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Alquimia

Composto dos Compostos

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O presente tratado, Compositum de Compositis, encontra-se no tomo IV do Theatrum Chemicum, pg.825, de onde foi traduzido para francês por Albert Poisson. A tradução portuguesa é de Rubellus Petrinus.

Introdução de Rubellus Petrinus

Alberto o Grande, chamado também Alberto Magno, nasceu numa família nobre dos condes de Bollstad, em Lawingem, ducado de Neuburg, no ano de 1193. Ingressou na Ordem dos Pregadores de S. Domingos, onde esteve até 1222. Era um homem muito inteligente. Ensinou Teologia e Filosofia nas escolas da Ordem e adquiriu fama em toda a Europa, pela variedade e profundidade dos seus conhecimentos. Em Colónia, distinguiu Tomás de Aquino entre os seus alunos, com o qual manteve sempre uma estreita amizade. Acompanhado por ele, dirigiu-se a Paris em 1245, para se graduar em Magister. Deu diversos cursos publicamente.

Estudou, mais tarde, em Veneza, na escola de Giordano. Voltou a Colónia em 1248. Em 1254, foi nomeado Provincial dos dominicanos e, em 1260, bispo de Ratisbona. Renunciou a todos os cargos no ano de 1263 e retirou-se num convento de Colónia, consagrando-se exclusivamente aos estudos.

Escreveu numerosos tratados sobre diversos temas, entre os quais, Teologia e Alquimia. Desfrutou entre os seus contemporâneos de indiscutível autoridade e, por isso, se dizia: “Albertus, Magnus em Magia, maior em Filosofia, máximo em Teologia”. Morreu em Colónia com oitenta e sete anos a 8 de Abril de 1280.

Alberto o Grande, foi um dos maiores alquimistas do passado. O Composto dos Compostos é a sua obra mais importante. Tal como Raimundo Lúlio, Basílio Valentim, Nicolau Flamel e outros grandes alquimistas, o Mestre escreveu, esta obra, também em linguagem clara, o que não é usual fazer-se. Por isso, foi grande a sua generosidade para com os filhos da Arte.

Mas, não se iludam os que pensam que, pelo facto dela ter sido escrita em linguagem clara, a poderão realizar facilmente. A sua compreensão, tal como outrora, continua vedada àqueles que não tenham conhecimentos alquímicos e espagíricos, bem como das artes e ofícios daquela época.

Por isso, aconselhamos todos aqueles que desejarem ir mais além e tentarem fazer esta obra, que estudem o Traité de la Chymie de Cristophle Glaser, boticário ordinário do Rei e de Monsenhor o Duque de Orleans, Paris 1661, ou o Cours de Chymie do seu discípulo M. Lemery, doutor em medicina da Academia Real das Ciências, Paris, 1750.

Antes de terminar esta introdução, desejamos, também, dar alguns conselhos aos estudantes interessados na nossa Arte: todas as matérias referidas nesta obra, deverão ser canónicas e preparadas como manda a Arte.

O vitríolo deverá ser extraído da água infiltrada nas minas de pirite ou de calcopirite que escorrendo para o exterior das minas a céu aberto, forma aí, pequenos lagos; o azougue comum, proveniente da destilação do cinábrio natural; o salitre e o sal amoníaco de origem animal ou revivificados; o sal comum, proveniente das salinas e, por fim, o tártaro dos tonéis de vinho e tratado segundo a Arte.

Finalmente, queremos advertir aqueles que não tenham experiência de laboratório e do manuseamento destas substâncias químicas, que se abstenham de o fazer, porque correrão sérios riscos e até poderão por em perigo a sua vida, bem como a de outras pessoas que estiverem na proximidade.

A substância fundamental que é necessário obter, por sublimação do azougue vulgar ou do seu sulfureto natural pela via húmida, é o perigoso sublimado corrosivo, cujos vapores, extremamente tóxicos, se forem emanados para o exterior do aludel, acidentalmente, por erro de manuseamento ou pela quebra do vaso, podem, causar envenenamento a quem os respirar.

Também as águas, prima, segunda, terça e quarta, quando em contacto com a pele, podem causar graves danos. Os gases emanados das respectivas reacções são, igualmente, muito tóxicos. Os Mestres têm toda a razão quando nos advertem: “Guardai-vos de respirar o hálito venenoso do dragão porque ele mata quem o respirar”.

Os vasos, tais como o aludel e o capitel cego para sublimar o mercúrio, deverão ser confeccionados em grés por um oleiro competente. Os vasos de vidro Pirex, mesmo em banho de areia, resistem mal à temperatura necessária à sublimação do mercúrio. O alambique para destilação da água quarta poderá ser feito de vidro Pirex por um mestre vidreiro. Os restantes vasos, poderão ser balões esféricos de vidro Pirex com as respectivas tampas rodadas a esmeril.

