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Secretum Secretorum

Índia o Berço de Uma Raça – Ísis sem véu

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A DOUTRINA SECRETA.

A “doutrina secreta” foi por muitos séculos semelhantes ao “homem das aflições” a que alude o profeta Isaías. “Quem acreditou em nossas palavras?”, repetiram os seus mártires de geração em geração. A doutrina desenvolveu-se diante de seus perseguidores “como uma tenra planta ou como uma raiz plantada em solo árido; ela não tem forma, nem atrativos (…) é desprezada e rejeitada pelos homens; e eles lhe viram os rostos… Eles não a estimam”.

Temos apenas que ignorar a sua letra que mata e agarra o espírito sutil de sua sabedoria oculta para descobrir dissimuladas nos Livros de Hermes – sejam eles o modelo ou a cópia de todos os outros – as evidências da verdade e da filosofia que sentimos que deve basear-se nas leis eternas. Compreendemos instintivamente que, por mais finitos que sejam os poderes do homem enquanto este ainda está encarnado, eles devem estar em estreita relação com os atributos de uma Divindade infinita; e tornamo-nos capazes de apreciar melhor o sentido oculto do dom prodigalizado pelos Elohim a Adão: “Vê, eu te dei tudo que está sobre a face da Terra (…) subjuga-os e “exerce teu poder” SOBRE TUDO.

OS PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÊNESE.

Tivessem as alegorias contidas nos primeiros capítulos do Gênese sido mais bem-compreendidas, mesmo em seu sentido geográfico e histórico, que nada implica de esotérico, as pretensões de seus verdadeiros intérpretes, os cabalistas, dificilmente teriam sido rejeitadas por tanto tempo. Todo estudioso da Bíblia deve saber que o primeiro e o segundo capítulo do Gênese não podem ter saído da mesma pena. Ambos são evidentemente alegorias e parábolas, pois as duas narrativas da criação e povoamento de nossa Terra contradizem-se diametralmente em todos os detalhes de ordem, tempo, lugar e método empregados na chamada criação. Aceitamos as narrativas literalmente, e como um todo, rebaixamos a dignidade da Divindade desconhecida. Fazemo-la descer ao nível dos homens, e dotamo-la da personalidade peculiar do homem, que precisa do “frescor do dia” para refrescar-se; que descansa de suas tarefas; e que é capaz de raiva, vingança, e mesmo de tomar precauções contra o homem, “para que ele não estenda os braços e colha também da árvore da vida”. (Uma tácida admissão da Divindade, diga-se de passagem, de que o homem poderia fazê-lo, se não fosse impedido simplesmente pela força.) Mas, reconhecendo a nuança alegórica da descrição do que se pode chamar de fatos históricos, colocamos imediatamente os nossos pés em terra firme.

Para começar – o jardim do Éden, enquanto localidade, não é de todo mito; ele pertence a esses marcos da história que revelam ocasionalmente ao estudante que a Bíblia não é inteiramente uma mera alegoria. “Éden, ou o hebraico, GAN-EDEN, que significa o parque ou o jardim do Éden, é um nome arcaico do país banhado pelo Eufrates e por muitos de seus afluentes, da Ásia e da Armênia ao Mar da Eritréia.” No Livro dos números caldeu, a sua localização é designada por números; e no manuscrito Rosa-cruz cifrado, deixado pelo Conde St. Germain, ele é descrito por completo. Nas Tábuas assírias, é traduzido por  Gan-Dunâs (corrigido para Kar-Dunîas). “Vede”, diz o Elohim da Gênese, “o homem tornou-se como um de nós.” Pode-se aceitar os Elohim num sentido como deuses ou poderes, e tomá-los em outro caso como Aleim, ou sacerdotes; os hierofantes iniciados no bem e no mal deste mundo; pois havia um colégio de sacerdotes chamado Aleim, e o chefe de sua casta, ou chefe dos hierofantes, era conhecido como Yava-Aleim. Ao invés de tornar-se um neófito, e olhar gradualmente o seu conhecimento esotérico por meio de uma iniciação regular, um Adão, ou homem, utiliza as suas faculdades intuitivas, e, induzido pela Serpente – a Mulher e a matéria – prova da Árvore da Sabedoria – a doutrina esotérica ou secreta – de modo ilegal. Os sacerdotes de Hércules, ou MEL-KARTH, O “Senhor” do Éden, trajavam “túnicas de pele”. O texto diz: “E Yava-Aleim fez para Adão e sua mulher, KOTHNOTH OR” (Gênese, III, 21). A primeira palavra hebraica, chitun, é o grego, chiton. Ela se tornou uma palavra eslava por adoção da Bíblia, e significa uma túnica, uma vestimenta exterior.

Embora continha o mesmo substrato de verdade esotérica que todas as outras cosmogonias primitivas, a Escrita hebraica traz em si as marcas de sua dupla origem. Seu Gênese é simplesmente uma reminiscência do cativeiro babilônico. Os nomes de lugares, homens e mesmo de objetos podem ser traçados desde o texto original dos caldeus e dos acádios, seus progenitores e instrutores arianos. Contesta-se energicamente que as tribos da Caldéia, Babilônia e Assíria fossem de algum modo apresentadas aos brâmanes do Indostão; mas há mais provas a favor dessa opinião do que o contrário. Os semitas ou os assírios poderiam, talvez, chamar-se turânios, e os mongóis denomina-se citas. Mas se os acádios nunca existiram a não ser na imaginação de alguns filósofos e etnólogos, eles jamais seriam uma tribo turaniana, como alguns assiriólogos esforçaram-se por nos convencer. Eram simplesmente imigrantes a caminho da Ásia Menor, proveniente da Índia, o berço da Humanidade, e seus adeptos sacerdotes demoravam-separa civilizar e iniciar um povo bárbaro. Halévy provou a falácia da mania turaniana, no que concerne ao povo acádio, cujo nome já foi alterado dezenas de vezes; e outros cientistas provaram que a civilização babilônia não nasceu nem se desenvolveu naquela região. Foi importada da Índia, e os importadores foram os hindus bramânicos.

