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Alta Magia

O Pré principio anterior ao inicio sem fim

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Era sábado, e como era de costume decidi ir até o Parque da Cidade estudar um pouco, meditar e se fosse o caso, praticar as Artes Augustas. Enquanto me aproximava do local onde sempre ficava, um chão coberto de folhas com um pequeno e lento riacho e próximo dele, uma árvore singular com um tronco largo muito baixo, que em aproximadamente noventa centímetros de altura dividia-se em dois e seguiam horizontalmente até que subiam e ramificavam-se. O espaço entre essa divisão é onde normalmente me sento e medito. Antes de chegar ao local fui tocado por um som encantador, era o som da flauta doce. Uma musica mágica entrava pelos meus ouvidos e embriagava meus sentidos, fazendo tudo parecer ainda mais belo. Orodreth sentava-se no chão em frente à dita árvore, enquanto tocava para esta rendendo-lhe graças. Para ele esta lembrava muito uma cabeça de homem, com grandes chifres de cervo brotando-lhe. Uma vez ou outra, podia-se encontrar este velho conhecido por ali.

– Lord Vincus: Boa tarde, velho amigo, é mesmo um belíssimo som que toca.

– Orodreth: Ora velho Vincus, não esperava encontra-lo hoje, ainda mais tão cedo. Toco aqui para essa representação do grande pai cornífero, um som que pelos deuses me fora ensinado.

– Lord Vincus: Com toda certeza, essa música possui algo de divino.

– Orodreth: Andei lendo alguns de seus textos; um deles, o da semana passada, intitulado o mago e a religião, no jornal O Bruxo, me chamou a atenção, quando você faz sérias afirmações sobre o divino, e o diz desnecessário. Poderia falar melhor sobre isso? Para mim não ficou tão claro.

– Lord Vincus: Pretendia dedicar este momento a mim, mas como tua dúvida é interessante, posso lhe explicar mais detalhadamente.

– Orodreth: Instrua-me primeiro sobre o divino.

– Lord Vincus: Aí está um assunto complexo, quase impossível de se tratar, mas esforçar-me-ei a fazer-te esse favor. Como um mero vivente perecível, evocarei aqueles sobre o qual irei tratar, pois como já dizia o hermetismo, apenas o semelhante reconhece o semelhante. […] E, na tentativa de ser um pouco próximo do eterno, chamo a plenos pulmões o grande Hermes, mensageiro dos deuses, que me tome por completo, e me conceda a capacidade de deliberar sobre o divino cuidando para que eu não venha a cometer nenhuma impiedade, me guiando com a mesma consideração com que guiara Asclépio. (Uma sensação de paixão despertou-se em mim, e pude perceber que o mesmo ocorrera a Orodreth, me sentei na árvore sagrada, e neste momento ela nada mais era que um trono).

– Orodreth: Vejo que lhe empolga tratar de tais assuntos…

– Lord Vincus: Cala-te Orodreth, pois irei começar, e tu deve ficar atento ao que vou te dizer, e se por ventura eu não for suficientemente claro, deve me pedir para ser mais limpo. – Orodreth: calo-me, e ouço-o com toda a atenção.

– Lord Vincus: Ora Orodreth, pensa que é necessário que tudo que existe tenha vindo de uma fonte única? Quero dizer, que mesmo apesar de tantos deuses, a princípio, um único ser começou toda a ordem de existência.

– Orodreth: Necessário efetivamente.

– Lord Vincus: E se ele era único, e a partir dele veio toda a existência, não seria necessário pensar que nada lhe era maior, e que o todo era ele e ele era tudo?

– Orodreth: Concordo.

– Lord Vincus: Mas como ser gerador, criador de todas as coisas, onde ele poderia criar se tudo que havia era ele? Ora, se houvesse um espaço além dele no qual ele estivesse contido, logo ele não poderia ser onipresente, nem o maior dos seres. E ainda mais, se houvesse um espaço que o contivesse, isso levaria a pensar que ele de fato não é o primeiro ser, e sim o espaço onde ele está.

– Orodreth: De fato não poderia.

– Lord Vincus: E por um acaso, não nos seria necessário pensar também que esse ser primeiro precisa ser eterno? Se o ser primeiro em algum momento não tivesse existido, como poderia existir agora, se nada havia que pudesse cria-lo? – E uma vez que não foi criado, nada há antes dele. Tudo que veio a ser veio a partir dele, e o ser primeiro não é passivo a nenhum outro ser, ou seja, é o mais potente, e até mesmo onipotente.