Estes são os conselhos que vos podemos dar para que, por negligência ou desconhecimento, nada de mal vos possa acontecer. A alquimia, tal como a química, tem os seus riscos, que teremos de evitar ou minimizar.

Por experiência pessoal, poderemos ainda dizer-vos, caridosamente, que a “chave” (segredo) desta obra é a destilação da água quarta, isto é, fazer passar pelo bico do alambique o sublimado previamente dissolvido na água terça.

Queluz, Advento de 1998.

Rubellus Petrinus

Prefácio

Não ocultarei uma ciência que me foi revelada pela graça de Deus, não a guardarei ciosamente para mim, por temor de atrair a sua maldição. Qual a utilidade de uma ciência guardada em segredo, de um tesouro escondido? A ciência que aprendi sem ficções, vo-la transmito sem pena. A inveja transtorna tudo, um homem invejoso não pode ser justo ante Deus. Toda a ciência e toda a sabedoria provêm de Deus; dizer que procede do Espírito Santo, é um modo simples de se exprimir. Ninguém pode dizer: Nosso Senhor Jesus Cristo sem subentender: filho de Deus Pai, por obra e graça do Espírito Santo. Do mesmo modo, esta ciência não pode ser separada Daquele que ma comunicou.

Não fui enviado para todos, mas somente para aqueles que admiram o Senhor nas suas obras e que Deus julgou dignos. Quem tenha ouvidos para entender esta comunicação divina, recolha os segredos que me foram transmitidos pela graça de Deus e que não os revele jamais àqueles que não são dignos.

A Natureza deve servir de base e de modelo à ciência, por isso, a Arte trabalha de acordo com a Natureza em tudo o que pode.

Portanto, é necessário que o Artista observe a Natureza e opere de acordo com ela.

CAPÍTULO I

Da Formação dos Metais em Geral

Pelo Enxofre e Pelo Mercúrio

Observou-se que a natureza dos metais, tal como a conhecemos, é engendrada, de uma maneira geral, pelo Enxofre e o Mercúrio. Somente a diferença de cocção e de digestão, produz a variedade na espécie metálica. Eu próprio observei que num só e único vaso, quer dizer, num mesmo filão, a natureza produziu vários metais e a prata, disseminados por aqui e ali. Demonstrámos claramente no nosso “Tratado dos minerais” que, de facto, a geração dos metais é circular, passando, facilmente, de um a outro, segundo um círculo; os metais vizinhos têm propriedades semelhantes; é por isso que a prata se transforma mais facilmente em ouro que qualquer outro metal.

Não é necessário, com efeito, mudar na prata senão a cor e o peso, o que é fácil. Porque uma substância já por si compacta aumenta mais facilmente de peso. E, como contém um enxofre branco amarelado, a sua cor será, também, fácil de transformar.

O mesmo sucede com os outros metais. O Enxofre é, por assim dizer, seu pai e o Mercúrio sua mãe. É, ainda, mais verdadeiro se se disser que, na conjugação, o Enxofre representa o esperma do pai e que o Mercúrio figura o mênstruo coagulado para formar a substância do embrião. O Enxofre só, não pode engendrar, tal como o pai só.

Assim como o macho engendra a sua própria substância misturada com o sangue menstrual, assim também o Enxofre engendra com o Mercúrio, mas por si só não produz nada. Por esta comparação, queremos dar a entender que o Alquimista deverá, antes de tudo, extrair ao metal a especificidade que lhe deu a Natureza, e, depois, que proceda como procedeu a natureza com o Mercúrio e o Enxofre preparados e purificados, seguindo sempre o exemplo da Natureza.

Do Enxofre

O Enxofre contém três princípios húmidos.

O primeiro desses princípios é, sobretudo, aéreo e ígneo; encontra-se nas partes externas do Enxofre, por causa da mesma grande volatilidade dos seus elementos que facilmente se evaporam e consomem os corpos com os quais se põe em contacto.

O segundo princípio é fleumático, também chamado aquoso; encontra-se colocado imediatamente sobre o precedente. O terceiro é radical, fixo, aderente às partes internas só. Aquele é geral, não se pode separar das outras sem destruir todo o edifício. O primeiro princípio não resiste ao fogo; sendo combustível, consome-se no fogo e calcina a substância do metal com o qual se aquece; portanto, não só é inútil, mas ainda nocivo para o fim a que nos propomos. O segundo princípio, não faz mais que molhar os corpos, não engendra, tão pouco pode servir-nos. O terceiro é radical, penetra todas as partículas da matéria que lhe deve as suas propriedades essenciais. Há que desembaraçar o Enxofre dos dois princípios para que a subtilidade do terceiro possa servir para fazer um composto perfeito.