Assim, enquanto o primeiro, o segundo e o terceiro capítulo do Gênese não passam de imitações desfiguradas de outras cosmogonias, o quarto capítulo, a partir do décimo sexto versículo até o final do quinto capítulo, fornece fatos puramente históricos, embora estes nunca tenham sido corretamente interpretados. Foram colhidos, palavras por palavras, do Livro dos números secreto da Grande Cabala Oriental. A partir do nascimento de Henoc, o primeiro pai reconhecido da franco-maçonaria, inicia-se a genealogia das chamadas famílias turanianas, arianas e semítas, se essas denominações estão corretas. Toda mulher é uma terra ou cidade evemerizada; todo homem é patriarca, uma raça, um ramo ou uma subdivisão de uma raça. As mulheres de Lamech dão a chave do enigma, que um bom erudito poderia facilmente decifrar, mesmo sem ter estudado as ciências esotéricas. “E Ad-ah gerou Jabal: ele foi o pai dos que viveram em tendas, e dos que têm gado”, a raça ariana nômade; “(…) e seu irmão era Jubal, que foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão; (…) e Zillah gerou Tutal-Cain, que ensinou aos homens como forjar o cobre e o ferro”, etc. Toda palavra tem um significado; mas não é uma revelação. É simplesmente uma compilação dos fatos mais históricos, embora a História esteja muito perplexa a esse respeito para saber como reivindicá-los. É do Euxino à Caximira, e além, que devemos procurar o braço da Humanidade, e dos filhos de Ad-ah; e deixar o jardim particular do Ed-en sobre o Eufrates aos colegas dos misteriosos astrólogos e magos, os Aleim. Não estranhemos que o vidente do norte, Swedenborg, recomende às pessoas procurarem a PALAVRA PERDIDA entre os hierofantes da Tartária, da China e do Tibete; pois é lá, e somente lá que ela hoje se encontra, embora a descubramos inscrita sobre os monumentos das mais antigas dinastias do Egito.

A grandiosa poesia dos quatro Vedas; o Livro de Hermes; o Livro dos números caldeus; o Códex nazareno; a Cabala dos Tanaím; a Sepher Yetzîrah; o Livro da Sabedoria de Shlômôh (Salomão); o tratado secreto sobre Mukta e Baddha, atribuído pelos cabalistas budistas a Kapila, o fundador do sistema Sânkhyâ; os Brâmanas, o Bstan-hgyur dos tibetanos; todos esses livros têm a mesma base. Variando apenas as alegorias, eles ensinam a mesma doutrina secreta que, uma vez completamente expurgada, provará ser a Ultima Thule da verdadeira filosofia, e revelará o que é essa PALAVRA PERDIDA.

A ÍNDIA ANTIGA.

Muitos são os eruditos que tentaram, com a sua melhor habilidade, fazer justiça à Índia antiga. Colebrooke, Sir William Jones, Barthelémy St.-Hilaire, Lassen, Weber, Strange, Burnouf, Hardy e finalmente Jacolliot, todos testemunharam as suas realizações na legislação, na ética, na filosofia e na religião. Nenhum povo do mundo jamais atingiu a grandeza de pensamento nas concepções ideais da Divindade e de sua prole, o HOMEM, do que os metafísicos e teólogos sânscritos. “Minhas queixas contra muitos tradutores e orientalistas”, diz Jacolliot, “embora admire o seu profundo conhecimento, é que, não tenho vivido na Índia, faltam-lhes a justeza de expressão e a compreensão do sentido simbólico dos cantos poéticos, das orações e das cerimônias; incorrendo eles não raro em erros materiais, seja de tradução ou de julgamento”.

Que é a Índia, o país menos explorado, e menos conhecido do que qualquer outro, a que todas as outras grandes nações do mundo devem as suas línguas, as suas artes, as suas ideologias e a sua civilização. O progresso dessa nação, que se estagnou séculos antes de nossa era, até paralisar-se por completo nas seguintes; mas em sua literatura achamos a prova irrefutável de suas passadas glórias. Se não fosse tão espinhoso o estudo do sânscrito, por certo se despertaria a inclinação pela literatura indiana, comparavelmente mais rica e copiosa que nenhuma outra. Até agora, o público em geral, em busca de informações, teve que contar com uns poucos eruditos que, não obstante a sua grande sabedoria e fidedignidade, não estão à altura de traduzir e comentar mais do que uns poucos livros extraídos do número quase incontável de obras que, não obstante o vandalismo dos missionários, ainda restaram para mostrar o poderoso volume da literatura sânscrita. E para cumprir tal tarefa requerer-se-ia o trabalho de toda a vida de um europeu. Eis por que as pessoas julgam apressadamente, e cometem com freqüência os erros mais crassos.

É com na força de evidências circunstanciais – a da razão e a da lógica – que afirmamos que, se o Egito deu à Grécia a sua civilização, e esta levou a Roma, o próprio Egito recebeu, naqueles séculos desconhecidos, quando reinava Menes, suas leis, suas instituições, suas artes e suas ciências da Índia pré-védica; e que portanto é nessa antiga iniciadora dos sacerdotes – adeptos de todos os outros países – que devemos buscar a chave dos grandes mistérios da Humanidade.

E quando dizemos indiscriminadamente “Índia”, não pensamos na Índia de nossos dias modernos; mas na do período arcaico. Nos tempos antigos, alguns países que agora conhecemos por outros nomes chamavam-se todos Índia. Havia uma Índia Alta, uma Baixa e uma Índia Ocidental, que é hoje a Pércia-Irã. Os países que agora se chamam Tibete, Mongólia, e Grande Tartária eram também considerados pelos
escritores antigos como Índia.

OS REGISTROS DO GRANDE LIVRO.

