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Resultados Comparados do Budismo e do Cristianismo – Ísis sem véu

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CRENÇAS FILOSÓFICAS DO MUNDO PRÉ-CRISTÃO.

Não havia ateus na Antigüidade, nem descrentes ou materialistas, no moderno sentido da palavra, e tampouco detratores fanáticos. Aquele que julga as filosofias antigas por sua fraseologia externa, e cita sentenças aparentemente ateísta dos escritos antigos, não merece o crédito como crítico, pois é incapaz de penetrar o sentido interno de sua metafísica. As concepções de Pirro, cujo racionalíssimo se tornou proverbial, só podem ser interpretadas à luz da mais antiga filosofia hindu. Desde Manu (*) até o último Svâbhâvika, (**) a sua característica metafísica principal sempre consistiu em proclamar a realidade e a supremacia do espírito, com uma veemência proporcional à negação da existência objetiva de nosso mundo material – fantasma passageiro de formas e seres temporários. As numerosas escolas fundadas por Kapila refletem sua filosofia de modo tão claro quanto as doutrinas deixadas, como um legado aos pensadores, por Timon, o “Profeta” de Pirro, como o chama Sexto Empírico. Suas concepções sobre o repouso divino da alma, sua orgulhosa indiferença pela opinião de seus colegas, sua recusa à sofisticaria, refletem em igual grau os raios perdidos da autocontemplação dos ginosofistas e dos Vaibhâshikas budista. Não obstante a pecha de “céticos” que se atribui tanto a ele como a seus seguidores, por causa de seu estado de constante dúvida e apenas porque levaram seus julgamentos finais a dilemas, com os quais os nossos modernos filósofos preferem tratar, como Alexandre, cortando o nó górdio, declarando o dilema uma superstição, homens como Pirro não podem ser chamados de ateus. Não mais do que Kapila, ou Giordano Bruno, ou ainda Spinoza, que também foram considerados ateus, ou então o grande poeta, filósofo e dialético hindu Veda-Vyâsa, o princípio de que tudo é uma ilusão – exceto o Grande Desconhecido e a Sua essência direta – foi adotado plenamente por Pirro. (* Manu o primeiro legislador um Ser Divino.). (** A mais antiga escola de Budismo existente.).

 

Essas crenças filosóficas se estendiam como uma rede sobre todo o mundo pré-cristão; e a perseguição e as falsificações supervenientes formam a pedra angular de toda religião atualmente existente além do Cristianismo.

 

A teologia comparada é uma faca de dois gumes, e assim se tem revelado. Mas os advogados cristãos, inabaláveis diante das provas, forçam a comparação do modo mais sereno; as lendas e os dogmas cristãos, dizem eles, assemelham-se um tanto aos pagãos, é verdade; mas vede, ao passo que um credo nos ensina a existência de um Pai-Deus Todo-poderoso, dotado de plena sabedoria, o Bramanismo nos dá uma multidão de deuses menores, e o Budismo, nenhum; um é fetichismo e politeísmo, o outro pobre ateísmo. Jeová é o único Deus verdadeiro, e o Papa e Martinho Lutero são Seus profetas! Este é um dos gumes da faca, e este é o outro: a despeito das missões, a despeito dos exércitos, a despeito dos impingidos intercâmbios comerciais, os “pagãos” nada descobrem nos ensinamentos de Jesus – por mais sublimes que sejam – que Krishna e Gautama não tenham ensinado antes. E assim, para conquistar novos convertidos, e manter os poucos já vencidos por séculos velharias, os cristãos tacham os dogmas “pagãos” de mais absurdos do que os nossos, e os castigam adotando o hábito de seus sacerdotes nativos e praticando a “idolatria e o fetichismo” que eles tanto menosprezam nos “pagãos”. A teologia comparada atua em ambos os caminhos.

QUATRO ESCOLAS DE TEOLOGIA BUDISTAS.

Há quatro escolas de Teologia budista. No Ceilão, no Tibete, e na Índia. Uma é mais panteísta do que ateísta, mas as três outras são puramente teístas.

As especulações de nossos filósofos baseiam-se na primeira. Quanto à segunda, à terceira e à quarta, seus ensinamentos variam apenas no modo externo de expressão.

Quanto às concepções práticas, e não teóricas, sobre o Nirvana, eis o que diz um cético racionalista: “Interroguei várias centenas de budistas nas próprias portas de seus templos, e não encontrei um só que não se esforçasse, jejuasse e se entregasse a toda sorte de austeridade para se aperfeiçoar e adquirir imortalidade, não para atingir a aniquilação final.

“Há mais de 300.000.000 de budistas que jejuam, rezam e trabalham. (…) Por que tachar esses 300.000.000 de homens de idiotas e tolos, por macerarem seus corpos e se imporem as mais terríveis privações de toda natureza, a fim de atingir a aniquilação fatal que os deve levar para parte alguma?”

Assim como esse autor, também nós interrogamos budistas e bramanistas, e lhes estudamos a filosofia. Apavarga significa algo muito diferente da aniquilação. Trata-se apenas de procurar tornar-se mais e mais semelhante a Ele, de quem o devoto é apenas uma das refulgentes centelhas, tal é a aspiração de todo filósofo hindu, e a esperança do mais ignorante nunca consiste em perder a sua individualidade. “De outro modo”, como outrora observou um estimado correspondente da autora, “a existência mundana e individual se assemelharia à comédia de Deus e à nossa tragédia; aprazaria a Ele que trabalhássemos e sofrêssemos, e morte para nós por sofrê-lo”.

 

Ocorre o mesmo com a doutrina da metempsicose, tão distorcida pelos eruditos europeus. Mas quando o trabalho de tradução e análise fizer maiores processos, belezas religiosas serão descobertas nas antigas fés.

Prof. Whitney sublinhou em suas tradução dos Vedas a grande importância que essa obra concede aos cadáveres de seus fiéis, segundo se pode ler nas seguintes passagens, citadas da obra do Sr. Whitney, a propósito dos ritos funerários:

 

“Levanta-te e anda! Reúne todos os membros de teu corpo, e não os deixes em abandono; teu espírito partiu, segue-o agora; onde quer que ele te agrade, vai para lá”.

(…)

“Reúne teus membros, e com ajuda dos ritos eu os modelarei para ti.

(…)

“Se Agni esqueceu algum membro ao enviar-te para o mundo de teus pais, eu to darei de novo, para que com todos os teus membros te regozijes no céu entre teus pais.

 

O “corpo” aqui referido não é o corpo físico, mas o astral – o que é uma grande distinção, como se pode ver.

Além disso, a crença na existência individual do espírito imortal do homem figura nos seguintes versos do cerimonial hindu de cremação e enterro.

 

“Aqueles que na esfera da terra permanecem estacionados;

os que moram nos reinos da felicidade;

os pais que por mansão têm a terra, a atmosfera e os céus.

Ante-céu se chama o terceiro céu

onde está o sólio de teus pais”. – (Rig-Veda, X, 14.)

 

Visto o alto conceito que esses povos têm de Deus e da imortalidade do espírito do homem, não é de surpreender que uma comparação entre os hinos védicos e os estreitos e nada espirituais livros mosaicos resulte em vantagem para os primeiros na mente de todo erudito sem preconceitos. Mesmo o código de Manu é incomparavelmente superior ao do Pentateuco de Moisés, no sentido literal do qual todos os eruditos não iniciados dos dois mundos não conseguem encontrar uma única prova de que os antigos judeus acreditavam numa vida futura ou num espírito imortal no homem, ou de que o próprio Moisés ensinava tal coisa. No entanto, alguns eminentes orientalistas têm começado a suspeitar que a “letra morta” oculta algo não aparente à primeira vista. Assim, conta-nos o Prof. Whitney que “quando observamos mais profundamente as formas do moderno cerimonial hindu não descobrimos a mesma discordância entre credos e preceitos; um não é explicado pelo outro”, diz esse grande erudito americano. E acrescenta : “Somos forçados a concluir, ou que a Índia derivou seu sistema de ritos de alguma fonte estrangeira, e os praticou cegamente, sem cuidar de sua verdadeira importância, ou que esses ritos são o produto de outra doutrina de data mais antiga, tendo sido mantidos no uso popular depois da decadência do credo de que eles eram a expressão original”.