O fogo não é mais que vapor do enxofre; o vapor do Enxofre bem purificado e sublimado branqueia e torna mais compacto. Por isso, os alquimistas hábeis têm o costume de retirar ao Enxofre os seus dois princípios supérfluos por meio de lavagens ácidas, tais como o vinagre de limões, o leite agre, o leite de cabras e a urina de infante. Purificam-no por lixiviação, digestão e sublimação. Finalmente é preciso rectificá-lo por resolução, de modo a não ter mais que uma substância pura contendo a força activa, perfectível e próxima do metal. Eis-nos em possessão de uma parte da nossa Obra.

Da Natureza do Mercúrio

O Mercúrio encerra duas substâncias supérfluas, a terra e a água. A substância terrosa tem alguma coisa com o Enxofre, o fogo a rubifica. A substância aquosa tem uma humidade supérflua.

O Mercúrio facilmente se desembaraça das suas impurezas acuosas e terrosas por sublimações e lavagens muito ácidas. A natureza separa-o no estado seco do Enxofre e o despoja da sua terra pelo calor do Sol e das estrelas.

Ela obtêm, assim, um Mercúrio puro, completamente livre da sua substância terrosa, não contendo mais partes estranhas. Então, une-o a um Enxofre puro e produz, enfim, no seio da terra, os metais puros e perfeitos. Se os dois princípios são impuros, os metais são imperfeitos. Por isso, nas minas se encontram metais diferentes, o que procede da purificação e da digestão variável dos seus Princípios. Isto depende da cocção.

Do Arsénico

O Arsénico é da mesma natureza que o Enxofre, ambos têm algo de vermelho e branco, mas no Arsénico há mais humidade e sublima-se no fogo menos rapidamente que o Enxofre.

Sabe-se quão depressa se sublima o Enxofre e como consome todos os corpos, excepto o ouro. O Arsénico pode unir o seu princípio seco ao do Enxofre; temperam-se um ao outro, e, uma vez unidos, dificilmente se separam; a sua tintura é suavizada por esta união.

«O Arsénico – diz Geber – contém muito mercúrio e, portanto, pode ser preparado como ele.» Sabei que o espírito oculto no Enxofre, o Arsénico e o óleo animal, é chamado pelos filósofos Elixir branco. É único, miscível na substância ígnea, da qual extraímos o Elixir vermelho; unem-se aos metais fundidos, como nós experimentámos, purifica-os, não só por causa das propriedades já citadas, mas ainda porque existe uma proporção comum entre os seus elementos.

Os metais diferem entre si conforme a pureza ou impureza da matéria prima, quer dizer, do Enxofre e do Mercúrio e, também, segundo o grau do fogo que os engendrou.

Segundo o filósofo, o elixir chama-se também medicina, porque assemelha o corpo dos metais ao corpo dos animais. Também dizemos que existe um espírito oculto no Enxofre, arsénico e o óleo extraído das substâncias animais. Este espírito que procuramos, com a ajuda do qual tingimos todos os corpos imperfeitos em perfeitos. Este espírito é chamado pelos filósofos, Água e Mercúrio. «O Mercúrio – diz Geber – é uma medicina composta de seco e húmido, de húmido e seco.» Compreende a sucessão destas operações: extraís a terra do fogo, o ar da terra, a água do ar, porque a água pode resistir ao fogo. É preciso observar estes ensinamentos, eles são arcanos universais.

Nenhum dos princípios que entram na Obra têm potência por si mesmos, porque estão encadeados nos metais, não se podem aperfeiçoar, não são mais fixos. Falta-lhes duas substâncias: uma miscível com os metais em fusão, a outra fixa, que se possa coagular e fixar. Por isso, Rhasés disse: «Há quatro substâncias que mudam com o tempo; cada uma delas é composta de quatro elementos e toma o nome do elemento dominante. A sua essência maravilhosa fixou-se num corpo e, com este último, pode-se alimentar os outros corpos. Esta essência é composta de água e ar combinados, de tal forma que o calor os liquefaz. Eis um segredo maravilhoso. Os minerais empregados em Alquimia, para nos servirem, devem ter uma acção sobre os corpos fundidos. As pedras que nós utilizamos são quatro: duas tingem em branco e, as outras duas, em vermelho. Ainda que o branco, o vermelho, o Enxofre, o Arsénico e Saturno não tenham, senão, um mesmo corpo. Mas neste único corpo, quantas coisas obscuras! E, no entanto, não tem acção nos metais perfeitos.»

Nos corpos imperfeitos há uma água ácida, amarga e agre, necessária à nossa Arte. Porque ela dissolve e mortifica os corpos, depois, revivifica-os e reconstitui-os.