Diz a tradição, e explicam os registros do Grande Livro, que muito antes da época de Ad-am e de sua curiosa mulher He-va, onde atualmente só se encontram lagos secos e desolados desertos nus, havia uma vasto mar interior, que se estendia sobre a Ásia central, ao norte da soberana cordilheira do Himalaia, e de seus prolongamento ocidental. Uma ilha, que por sua inigualável beleza não tinha rival no mundo, era habitada pelos últimos remanescentes da raça que precede a nossa. Essa raça podia viver com igual facilidade na água, no ar ou no fogo, pois possuía um controle ilimitado sobre os elementos. Eram os “Filhos de Deus”; não aqueles que viram as filhas dos homens, mas os verdadeiros Elohim, embora na Cabala oriental eles tenham um outro nome. Foram eles que ensinaram aos homens os segredos mais maravilhosos da Natureza, e lhe revelaram a “palavra” inefável e atualmente perdida. Essa palavra, que não é uma palavra, percorreu o globo, e ressoou ainda como um remoto eco no coração de alguns homens privilegiados. Os hierofantes de todos os Colégios Sacerdotais estavam a par da existência dessa ilha, mas a “palavra” era conhecida apenas pelos Yava-Aleim, ou mestres principais de todos os colégios; que a passavam ao seu sucessor apenas no instante da morte. Havia vários de tais colégios, e os antigos autores clássicos fazem menção a eles.

Já vimos que é uma das tradições universais aceitas por todos os povos antigo a de que houve muitas raças de homens anteriores às nossas raças atuais. Cada uma delas era muito distinta da precedente; e todas desapareceram quando a seguinte fez a sua aparição. No Manu mencionam-se claramente seis de tais raças que teriam se sucedido umas às outras.

A ANTIGÜIDADE DE MANU. – A ATLÂNTIDA, O CONTINENTE PERDIDO.

Desde Manu-Svayambhuva (o menor, que corresponde ao Adão Cadmo), que proveio de Savayambhuva, ou o Ser que existe por si mesmo, descenderam seis outros Manus (homens que simbolizam os progenitores), cada um dos quais deu origem a uma raça de homens. (…) Esses Manus, todos poderosos, dos quais Svayambhuva é o primeiro, produziram e dirigiram cada um, em seu período – antara -, este mundo composto de seres moveis e imóveis”.

No Siva-Purâna, lê-se o seguinte:

“Ó Siva, deus do fogo, possas tu destruir meus pecados, como o fogo destrói a grama seca da
floresta. É por teu poderoso Alentoque Âdima [o primeiro homem] e Heva [a perfeição da vida em sânscrito],
os ancestrais dessa raça de homens, receberam a vida e cobriram o mundo com os seus descendentes”.

Não havia nenhuma comunicação por mar com a ilha, mas passagens subterrâneas conhecidas apenas pelos chefes comunicavam-se com ela em todas as direções. A tradição fala de muitas dessas majestosas ruínas da Índia. Ellora, Elephanta, e das cavernas de Ajunta (cadeia de Chandon), que pertenciam outrora a esses colégios, e com as quais se comunicavam subterrâneos. Quem poderá dizer que a Atlântida perdita – que é também mencionada no Livro Secreto, mas sob um outro nome pronunciado na língua sagrada – não existia naqueles dias? O grande continente perdido não poderia ter-se situado talvez ao sul da Ásia, estendendo-se da Índia à Tasmânia? (É uma estranha coincidência que quando a América foi descoberta pela primeira vez algumas tribos nativas a chamassem de Atlanta.) Se a hipótese atualmente tão contestada e positivamente negada por alguns sábios autores que a encaram como uma brincadeira de Platão algum dia se confirmar, estão os cientistas acreditarão talvez que a descrição do continente habitado por deuses não era de todo uma fábula. E eles poderão então compreender que as insinuações veladas de Platão e o fato de ele atribuir a narrativa a Sólon e aos sacerdotes egípcios foram, na verdade, apenas um meio prudente de comunicar o fato ao mundo e combinar habilmente verdade e ficção, de modo a desassociar-se de uma história que as obrigações impostas pela iniciação o proibiam de divulgar.

E como poderia o nome Atlântida ter sido inventado por Platão? Atlântida não é um nome grego, e sua construção não apresenta elementos gregos. Brasseur de Bourbourg tentou demonstrá-lo anos atrás, e Baldwin, em Prehistoric Nations and Ancient América, cita esse autor, que declara que “as palavras Atlas e Atlântico não encontram etimologia satisfatória em qualquer linguagem conhecida na Europa. Eles não são gregos, e não podem ser referidos a qualquer língua conhecida do Mundo Antigo. Mas na língua Nahualt (ou tolteca) encontramos imediatamente o radical a, atl, que significa água, guerra, e o alto da cabeça. Dele provém uma série de palavras, como atlan, à margem ou no meio da água; da qual temos o adjetivo Atlântico. Temos também atlaca, combater. (…) Havia uma cidade de nome Atlan quando o continente foi descoberto por Colombo, na entrada do golfo de Urabe, em Darien, com um bom porto. Ela reduziu-se atualmente a um pueblo [aldeia] pouco importante, de nome Acla.

Não é extraordinário, para dizer o menos, encontrar na América uma cidade conhecida por um nome que contém um elemento puramente local, estranho ademais a qualquer outro país, na pretensa ficção de um filósofo do século IV a.C.? O mesmo se pode dizer do nome América, que seria mais justo reportar ao Meru, a montanha sagrada no centro dos sete continente, de acordo com a tradição hindu, do que a Américo Vespúcio. Aduzimos as seguintes razões em favor de nosso argumento:

1º) Americ, Amerrique ou Amerique é o nome dado na Nicarágua a um planalto ou a uma cadeia de montanhas que se localiza entre Juigalpa e Liberdad, na província de Chontales, e que se estendem por um lado ao país dos Índios Carcas, e por outro ao país dos Índios Ramos.

Ic ou ique, como sufixo, significa grande, como cacique, etc.

Colombo menciona, em sua quarta viagem, a aldeia de Cariai, provavelmente Caîcai. A localidade abundava em feiticeiros, ou curandeiros; e situava-se na região da cordilheira da América, a 3.000 pés de altura.

Todavia, ele não faz menção a esse nome.