Esse credo não decaiu, e sua filosofia oculta, tal como a entendem agora os hindus iniciados, é exatamente a mesma de há 10.000 anos. Mas podem nossos eruditos esperar seriamente que aqueles a revelem ao primeiro pedido; ou esperam ainda eles penetrar os mistérios da Religião Universal por seus ritos populares exotéricos?

Nenhum brâmane ou budista ortodoxo negaria o mistério da encarnação cristã; mas eles a compreendem à sua própria maneira, e como poderiam negá-lo? A pedra fundamental de seu sistema religioso são as encarnações da Divindade. Sempre que a Humanidade está prestes a cair no materialismo e na degradação moral, um Espírito Superior se encarna na criatura selecionada para o propósito. O “Mensageiro do Superior” liga-se à dualidade da matéria e da alma, e, completando-se assim a Tríada por meio da união de sua Coroa, nasce um Salvador, que ajuda a Humanidade a retornar ao caminho da verdade e da virtude. A Igreja cristã primitiva, imbuída de filosofia asiática, partilhava evidentemente da mesma crença – do contrário jamais teria erigido em artigo de fé o segundo advento, nem inventado a fábula do anti-Cristo como uma precaução contra as possíveis encarnações futuras. Nem teria imaginado que Melquisedeque foi um avatâra de Cristo. Eles só precisariam folhear a Bhagavad-Gitâ para descobrir Krishna ou Bahgavat dizendo a Arjuna: “Aquele que me segue está salvo pela sabedoria e também pelas obras. (… Assim que a virtude declina no mundo, eu me torno manifesto para salva-lo”.

Na verdade, é muito difícil não partilhar essa doutrina das encarnações periódicas. Não tem o mundo testemunhado, em raros intervalos, o advento de personagens tão grandiosos como Krishna, Sakyamuni e Jesus? Como estes dois últimos caracteres de Krishna parece ter sido um ser real, deificado por sua escola em algum tempo no alvorecer da história, e inserido no quadro do venerando programa religioso. Comparai os dois Redentores, o hindu e o cristão, separados no tempo por um espaço de alguns milhares de anos; colocai entre eles Siddhârtha Buddha, que reflete Krishna e projeta na noite do futuro a sua própria sombra luminosa, com sujos raios foram esboçadas as linhas gerais do mítico Jesus, e de cujos ensinamentos os do Cristo histórico, e descobrireis que sob uma mesma capa idêntica de lenda poética viveram e respiraram três figuras humanas reais. O mérito individual de cada um delas ressalta do mesmo colorido mítico, pois nenhum caráter indigno poderia ter sido selecionado para a deificação pelo instinto popular, tão infalível e justo quanto desimpedido. O brocardo Vox populi, vox Dei foi outrora verdadeiro, embora falso quando aplicado à atual massa dominada pelo clero.

Kapila, Orfeu, Pitágoras, Platão, Basilides, Marcion, Amônio e Plotino fundaram escolas e semearam os germes de muitos e nobres pensamentos, e, ao desaparecerem, deixaram atrás de si o brilho de semideuses. Mas as três personalidades de Krishna, Gautama e Jesus surgiram como deuses verdadeiros, cada qual em sua época, e legaram à Humanidade três religiões edificadas na imperecível rocha dos séculos. O fato de que as três, especialmente a fé cristã, tenham sido adulteradas com o tempo, e de que a última seja quase irreconhecível, não se deve a nenhuma falha dos nobres reformadores. São os clérigo que se intitulam de cultivadores da “vinha do Senhor” que devem prestar contas à posteridade. Purificai os três sistemas da escória dos dogmas humanos, e a pura essência permanecerá a mesma. Mesmo Paulo, o grande, o honesto apóstolo, no ardor de seu entusiasmo, perverteu involuntariamente as doutrinas de Jesus, ou então seus escritos foram desfigurados depois de reconhecidos. O Talmude, o registro de um povo que, não obstante a sua apostasia do Judaísmo, sentiu-se compelido a reconhecer a grandeza de Paulo como filósofo e teólogo, diz a propósito de Aher (Paulo), no Yerushalmi, que “ele corrompeu a obra daquele homem”- ou seja Jesus.

Entretanto, antes que essa fusão seja realizada pela ciência honesta e pelas gerações futuras, lancemos uma vista d’olhos ao quadro atual das três legendárias religiões.

 

AS LENDAS DOS TRÊS SALVADORES

 

KRISHNA

 

Época: Incerta. A ciência européia teme comprometer-se. Mas os cálculos bramânicos a fixaram por volta de há 5.000 anos.

Krishna descendente de uma família real, mas é educado por pastores; é chamado de Deus Pastor. Seu nascimento e sua ascendência divina são mantidos em segredo de Kansa.

Encarnação de Vishnu, a segunda pessoa da Trimûrti (Trindade). Krishna foi adorado em Maturâ, no rio Jumnâ.

Krishna é perseguido por Kansa, Tirano de Madura, mas escapa miraculosamente. Na esperança de destruir a criança, o rei mata milhares de varões inocentes.

A mãe de Krishna foi Devakî, uma virgem imaculada (porém que havia dado à luz oito filhos antes de Krishna).

Krishna é dotado de beleza, onisciência e onipotência desde o nascimento. Produz milagres, cura os aleijados e cegos, e expulsa demônios. Lava os pés dos Brâmanes, e, descendo às regiões

inferiores (inferno), liberta os mortos, e retorna a Vaikuntha – o paraíso de Vishnu. Krishna era o próprio Deus Vishnu em forma humana.

Krishna cria meninos de carneiros, e vice-versa. Esmaga a cabeça da Serpente.

Krishna é Unitário. Persegue o clero, acusa-o de ambição e hipocrisia, divulga os grandes Segredos do Santuário – a Unidade de Deus e a imortalidade de nosso espírito. A tradição diz que ele caiu vítima de sua vingança. Seu discípulo favorito, Arjuna, nunca o abandona. Há tradições fidedignas segundo as quais ele morreu perto de uma árvore (ou cruz), sendo atingido no pé por uma flecha. Os eruditos mais sérios concordam em que a Cruz irlandesa, em Tuam, erigida muito antes da era cristã, e asiática.

GAUTAMA BUDDHA

Época: Segundo a ciência européia e os cálculos cingaleses, há 2.540 anos.

Gautama é o filho de um rei. Seus primeiros discípulos são pastores e mendigos.

Segundo alguns, uma encarnação de Vishnu; segundo outros, uma encarnação de um dos Buddhas, e mesmo de Âdi-Buddha, a Sabedoria Suprema.

As lendas budistas estão livres deste plágio, mas a lenda católica que o transforma em São Josafá mostra que seu pai, rei de Kapilavastu, matou inocentes jovens cristãos (!!).

A mãe de Buddha foi Mâyâ ou Mâyâdevî; não obstante o seu casamento, manteve-se virgem imaculada.

Buddha é dotado dos mesmos poderes e qualidades, e realiza prodígios semelhantes. Passa sua vida com mendigos. Pretende-se que Gautama era diferente de todos os outros Avatâras, tendo todo o espírito de Buddha em si, ao passo que os demais tinham apenas uma parte (ansa) da divindade.

Gautama esmaga a cabeça da Serpente, e. i., abole o culto de Nâga por fetichismo; mas, como Jesus, faz da Serpente o emblema da sabedoria divina.

Buddha abole a idolatria; divulga os mistérios da Unidade de Deus e o Nirvana, cujo verdadeiro significado era conhecido apenas pelos sacerdotes. Perseguido e expulso do país, escapa da morte reunindo ao seu redor algumas centenas de milhares de crentes em seu Budado. Finalmente morre, cercado por uma hoste de discípulos, com Ânanda, seu primo e amado discípulo, o líder de todos eles. O’Brien acredita que a Cruz irlandesa em Tuam diz respeito a Buddha, mas Gautama jamais foi crucificado. Em muitos templos ele é representado sentado sob uma árvore cruciforme, que é a “Árvore da Vida”. Em outra imagem, ele está sentado sobre Nâga, o Râjâ das Serpentes com uma cruz em seu peito.

JESUS DE NARARÉ

Época: Supõe-se que tenha sido há 1877 anos. Seu nascimento e sua ascendência real foram ocultados de Herodes, o tirano.

Jesus. Descende da família real de Davi. É adorado por pastores em seu nascimento, e é chamado de “Bom Pastor”. (Ver Evangelho segundo São João.)