Rhasés diz na sua terceira carta: «Aqueles que procuram a nossa Enteléquia, perguntam donde provém o amargo aquoso elementar. Nós respondemos-lhe: da impureza dos metais. Porque a água contida no ouro e na prata é doce, não dissolve, ao contrário, coagula e fortifica, porque não contém acidez nem impurezas como os outros corpos perfeitos.» Por isso, Geber diz: «Calcina-se e dissolve-se o ouro e a prata sem utilidade, porque o nosso Vinagre extrai-se de quatro corpos imperfeitos; é este espírito mortificante e dissolvente que mescla as tinturas de todos os corpos que empregamos na nossa obra. Não necessitamos senão desta água, pouco nos importa os outros espíritos.»

Geber tem razão; não podemos fazer nada com uma tintura que o fogo altera, ao contrário, é necessário que o fogo lhe dê a excelência e a força para que ela se possa unir aos metais fundidos. É preciso que fortifique, que fixe, que, apesar da fusão permaneça intimamente unida ao metal.

Acrescentarei que, dos quatro corpos imperfeitos se pode extrair tudo. Quanto à maneira de preparar o Enxofre, o Arsénico e o Mercúrio, acima indicada, pode-mos dizê-lo aqui.

Com efeito, quando nesta preparação aquecemos o espírito do enxofre e do arsénico com águas ácidas ou óleo, para extrair a essência ígnea, o óleo e a untuosidade, extraímos-lhes o supérfluo que neles existe; resta-nos a força ígnea e o óleo, as únicas coisas que nos são úteis mas estão mescladas à água ácida que nos serviu para purificar, não há meio de as separar; pelo menos desembaraçamo-nos do inútil. É necessário, portanto, encontrar outro meio de extrair desses corpos a água, o óleo e o espírito mais subtil do enxofre que é a verdadeira tintura muito activa que procuramos obter. Trabalharemos, então, esses corpos, separando por destilação, os seus componentes naturais e, assim, chegaremos às partes mais simples. Alguns, ignorando a composição do Magistério, trabalham só com o Mercúrio, pretendendo que ele tenha um corpo, uma alma e um espírito e que é a matéria prima do ouro e da prata. É necessário responder que é certo que alguns filósofos afirmam que a Obra se faz de três coisas: o espírito, o corpo e a alma, extraídas de uma só. Mas, por outra parte, não se pode encontrar numa coisa o que nela não existe. Ora, o Mercúrio não tem tintura vermelha, portanto, não pode bastar para formar o corpo do Sol; com ele só, ser-nos-ia impossível levar a Obra a bom termo. A Lua, por si, não basta e, no entanto, este corpo é, por assim dizer, a base da obra.

De qualquer modo que seja trabalhado e transformado, o Mercúrio jamais poderá constituir o corpo. Também dizem: «Encontra-se no Mercúrio um enxofre vermelho que encerra tintura vermelha.» Errado! O Enxofre é o pai dos metais, nunca se encontra no Mercúrio que é fêmea.

Uma matéria passiva não pode fecundar por si. O Mercúrio contém, em si, um Enxofre mas, como já dissemos, é um enxofre terrestre. Advertimos, finalmente, que o Enxofre não pode suportar a fusão; então, o Elixir não pode extrair-se de uma única coisa.

CAPÍTULO II

Da Putrefacção

O fogo engendra a morte e a vida. Um fogo ligeiro fraco disseca o corpo. Eis, aqui a razão: o fogo em contacto com o corpo, põe em movimento o elemento que existe nesse corpo e lhe é semelhante.

Este elemento é o calor natural. Este excita o fogo extraído em primeiro lugar do corpo; há conjunção e a humidade radical do corpo sobe à superfície, enquanto que o fogo opera no exterior. Quando desaparece a humidade radical que unia as diversas proporções do corpo, este morre, dissolve-se, resolve-se; todas as suas partes se separam umas das outras. O fogo age como um instrumento cortante. Ainda que por si mesmo disseca e contrai, não pode fazê-lo a não ser que haja nele uma certa predisposição, sobretudo se o corpo é compacto como o é um elemento. Este último carece de um misto aglutinante que se separaria do corpo após a corrupção.

Tudo isto se pode fazer pelo Sol porque é de natureza quente e húmida em relação aos demais corpos.

CAPÍTULO III

Do Regime da Pedra

Há quatro elementos da Pedra: 1º decompor; 2º lavar; 3º reduzir; 4º fixar. No primeiro regime separam-se as naturezas, porque sem divisão e sem purificação não pode haver conjunção. Durante o segundo regime, os elementos separados são lavados, purificados e reconduzidos ao estado simples. No terceiro, transforma-se o nosso Enxofre em minério do Sol, da Lua e dos outros metais. No quarto, todos os corpos anteriormente extraídos da nossa Pedra são unidos, recompostos e fixados, para permanecerem doravante conjuntos.