O nome América Província apareceu pela primeira vez num mapa publicado em St. Dié, em 1507 (O livro de Waldseemüller deixou a gráfica a 25 de abril de 1507. No nono capítulo do livro, se lêem:“ Mas agora que essas partes do mundo foram amplamente examinadas e uma outra quarta foi descoberta por Americu Vesputiu (ou se verá), não vejo razão para não a chamarmos de América, isto é, terra de Americus, pois Americus é o seu descobridor, homem de muita sagacidade, já que a Europa e Ásia receberam na antigüidade nomes de mulheres”.) Até essa data, acreditava-se que a região já fazia parte da Índia. Em 1522, a Nicarágua foi conquistada por Gil Gonzáles de Ávila.

2º) “Os nórticos, que visitaram o continente no século X, uma costa plana recoberta de espessa floresta”, chamaram-na Markland, de mark, floresta. O r devia soar de modo vibrante, como em marrick. Ima palavra semelhante encontra-se na região do Himalaia, e o nome da Montanha do Mundo, Meru, pronuncia-se em alguns dialetos Meruah, com a letra h fortemente aspirada. A idéia principal, contudo, é mostrar como dois povos podem aceitar talvez uma palavra de som semelhante, cada uma utilizando-a em seu próprio sentido, e aplicando-a ao mesmo território.

“É mais plausível”, diz o Prof. Wilder, “que o Estado da América Central, em que descobrimos o nome Americ significando [como o Meru hindu, poderemos acrescentar] grande montanha, tendo dado o nome ao continente. Vespúcio utilizaria o seu sobrenome se tivesse a intenção de denominar o continente. Se a teoria do Abade de Bourbourg, que aponta Atlan como a raiz de Atlas ou Atlântico, fosse reconhecida, as duas hipóteses poderiam perfeitamente estar em acordo. Como Platão não foi o único autor que tratou de um mundo além das colunas de Hércules, e como o oceano é ainda pouco profundo e apresenta plantas marinhas em toda a parte tropical do Atlântico, não é desarrazoado imaginar que esse continente lá se elevava, ou que lá havia um mundo insular próximo. O Pacífico também oferece indicações de ter sido o populoso império insular dos amalios e javaleses – se não um continente entre Norte e Sul. Sabemos que a Lemúria no oceano Índico é o sonho dos cientistas (Lemúria é um nome sugerido por S. L. Sclater, por volta de 1874, para um continente antigo do Oceano Índico que unia Madagascar e a Malásia. O termo foi adotado pelos teósofos para a designação do habitat continental da Terceira Raça-Raiz.); e que Saara e a região central da Ásia foram outrora leitos oceânicos.

Para continuar a tradição, devemos acrescentar que a classe dos hierofantes dividia-se em duas categorias distintas: aqueles que eram instruídos pelos “Filhos de Deus” da ilha e eram iniciados na doutrina divina da revelação pura, e aqueles que habitavam a Atlântida perdida – se esse deve ser o seu nome – e que, sendo de outra raça, nasciam com uma visão que abarcava todas as coisas ocultas, e que suplantava tanto a distância quanto os obstáculos materiais. Em suma, eram a quarta raça de homens mencionada no Popl-Vuch, cuja visão era ilimitada e que conheciam todas as coisas ao mesmo tempo. Eles eram, talvez, o que hoje chamaríamos de “médiuns de nascença”, que não se esforçavam nem sofriam para obter os seus conhecimentos, nem os adquiriam ao preço de qualquer sacrifício. Assim, enquanto os primeiros caminhavam pela trilha de seus instrutores divinos, adquirindo seus conhecimentos passo a passo, e aprendendo ao mesmo tempo a discernir o bem do mal, os adeptos por nascimento da Atlântida seguiam cegamente as insinuações do grande e invisível “Dragão”, o Rei Thevetat ( a Serpente do Gênese?). Thevetat não aprendeu nem adquiriu seus conhecimentos, mas, para emprestar um expressão do Dr. Wilder relativamente à Serpente tentadora, era uma “espécie de Sócrates que conhecia sem ter sido iniciado”. Assim, sob as malévolas insinuações de seu demônio, Thevetat, a raça Atlântica tornou-se uma nação de mágicos, cruéis. Por essa razão, a guerra foi declarada, e a sua história é longa demais para narrar; pode-se encontrar-lhe a essência nas alegorias desfiguradas da raça de Caim, os gigantes, e na de Noé e sua justa família. O conflito chegou ao fim pela submersão da Atlântida; a qual encontra a sua imitação nas histórias do dilúvio babilônico e mosaico: Os gigantes mágicos morreram “(…) assim como toda a carne, e todo homem”. Todos exceto Xisuthrus e Noé, que são substancialmente idênticos ao grande Pai dos Thlinkithianos do Popul-Vuh, o livro sagrado dos guatemaltecos, que também fala de sua fuga num grande barco, como o Noé Hindu – Vaivasvata.

Se acreditamos na tradição, devemos dar crédito à história posterior, segundo a qual as alianças entre os descendentes dos hierofantes da ilha e os descendentes do Noé atlante deram origem a uma raça mista de homens justos e perversos. Por um lado, o mundo tinha seu Henoc, seu Moisés, seu Gautama Buddha, seus numerosos “Salvadores” e grandes hierofantes; por outro, seus “mágicos por natureza”, que, devido à falta de freio do poder da própria sabedoria espiritual, e à fragilidade das organizações físicas e mentais, perverteram involuntariamente os seus propósitos perversos. Moisés não tinha uma palavra de censura para os adeptos da profecia e de outros poderes que haviam sido instruídos nos colégios da sabedoria esotérica, mencionados na Bíblia. Suas denúncias reservavam-se àqueles que voluntariamente ou não degradavam os poderes herdados de seus ancestrais atlantes colocando-os a serviço de espíritos maus para dano da Humanidade. Sua cólera despertava contra o espírito de Ob, não contra o de Od.

AS RUINAS QUE COBREM AS DUAS AMÉRICAS.