Uma encarnação do Espírito Santo, portanto a segunda pessoa da Trindade, agora a terceira. Mas a Trindade só foi inventada 325 anos depois de seu nascimento. Foi a Matarea, Egito, e aí produziu os seus primeiros milagres.

Jesus é perseguido por Herodes, Rei da Judéia, mas escapa para o Egito guiado por um anjo. Para se assegurar de sua morte, Herodes ordena uma massacre de inocentes, e 40.000 crianças são mortas.

A mãe de Jesus foi Mariam, ou Miriam; casou-se com o marido, mas manteve-se virgem imaculada, embora tenha tido várias crianças além de Jesus. (Ver Mateus, XIII, 55, 56.)

Jesus tem os mesmos dons. (Ver os Evangelhos e o Testamento Apócrifo.) Passa sua vida com pecadores e publicanos. Expulsa igualmente os demônios. A única diferença notável entre os três é que Jesus é acusado de expulsar os demônios pelo poder de Belzebu, ao passo que os outros não. Jesus lava os pés de seus discípulos, morre, desce ao inferno, e sobe ao céu, depois de libertar os mortos.

Conta-se que Jesus esmagou a cabeça da Serpente, de acordo com a revelação original do Gênese. Também transforma meninos em cabritos e cabritos em meninos.

Jesus rebela-se contra a antiga lei judaica; denuncia os Escribas e Fariseus, e a sinagoga por hipocrisia e intolerância dogmática. Quebra o Sabbath, e desafia a Lei. É acusado pelos judeus de divulgar os segredos do Santuário. É condenado a morrer numa cruz (uma árvore). Dos poucos discípulos que havia convertido, um o trai, um o nega, e os outros desertam por fim, exceto João, o discípulo que ele amava. Jesus, Krishna e Buddha, os três salvadores, morrem sobre ou sob árvores, e estão relacionados com cruzes que simbolizam os tríplices poderes da criação.

RESULTADO

Em meados do século XVIII, contavam essas três religiões com os seguintes números de seguidores:

DE KRISHNA
1º. Bramamistas: 60.000.000

DE BUDDHA
Budistas: 450.000.000

DE JESUS
Cristãos: 260.000.000 (Seg. Max Miller)
Tal é o estado atual dessa três grandes religiões. Cada uma das quais se reflete por sua vez em sua sucessora. Tivéssemos os dogmatizadores cristãos parado aqui, os resultados não teriam sido tão desastrosos, pois teria sido difícil, de fato, fazer um mau credo dos sublimes ensinamentos de Gautama, ou de Krishna, como Bhagavat. Mas eles foram adiante, e acrescentaram ao puro Cristianismo primitivo as fábulas de Hércules, Orfeu e Baco. Assim como os muçulmanos não admitem que seu Corão se baseia no substrato da Bíblia judaica, não confessam os cristãos que devem quase tudo às religiões hindus. Mas os hindus têm a cronologia para prová-lo. Vemos os melhores e mais eruditos de nossos lutando inutilmente por mostrar que as extraordinárias semelhanças – no que se refere à identidade – entre Krishna e Cristo se devem aos espúrios Evangelhos da Infância e do de Santo Tomás, que teriam “provavelmente circulado na costa do Malabar, e dado cor à história de Krishna”. Por que não aceitar a verdade, e, invertendo o problema, admitir que Santo Tomás, fiel à política de proselitismo que caracterizou os cristãos primitivos, ao encontrar no Malabar o original do Cristo mítico em Krishna, tentou reunir os dois; e, adotando em seu evangelho (do qual todos os demais foram copiados) os detalhes mais importantes da história do Avatâra hindu, enxertou a heresia cristã na religião primitiva de Krishna. Para quem estiver familiarizado com o espírito do Bramanismo, a idéia de os brâmanes aceitarem qualquer coisa de um estrangeiro é simplesmente ridícula. Que eles, o povo mais fanático no que respeita aos assuntos religiosos, que, durante séculos, não pôde ser compelido a adotar o mais simples dos costumes europeus, sejam suspeitos de ter introduzido em seus livros sagrados lendas não averiguadas sobre um Deus estrangeiro, eis algo tão absurdamente ilógico que é realmente uma perda de tempo tentar contraditar a idéia!

O NOVO TESTAMENTO CONTÉM CITAÇÕES DO LIVRO DOS MORTOS.

O próprio Novo Testamento formiga de citações e repetições do Livro dos mortos, e Jesus, se tudo o que seus quatro biógrafos lhe atribuem for verdadeiro – deve ter tido conhecimento dos Hinos Funerários egípcios. No Evangelho Segundo São Mateus descobrimos sentenças inteiras extraídas do Ritual antigo e sagrado que precedem a nossa era por mais de 4.000 anos.

Na parábola do Reino dos Céus (Mateus, XXV, 34-6), o Filho do Homem (Osíris é também chamado de Filho) senta-se no trono de sua glória, julgando as nações e diz aos justos: “Vinde, benditos de meu Pai, [o Deus], herdeiros do reino (…) Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber (…) estive nu e me vestistes”. E para completar à semelhança (Mateus, III, 12): João descreve Cristo como Osíris, “cuja pá (vannus) está em sua mão”, e que “vai limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro”.

Ocorre o mesmo em relação às lendas budistas. Em Mateus, IV, 19, diz Jesus: “Segui-me e eu vos farei pescadores de homens”, referindo-se a passagem a um diálogo entre ele e Simão Pedro e André, seu irmão.

Em Der Weise und der Thor, de Schmidt, uma obra cheia de anedotas sobre Buddha e seus discípulos, extraídas todas dos textos originais, fala-se de um novo convertido à fé, que “havia sido apanhado pelo anzol da doutrina, como um peixe, que se pesca com a linha e a rede”. Nos templos do Sião, a imagem do esperado Buddha, o Messias Maitreya, é representada com a rede de um pescador nas mãos, ao passo que no Tibete ele segura uma espécie de armadilha. A explicação para isso é a seguinte: “Ele [Buddha] esparge sobre o Oceano do nascimento e da morte a flor de Lótus da excelente lei como uma isca; com o laço da devoção, nunca arremessado em vão, ele pesca os seres vivos como peixes, e os leva ao outro lado do rio, onde está o verdadeiro saber”.

REFERÊNCIAS SOBRE O SANTO SUDÁRIO.

Se entre os muitos feitos do Bispo de Cesaréia devemos incluir o conhecimento do cingalês, do pehlevi, do tibetano e de outros idiomas, não o sabemos; mas ele certamente transcreveu as cartas de Jesus e Abgarus, e a história do miraculoso retrato de Cristo impresso numa peça de roupa pelo suor de sua face, do Cânone budista. Na verdade, o bispo declarou que descobriu a carta escrita em siríaco, preservada entre os registros da cidade de Edssa, onde Abgarus reinou. Lembramos as palavras de Babrias: “O mito, ó filho do Rei Alexandre, é uma antiga invenção humana dos sírios, que viviam nos tempos antigos sob Ninus e Belus”. Edessa era uma das antigas “cidades sagradas”. Os árabes a veneram até hoje; e nela se fala o mais puro árabe. Eles a chamam ainda por seu antigo nome, Orfa, outrora a cidade Arpha-Kasda (Arphaxard), a sede de um Colégio de caldeus e magos, cujos missionários, chamados de Orpheus, daí trouxeram os Mistérios báquicos à Trácia. Muito naturalmente, Eusébio aí encontrou os contos que ele transformou na história de Abgarus, e a imagem sagrada impressa num tecido; pois a de Bhagavat, ou o abençoado Tathâgata (Buddha) foi obtida pelo Rei Bimbisâra. Comparada pelo Rei, Bhagavat projetou sua sombra nela. Esse pedaço de “miraculoso tecido”, com sua sombra, ainda está preservado, dizem os budistas; “só a sombra é raramente vista”.

A LENDA DE AMANDA, E O EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO.

