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Cirurgias e Fase Lunar

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É melhor operar o coração durante a lua cheia?

A imprensa leiga noticiou com destaque no final de julho o estudo do dr. Jeffrey H. Shuhaiber, de Rhode Island (EUA) que correlacionou o desfecho de um tipo de cirurgia cardíaca com as fases da lua. O relato disseminado na internet é de que sofrer uma cirurgia cardíaca durante a lua cheia seria mais seguro.
Analisando um pouco mais de perto o estudo, podemos chegar a algumas outras conclusões. Na tentativa de identificar fatores relacionados à melhor evolução dos pacientes, o dr Shuhaiber e seu grupo analisaram retrospectivamente todas cirurgias cardíacas realizadas para uma mesma doença (dissecção de aorta) em dois hospitais, entre janeiro 1996 e dezembro de 2011. No total, neste período, 210 pacientes foram operados por dissecção de aorta. Muito importante lembrar que, nesta doença, as cirurgias são sempre em urgência, nunca são marcadas com antecedência.

Os pesquisadores notaram que ¼ das dissecções ocorreu em cada estação do ano. Portanto, é uma doença que ocorre o ano todo, aparentemente sem influência climática.  As fases da lua não influenciaram na ocorrência das dissecções: ¼ ocorreu em cada fase da lua, também.

O dado alardeado é que os pacientes que sofreram a cirurgia durante a lua cheia tiveram uma chance menor de morrer. Estatisticamente, tal chance foi entre 19 e 95% menor quando comparado à cirurgia durante lua nova. Faço questão de frisar esta ampla faixa de redução de risco possível: entre 19 e 95%. Isto significa que o estudo, por contar com poucos pacientes, permite que o resultado tenha um grau de incerteza importante. Na melhor das hipóteses, cirurgia na lua cheia reduz o risco de morte em 95%, o que seria extraordinário. Na pior das hipóteses, reduz em 19%. Este dado não refuta a conclusão alardeada, mas a torna menos consistente.

Existem fatores de confusão que não puderam ser analisados, e que podem ter interferido diretamente nesses resultados, como por exemplo:

• Os serviços médicos para cirurgias urgentes funcionam através de escalas de plantão ou sobreaviso; pelos dados apresentados, não podemos excluir a hipótese de que os “piores” profissionais fizeram menos plantões nas luas cheias, por obra do acaso.
• As fases da lua influenciam a altura das marés, e o estudo foi feito num pequeno estado litorâneo dos EUA, onde a altura das marés poderia ter determinado que os plantonistas donos de barcos escolham seus plantões de acordo com as marés, fazendo com que sempre os mesmos plantonistas trabalhem na lua cheia.
• Algum dos membros das duas equipes cirúrgicas pode ser interessado em astrologia, e troca seus plantões para evitar trabalhar em determinada fase da lua; se esse indivíduo for superior ou inferior tecnicamente aos outros no seu trabalho, isto afetaria os resultados.

Estes foram só alguns exemplos, deve haver muitos outros fatores de confusão que não foram avaliados.

Desta forma, a conclusão (ainda que arriscada) que podemos retirar deste estudo é: se você for operado de urgência para uma dissecção de aorta, em Rhode Island, nos EUA, num dos dois hospitais participantes do estudo, torça para ser lua cheia!

Não podemos generalizar esta conclusão para outros tipos de cirurgias cardíacas, nem para outros hospitais.

Fonte: Interactive CardioVascular and Thoracic Surgery (2013) 1–5 doi:10.1093/icvts/ivt299

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