As ruínas que cobrem as duas Américas, e que se encontram em muitas ilhas das Índias Ocidentais, são todas atribuídas aos atlantes submersos. Assim como os hierofantes do mundo antigo, o qual ao tempo da Atlântida, estava unido ao novo por terra, os mágicos da nação atualmente submersa dispunham de uma rede de passagens subterrâneas que corriam em todas as direções a propósito dessas misteriosas catacumbas, relataremos uma curiosa história que no foi contada por um peruano há muito tempo falecido, durante uma viagem que fazíamos juntos pelo interior de seu país. Deve haver alguma verdade nesse relato, pois ele nos foi confirmado posteriormente por um cavalheiro italiano, que viu o lugar e que, não fosse a falta de meios e de tempo, teria verificado ele mesmo a história, ao menos em parte. O informante italiano foi um velho sacerdote, que se inteirou do segredo durante a confissão de um índio peruano. Poderíamos acrescentar, além disso, que o sacerdote foi compelido a fazer a revelação, já que estava nesse momento sob a influência mesmérica do viajante.

A história concerne aos famosos tesouros do último rei inca. O peruano afirmou que desde o bem-conhecido e miserável assassinato deste rei por Pizarro, o segredo é conhecido por todos os índios, exceto os mestiços, que não são confiáveis. Reza o seguinte: O inca fora feito prisioneiro, e sua esposa ofereceu, para libertá-lo, um quarto cheio de ouro, “do chão ao teto, até onde o conquistador pudesse alcançar”, antes do pôr-do-Sol do terceiro dia. Ela manteve a promessa, mas Pizarro quebrou a sua palavra, de acordo com os aventureiros espanhois. Maravilhado com a exibição de tais tesouros, o conquistador declarou que não libertaria o prisioneiro, mas que o mataria, a menos que a rainha revelasse o lugar de onde provinha o tesouro. Ele havia ouvido que os incas tinham em algum lugar uma mina inexaurível; uma estrada ou túnel subterrâneo que corria por muitas milhas sob o solo, onde eram mantidos os tesouros acumulados da nação a infeliz rainha solicitou um prazo, e foi consultar os oráculos. Durante o sacrifício, o grande sacerdote mostrou-lhe no célebre “espelho negro” o assassinato inevitável do esposo, entregasse ela ou não os tesouros da coroa a Pizarro. A rainha ordenou então que se fechasse a entrada, que era uma abertura cavada na muralha rochosa de um precipício. Sob a direção do sacerdote e dos mágicos, o precipício foi então preenchido até o topo com imensos blocos de rocha, e a superfície coberta de modo a ocultar o trabalho. O inca assassinado pelos espanhóis e sua infortunada rainha suicidou-se. A cupidez dos espanhóis fracassou devido ao seu próprio excesso e o segredo dos tesouros enterrados foi guardado no coração de uns poucos peruanos fiéis.

AS ARTES MÁGICAS ANTIGAS E MODERNAS SÃO IDÊNTICAS.

Os “tempos antigos” são exatamente como os “tempos modernos”; nada mudou no que concerne às práticas mágicas, exceto que eles se tornaram ainda mais esotéricos e arcanos, e a cautela dos adeptos cresce na proporção da curiosidade dos viajantes. Hiuen-Tsang diz dos habitantes: “Os homens (…) amam o estudo, mas não o seguem com ardor. A ciência das fórmulas mágicas tornou-se para eles uma profissão regular”. Não contradiremos o venerável peregrino chinês a respeito desse ponto, e estamos propensos a admitir que, no século VII, algumas pessoas fizeram “uma profissão” da Magia; também o fazem hoje algumas pessoas, mas não certamente os verdadeiros adeptos. Não seria Hiuen-Tsang, o pio corajoso homem, que arriscou a vida uma centena de vezes para ter a ventura de olhar a sombra de Buddha na caverna de Peshawer, que iria acusar os santos lamas e taumaturgos monásticos de fazerem “uma profissão” mostrando-a aos viajantes. A injunção de Gautama, contida em sua resposta ao rei Prasejajit, seu protetor, que o animou a fazer milagres, deve ter sempre estado na mente de Hiuen-Tsang. “Grande Rei”, disse Gautama, “eu não ensino a lei dos meus discípulos dizendo-lhes ‘Ide, e diante dos brâmanes e dos notáveis fazei, por meio de vossos poderes sobrenaturais, os maiores milagres de que um homem é capaz’. Eu lhe digo, quando ensino a lei, ‘Vivei, ó santos, ocultando vossas grandes obras, e exibindo vossos pecados’”.

Impressionado com os relatos das exibições mágicas testemunhas e registradas pelos viajantes de todas as épocas que visitaram a Tartária e o Tibete, o Cel. Yule conclui que os nativos devem ter “à sua disposição toda a enciclopédia dos espiritistas modernos. Duhalde menciona entre as suas bruxarias a arte de produzir por meio de invocações as figuras de Lao-tsé e suas divindades no ar; e de fazer um pincel escrever respostas a perguntas sem que ninguém o toque”.

Essa invocações pertencem aos mistérios religiosos de seus santuários; executada de outro modo, ou com vista ao ganho, elas são consideradas como bruxaria, necromancia, e rigorosamente proibidas. A arte de fazer um pincel escrever sem contato era conhecida e praticada na China e em outros países muitos séculos antes da era cristã. É o ABC da Magia nesses países.

A SOMBRA DE BUDDHA ADORADA POR HIUEN-TSANG.-  O PODER DE INVOCAÇÃO DA ALMA.