Há quem conte cinco graus no Magistério: 1º resolver as substâncias na sua matéria prima; 2º levar a nossa terra, quer dizer, a magnésia negra, a ser próxima da natureza do Enxofre e do Mercúrio; 3º fazer que o Enxofre se aproxime, tanto quanto possível, da matéria mineral do Sol e da Lua; 4º compor de diversas coisas um Elixir branco; 5º queimar perfeitamente o elixir branco, dar-lhe a cor do cinábrio e, a partir daí, para fazer o Elixir vermelho.

Enfim, há os que contam quatro graus na Obra, outros três e, outros somente dois. Estes últimos, contam assim: 1º começo da obra e purificação dos elementos; 2º conjugação.

Atenta bem no seguinte: a matéria da Pedra dos filósofos é de baixo preço; encontra-se por todo o lado; é uma água viscosa como o Mercúrio que se extrai da terra. A nossa água viscosa encontra-se por toda a parte, até nas latrinas, disseram certos filósofos e, alguns imbecis, tomando as suas palavras à letra, procuraram-na nos excrementos.

A natureza opera sobre esta matéria retirando-lhe algo, seu princípio terroso, juntando-lhe alguma coisa, o Enxofre dos filósofos que não é o enxofre vulgar mas um Enxofre invisível, tintura do vermelho. Para dizer a verdade, é o espírito do vitríolo romano. Prepara-o da seguinte maneira: toma o salitre e vitríolo romano, duas libras de cada um; mói-os finalmente num pilão. Aristóteles tem, pois razão quando diz no seu “Quarto livro dos meteoros”: «Todos os alquimistas sabem que não se pode, de modo algum, modificar a forma dos metais se não se reduzirem antes a matéria prima.» O que não é fácil, como se verá seguidamente.

O Filósofo diz que não se pode ir de uma extremidade a outra sem passar pelo meio. Numa extremidade da nossa pedra filosofal encontram-se duas luminárias, o ouro e a prata e, na outra extremidade, o elixir perfeito ou tintura. No meio, Aguardente filosófica, purificada naturalmente, cozida e digerida. Todas estas coisas estão próximas da perfeição e preferíveis aos corpos da natureza mais afastada. Do mesmo modo que, por meio do calor, o gelo se transforma em água, por antes ter sido água, também os metais se resolvem na sua matéria prima que é a nossa Aguardente. A preparação está descrita nos próximos capítulos. Somente ela pode reduzir todos os corpos metálicos à sua matéria prima.

CAPÍTULO IV

Da Sublimação do Mercúrio

Em nome do Senhor, toma uma libra de mercúrio proveniente da mina. Por outro lado, toma vitríolo romano e sal comum calcinado, mói-os e mescla-os intimamente. Coloca as duas matérias num prato grande de barro esmaltado, sobre um fogo suave, até que a matéria comece a fundir-se e a liquefazer-se. Então toma o teu mercúrio mineral, mete-o num vaso de colo alto e verte-o, gota a gota, sobre o vitríolo. Revolve com uma espátula de madeira, até que o mercúrio seja todo devorado e não restem quaisquer vestígios. Quando tenha desaparecido completamente, disseca a matéria com um fogo suave durante a noite. No outro dia, pela manhã, tomarás a matéria bem seca e a moerás finamente sobre uma pedra mármore. Colocarás a matéria pulverizada num vaso sublimatório, chamado aludel, para sublimá-la segundo a arte. Colocarás o capitel e lutarás as juntas com luto filosófico, a fim de que o mercúrio não possa sair. Porás o aludel num forno e acomodarás de modo que não possa inclinar-se e se mantenha direito; então, farás um fogo suave durante quatro horas para extrair a humidade do mercúrio e do vitríolo; depois de evaporada a humidade, aumenta o fogo para que a matéria branca e pura do mercúrio se separe das suas impurezas, isto durante quatro horas; para veres se é suficiente, basta introduzir uma varinha de madeira no vaso sublimatório, pela abertura superior, fazendo-a descer até ao composto e sentir se a matéria branca do mercúrio está sobreposta à mescla. Se assim for, retira a varinha, fecha a abertura do capitel com luto, para que o mercúrio não possa sair e aumenta o fogo de tal forma que a matéria branca do mercúrio se eleve sobre as fezes até ao aludel, isto, durante quatro horas. Aquece, enfim, com lenha, de maneira a fazer chama para que o fundo do vaso e o resíduo fiquem vermelhos; continua, assim, até que reste pouca substância branca aderida às fezes. A força e a violência do fogo acabarão por separá-la. Cessa, então, o fogo, deixa arrefecer o forno e a matéria durante a noite. No outro dia de manhã, retira o vaso do forno, tira o luto com precaução para não sujar o mercúrio e abre o aparelho; se encontrares uma matéria branca, sublimada, pura, compacta e pesada, tiveste êxito. Mas, se o sublimado for esponjoso, leve e poroso, retira-o e recomeça outra vez a sublimação sobre o resíduo, juntando-lhe de novo, sal comum pulverizado; opera no mesmo vaso e seu forno, da mesma maneira, como o mesmo grau de fogo que antes. Abre, então, o vaso, vê se o sublimado é branco, compacto e denso, recolhe-o e coloca-o de lado cuidadosamente, para te servires dele quando tiveres necessidade para terminar a Obra. Mas, se não se apresentar ainda como deve ser, será necessário sublimá-lo terceira vez, até que o obtenhas puro, compacto, branco e pesado.