De igual maneira, o autor gnóstico do Evangelho segundo, São João, copiou e metamorfoseou a lenda de Ânanda que pediu de beber a uma mulher Mâtamgî – o anti-tipo da mulher encontrada por Jesus no poço -, e a quem disse ela que, por pertencer a uma casta inferior, nada podia fazer por um santo monge. “Eu não te perguntei, minha irmã”, responde Ânanda à mulher, “qual a tua casta ou tua família, eu apenas te peço água, se puderes me dar alguma.” Essa mulher Mâtamgî, encantada e comovida até as lágrimas, arrepende-se, ingressa na Ordem monástica de Gautama, e torna-se uma santa, resgatada de uma vida de lascívia por Sâkya-muni. Muitas de suas ações posteriores foram utilizadas pelos forjadores cristãos para caracterizar Maria Madalena e outras santas e mártires.

“E quem der, nem que seja um copo de água fria a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo que não perderá sua recompensa”, diz o Evangelho (Mateus, X, 42). “Quem, com um puro coração, oferecer mesmo que seja um pouco de água, ou ofertar tanto à assembléia espiritual, ou der de beber ao pobre e ao necessitado, ou a um animal do campo, essa ação meritória não se perderá por muitos séculos”, diz o Cânone budista.

Na hora do nascimento de Gautama Buddha, realizaram-se 32 prodígios. As nuvens ficaram imóveis no céu, as águas dos rios pararam de correr, as flores cessaram de germinar, os pássaros ficaram silentes e cheios de maravilha; toda a natureza ficou suspensa em seu curso, e plena de expectativa. “Uma luz sobrenatural se difundiu por todo o mundo; os animais pararam de comer; os cegos passaram a enxergar; os coxos e os mudos foram curados”, etc.

Citemos agora o Protevangelion:

“Na hora da Natividade, quando José olhou para o ar, Eu vi [diz ele] as nuvens espantadas, e as aves do ar parando em meio ao seu vôo (…) E vi as ovelhas dispersas, mas todas em silêncio (…) e vi o rio, e observei as novilhas com suas bocas perto da água, e tocando-a, mas sem a beber.

 

“Então, uma nuvem brilhante ofuscou a caverna (…) Mas, de súbito, a nuvem transformou-se numa grande luz na caverna, de modo que seus olhos não puderam suporta-la (…) A mão de Salomé, que estava murcha, foi imediatamente curada (…) Os cegos enxergaram; os coxos e os mudos foram curados.”

 

Quando foi à escola, o jovem Gautama, sem jamais ter estudado, superou completamente todos os seus competidores, não apenas na escrita, mas na Aritmética, na Matemática, na Metafísica, na luta, na arte do arco, na Astronomia, na Geometria, e finalmente venceu os seus próprios professores dando a definição das sessenta e quatro virtudes, que eram desconhecidas dos próprios mestres.

 

E eis o que diz novamente o Evangelho da Infância: “E quando ele [Jesus] tinha doze anos (…) um certo Rabino importante lhe perguntou, `Lestes livros?’ (…) e um certo astrônomo (…) perguntou ao Senhor Jesus se havia estudado Astronomia. E o Senhor Jesus lhe explicou (…) sobre as esferas (…) sobre a Física e a Metafísica. E também sobre coisas que a razão do homem jamais havia descoberto (…) A constituição do corpo, como a alma operava sobre o corpo, etc. (…) E o mestre ficou tão surpreso que disse: Creio que esse rapaz nasceu antes de Noé (…) ele é mais sábio do que todos os mestres!”

 

Os preceitos de Hillel, que morreu quarenta anos antes do nascimento de Cristo, aparecem antes como citações, do que expressões originais, no Sermão da Montanha. Jesus nada ensinou ao mundo que não tivesse sido convenientemente ensinado antes por outros instrutores. Ele começa seu sermão com certos preceitos puramente budistas que haviam encontrado aceitação entre os essênios, e eram geralmente praticados pelos Orphikoi e pelos neoplatônicos. Havia os filelenos, que, como Apolônio, devotavam suas vidas à pureza moral e física, e que praticavam o ascetismo. Jesus tenta inculcar em sua audiência o desprezo pelas riquezas do mundo; uma indiferença de faquir pelo dia seguinte; amor pela Humanidade, pobreza e castidade. Abençoa o pobre de espírito, o humilde, os que têm fome e sede de justiça, o misericordioso e os mansos, e, como Buddha, deixa uma pobre esperança para as castas orgulhosas no que se refere a seu ingresso no reino do céu. Todas as palavras desse sermão ecoam os princípios essenciais do budismo monástico. Os dez mandamentos de Buddha, que se acham num apêndice ao Pratimoksha-Sûtra (texto-burmês), são elaborados em toda a sua extensão em Mateus. Se desejamos conhecer o Jesus histórico, temos de pôr o Cristo mítico inteiramente de lado, e aprender tudo o que pudermos sobre o homem no primeiro Evangelho. Suas doutrinas, suas concepções religiosas, e suas maiores aspirações se acham concentradas em seu sermão.

A FILOSOFIA DO BUDISMO IGNORA IMAGENS E FETICHES.

A filosofia do Budismo ignora imagens e fetiches. Sua enorme vitalidade repousa em suas concepções psicológicas do eu interior do homem. O Caminho para o estado supremo da felicidade, chamado de Passagem parta o Nirvana, abre suas trilhas através da vida espiritual, e não física, de uma pessoa, enquanto ela está nesta terra. A literatura budista sagrada aponta o caminho, estimulando o homem a seguir praticamente o exemplo de Gautama. Por conseguinte, os escritos budistas abrem uma corrente particular nos privilégios espirituais do homem, aconselhando-o a cultivar seus poderes para a produção de meipo (fenômeno) durante a vida, e para a obtenção do Nirvana no futuro.

Mas, voltando das narrativas históricas para as míticas, inventada igualmente sobre Krishna, Buddha e Cristo, encontramos o seguinte:

Apresentando um modelo para o avatâra cristão e para o arcanjo Gabriel, o luminoso Santushita (Bodhisattva) apareceu a Mahâ-mâyâ “como uma nuvens ao luar, oriundo do norte, e tendo em suas mãos um lótus branco”. Ele lhe anunciou o nascimento de seu filho, volteando o leito da rainha por três vezes,” (…) passou do deva-loka e foi concebido no mundo dos homens”. A semelhança ficará ainda mais perfeita se examinarmos as ilustrações dos saltérios medievais, e os afrescos do século XVI (na Igreja de Jouy, por exemplo, na qual a Virgem é representada de joelhos, com as mãos erguidas para o Espírito Santo, e a criança por nascer miraculosamente através de seu corpo), pois descobriremos o mesmo tema tratado de modo idêntico nas esculturas de certos conventos no Tibete. Nos Anis Páli-Budistas, e em outros registros religiosos, afirma-se que Mâyâdevî e todas as suas servas eram constantemente gratificadas com a visão do Bodhisattva desenvolvendo-se quietamente no útero da mãe, e já esparguindo, de seu local de geração, sobre a Humanidade, “o resplandente luar de sua futura benevolência”.

Ânanda, o primo e futuro discípulo de Sâkyamuni, é representado como se tivesse nascido ao mesmo tempo. Esse parece ter sido o original das antigas lendas sobre João Batista. Por exemplo, a narrativa páli relata que Maha-mâyâ, estando grávida do sábio, fez uma visita à mãe deste, como Maria o fez à mãe de Batista. Assim que ela entrou no aposento, o futuro Ânanda saudou o futuro Buddha-Siddhârtha, que respondeu à saudação; e de igual maneira o futuro João Batista pulou no útero de Isabel, assim que Maria entrou. E mais: Didron descreve uma cena de saudação, pintada nos postigos em Lyons, entre Isabel e Maria, na qual as duas crianças por nascer, ambas desenhadas fora das mães, se saúdam mutuamente.

Se retornarmos a Krishna e compararmos atentamente as profecias a ele relacionadas, recolhidas nas tradições ramatsariarianas do Atharva, dos Vedângas e dos Vedântas, com passagens da Bíblia e dos Evangelhos apócrifos, alguns dos quais pressagiam talvez a vinda de Cristo, descobriremos fatos muito curiosos. Eis alguns exemplos:

COMPARAÇÕES ENTRE LIVROS HINDUS E LIVROS CRISTÃOS.

DOS LIVROS HINDUS

1. “Ele (o Redentor) virá coroado de luzes , saindo o puro fluido da grande alma (…) e dispersando as trevas” (Atharva).

2. “Na início do Kali-Yuga nascerá o filho da Virgem” (Vedânta).

3. “O Redentor virá, e os malditos Râkshasas procurarão refúgio no inferno mais profundo” (Atharva).