Quando Hiuen-Tsang desejou adorar a sombra de Buddha, não foi aos “mágicos profissionais” que ele recorreu, mas ao poder de invocação de sua própria alma; ao poder da oração, da fé, e da contemplação. Tudo era sombrio e lúgubre próximo à caverna em que se acreditava que o milagre por vezes ocorria. Hiuen-Tsang entrou e começou as suas devoções. Ele fez 100 saudações, mas não viu nem ouviu nada. Então, julgando-se um pecador, gritou amargamente, e caiu em desespero. Mas no momento em que estava para renunciar a toda esperança, percebeu na muralha ocidental uma frágil luz, que desapareceu. Renovou as orações, dessa vez cheio de esperança, e novamente viu a luz, que brilhou e desapareceu novamente. Após isso, pronunciou um solene juramento: não deixaria a caverna até que tivesse a ventura de ver pelo menos a sombra do “Venerável dos Tempos”. Teve que esperar ainda por muito tempo, pois apenas depois de 200 preces foi a caverna subitamente “banhada de luz, e a sombra de Buddha, de uma brilhante cor branca, elevou-se majestosamente sobre a muralha, como quando as nuvens repentinamente se abrem, e, de um golpe, descobrem a maravilhosa imagem de `Montanha de Luz’. Um radiante esplendor iluminava os traços da fisionomia divina. Hiuen-Tsang estava perdido na contemplação e no prodígio, e não tirava os olhos do sublime e incomparável objeto”. Hiuen-Tsang acrescenta em seu próprio diário, Si-yu-Ki, que é apenas quando o homem ora com fé sincera e recebeu do alto uma impressão secreta, que ele vê a sombra claramente, mas não pode gozar a visão por muito tempo.

A PERPETUAÇÃO DE UMA CRENÇA.

Para que uma crença se torne universal, é preciso que ela se fundamente sobre uma imensa acumulação de fatos, que visem a fortificá-la de uma geração a outra. À testa de tais crenças está a Magia, ou, se preferir – a Psicologia oculta. Quem, dentre aqueles que apreciam os seus tremendos poderes a partir de suas frágeis e semiparalisados efeitos em nossos países civilizados, ousaria negar em nossos dias as afirmações de Porfírio e Proclo, de que mesmo os objetos inanimados, tais como estátuas de deuses, poderiam ser postos em movimento e exibir um vida artificial por alguns instantes? Quem pode negar a afirmação? Aqueles que testemunham diariamente sobre as próprias assinaturas que viram mesas e cadeiras moverem-se e caminhar, e lápis escreverem, sem contato? Diógenes Laércio fala-nos de um certo filósofo, Stilpo, que dois exilado de Atenas pelo Aerópago, por ter ousado negar publicamente que a Minerva de Fídias era algo mais do que um bloco de mármore. Mas nosso século, depois de ter imitado os antigos em tudo o que era possível, mesmo em suas denominações, tais como “senado”, e “cônsul”, etc.; e depois de admitir que Napoleão, o Grande, conquistou três quartos da Europa aplicando os princípios de guerra ensinados por César e Alexandre, nosso século julga-se tão superior ao seus preceptores no que concerne à Psicologia que é capaz
de enviar ao manicômio todos os que acreditam nas “mesas girantes”.

Seja ela qual for, a religião dos antigos é a religião do futuro. Mais alguns séculos, e não haverá mais crenças sectárias em nenhuma das grandes religiões da Humanidade. Bramanismo e Budismo, Cristianismo e Maometismo desaparecerão diante do poderoso afluxo de fatos. “Derramarei meu espírito sobre toda a carne”, escreve o profeta Joel (Joel II,28). “Em verdade vos digo (…) fareis obras maiores do que estas”, promete Jesus (João XIV,12). Mas isso só ocorrerá quando o mundo retornar à grande religião do passado; o conhecimento dos majestoso sistemas que precederam, em muito, o Bramanismo, e mesmo o monoteísmo primitivo dos antigos caldeus. Até então, devemos nos lembrar dos efeitos diretos do mistério revelado. Os únicos meios com a ajuda dos quais os sábios sacerdotes da Antigüidade podiam inculcar nos grosseiros sentidos das massas a idéia da Onipotência da vontade Criadora ou da CAUSA PRIMEIRA; a saber, a animação divina da matéria inerte, a alma nela infundida pela vontade potencial do homem, imagem microcósmica do grande Arquiteto, e o transporte de objetos pesados através do espaço e dos obstáculos materiais.

UMA CIÊNCIA DE NOME THEOPOEA.

Sabemos que desde os tempos mais remotos existiu uma ciência misteriosa e solene, sob o nome de Theopoea. Esta ciência ensinava a arte de conceder aos vários símbolos dos deuses vida e inteligência temporárias. Estátuas e blocos de matéria inerte tornavam-se animados sob a vontade poderosa do Hierofante. O fogo roubado por Prometeu caiu durante a batalha na Terra; durante a luta para abarcar regiões inferiores do firmamento e condensar-se nas ondas do éter cósmico como o Âkasa poderoso dos ritos hindus. Nós o respiramos e o absorvemos em nosso sistema orgânico repleto dele desde o instante de nosso nascimento. Mas ele só se forma poderoso sob o influxo da VONTADE e do ESPÍRITO.

Abandonado a si mesmo, este princípio de vida seguirá as leis da Natureza; e, de acordo com as circunstancias, produzirá saúde e exuberância de vida, ou causará morte e dissolução. Mas, guiado pela vontade do adepto, ele se torna obediente; suas correntes restauram o equilíbrio dos corpos orgânicos, preenchem o vazio, e produzem milagres físicos e psicológicos, bem-conhecidos pelos mesmerizadores. Infundidos na matéria inorgânica e inerte, elas criam um aparência de vida, e portanto de movimento. Se faltar a essa vida uma inteligência individual, uma personalidade, então o operador deve enviar sua scîn-lâc (Scîn-lâc é um termo anglo-saxão que significa Magia, necromancia e feitiçaria, bem como aparição mágica, uma forma espetral, uma aparição ilusória ou um fantasma (phantasma). Sîn-lâeca é um mágico ou feiticeiro, e scîn-lâece, uma feiticeira. A arte pela qual se produzem aparições ilusórias era conhecida como scîn-craeft. N. do Org.), seu próprio espírito astral, para animá-la, ou utilizar o seu poder sobre a região do espírito da natureza para forçar um deles a infundir sua entidade no mármore, na madeira, ou no metal; ou, ainda, ser auxiliado pelos espíritos humanos. Mas este – exceto a classe dos viciosos e apegados à terra – não infundirão sua essência nos objetos inanimados. Deixam as espécies inferiores produzirem o simulacro de vida e animação, e apenas enviam sua influência através das esferas intermediárias, como um raio de luz divina, quando o pretenso “milagre é requerido para um bom propósito. A  condição – e isso é uma lei da natureza espiritual – é a pureza de intenção, a pureza da atmosfera magnética ambiente, e a pureza pessoal do operador. É assim como um “milagre” pagão pode ser muito mais santo do que um milagre cristão.

