde cedo manter-se sozinha.  Com a mesma força com que lúcifer se rebelou contra os céus, Marry declarou independencia perante todos os homens, como confirma um de seus ditos:

“É possível que eu provoque o riso ao fazer a seguinte insinuação, em que penso existirá no futuro: creio realmente que as mulheres deveriam ter seus representantes, em lugar de ver-se virtualmente governadas, sem que as permitam ter nenhuma participação direta nas deliberações do governo.”

 Por sua postura adversa, foi logicamente vista com os piores olhos por grande parte de sues contemporâneos. Mesmo as mulheres a criticavam dizendo que tentava imitar os homens.  Marry foi vista como machista pelas mulheres e como prostituta pelos homens. A verdade era que era uma mulher livre e no lugar de se excluir como uma anomalia perante as demais mulheres da época, escravas do lar e de seus maridos, Wollstonecraft antecipou nela mesma o curso da história e viveu como só viveriam as mulheres de um futuro ainda distante.

Ela foi certamente não ortodoxa em seu pensamento e em seu comportamento, em especial nos momentos em que defendia seus próprios direitos quando, por exemplo, de apaixonou por um homem casado e visitou sua esposa para sugerir um menage a trois. Marry é claro nasceu muito antes de seu tempo e o convite foi grosseiramente rejeitado.

Em sua crítica ao casamento tal como este era na época, chegou a comparar o mesmo como um tipo de prostituição legalizada chamando as mulheres de escravas convenientes. Esta sua visão está especialmente representada no seu conto Maria, uma ficção na qual a personagem principal é tão maltratada pelo marido que chega a ser internada em um hospital psiquiátrico.

É importante dizer que Marry não se opunha a união homem mulher, mas sim a forma como esta estava sendo feita. Ao que se sabe Wollstonecraft nunca foi legalmente casada até que grávida, se juntou a Rousseauean William Godwin, anarquista, filosofo radical e autor de “Justiça Política” e com quem dividia afinidades revolucionárias.

Em 1797 Marry morre de hemorragia devido a complicações no parto de sua filha, também chamada Marry. Marry Shelley. Uma digna herdeira do legado de sua mãe que com o tempo tornou-se uma das maiores escritoras da língua inglesa ao escrever o perturbador clássico Frankstein.

O legado da mãe do feminismo moderno havia terminado, mas suas idéias permaneceriam para sempre na mente de mulheres emancipadas como elas que foram certamente responsável pela formação do que Anton Szandor LaVey chamou de “A Nova Era Satânica” que vêem mudando a sociedade e aperfeiçoando-se em busca de maior liberdade individual até os dias de hoje. Como ela mesmo disse em um de seus últimos anos de vida: “Eu dei um tapa com minha luva, agora é hora de restaurar as mulheres a dignidade perdida e fazê-las parte da espécie humana.”

1750 – 1797

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