4. “Ele virá, e a vida desafiará a morte (…) e ele reviverá o sangue de todos os seres, regenerará todos os corpos e purificará as almas”.

5. “Ele virá, e todos os seres animados, todas as flores, plantas, homens, mulheres, crianças, escravos (…) entoarão juntos o canto de alegria, pois ele é o Senhor de todas as criaturas (…) ele é infinito, pois é poder, pois é sabedoria, pois é beleza, pois é tudo e está em tudo.

6. “Ele virá, mais doce do que o mel e a ambrosia, mais puro do que o cordeiro sem mácula” (Ibid).

7. “Feliz o ventre abençoado que o conceberá” (Ibid.).

8. “Pois Deus manifestará Sua glória, e proclamará Seu poder, e Se reconciliará com Suas criaturas” (Ibid.).

9. “É no ventre de uma mulher que o raio do esplendor divino receberá uma forma humana, e ela conceberá sendo virgem, pois nenhum contato a maculará” (Vedângas).

DOS LIVROS CRISTÃOS

1. “O Povo da Galiléia, que jazia nas trevas, viu uma grande luz”(Mateus, IV, 16, de Isaías, IX,1, 2).

2. “Eis que a jovem conceberá e dará à luz um filho”(Isaías, VII, 14, citado em Mateus, I, 23).

3. “E eis que Jesus de Nazaré, com o brilho de sua gloriosa divindade, expulsou os terríveis poderes das trevas e da morte” (Nicodemos, XVII, 3).

4. “Eu lhe dou a vida eterna e elas jamais perecerão” (João, X, 28).

5. “Regozijai,. filha de Sião! grita de alegria, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti: ele é justo (…) Que riqueza! Que beleza a sua! O trigo fará crescer os jovens, e o mosto as virgens”. (Zacarias, IX, 9, 17).

6. “Eis o cordeiro de Deus” ( João, I 36). “Como um cordeiro, é conduzido ao matadouro”. (Isaias, LIII, 7).

7. “Bendita és tu dentre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lucas, I, 42); “Feliz o ventre que te gerou”(XI. 27).

8. Jesus “manifestou Sua glória” (João, II, 11). “Pois era Deus que em Cristo reconciliava o mundo consigo”(2 Coríntios, V, 19).

9. “Por ser caso sem paralelos, sem qualquer polução ou profanação, uma virgem que não conheceu a nenhum homem conceberá um filho, e uma donzela conceberá o Senhor” (Evangelho do Nascimento de  Maria, III,5).

O ATHARVA-VEDA E SUA ANTIGÜIDADE.

Por muito que se exagere ou não a antigüidade do Atharva-Veda e dos outros livros, permanece o fato de que essas profecias e a sua realização antecedem ao Cristianismo, e que Krishna precede a Cristo. Isso é tudo que precisamos investigar.

Fica-se muito surpreendido ao se ler a obra Monumental Crhistianity. Seria difícil dizer se é mais forte a admiração pela erudição do autor, ou se o espanto em face de sua argumentação serena e inigualável. Ele reuniu um mundo de fatos que provam que as religiões, muito mais antigas do que o Cristianismo, de Krishna, Buddha e Osíris anteciparam até mesmo os símbolos mais insignificantes daqueles. Seus materiais provêm não de papiros forjados, nem de Evangelhos, interpolados, mas de esculturas nas paredes dos templos antigos, de monumentos, inscrições e outras relíquias arcaicas, apenas mutiladas pelos martelos dos iconoclatas, o cânone dos fanáticos, e os efeitos do tempo. Ele nos mostra Krishna e Apolo como bons pastores; Krishna segurando o ânkh cruciforme e o chakra, e Krishna “crucificado no espaço”, segundo suas expressão. Sobre essa figura – emprestada pelo Sr. Lundy de Hindoo Pantheon, de Moor -, pode-se dizer que ela é capaz de petrificar uma cristão de espanto, pois que se trata do Cristo crucificado da arte romana no mais alto grau de semelhança. Não falta uma única característica; e afirma o autor: [essa] imagem, eu a creio anterior ao Cristianismo (…) Ela se assemelha a um crucifixo cristão em muitos respeitos (…) O desenho, a atitude, e as marcas dos cravos nas mãos e nos pés indicam uma origem cristã, ao passo que a coroa parta de sete pontas, a ausência do bastão e da inscrição usual, e os raios de glória acima, parecem indicar uma origem diferente da cristã. Seria talvez o Homem-Vítima, ou o Sacerdote e a Vítima reunidos numa única pessoa, na mitologia hindu, que se ofereceu a si mesmo como sacrifício antes da criação dos mundos? Seria talvez o segundo Deus de Platão que se imprimiu no universo na forma da cruz? Ou seria esse homem divino que foi açoitado, torturado, agrilhoado, que teve os olhos arrancados, e que por fim (…) foi crucificado?” É tudo isso e muito mais. A Filosofia Religiosa Arcaica era universal.

Seja como for, o Dr. Lundy contradiz a Moor, e afirma que essa figura é a de Vithobâ, um dos avatâras de Vishnu, portanto de Krishna, e anterior ao Cristianismo, o que não é um fato fácil de refutar. E embora acredite que tal imagem antecipe o Cristianismo, ele pensa que ela não tem qualquer relação com Cristo! Sua única razão é que “num crucifixo cristão a glória sempre vêm da cabeça sagrada; aqui ela vem de cima, e detrás (…) O Vithobâ dos pânditas, dado a Moor, parece ser o Krishna crucificado, o deus pastor de Mathurâ (…) um Salvador – o Senhor da aliança, assim como Senhor do céu e da Terra – puro e impuro, luz e treva, bom e mau, pacífico e belicoso, amistoso e colérico, manso e turbulento, misericordioso e vingativo, Deus e uma estranha mistura de homem, mas não o Cristo dos Evangelhos”.

Ora, todas essas qualidades pertencem tanto a Jesus como a Krishna. O próprio fato de que Jesus foi um homem pelo lado da mãe – embora fosse um Deus – é igualmente corroborativo. Sua atitude para com a figueira e as suas contradições, em Mateus, onde por um lado promete paz na Terra e por outro a espada, etc., são provas a esse respeito. Sem dúvida alguma, essa imagem jamais pretendeu representar Jesus de Nazaré. Ela era a de Vithobâ, como informaram a Moor, e como, além disso, afirmam as Escrituras Sagradas hindus, Brahmâ, o sacrificador que é “ao mesmo tempo sacrificador e vítima”; ele é Brahmâ, vítima em Seu Filho Krishna, que veio para morrer na terra por nossa salvação, que realiza Ele mesmo o sacrifício solene [do Sarvamedha].” No entanto, é tanto o homem Jesus como o homem Krishna, pois ambos estavam unidos aos seus Cristos.

Temos assim que, o admitir as “encarnações” periódicas, ou deixar passar o Cristianismo como a maior impostura e o maior plágio de todos os séculos!

Quanto às Escrituras judaicas, apenas homens como o jesuíta de Carrière, um conveniente representante da maioria do clero católico, pode ainda ordenar a seus seguidores que aceitam apenas a cronologia estabelecida pelo Espírito Santo. É com base na autoridade deste último que ficamos sabendo que Jacó foi, com uma família de setenta pessoas, no total, fixar-se no Egito no ano de 2.298, e que em 2.513 – apenas 215 anos depois – essas setenta pessoas haviam aumentado tanto, que deixaram o Egito 600.000 fortes homens, aptos à guerra, “sem contar as mulheres e as crianças”, o que, de acordo com a ciência da estatística, representa uma população total de dois a três milhões!! A história natural não registra nenhum paralelo de tal fecundidade, exceto nos arenques vermelhos. Depois disso, que riam os missionários cristãos, se puderem, da cronologia e dos cálculos hindus.

“Felizes são as pessoas, embora não as invejamos”, exclama Busen, “que não se vexam de fazer Moisés marchar com mais de dois milhões de pessoas ao término de uma conspiração popular, nos alegres dias da 18° Dinastia; que fazem os israelitas conquistar Canaã sob Josué, durante, ou antes, das mais formidáveis campanhas dos faraós conquistadores nesse mesmo país. Os anais egípcios e assírios, combinados com a crítica histórica da Bíblia, provam que o êxodo só poderia ter ocorrido sob o reinado de Menephthah, de modo que Josué não poderia ter cruzado o Jordão antes da Páscoa de 1.280, tendo ocorrido a última campanha de Ramsés III, na Palestina, em 1.281.”