– Orodreth: Obviamente.

– Lord Vincus: Mas a partir de que substância este ser supremo poderia criar?

– Orodreth: De sua própria substância, ou seja, de uma parte sua.

– Lord Vincus: Quanta desatenção Orodreth, por acaso não ouviu o que falei? Como ele pode separar uma parte dele? Pois se separo algo, separo fora de seu espaço original, e não havia espaço fora para que uma parte pudesse ser separada e transformada.

– Orodreth: De uma parte sua, dentro de si mesmo Lord Vincus.

– Lord Vincus: Mas pensar isso, não deixaria a entender que o ser primeiro é mutável? E se ele é mutável, logo é imperfeito, pois a perfeição e a onipotência não podem ser passivas de mudança, melhor ainda, a onipotência não pode ser passiva de nada. – Orodreth: De acordo. Mas como ele fez então, para poder criar?

– Lord Vincus: Só vejo uma solução possível, e é em cima desta que pretendo me apoiar. Tudo que veio a ser a partir do todo, precisou antes ser pensado, e o ser pensado existe como pensamento do todo.

– Orodreth: Somos então meros pensamentos? Imaginações irreais?

– Lord Vincus: Vela pela tua língua, pois há grande realidade no pensamento, e é a partir dele que o mundo veio a ser, e é ainda a partir dele que podemos conhecer o mundo, e mais que isso, é a partir do pensamento que podemos, ao menos, aproximarmo-nos grosseiramente do conhecimento sobre o ser primeiro. Lembre-se do que eu disse, só o semelhante pode conhecer o semelhante, só podemos conhecer as coisas pelo pensamento, e ora, as coisas são formadas essencialmente pelo pensamento.

– Orodreth: Contra isso é realmente difícil fazer oposição.

– Lord Vincus: Ainda há um problema acerca disso, mas que o grande Hermes pôde facilmente resolver.

-Orodreth: Qual problema? Lord Vincus: O problema do movimento. Quando o Todo pensou todos os seres, seguiu uma ordem, imagino, na qual foi necessário que primeiramente engendrasse um ser que devesse ser superior a todos os outros, e este ser superior seria ao mesmo tempo uno e múltiplo.

-Orodreth: Não compreendo. Como poderia ser ao mesmo tempo uno e múltiplo? Lord Vincus: Ora, Orodreth, por acaso não observas nosso universo? Ele não é apenas um? Mas como nele existem enésimos seres individuais, e todos esses seres individuais são emanações daquilo que compõem, são também o universo; logo o universo é uno, pois é um só, e múltiplo pelas inúmeras formas individuais que ele é e que ele contém.

-Orodreth: Está claro, mas este ser superior aos seres individuais me parece ter algo de divino, de consciente.

-Lord Vincus: Não afirmarei nem que sim, nem que não, mas com certeza eficiente. Vejo que ainda é necessário discorrer sobre a natureza do Todo, para tornar mais claro o pensamento acerca do universo. Tudo que se move, oh Orodreth, não precisa necessariamente ser movido por alguma coisa?

Orodreth: Necessariamente.

-Lord Vincus: E este motor, não precisa ser superior ao móvel? -Orodreth: Precisa, com efeito. Se o móvel não for inferior, não haverá a passividade que permitirá que ele seja movido. -Lord Vincus: Mas se o móvel necessita de algo superior a ele para ser movido, o Todo não pode ser móvel, mas antes um motor imóvel, pois ele gera e move todas as coisas. E não deve mover a si mesmo, pois o movimento deve ser dado por algo superior, e não há nada superior à onipotência; logo seu poder é igual a si mesmo, e não maior. Logo, não deve mover com aquilo que move. Por isso também gerou por pensamento, dessa forma pôde gerar, sem mover-se. É necessário entender então como se dá o movimento das coisas. O primeiro ser desse motor primeiro foi o universo, um Nóus demiúrgico, o mais belo e bom dos seres engendrados. Ora Orodreth, o ser que se movimenta, como já foi dito, não pode ser perfeito pois é passivo a um outro ser, e não há nada acima da perfeição. Este ser que também é um motor, um motor móvel, movimenta em si mesmo toda a energia do pensamento, e cria segundo as formas pensadas pelo motor primeiro, todos os seres, em diferentes graus de mundo.

-Orodreth: Para mim ficam claro dois deuses, um deus perfeito e um deus imperfeito, se é que é possível haver um deus imperfeito. -Lord Vincus: Dependeria de como pensamos a divindade. Prefiro usar o conceito deste diálogo, que os deuses menores não são deuses, mas seres intelectuais superiores, pois são movidos pelo motor primeiro – logo imperfeitos. Assim concluo que pelo movimento, existe apenas um Deus, pois não é da natureza da divindade a imperfeição.

