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Morte Súbita entrevista Marcelo Del Debbio

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Morte Súbita inc: Saudações Marcelo Del Debbio. Inicialmente, por favor, apresente-se para nossos leitores caso algum deles tenha acabado de sair de uma crípta ou tenha sido acidentalmente congelado nos últimos anos.

@deldebbio – Meu currículo pode ser acessado aqui mas normalmente o pessoal que estuda ocultismo me conhece mais por organizar o site Teoria da Conspiração, a Wikipédia de ocultismo e o Projeto Mayhem. Sou autor de uma Enciclopédia de Mitologia com 7.200 verbetes e um pesquisador de religiões, filosofias e sistemas mágicos entrelaçados com a História da Arte.

M.S.: Chegou ao nossos ouvidos que você foi escolhido como o mais novo alvo dos militantes do ceticismo. O que aconteceu exatamente?

A gota d´água foi a publicação de um cartoon (ver abaixo) no Sedentário e Hiperativo.

Já tinha entrado em atrito com eles por diversas vezes, a cada post sobre Mitologia, Simbolismo, Espiritualidade, Satanismo ou Thelema, sempre apareciam uns autoproclamados céticos para criticar e ameaçar. Com o tempo, eles foram se acumulando e lêem religiosamente meus textos, atcando agressivamente qualquer coisa que não concorde com sua visão de mundo. As ameaças de morte e xingamentos vieram no mesmo calibre dos crentes mais fanáticos. O autoproclamado “ceticismo” brasileiro é, na verdade, uma cópia mal ajambrada do ateísmo americano, que possui uma razão de ser por conta dos crentes literais bíblicos e da guerra política e educacional que eles enfrentam por lá.

M.S.: Mas e aqui não é a mesma coisa?

A resposta é: infelizmente está começando a ser também, e o ateísmo brasileiro se tornou um reflexo da ignorância crente brasileira. O problema é que a argumentação dos ateus é muito rasa. Ela é ótima para discutir com a interpretação literal da bíblia ou alcorão, mas quando tentam usar a mesma argumentação de fé contra a Umbanda, Candomblé, Quimbanda, Kardecismo, Thelema ou Alquimia, caem no ridículo. Um quimbandeiro não tem fé “porque está escrito no livro”, ele mantém sua “fé” porque vai no terreiro e conversa com as entidades pessoalmente. Um magista vê os resultados práticos e os testa por si mesmo. E as pesquisas apresentadas como argumentação dos ateus são completamente distorcidas, feitas com má-fé ou simplesmente com metodologia errada (como exemplo, http://www.astrology-and-science.com/  onde podemos ver que, dos 70 estudos feitos com Astrologia, a imensa maioria utiliza horóscopo de jornal como sendo “astrologia” ou testes que se baseiam em chutes de astrólogos e por ai vai…).

Fora esta crença de que tudo o que está escrito precisa ser literal. Tive uma discussão com um dos chefes do movimento onde ele achava de verdade que a expressão “transformar chumbo em ouro” era literal e que, portanto, se um alquimista não pudesse transformar átomos de chumbo em átomos de ouro, deveria ser considerado charlatão. Para qualquer estudante de ocultismo, uma afirmação dessas beira a total idiotia.

M.S: Qual a definição de Magia com que você trabalha?
Eu sigo a mesma definição do Crowley e do Alan Moore: “A  Magia  é a ciência e a arte de provocar mudanças de acordo com a vontade de quem a pratica”.

Fui iniciado em Bruxaria Inglesa em 1989 e, depois disso, nunca mais parei de estudar. Tive contato com a Golden Dawn ainda na Inglaterra, posteriormente me iniciei na Umbanda e Quimbanda. Minha linha de estudos favorita é a Kabbalah Hermética, mas entendo que a verdade é que existe algo que não pode ser medido ou compreendido pelos nossos equipamentos atuais e que todas as manifestações religiosas, magísticas, iniciáticas e artísticas são tentativas humanas de se compreender estas energias e entidades dentro da capacidade intelectual no tempo-espaço de cada cultura. Fazendo uma analogia: Diferentes Ordens e Religiões medem a temperatura em Celsius, Farenheit ou Kelvin e acham que estão falando linguagens diferentes; eu prefiro estudar as utilidades da água fervente ou do ponto onde ela se congela.

M.S.: Na sua visão, qual a diferença entre Magia, Religião e Ciência?

Não há diferença. E eu incluiria a Arte nesse conjunto. A Magia é a faculdade que todo ser humano tem (ou deveria ter) de manifestar no Plano Físico sua Vontade, criada a partir de sua Imaginação e Projeto (que os cabalistas chamam de Yesod). Para realizar a sua Verdadeira Vontade, o mago precisa ter o domínio da ciência (definida pela esfera de Hod, que trata do uso dos símbolos, linguagem e códigos para descrever o indescritível) e a conexão com o divino (Através de Netzach, a devoção, que erroneamente fica confundida com “fé”). Mas este conceito de “divino” foi completamente deturpado pelas religiões dogmáticas, que criaram um ser onipresente, onipotente e onisciente que fica perdendo seu tempo vendo se você é gay ou não. Na real, não há deuses externos, apenas manifestações do divino dentro de cada um.

Um mago observa as qualidades da determinação, da diligência e da ira; um artista as retrata de uma maneira antropomórfica como Ares, o Deus da Guerra, mas esta imagem nunca deveria ser “venerada” e sim “contemplada”. A contemplação é o ato de se meditar sobre alguma coisa; absorver e compreender a essência deste objeto de meditação e interiorizar este estudo. Daí a finalidade real dos templos (e do altar pessoal no seu quarto!). Deuses e demônios são símbolos que trazemos para dentro de nós mesmos e moldamos nosso caráter e ética, através da Contemplação.