NARRATIVAS DE BUDDHA.

Retomemos, porém, o fio de nossa narrativa com Buddha.

Nem ele, nem Jesus jamais escreveram uma única palavra de suas doutrinas. Devemos tomar os ensinamentos dos mestres segundo o testemunho dos discípulos, e tomos portanto, o direito de julgar ambas as doutrinas de acordo como seu valor intrínseco. Onde mais repousa o peso da lógica constata-lo nos resultados dos freqüentes encontros entre os missionários cristãos e os teólogos budistas (punghi). Estes últimos sempre levaram a melhor sobre os seus oponentes. Por outro lado, o “Lama de Jeová” raramente consegue dominar seu temperamento, para grande deleite do Lama de Buddha, e demonstra praticamente sua religião de paciEncia, misericórdia e caridade insultando seus adversários com a linguagem menos canônica que se pode imaginar. Testemunhamo-lo repetidas vezes.

A despeito da notável semelhança entre os ensinamentos diretos de Gautama e Jesus, observamos que os seus respectivos seguidores partem de dois pontos de vista diametralmente opostos. O sacerdote budista, seguindo literalmente a doutrina ética de seu mestre, permanece assim fiel ao legado de Gautama, ao passo que o ministro cristão, destorcendo os preceitos registrados pelos quatro Evangelhos, ensina, não o que Jesus ensinou, mas as interpretações absurdas, e amiúde perniciosas, de homens falíveis – Papas, Luteros e Calvinos incluídos. Aqui estão dois exemplos selecionados de ambas as religiões. Deixamos ao leitor a tarefa de julgá-los:

“Não acrediteis em alguma coisa porque muitos falam dela”, diz Buddha; “não penseis que isso é uma prova de sua verdade.

“Não acrediteis meramente porque a afirmação escrita de algum antigo sábio o disse; nunca estareis certos de que o escrito não foi revisado pelo dito sábio, ou de que se possa nele confiar. Não acredites em vossas fantasias, pensando que, por ser extraordinária uma idéia, ela deve ter sido inculcada por um Deva, ou por algum ser maravilhoso.

“Não acrediteis em conjecturas, isto é, escolhendo algo ao acaso como um ponto de partida, e dele tirando conclusões. Antes de contar o dois, o três, e o quarto, tende bem fixo para vós o número um (…)

“Não acrediteis meramente com base na autoridade de vossos mestres, nem acrediteis e pratiqueis simplesmente porque eles acreditaram e praticaram.

“Eu [Buddha] vos digo, deveis saber por vós mesmos que ‘isto é mau, isto é punível, isto é censurado pelos sábios, a crença nisto não trará vantagens a ninguém, mas causará infelicidade’. E quando souberes isto, evitai-o.”

O CULTO DAS PALAVRAS, E O CULTO DAS IMAGENS, SUAS RELAÇÕES E CONSEQÜÊNCIAS.

“O culto das palavras é mais pernicioso do que o culta das imagens”, assinala Robert Dale Owen. “A gramatolatria é a pior espécie de idolatria. Chegamos a uma era em que o literalismo está destruindo a fé (…) A letra mata.

“Não há um dogma da Igreja ao qual essas palavras possam ser mais bem aplicadas do que à doutrina da transubstanciação. “Quem come a minha carne e bebê o meu sangue tem a vida eterna”, diz Cristo. “Dura é essa palavra”, repetiram seus consternados ouvintes. A resposta foi a de um iniciado. “Isto vos ofende? …)

É o Espírito que vivifica; a carne para nada serve. As palavras [rêmata, ou ditos arcanos] que vos disse são espírito e Vida.”[João, Vi, 54, 61, 63.]

A REPRESENTAÇÃO DO VINHO NOS MISTÉRIOS DO DEUS BACO.

Durante os mistérios, o vinho representava Baco, e o pão, Ceres. O iniciador-hierofante apresentava simbolicamente, antes da revelação final, vinho e pão ao candidato que tinha de comer e beber de ambos, em sinal de que o espírito viria vivificar a matéria, i.e., a sabedoria divina iria entrar em seu corpo através do que lhe seria revelado. Jesus, em sua fraseologia oriental, assimilava-se constantemente ao verdadeiro vinho (João, XV, 1). Além disso, o hierofante, o revelador do Petroma, era chamado de “Pais”. Quando Jesus diz, “Bebei (…) este é o meu sangue”, tinha ele em mente apenas uma comparação metafórica de si mesmo com a vinha, que produz a uva, cujo suco é seu sangue – vinho. Era essa uma indicação de que, tendo ele sido iniciado pelo “Pai”, desejava também iniciar os outros. Seu “Pai” era o agricultor, ele a vinha, seus discípulos os ramos. Seus seguidores, por ignorarem a terminologia dos Mistérios, ficaram surpresos; eles tornaram suas palavras como uma ofensa, o que é de surpreender, considerando a proibição mosaica do sangue.

Há vários indícios, nos quatro evangelhos, para indicar qual era a esperança secreta e mais ardente de Jesus, com a qual comeu a ensinar e com a qual morreu. Em seu imenso e desprendido amor pela Humanidade, ele considerou injusto priva-la dos resultados do conhecimento adquirido por uns poucos. Esse resultado, ele o prega coerentemente – a unidade de um Deus espiritual, cujo templo está dentro de cada um de nós, e em quem vivemos assim como Ele vive em nós – em espírito. Esse conhecimento estava nas mãos dos adeptos judeus da escola de Hillel e dos cabalistas. Mas os “escribas”, ou legisladores, tendo mergulhado gradualmente no dogmatismo da letra morta, há muito haviam se separado dos Tannaim, os verdadeiros mestres espirituais; e os cabalistas práticos eram mais ou menos perseguidos pela Sinagoga. Eis por que Jesus exclama : “Ai de vós, legisladores, pois tomastes as chaves do conhecimento à Gnose: Vós mesmos não entrastes, e impedistes os que queriam entrar” (Lucas, XI,52). O sentido aqui é claro. Eles tomaram a chave, e não puderam tirar proveito dela, pois a Masorah (traição) se havia tornado um livro fechado, tanto para eles como para outros.

OS MISTÉRIOS DA RELIGIÃO BRAMÂNICA.

Os maiores mistérios da religião bramânica estão abarcados nesse magnífico poema, o Bhagavad-Gîtâ; e mesmo os budistas o reconhecem, explicando certas dificuldades dogmáticas à sua própria maneira. “Sê desprendido; subjuga teus sentidos e tuas paixões, que obscurecem a razão e conduzem à ilusão”, diz Krishna a seu discípulo Arjuna, enunciando assim um princípio puramente budista. “Os pequenos homens seguem os exemplos, os grandes os dão (…) a alma deve libertar-se dos vínculos da ação, e agir absolutamente de acordo com a sua origem divina. Só há um Deus, e todas as outras devatâs são inferiores, e meras formas, poderes de Brahmâ ou de mim mesmo. A adoração por feitos predomina sobre a da contemplação.”

Essa doutrina coincide perfeitamente com a de Jesus. Só a fé, que não é acompanhada de “obras”, é reduzida a zero na Bhagavad-Gîtâ. Quanto ao Atharva-Veda, ele foi e ainda é preservado em tal segredo pelos brâmanes que constitui assunto de dúvida saber se os orientalistas têm uma cópia completa dele. Quem quer que tenha lido o que o Abade J. A Dubois diz sobre o assunto poderá duvidar do fato. “Das últimas espécies” – o Atharva – “há pouquíssimas”, diz ele, ao escrever os Vedas, “e muitas pessoas supõem que ele não existe mais. Mas a verdade é que ainda existem, sim, mas ocultas com mais cuidados do que outros, por medo de serem tomados como iniciados nos mistérios mágicos e outros terríveis segredos que segundo se acredita esta obra ensina”.

SEGREDOS MÁGICOS, CONTIDOS NOS VEDAS. – A TRANSFERÊNCIA VOLUNTÁRIA DE VIDA DO HIEROFANTE AO CANDIDATO.