– Orodreth: Um deus único? Fala agora como um desses cristãos protestantes liberais, que ignoram todos os nossos deuses, digo – de nossos seres superiores, sé que posso chama-los de deuses, seguindo teu pensamento. Ora Vincus, está quase a me convencer. -Lord Vincus: Cristão? Por acaso não me ouviu dizer que Deus precisa ser perfeito? Por acaso nunca se pôs a ler o livro de Moisés? Aquele que os bajuladores chamam de Gênesis?

-Orodreth: Não, nunca o li.

-Lord Vincus: Imperdoável seu desinteresse, Orodreth, mas não me interessa. Nesse mesmo livro, o “deus” bíblico, arrepende-se após o dilúvio [Gênesis 6.6]. O que é o arrependimento se não a constatação de um erro, e o desejo de não ter errado? Como algo poderia ser mais imperfeito que isso? E quando este ira-se? Como a onipotência pode ser passiva de ira? Ou de qualquer outro sentimento? O motor primeiro não pode ser passivo a nada. Ele é causa sempre, não sente amor, é causa do amor, não sente fúria, mas é causa desta, não em si mesmo obviamente, pois, como ser perfeito é não passivo.

-Orodreth: O “deus” cristão, quando bem pensado sob seu ponto de vista, faz lembrar o Demiurgo.

-Lord Vincus: Totalmente plausível, mas isso implicaria retirar dele muito de seus títulos, seria impiedade com o pré-principio chamar o “deus” cristão perfeito e onipotente.

-Orodreth: Tu disseste também, que Deus é eterno, logo sempre existiu e vai existir sempre.

-Lord Vincus: Obviamente, nada há mais potente, que possa destruí-lo. -Orodreth: Bem, a cerca do divino, sinto-me satisfeito, mas todo esse diálogo me deixou curioso acerca da morte e da destruição. O demiurgo pode morrer? Quero dizer, ele irá acabar?

– Lord Vincus: Evitarei alongar-me falando da morte, pois sobre esta já discorri bastante em outro escrito.

– Orodreth: Sim, no diálogo acerca da morte e o mito do deus polvo.

-Lord Vincus: Correto, mas entendo necessário pincelar um pouco acerca da destruição. Nada que existe é destruído, já que a destruição significa transformar-se em nada, num zero absoluto. E como já foi dito, o nada não existe, pois se existisse precisaria existir antes de Deus, e se Deus é eterno o nada não pode existir. Outro detalhe meu caro: já concordamos que Deus criou tudo por pensamento, e logo, por pensamento podemos conhecer tudo, pois só o semelhante reconhece o semelhante. Mas observe que não podemos pensar o nada, este de fato só existe em nome, pois uma vez que não podemos pensa-lo, significa que de maneira alguma foi criado, e como nada, esse não poderia vir a ser alguma coisa, seria eterno, e o único eterno é o motor imóvel…

-Orodreth: Ainda não respondeu minha pergunta.

-Lord Vincus: Então mantenha os ouvidos atentos e mais abertos que a boca, pois ainda não terminei de falar. Com efeito, o Demiurgo é imortal, pois nada que existe pode deixar de existir; não confunda imortal com eterno, ambos são muito diferentes, tudo que é eterno é também imortal, mas nem tudo que é imortal é eterno, e eterno só é Deus.

-Orodreth: Poderia ser ainda mais claro. -Lord Vincus: Com certeza, observe que eterno é tudo aquilo que é sempre, e o imortal pode ter sido criado, como pelo pensamento, e uma vez feito não é destruído jamais, logo jamais morre.

-Orodreth: E o que ocorre, Lord Vincus? Lord Vincus: Estes são transformados.

-Lord Vincus: Para se bem entender acerca das transformações, necessito ser mais claro sobre o demiurgo e seu fim, pois tudo aquilo que é possui um fim. A princípio é necessário dizer que o fim de tudo é seguir o ser primeiro ao passo que o fim do ser primeiro é gerar e como motor promover o movimento.

-Orodreth: Então poderá haver outros motores imóveis?

-Lord Vincus: Óbvio que não, pois somos, todos os seres engendrados, diferentes de Deus. Ora, somos pensamento e Deus é a mente. Tendemos sempre à origem mas, como seres criados, iremos sempre nos corromper, nos transformar.

-Orodreth: Seja mais claro.