A Igreja deturpou tudo isso, transformando-os em seres “literais” que devem ser adorados (A palavra traduzida mais freqüentemente para adorar é o vocábulo hebreu shachah, que aparece mais de 170 vezes na Bíblia hebréia com o significado de “adorar, prostrar-se, inclinar-se” [Êxodo 34:8; Salmos 66:4; 95:6; Zacarias 14:16]. A outra palavra é abhôdhâ, que significa servir com temor reverente, admiração e respeito.

Os ateus pegaram a deturpação literal desta essência e se tornaram crentes às avessas. Eles acreditam que deuses sejam algo literal e que, portanto, “não existem” já que não se enxerga evidências nos instrumentos de medição que dispomos para detectá-los. Toda a idéia da arte e filosofia foi jogada no lixo e, com o tempo, a coisa degringolou para a discussão rasteira e os dois grupos se nivelaram por baixo, brigando para ver se Deus existe ou não. Os novos-ateus passaram a englobar em sua visão míope de mundo que toda religião ou forma de religare é igual (e automaticamente picareta e danosa para a humanidade) e incluir ocultistas em seus delírios, através do que chamamos de “Falácia do Espantalho”, que é atacar uma coisa pelo que ela não é (ateus acreditam que Astrologia seja horóscopo de jornal, Gematria seja numerologia, Umbanda e quimbanda sejam “amarrações” e Alquimistas são charlatões porque não são capazes de transformar Pb em Au ) e por ai vai. Tudo de picareta que aparece na mídia serve como “confirmação” das teorias ateístas mais estapafúrdicas e não adianta alguém de bom senso avisar que estão confundindo focinho de porco com tomada, os ateus se tornaram tão irracionais e ignorantes quanto os crentes.

M.S.: Um mago pode ser um cético? E um cético, pode ser um mago?

Magos DEVEM ser céticos sempre, caso contrário, se tornarão esquisotéricos que acreditam em qualquer picareta com qualquer prática maluca. Seitas e religiões estão cheios disso, fora os ricos vendedores de toda sorte de badulaques inúteis e pais de santo com suas amarrações e “vidências”. Ser ateu ou crente é muito fácil… basta crer ou não crer… mas pensar e se tornar um cético/ocultista ninguém quer porque dá trabalho. Um Mago, pela definição, é aquele que foi lá e conheceu/experimentou (conhecimento/gnose). Quem “ouviu falar” dá credibilidade a outra pessoa, é uma crença (fé/fides). E todo mago precisa ser religioso (mesmo se não tiver NENHUMA religião e acreditar apenas em si mesmo e em sua natureza divina/demoníaca). Nunca confundam “religião” com “religiosidade”. Falando em termos herméticos, todo iniciado precisa ter o domínio sobre os símbolos (Hod), sobre sua Fé (Netzach) e sobre sua imaginação (Yesod), caso contrário, nunca chegará ao seu Sagrado Anjo/Demônio Guardião (Tiferet/Thagirion).

M.S.: O que mais te incomoda nesta nova geração de ateus?

Para ser sincero? A burrice. A total falta de capacidade de compreender o que é um símbolo ou o que é uma metáfora ou alegoria. Eles acreditam que, se está escrito em algum lugar “A natureza é sábia” isso quer dizer que a pessoa que escreveu aquilo acha que a natureza é uma pessoa, e assim por diante. Isso é reflexo da baixa educação que temos e da total falta de estudos e capacidade para compreensão de textos…

Ateus e crentes são reflexo de tudo isso: As pessoas mais ignorantes da sociedade acabam se tornando crentes por medo e por pressão dos outros; no fundo, são boas pessoas e gostariam de serem produtivos para o planeta, mas não têm capacidade para pensar. Os espertalhões usam deste medo em versículos bíblicos aleatórios para erguer templos milionários às custas dos dízimos e da ignorância destes seres.

As pessoas que tem um pouco mais de cérebro acabam percebendo que todas aquelas coisas que os pastores e padres falam não tem o menor sentido na lógica comum (barcos com pares de todos os animais do planeta, torres que caem e pessoas que passam a falar línguas diferentes, contradições e mais contradições na bíblia, falta de realidade científica e por ai vai) e observam a picaretagem geral entre os líderes religiosos dogmáticos passam a considerar TUDO como sendo um delírio. Só que param por ai.

Poderiam se tornar ocultistas ou satanistas decentes, mas esbarram com a propaganda maciça dos ateus fundamentalistas na internet e acabam engrossando as fileiras das “Testemunhas de Dawkins” ao invés de avançarem mais na pesquisa.

Enfiam no mesmo saco todas as religiões e filosofias sem estudá-las. Não têm capacidade para entender que o Apocalipse é uma alegoria, que a alquimia é um sistema de alegorias… enfim, estacionaram e começaram a brigar com os crentes no mesmo nível deles.

M.S: Agora sobre projetos pessoais. Quais seus planos para o futuro?

Atualmente estou organizando a Wikipédia de Ocultismo, uma espécie de Líber 777-7 digital. Temos cerca de 4.500 verbetes mas a meta é incluir tudo o que já foi produzido em material acadêmico de ocultismo em um único lugar. Quando terminar de adicionar as referencias de mitologias e arquitetura/história da arte, a idéia é chegar a dez mil verbetes. Paralelamente a isso, coordeno o Projeto Mayhem, que é uma rede social fechada para estudantes e estudiosos de ocultismo; organizamos dois Simpósios de Hermetismo (e já temos programado um para 2012),  e estamos transformando o Teoria da Conspiração em um Portal de Ocultismo para buscadores sérios de todas as vertentes.

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