Mesmo entre os epoptai superiores dos mistérios maiores havia aqueles que nada sabiam do último e terrível rito – a transferência voluntária de vida do hierofante ao candidato. Em Ghost-Land, essa operação mística da transferência do adepto de sua entidade espiritual, após a morte de seu corpo, no jovem que ele ama como todo amor ardente de um pai espiritual, é descrita soberjamente. Como no caso da reencarnação dos lamas do Tibete, um adepto da ordem superior pode viver indefinidamente. Sua casca mortal se desgasta, não obstante certos segredos alquímicos que prolongam o vigor juvenil muito além dos limites usuais, embora o corpo raramente possa manter-se vivo além de dez ou doze anos. O velhos envoltório é então esgotado, e o Ego espiritual forçado a deixa-lo, escolhe para sua morada um novo corpo, fresco e cheio do sadio princípio vital. Caso o leitor se sinta inclinado a ridicularizar essa afirmação, sobre o possível prolongamento da vida humana, poderemos remetê-lo às estatísticas de vários países. O autor de um excelente artigo na Westminster Review de outubro de 1850, é responsável pela asserção de que na Inglaterra há o exemplo autêntico de um certo Thomas Jenkins, que morreu com a idade de 169 anos, e o de “Old Parr”, aos 152 anos (nascido em 1483 e morreu em 14 de novembro de 1635, Dict. of National Biography N. Org.); e na Rússia alguns camponeses são “conhecidos pelo fato de terem atingido 242 anos”. Há também casos de centenários registrados entre os índios peruanos. Estamos ciente de que vários autores desacreditaram recentemente essas pretensões quanto a uma extrema longevidade, mas, no entanto afirmamos nossa crença em sua verdade.

Verdadeiras ou falsas, há “superstições” entre os povos orientais com que nunca sonharam Edgar Alan Poe ou Hoffmann. E essas crenças estão no próprio sangue das nações em que tiveram origem. Se cuidadosamente escoimadas dos exageros, descobriremos que elas encarnam uma crença universal nas almas astrais incansáveis e errantes chamadas de fantasmas e vampiros. Um Bispo armênio do século V, de nome Eznik, dá várias de tais narrativas numa obra manuscrita (Livro I, §20,30), preservada há cerca de trinta anos na biblioteca do Mosteiro de Etchmiadzin *. Entre outras, há uma tradição que data dos dias do paganismo, segundo a qual sempre que morre no campo de batalha um herói cuja vida ainda é necessária na terra, os aralezes, os deuses populares da antiga Armênia, fecham as feridas do cadáver e sopram nele até infundir-lhe nova e vigorosa vida física. Depois disso, o guerreiro se levanta, apaga todas os traços de suas feridas, e retoma seu lugar na luta. Mas seu espírito imortal parte; e para o resto de seus dias ele vive – como um templo deserto.

Uma vez iniciado o candidato no último e mais solene mistério da transferência de vida, o terrível sétimo rito da grande operação sacerdotal, que é a teurgia superior, não mais pertence ele a este mundo. Sua alma ficava então livre, e os sete pecados mortais que estavam à espera para devorar-lhe o coração, (pois a alma, liberada pela morte, estaria cruzando as sete câmaras e as sete escadas), não mais poderiam afligi-lo; ele havia passado pelos “catorze julgamento”, os doze trabalhos da hora final. (Livro dos mortos. Os hindus têm sete céus superiores e sete inferiores.).

Só o Sumo Hierofante sabia como realizar essa solene operação infundindo sua própria vida e sua alma astral no adepto escolhido por ele como seu sucessor, e que assim se tornava dotado de um vida dupla.

EXPLICAÇÕES SOBRE A PARÁBOLA DE JESUS “NASCER DE NOVO”.

“Em verdade, em verdade te digo, quem não nascer de novo não pode ver o reino de Deus” (João, III, 3). Disse Jesus a Nicodemos: “O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito”.

Essa alusão, tão ininteligível em si mesma, é explicada no Satapatha-Brâhmana. Ele ensina que um homem que se esforça pela perfeição espiritual deve ter três nascimentos: 1°, o físico, de seus pais mortais; 2°, o espiritual, através do sacrifício religioso (iniciação). 3°, seu nascimento final no mundo do espírito – na morte. Embora possa parecer estranho que devamos ir à antiga terra do Punjâb e às margens do Ganges sagrado em busca de um intérprete para as palavras ditas em Jerusalém expostas às margens do Jordão, o fato é evidente. Esse segundo nascimento, ou regeneração do espírito, após o nascimento natural do que é nascido da carne, pode ter espantado o legislador judeu. Não obstante, ele foi ensinado 3.000 anos antes do aparecimento do grande profeta Galileu, não apenas na Índia antiga, mas a todos os epoptai da iniciação pagã, que foram instruídos nos grandes mistérios da VIDA e da MORTE. Esse segredo dos segredos, segundo o qual a alma não esta soldada à carne, foi praticamente demonstrado no exemplo dos iogues, os seguidores de Kapila. Tendo emancipado suas almas dos grilhões da Prakriti, ou Mahat (a percepção física dos sentidos e da mente – numa palavra, criação), eles estão desenvolveram suas forças de alma e sua força de vontade, habilitando-se, assim, enquanto na terra, a comunicar-se com os mundos supernos e a realizar o que é erroneamente chamado de “milagres”. Homens cujos espíritos astrais atingiram na terra o naihsreyasa, ou a mukti, são semideus; espíritos desencarnados, eles alcançam Moksha ou Nirvana, e esse é o seu segundo nascimento espiritual.

 

Buddha ensina a doutrina de um novo ensinamento de modo tão claro quanto Jesus. Desejamos romper com os mistérios antigos, a cujo acesso as massas ignorantes não tinham direito, o reformador hindu, embora mantivesse um silêncio geral sobre mais de um dogma secreto, afirma claramente seu pensamento em várias passagens. Assim, diz ele: “Algumas pessoas nascem novamente; os pecadores vão ao Inferno; as pessoas virtuosas vão ao Céu; aqueles que estão livres de todos os desejos mundanos penetram no Nirvana”(Dhammapada, 126. Noutro lugar, Buddha afirma que é melhor acreditar numa vida futura, na qual se pode examinar a felicidade ou a miséria; pois se o coração acreditar nela, “ele abandonará o pecado e agirá virtuosamente; e mesmo se não houver ressurreição, uma tal vida terá um bom nome, e o respeito dos homens. Mas aqueles que acreditam na extinção após a morte não deixarão de cometer os pecados, porquanto nada esperam no futuro.

A EPÍSTOLA DOS HEBREUS TRATA DO SACRIFÍCIO DO SANGUE.

A Epístola dos Hebreus trata do sacrifício do sangue. “Onde existe um testamento”, diz o autor, “é necessária a morte do testador (…) Sem o derramamento de sangue não há remissão. E também: “Cristo não se atribui a glória de tornar-se sumo sacerdote; mas ele a recebeu daquele que lhe disse: Tu és o meu filho, HOJE EU TE GEREI (Hebreus, V, 5). Essa é uma clara inferência de que 1a., Jesus era considerado apenas à luz de um sumo sacerdote, como Melquisedeque – outro avatâra, ou encarnação de Cristo, de acordo com os Padres; e 2a., que o autor pensava que Jesus se havia tornado um “Filho de Deus” apenas no momento de sua iniciação pela água; portanto, que ele não havia nascido deus, nem havia sido fisicamente gerado por Ele. Todo iniciado da “última hora” se torna, pelo próprio fato de sua iniciação, um filho de Deus. Quando Máximo, o Efésio, iniciou o Imperador Juliano nos mistérios de Mithra, ele pronunciou, como fórmula usual do rito, o seguinte: “Por este sangue, eu te lavo de teus pecados. A Palavra do Supremo entrou em ti, e Seu Espírito doravante repousará sobre o RECÉM-NASCIDO do Deus Superior (…) Tu és o filho de Mithra”. “Tu és o `Filho de Deus'”, repetiram os discípulos após o batismo de Cristo. Quando Paulo sacudiu a víbora no fogo sem sofrer nenhum mal, o povo de Melita disse: “que ele era um deus” (Atos, XXVIII, 6). “Ele é o filho de Deus, o Belo!”, essa a fórmula utilizada pelos discípulos de Simão Mago, pois pensavam reconhecer nele o “grande pode de Deus”

O homem não pode ter nenhum deus que não esteja limitado por suas próprias concepções humanas. Quando mais amplo for o alcance de sua visão espiritual, mais poderosa será a sua divindade. Mas onde podemos encontrar uma melhor demonstração d’Ele do que no próprio homem; nos poderes espirituais e divinos que jazem adormecidos em todo ser humano? “A própria capacidade de imaginar a possibilidade de poderes taumatúrgicos é uma evidência de que eles existem”, diz o Dr. A. Wilder. “O crítico, assim como o cético, geralmente é inferior à pessoa ou assunto que está sob sua consideração, e, por conseguinte, dificilmente será uma testemunha competente. Se há falsificações, algo deve ter sido um original genuíno.”