-Lord Vincus: Deus é o ser primeiro, o Demiurgo é o segundo e inferior a Deus, o ser humano é inferior ao Demiurgo, os animais ao ser humano e por aí se segue. Deus como ser perfeito é Bom, o Demiurgo como vem em segundo não é perfeito e logo não bom, ao passo que o ser humano é ainda, nesse sentido, duas vezes não bom. E para poder crescer e seguir sua natureza (ir em direção ao ser primeiro) precisa ser sempre purificado, e é essa purificação que os tolos chamam de morte. O Demiurgo, por ser movido, sofre alterações. Abaixo dele vive os astros que também sofrem e promovem alterações. Nos astros planetários existem os daemons que cuidam dos homens comuns e os elementais que promovem as alterações na natureza, todos esses sob o demiurgo. Eis que esses elementais e esses daemons são chamados deuses, mas não são perfeitos, e é impiedade chama-los assim.  Todos os seres, com efeito, podem e devem promover alterações, pois o superior sempre cuida do inferior, Deus cuida do Demiurgo, O Demiurgo dos astros, os astros dos entes supra sensíveis, os entes supra sensíveis dos homens e dos elementos, o homens dos animais, os animais de seus inferiores.

-Orodreth: Estou confuso, como se dá esse cuidado, os homens realmente cuidam dos animais e do meio, como você afirma que fazem?

-Lord Vincus: A grande maioria, os impiedosos, almas recém incorporadas em homens, acostumadas as bestas e de baixo intelecto não o fazem, pois ainda não acostumaram-se ao novo oficio, ou se renderam as paixões. Ao passo que esse problema não afeta somente os homens, mas os daemons e elementais, que podem negar seu oficio, fazê-lo mau ou pior, atentar contra o que deveriam cuidar. Pois muito pouco difere o homem comum daqueles chamados deuses. Um antigo sábio diria que os homens são deuses mortais e os deuses homens imortais. Sabemos que na verdade ambos são imortais, o que os difere de fato, o tempo que levam para serem transformados. Mas todos estão fadados à falsa morte, os homens piedosos são transformados em daemons, os impiedosos são transformados em homens novamente ou podem regressar até as bestas primitivas, a depender do nível de purificação que lhe seja necessário.

-Orodreth: E o que pode levar o homem a tão terrível fim?

-Lord Vincus: As paixões contam muito, como a glutonaria, mas o que realmente é perigoso aos homens, nos mais diversos níveis, e o não cumprimento do oficio.

-Orodreth: Explique melhor tal oficio. Lord Vincus: O oficio do homem e de qualquer outro ser é a felicidade, e esta no homem está ligada ao intelecto, no conhecimento dos seres, pois conhecendo aquilo que foi criado, pode-se aproximar-se do criador. Primeiro olhamos o que nos é passivo ou semelhante, até subirmos o posto, e olharmos de um ponto de vista melhor, aquilo que já fomos. Assim fazem os “deuses”.

-Orodreth: Então o que diz, é que se eu viver pleno de minha própria natureza, buscar sempre minha felicidade, estarei consequentemente cumprindo meu oficio e sendo feliz?

– Lord Vincus: Grosso modo você está certo

-Orodreth: Instrua-me sobre a natureza do homem.

-Lord Vincus: Me parece este, um assunto mais fácil, e por ser mais próximo, menos passível de erro. Primeiro é necessário recordar que o homem médio é um ser hibrido, é ao mesmo tempo composto de substancias sensíveis e supra sensíveis, e cada uma de suas partes possuem uma natureza própria e diferentes ofícios.  O corpo tende sempre a saúde e a beleza, isso o torna feliz, um corpo que vive de forma desregrada, onde sua aparência denuncia o descaso, e sua imagem diante de si mesmo não é agradável, tende a adoecer, e adoecendo, pode fechar aos os poucos o canal do intelecto impedindo que a alma, sua governante, tome seu devido poder sobre ele.

Ao passo que a alma,tende sempre ao conhecimento, apenas até onde o corpo permite, pois como não é da natureza corpórea o conhecimento dos seres ou do divino, a alma precisa estar livre do corpo ou momentaneamente separada, para vislumbrar verdades superiores. -Orodreth: E todos os homens são iguais?

-Lord Vincus: Não, como ousa pensar isso, oh Orodreth… Entre os homens deste mundo, e existem vários grupos de homens, uns são superiores e outros inferiores em relação à ascensão, e assim é necessário ser, pois o movimento das almas jamais para, se parassem, seria por que o motor primeiro parou de mover, e se ele não mover mais, será por que mudou sua antiga função, e como já foi dito muitas vezes, ele não é passivo de mudança.