Quem, dentre os que viram a atuação dos faquires na Índia meridional, pode duvidar da existência da Theopoea nos tempos antigos? Um céptico inveterado, ainda que ansioso para atribuir todos os fenômenos à prestidigitação, vê-se obrigado a comprovar os fatos; e tais fatos podem ser testemunhados diariamente, se assim se desejar. “Eu não uso”, diz ele, falando de Chibh-Chondor, um faquir de Jaffnapatnam, “descrever todos os exercícios que ele apresentou. São coisas que ninguém ousa dizer mesmo depois de havê-las testemunhado, de medo que o acusem de ter sofrido uma inexplicável alucinação! E no entanto por dez, ou melhor, por vinte vezes, eu vi e revi o faquir obter resultados semelhantes sobre a matéria inerte. (…) Era apenas um brinquedo infantil para o nosso `encantamento’ fazer a chama dos candelabros, que haviam sido colocados, por sua ordem, nos cantos mais remotos do aposento, empalidecerem e extinguirem-se à sua vontade; fazer moveis caminharem, mesmo os sofás nos quais estávamos sentados, as portas se abrirem e fecharem repetidamente: e tudo isso sem deixar a esteira na qual estava sentado.

“Altera ele o curso natural dessas leis? `Não, mas ele as faz agir utilizando forças que ainda nos são desconhecidas’, dizem os crentes. Como quer que seja, assisti por vinte vezes a exibições similares, acompanhado dos homens mais distintos da Índia britânica – professores, médicos, oficiais. Não há um deles que não tenha assim resumido as suas impressões ao deixar a sala: `Eis algo verdadeiramente terrível para a inteligência humana!’ Todas as vezes que vi o faquir repetindo a experiência de reduzir as serpentes a um estado cataléptico, estado em que esses animais têm toda a rigidez de um ramo seco, meus pensamentos reportaram-se à fábula [?] bíblica que atribui um poder análogo a Moisés e aos sacerdotes do Faraó.”

De fato, deve ser tão fácil dotar a carne do homem, do animal e do pássaro com um princípio de vida magnético quanto a mesa inerte de um médium moderno. Os dois prodígios são possíveis e verdadeiros, ou devem soçobrar, juntamente com os milagres dos dias dos Apóstolos, ou os dos tempos mais modernos da Igreja Papal. Se Sisto V mencionou uma série formidável de espíritos vinculados a vários talismã, a sua ameaça de excomungar todos os que praticavam a arte não foi feita porque ele desejava que esse segredo permanecesse confinado no seio da Igreja? O que aconteceria se esses milagres “divinos” fossem estudados e reproduzidos com sucesso por todos os homens dotados de perseverança, de um forte poder magnético positivo e de uma resoluta vontade? Os recentes acontecimentos de Lourdes (supondo-se, naturalmente, que tenham sido honestamente relatados) provam que o segredo não se perdeu por completo; e se não há nenhum mesmerizador mágico escondido sob a batina e a sobrepeliz, então a estátua de Notre-Dame movimenta-se pelas mesmas forças que movem as mesas magnetizadas numa sessão espírita; e a natureza dessas “inteligências”, pertencem elas à classe dos espíritos humanos, elementares ou dos elementais, depende de uma série de confissões. Todo aquele que conhece um pouco do Mesmerismo e do espírito caritativo da Igreja Católica Romana, não teria dificuldade em compreender que as incessantes maldições dos sacerdotes e dos monges; e os amargos anátemas tão prodigamente lançados por Pio IX – ele próprio um poderoso mesmerizador e, ao que se acredita, um jetattore (mau-olhado) – colocaram as legiões de elementares e elementais sob o comando dos Torquemadas desencarnados. São eles os “anjos” que pregam peças com a estátua da Rainha do Céu. Todo aquele que aceita o “milagre” e pensa de outro modo comete blasfêmia.

ANASISE DAS ARTES E CIÊNCIAS: NAS FILOSOFIA DO EGITO, DOS GREGOS, DOS CALDEUS E DOS ASSÍRIOS.

Assinalamos as descobertas nas artes, nas ciências, e na filosofia dos egípcios, dos gregos, dos caldeus e dos assírios; citaremos agora um autor que passou vários anos na Índia estudando a sua filosofia. Na célebre e recente obra Cristna et le Christ, descobriremos a seguinte tabulação:

Filosofia – Os antigos hindus criaram, desde o princípio, os dois sistemas de Espiritismo e materialismo, de Filosofia Metafísica e de Filosofia Positiva. A primeira ensinada na escola védica, cujo fundador foi Vyâsa; a segunda ensinada na escola sankyâ, cujo fundador foi Kapila.

“Ciência astronômica” – Eles fixaram o calendário, inventaram o zodíaco, calcularam a precessão dos equinócios, descobriram as leis gerais dos movimentos. Observaram e predisseram os eclipses.

“Matemática” – Inventaram o sistema decimal, a álgebra, os cálculos diferencial, integral e infinitesimal. Descobriram também a Geometria e a Trigonometria, e nessas duas ciências construíram e provaram teoremas que só foram descobertas na Europa nos séculos XVII e XVIII. Foram os brâmanes de fato que deduziram pela primeira vez a área de superfície de um triângulo a partir do cálculo de seus três lados, e calcularam a relação da circunferência com o diâmetro. Além disso, devemos restituir-lhes o quadrado da hipotenusa e a tábua impropriamente denominada pitagórica, que descobrimos gravada no goparamad’água da maior parte dos grandes pagodes.