Observa que, por esta operação, despojas o Mercúrio de duas impurezas. Antes de tudo, retiras-lhe a humidade supérflua e, em segundo lugar, desembaraçaste-o das suas partes terrosas impuras que restam nas fezes; sublimaste-o assim, numa substância clara e semi-fixa. Coloca-o de lado, como te recomendei.

CAPÍTULO V

Da Preparação das Águas Donde se Extrai a Água Ardente

Toma duas libras de vitríolo romano, duas libras de salitre e uma libra de alúmen calcinado. Mói-os bem, mescla perfeitamente e coloca-os num alambique de vidro; destila segundo as regras, vedando bem as junturas, para que os espíritos não saiam. Começa com um fogo suave, aquecendo, depois, mais forte; aquece, em seguida, fortemente, até que o aparelho fique branco e os espíritos destilem. Cessa o fogo e deixa arrefecer o forno; coloca esta água cuidadosamente de lado, porque dissolve a Lua e separa-a do ouro, calcina o Mercúrio e as flores de Marte; comunica à pele uma coloração castanha que sai dificilmente. É a água prima dos filósofos, é perfeita ao primeiro grau.

Prepararás tês libras desta água.

Água Segunda Preparada Pelo Sal Amoníaco

Em nome do Senhor, toma uma libra de água prima e dissolve quatro lots de sal amoníaco puro e incolor; feita a dissolução, a água muda de cor, adquirindo outras propriedades. A água prima era esverdeada, dissolvia a Lua e não tinha acção sobre o Sol; mas, desde que se lhe junte o sal amoníaco, toma uma cor amarelo, dissolve o ouro, o Mercúrio, o enxofre sublimado e comunica à pele uma coloração amarelo. Conserva-a preciosamente, porque nos servirá em seguida.

Água Terceira Preparada por Meio do Mercúrio Sublimado

Toma uma libra de água segunda e onze lots de Mercúrio sublimado (pelo vitríolo e pelo sal) bem preparado e puro. Deitarás, pouco a pouco, o Mercúrio na água segunda. Em seguida, selarás o orifício do matrás, para que o espírito do Mercúrio não se escape. Colocarás o matrás sobre cinzas temperadas; a água começará, em seguida, a actuar sobre o Mercúrio, dissolvendo-o incorporando-o. Deixarás o matrás sobre cinzas quentes; não deverá haver um excesso de água, sendo necessário que o mercúrio sublimado se dissolva completamente. A água actua por imbibição sobre o Mercúrio, até que o dissolva.

Se a água não pode dissolver o Mercúrio todo, toma o que resta no fundo do matrás, desseca-o em fogo lento, pulveriza-o e o dissolverás numa nova quantidade de água segunda. Reunirás numa só todas as dissoluções, num frasco de vidro bem limpo, o qual fecharás perfeitamente com cera. Coloca-o cuidadosamente de lado. Porque esta é a nossa água terceira, filosófica, espessa, perfeita ao terceiro grau. É a mãe da Aguardente que reduz todos os corpos à sua matéria prima.

Água Quarta que Reduz os Corpos Calcinados à Sua Matéria Prima

Toma água terceira mercurial, perfeita em terceiro grau, límpida e coloca-a a putrefazer em ventre de cava-lo, num matrás de colo longo, bem fechado, durante catorze dias.

Deixa fermentar; as impurezas caem no fundo e a água passa de amarelo a ruivo. Neste momento, retirarás o matrás e o colocarás sobre cinzas com fogo muito suave; adapta-lhe um capitel de alambique com o seu recipiente. Começa a destilação lentamente.