-Orodreth: Mas como você explica o momento em que este não criava e passou a criar?

-Lord Vincus: Ótima pergunta, mas este momento não existe, o motor primeiro não situa-se em um espaço, como já demonstrei, pois nada pode conte-lo, e também não situa-se no tempo, logo cria e move sempre, em sua eternidade. -Orodreth: Ainda me restam algumas duvidas…

-Lord Vincus: Então vamos adiantar-nos, pois já passamos muito tempo conversando. -Orodreth: Considerando que o pré principio criou tudo por pensamento, e nos pensa eternamente, e assim sabe tudo em todos os tempos de ocorrência, aquela antiga ideia de livre arbítrio, é verdadeira?

-Lord Vincus: Quer saber se somos livres?

-Orodreth: Sim Lord Vincus, como desejo saber!

-Lord Vincus: Tudo que foi criado, está sujeito a leis intransponíveis de criação, não somos livres em relação a tais leis, que somos obrigados a obedecer, que são leis de nossa existência, mas partindo delas, podemos tomar escolhas e criar, tal como o demiurgo fez, afinal, também somos mentes. O único ser realmente livre, é o motor primeiro, pois não é sujeito a tais leis.

-Orodreth: E quais são essas leis?

-Lord Vincus: As citarei apenas, pois pretendo deliberar sobre elas em outro momento. Estas são 7, conhecidas também como axiomas herméticos e elas são: A lei do mentalismo: Tudo que veio a ser, veio a ser a partir do pensamento. A lei da correspondência: Tudo que foi criado pode ser conhecido, não importa quão distante esteja, pois tudo está sob as leis. A lei da vibração: Tudo se move. A lei da polaridade: Tudo tem seu oposto. A lei do ritmo: Tudo se manifestas por oscilações compensadas. A lei de causa e efeito: Toda causa tem um efeito, e tudo que ocorre, tem uma causa. (“O acaso é somente uma lei não conhecida” O caibalion) A lei do gênero: Tudo tem seu principio masculino e feminino.

-Orodreth: Oh, como tornou mais claro meus pensamentos, e me parece que está trazendo uma nova via de adoração.

– Lord Vincus: Afaste-se disso. Por acaso não me ouviu dizer que todos os deuses não são perfeitos e assim como nós, são passiveis de erro? Por que adora-los? E se tu te referes ao motor primeiro, não me ouviu dizer também que só podemos conhecer as coisas pelo pensamento, usando a lei de correspondência ou se preferir da semelhança, e Deus não criou a si mesmo, logo ele não é seu próprio objeto de pensamento, e se ele não é pensado, como já foi dito, não pode ser conhecido, afinal, ele não é sujeito às leis. Como adorar aquilo que não posso pensar? E mais, o que esperaria dele, se em sua imobilidade apenas cria e move? E o que eu poderia oferecer? Orações? Sendo ele perfeito, o que posso oferecer que ele já não possua?

-Orodreth: Mas você disse que ele é o único bem.

-Lord Vincus: Disse, pois ele é o único dos seres, que tudo dá e nada recebe, pois não há nada que lhe falte.

-Orodreth: Então reconhecendo isso, deveríamos ignora-lo?

-Lord Vincus: De forma alguma, devemos conhecer sua criação, para assim nos aproximarmos dele, embora, nunca venhamos a alcançá-lo. Pois o homem nada mais é que um eterno andarilho. E a única forma de viver feliz sob as leis divinas, é com o cumprimento do oficio, no nosso caso, é conhecer e ter saúde. E é aí que a religião, no sentido de adoração a algo, torna-se mera bajulação que adoece os homens, os torna dementes na tentativa de pensar algo que não pode ser pensado, e imploram por atenção, acabam inúteis para o oficio.

-Orodreth: Eu, como um bom pagão, sou obrigado a discordar de tal pensamento, muito embora não possa ir de contra a ele. E agradeço-lhe por me instruir tão pacientemente, pois queimo de felicidade por tudo o que aprendi.

-Lord Vincus: Disponha caro amigo. Vou indo, pois não pretendo privar-lhe nem mais um segundo, de tentar ter a atenção desta arvore.

 

Referencias Bibliográficas

Corpus Hermeticum ( Hermes Trimegisto)

O caibalion ( Os três iniciados)

Fédon ( Platão)

Lord Vincus Vinicius.pimentel.ferreira@hotmail.com

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