“Física – Estabeleceram o princípio, ainda em vigor em nossos dias, de que o universo é um todo harmonioso, sujeito a leis que podem ser determinadas pela observação e pela experiência. Descobriram a hidrostática; e a famosa proposição de que todo o corpo submerso na água perde o seu próprio peso um peso igual ao volume d’água que desloca é apenas um empréstimo feito pelos brâmanes ao famoso arquiteto grego Arquimedes. Os físicos de seus pagodes calcularam a velocidade da luz, fixaram de maneira positiva as leis a que ela obedece em sua reflexão. E finalmente é fora de dúvida, segundo os cálculos de Sûrya-Siddharta, que eles conheciam e calcularam a força do vapor.

“Química – Conheciam a composição da água, e formularam para os gases a famosa lei, que só viemos a conhecer ontem, segundo a qual os volumes de gás estão na razão inversa da pressão que suportam. Sabiam como preparar os ácidos sulfúrico, nítrico e muriático; os óxidos de cobre, ferro, chumbo, estanho e zinco; os sulfuretos de zinco e ferro; os carboretos de ferro, chumbo, e soda; o nitrato de prata; e a pólvora.

“Medicina – Seus conhecimentos eram verdadeiramente surpreendentes. Em Caraka e Sushruta, os dois príncipes da Medicina hindu, encontra-se o sistema de que mais tarde Hipócrates se apropriou. Sushruta ensinou em especial os princípios da Medicina preventiva, ou higiene, que coloca bem acima da Medicina curativa – no mais das vezes, segundo ele, empírica. Estamos hoje mais avançados? Não é ocioso assinalar que os médicos árabes, que gozaram de uma merecida celebridade na Idade Média – Averróis, entre outros -, falam constantemente dos médicos hindus, considerando-os como mestres dos gregos e de si próprios.

“Farmacologia – Conheciam todos os símplices, suas propriedades, seus usos, e a esse respeito ainda não cessaram de dar lições à Europa. Muito recentemente, receberam deles o tratamento da asma, pelo estramônio.

“Cirurgia – Nesse ramo não foram menos notáveis. Faziam a operação dos cálculos e lograram notável sucesso na operação da catarata, e na extração do feto, de que todos os casos incomuns e perigosos são descritos por Caraka com uma extraordinária exatidão científica.

“Gramática – Construíram a mais extraordinária língua do mundo – o sânscrito -, que deu origem à maior parte dos idiomas do Oriente, e dos países indo-europeus.

“Poesia – Praticaram todos os estilos, e revelaram-se mestres supremos em todos. Sakuntalâ, Avrita, a Fedra hindu, Sâranga, e milhar de outros dramas não foram suplantados por Sófocles ou Eurípedes, por Corneille ou Shakespeare. ‘O lamento de um exilado’, que implora a uma nuvem passageira que lhe leve as lembranças ao seu lar, aos parentes e amigos, a quem ele jamais verá, para se ter uma idéia do esplendor que esse estilo atingiu na Índia. Suas fábulas foram copiadas por todos os povos modernos e antigos, que não se deram o trabalho de dar cores diferentes aos temas desses pequenos dramas.

“Música – Inventaram a escala com as suas diferenças de tons e semitons muito antes de Guido d’Arezzo. Aqui a escala hindu: Sa – Ri – Ga – Ma – Pa – Da – Ni – Sa.

“Arquitetura – Parecem ter esgotado tudo o que o gênio do homem é capaz de conceber. Zimbórios inacreditavelmente audaciosos; cúpulas cônicas; minaretes com rendas de mármore; torres góticas; hemiciclos gregos; estilo policromo – todos os gêneros de todas as épocas nela encontram, indicando claramente a origem e a época das diferentes colônias que, emigrando, levaram consigo as lembranças de sua arte nativa”.  Tais foram os resultados atingidos por essa antiga e imponente civilização bramânica.  Eis que podemos ler o que disse Manu, talvez há 10.000 anos antes do nascimento de Cristo:

“O primeiro germe de vida desenvolveu-se devido à água e ao calor” (Manu, livro I, sloka 8).

“A água sobre ao céu em vapores; desce do Sol com chuva, e da chuva nascem as plantas, e das plantas os animais” (Livro III, sloka 76).

“Cada ser adquire as qualidades do ser que o precede imediatamente, de modo que, quanto mais um ser se distancia do primeiro átomo da série, mais ele é dotado de qualidades e perfeições” (livro I, sloka 20).

“O homem atravessará o universo, ascendendo gradualmente e passando através das rochas, das plantas, dos vermes, insetos, peixes, serpentes, tartarugas, animais selvagens, gado, e animais superiores. (…) Tal é o grau inferior” (Ibid.).

“Estas são as transformações declaradas da planta ao Brahmâ que devem operar-se neste mundo”(Ibid.).

“O grego”, diz Jacolliot, “é simplesmente o sânscrito. Fídias e Prexíteles estudaram na Ásia as obras-primas de Daouthia, Râmana, e Âryavosta. Platão desaparece diante de Jaimini e Veda-Vyâsa, que ele copia literalmente. Aristóteles empalidece diante do Pûrva-Mimânsâ e do Uttara-Mîmânsâ, em que se descobrem todos os sistemas de filosofia que agora nos ocupamos em reeditar, desde o Espiritualismo de Sócrates e sua escola, o Ceticismo de Pirro, Montaigne, e Kant, até o Positivismo de Littré.”

Que aqueles que duvidam da exatidão deste parágrafo leiam a seguinte frase, extraída textualmente do Uttara-Mîmânsâ, ou Vedânta, de Vyâsa, que viveu numa época que a cronologia bramânica fixa em 10.400 anos antes de nossa era:

“Podemos estudar os fenômenos, verificá-los e afirmar que são relativamente verdadeiros, mas como nada neste universo, nem pela percepção, nem pela indução, nem pelos sentidos, nem pela razão, é capaz de demonstrar a existência de uma Causa Suprema, que, num determinado ponto do tempo, teria dado origem ao universo, a Ciência não deve discutir nem a possibilidade, nem a impossibilidade desta Causa Suprema”.

Isis Sem Véu – VOLUME II – CIÊNCIA II

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