O que passa, gota a gota, é a nossa aguardente, muito límpida, pura, pesada, Leite virginal, Vinagre muito agre. Continua o fogo docemente, até que toda a aguardente tenha destilado tranquilamente; agora cessa o fogo, deixa arrefecer o forno e conserva com cuidado a tua água destilada, Esta é a nossa Aguardente, Vinagre dos filósofos, Leite virginal que reduz os corpos na sua matéria prima. Deram-lhe uma infinidade de nomes.

Eis, aqui, as propriedades desta água: uma gota depositada sobre uma lâmina de cobre quente, penetra-a imediatamente e deixa nela uma mancha branca. Deitada sobre carvões, emite fumo; ao ar, congela-se e parece gelo. Quando se destila esta água, as gotas não passam seguindo todas o mesmo caminho, cada uma passa por seu lado. Não actua sobre os metais como a água-forte corrosiva, que os dissolve, mas reduz em Mercúrio todos os corpos que banha, como mais adiante verás.

Depois da putrefacção, da destilação e da clarificação é pura e mais perfeita, despojada de todo o princípio sulfuroso, ígneo e corrosivo. Não é uma água que corroi, não dissolve os corpos; redu-los a Mercúrio. Deve esta propriedade ao Mercúrio primitivamente dissolvido e putrefacto ao terceiro grau da perfeição. Não contém já as fezes nem impurezas. A última destilação separou-as; as impurezas negras ficaram no fundo do alambique. A cor desta água é azul, límpida e ruiva; coloca-a de lado, porque reduz todos os corpos calcinados e putrefactos na sua matéria prima radical ou mercurial.

Quando quiseres reduzir com esta água os corpos calcinados, prepara-os assim: toma um marco do corpo que queiras, Sol ou Lua; lima-o docemente. Pulveriza bem esta limalha, sobre uma pedra mármore, com sal comum preparado. Separa o sal, dissolvendo-o em água quente; a cal pulverizada cairá no fundo do líquido; decanta. Seca a cal, embebei-a três vezes com óleo de tártaro, deixando, de cada vez, a cal absorver todo o óleo; coloca, em seguida, a cal num pequeno matrás; deita em cima o óleo de tártaro, de forma que o líquido tenha uma espessura de dois dedos; cerra, então, o matrás e coloca-o a putrefazer em ventre de cavalo, durante oito dias; depois, toma o matrás, decanta o óleo e desseca a cal. Feito isto, coloca a cal em peso igual à nossa Aguardente; fecha o matrás e deixa digerir com um fogo suave, até que toda a cal seja convertida em Mercúrio. Decanta, então a água com precaução, recolhe o Mercúrio corporal, coloca-o num vaso de vidro; purifica-o com água e sal comum; desseca conforme as regras, coloca-o sobre um pano fino e espreme-o em gotas. Se passar tudo, está bem. Se restar alguma porção do corpo amalgamado, porque a dissolução não tenha sido completa, põe esse resíduo com nova quantidade de água bendita. Sabe que a destilação da água deve ser feita em banho-maria; para o ar e o fogo, destilar-se-á em cinzas quentes. A água deve ser extraída da substância húmida não de outra parte; o ar e o fogo devem ser extraídos da substância e não de outra.

Propriedade Deste Mercúrio

É menos móvel, escorre mais lento do que o outro mercúrio; deixa vestígios do seu corpo fixo no fogo, uma gota deitada sobre uma lâmina aquecida ao rubro deixa um resíduo.

Multiplicação do Mercúrio Filosófico

Logo que tenhas o teu Mercúrio filosófico, toma duas partes dele e uma parte da limalha já mencionada; faz um amálgama, moendo tudo junto até à união perfeita. Põe este amálgama num matrás, luta-o bem e coloca-o sobre cinzas com fogo moderado. Converter-se-á tudo em Mercúrio. Assim, poderás aumentá-lo até ao infinito, porque a quantidade do volátil ultrapassa sempre a quantidade do fixo, aumenta-o indefinidamente, comunicando-lhe a sua própria natureza e fornecendo sempre bastante.

Agora, sabes preparar a aguardente, conheces os graus e as propriedades, a putrefacção dos corpos metálicos, a sua redução em matéria prima, a multiplicação da matéria até ao infinito. Expliquei-te claramente o que todos os filósofos ocultaram com cuidado.

Prática do Mercúrio dos Sábios

Não é o mercúrio vulgar, é a matéria prima dos filósofos. É um elemento aquoso, frio, húmido, é uma água permanente, o espírito do corpo, vapor gorduroso, Água bendita, Água-forte, Água dos sábios, Vinagre dos filósofos, Água mineral, Orvalho da graça celeste; tem muitos mais nomes e, se bem que sejam diferentes, designam todos uma só e mesma coisa, que é o Mercúrio dos filósofos; é a força da alquimia; somente ele pode servir para fazer a tintura branca e a vermelha, etc.