O sangue gera fantasmas, e suas emanações fornecem a certos espíritos os materiais necessários para moldar suas aparições temporárias. “O sangue”, diz Lévi (Éliphas Levi), “é a primeira encarnação do fluido universal; é a luz vital materializada. Seu nascimento é a mais maravilhosa de todas as maravilhas da natureza; ele vive apenas se transforma perpetuamente, pois é o Proteu universal. O sangue provém de princípios em que nada havia dele antes, e torna-se carne, osso, unhas (…) lágrimas, e respiração: Não pode se aliar nem à corrupção, nem à morte; quando a vida de vai, ele começa a se decompor; se souberes como reanima-lo, infundir vida nele por uma nova magnetização de seus glóbulos, a vida retornará. A substância universal, com o seu duplo movimento, é o grande arcano do ser; o sangue é o grande arcano da vida”.

“O sangue”, diz o hindu Ramatsariar, “contém todos os misteriosos segredos da existência, pois nenhum ser vivo pode existir sem ele. É profanar a grande obra do Criador o ato de comer sangue.”

Por sua vez, Moisés, seguindo a lei universal e tradicional, proíbe comer o sangue.

Paracelso escreve que com os vapores do sangue é possível evocar qualquer espírito que desejamos ver; pois com suas emanações ele construirá uma figura, um corpo visível – apenas isso é feitiçaria. Os hierofantes de Baal faziam profundas incisões em seus corpos, gerando aparições abjetivas e tangíveis com seu próprio sangue. Os seguidores de uma certa seita na Pérsia, muitos dos quais podem ser encontrados nas colônias russas de Temir-Khân-Shura, e Derben, têm seus mistérios religiosos como o qual formam um largo círculo, e rodopiam à volta com uma dança frenética. Seus templos estão arruinados, e eles fazem o seu culto em grandes edificações provisórias, seguramente guardadas, e com o andar térreo profundamente fechado por areia. Todos vestem longos mantos, e suas cabeças descobertas e cuidadosamente raspadas. Armados de facas, eles logo atingem um estado de furiosa exaltação, e ferem a si mesmos e aos outros até que suas vestes e a areia do chão estejam coalhadas de sangue. Antes do término do “mistérios”, todo homem terá uma companhia, que rodopiará com ele. Às vezes, os dançarinos espectrais terão cabelos em suas cabeças, que os deixarão muito diferentes dos seus inconscientes criadores. Como prometemos solenemente jamais divulgar os principais detalhes dessa terrível cerimônia (que tivemos a permissão de presenciar por uma única vez), não insistiremos mais neste ponto.

HÁ TERRÍVEIS SEGREDOS NA NATUREZA.

Que á segredos terríveis na Natureza, eis algo em que podemos acreditar quando, como vimos no caso do zangar’ russo, o feiticeiro não pode morrer, enquanto não passar a palavra a outro, e os hierofantes da Magia Branca realmente o fazem. Parece que o poder terrível da “Palavra” sé poderia ser confiado a um homem de um certo distrito ou corpo de pessoas ao mesmo tempo. Quando o Brahmâtma estava prestes a deixar o fardo da existência física, ele comunicava seu segredo ao seu sucessor, seja oralmente, seja por meio de um escrito colocado numa caixa seguramente aferrolhada e ao alcance apenas do legatário. Moisés “depôs as mãos” sobre seu neófito, Josué, nas solidões de Nebo, e partiu. Aarão inicia Eleazar no Monte Hor, e morre. Siddhârta-Buddha promete a seus mendigos que antes da morte viverá naquele que o merecer, abraça seu discípulo favorito, murmura em seu ouvido, e morre; e assim que a cabeça de João repousa no regaço de Jesus, é informado de que ele deverá demorar até a sua volta. Tal como as fogueiras de comunicação dos tempos antigos, que, acesas e extintas alternadamente no topo das montanhas, transmitiam certas informações por um longo trecho do país, vemos assim uma longa linhagem de homens “sábios”, desde o início da história até os nossos tempos, comunicando a palavra da sabedoria aos seus sucessores diretos. Passando de profeta a profeta, a “Palavra” cintila como relâmpago, e, retirando embora para sempre o iniciador da visão humana, apresenta o novo iniciado. Entrementes, as nações se matam umas às outras em nome de outra “Palavra”, uma substância vazia aceita literalmente por cada um delas, e mal interpretada por todas!


O QUE CRISTO REPRESENTA PARA O APÓSTOLO PAULO.

Peguemos Paulo, leiamos as poucas partes originais que nos restam dos escritos atribuídos a esse homem bravo, honesto e sincero, e vejamos se alguém pode encontrar nelas uma palavra que seja para mostrar que Paulo considerava a palavra Cristo como algo mais do que o ideal abstrato da divindade pessoal que habita no homem. Para Paulo, Cristo não é uma pessoa, mas uma idéia encarnada. “Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura” ele renasce, como depois da iniciação, pois o Senhor é espírito – o espírito do homem. Paulo foi o único apóstolo que compreendeu as idéias secretas que subjazeiam aos ensinamentos de Jesus, Embora jamais o tenha encontrado pessoalmente. Mas Paulo se iniciou a si mesmo; e, decidido a inaugurar uma nova e ampla reforma, ele sinceramente elevou suas próprias doutrinas muito acima da sabedoria dos séculos, acima dos antigos Mistérios e da revelação final dos epoptai. Como comprova o Professor A. Wilder numa série de argutos artigos, não foi Jesus, mas Paulo o verdadeiro fundador do Cristianismo. “Foi em Antioquia que os discípulos receberam pela primeira vez o nome de cristãos, dizem os Atos dos Apóstolos, XI, 26. “Homens como Irineu, Epifânio e Eusébio transmitiram à posteridade a reputação de práticas inverídicas e desonestas; e o coração chora diante das histórias desse período”, escreve o autor, num artigo recente. “Seja lembrado”, acrescenta ele, “que quando os muçulmanos invadiram a Síria e a Ásia Menor pela primeira vez, foram vem recebidos pelos cristãos dessas regiões como libertadores da intolerável opressão das autoridades governantes da Igreja.”

O CRISTIANISMO DE PEDRO, FOI SUPERADO PELO DE PAULO.

“O Cristianismo de Pedro não existe mais; o de Paulo o suplantou, e foi por sua vez amalgamado com as outras religiões do mundo. Quando a Humanidade for iluminada, ou as raças e famílias bárbaras forem suplantadas por aqueles de natureza e instintos mais nobres, as excelências idéias poderão se tornar realidades.

“O `Cristo de Paulo’ constituiu um enigma que evocou os mais ingentes esforços no sentido de sua solução. Ele era algo diverso de Jesus dos Evangelhos. Paulo prescindiu completamente de suas `intermináveis genealogias’. O autor do quarto Evangelho, um gnóstico alexandrino, descreve Jesus como o que agora chamaríamos de um espírito divino `materializado’. Ele era o Logos, ou Primeira Emanação – o Metatron (…) A `mãe de Jesus’, como a Princesa Mâyâ, Danaé, ou talvez Periktione, deu nascimento, não a uma criança, mas a um rebento divino. Nenhum judeu de qualquer seita, nenhum apóstolo, nenhum crente primitivo, jamais promulgou tal idéia. Paulo trata de Cristo antes como uma personagem, do que como uma pessoa. As lições sagradas das assembléias secretas personificavam amiúde o bem divino e a verdade divina numa forma humana, assaltada pelas paixões e pelos apetites da Humanidade, mas superior a eles; e essa doutrina, emergindo da cripta, foi assimilada pelos ignorantes sacerdotes como a de uma concepção imaculada e uma encarnação divina.”

 

Isis Sem Véu – VOLUME IV – TEOLOGIA II

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