Toma, pois, em nome de Jesus Cristo, o nosso M…venerável, Água dos filósofos, Hylé primitivo dos sábios; é a pedra que te foi revelada neste tratado, é a matéria do corpo perfeito, como adivinhaste. Põe a tua matéria num forno, num vaso apropriado, claro, transparente, redondo, que lutarás hermeticamente, de forma que nada possa sair.

A tua matéria será colocada sobre um leito plano, ligeiramente quente; deixa-a, aí, um mês filosófico; manterás o calor sempre igual, tanto que o suor da matéria sublime, até que não sue mais, que nada suba, que nada desça, que comece a apodrecer, a sufocar, a coagular-se e a fixar-se, como consequência da constância do fogo.

Não se elevará mais substância aérea fumante e, o nosso Mercúrio ficará no fundo, seco, despojado da sua humidade, putrefacto, coagulado, convertido numa terra negra que se chama Cabeça negra do corvo, elemento terroso.

Quando tenhas feito isto, terás realizado a verdadeira sublimação dos filósofos, durante a qual percorreste todos os graus supracitados: sublimação do Mercúrio, destilação, coagulação, putrefacção, calcinação e fixação num só vaso e num só forno, como te disse.

De facto, quando a nossa pedra está no seu vaso e se eleva, diz-se então, que há sublimação ou ascensão mas, quando em seguida, cai de novo no fundo, diz-se que há destilação ou precipitação. Mais adiante, depois da sublimação e destilação, a nossa Pedra começa a putrefazer-se e a coagular-se: é a putrefacção e a coagulação; finalmente, calcina-se e fixa-se por privação da sua humidade radical aquosa: é a calcinação e a fixação; tudo isto se faz pelo simples facto de aquecer, num só forno e num só vaso, como se disse.

Esta sublimação, constitui uma verdadeira separação dos elementos, segundo os filósofos: «O trabalho da nossa pedra não é mais que a separação e conjugação dos elementos; porque, na nossa sublimação, o elemento aquoso, frio e húmido, converte-se em elemento quente. Subentende-se que a separação dos elementos da nossa pedra não é vulgar, mas filosófica; a nossa única sublimação, muito perfeita, basta, com efeito, para separar os elementos; na nossa pedra, não há mais que a forma de dois elementos, a água e a terra que contém virtualmente os outros dois elementos. A Terra encerra virtualmente o Fogo, por causa da sua secura; a Água, contém virtualmente o Ar, por causa da sua humidade. Portanto, é bem evidente, que se a nossa Pedra não tem mais que a forma de dois elementos, ela encerra virtualmente os quatro.»

Também disse um filósofo: «Não há separação dos quatro elementos da nossa Pedra, como pensão os imbecis. A nossa natureza encerra um arcano muito oculto, donde se vê a força e a potência, a terra e a água. Encerra outros dois elementos, o ar e o fogo, mas não visíveis, nem tangíveis, não se podem representar, nada os descobre, ignora-se o seu poder que não se manifesta senão nos outros dois elementos, terra e água, quando o fogo muda as cores durante a cocção.»

Eis que pela graça de Deus, tens o segundo componente da pedra filosofal, a Terra negra, Cabeça do corvo, mãe, coração e origem das outras cores. Desta terra, como de um trono, nasce tudo o resto. Este elemento terroso e seco recebeu, nos livros dos filósofos, numerosos nomes, chama-se ainda Latão imundo, Resíduo negro, Bronze dos filósofos, Nummus, Enxofre negro, Macho, Esposo, etc. Apesar desta infinita variedade de nomes, é sempre a mesma e única coisa, extraída de uma só matéria.

Como consequência dessa privação de humidade, causada pela sublimação filosófica, o volátil converteu-se em fixo, o brando em duro o acuoso em terroso, segundo Geber. É a metamorfose da natureza, a transformação da água em fogo, segundo a Turba. É, também, a mudança das constituições frias e húmidas em constituições biliosas, secas, segundo os médicos. Aristóteles disse que o espírito tomou um corpo e, Alfídius, que o líquido se fez viscoso. O oculto tornou-se manifesto, disse Rudianus no «Livro das três Palavras.» Agora, se compreende os filósofos quando dizem: A nossa Grande Obra não é mais que uma permutação das naturezas, uma evolução dos elementos. «É bem evidente: por esta privação de humidade, secamos a pedra, o volátil faz-se fixo, o espírito corporal, o líquido sólido, o fogo transforma-se em água e o ar em terra. Assim, mudámos as verdadeiras naturezas segundo uma certa ordem, fizemos girar o quatro elementos em círculo e permutámos as naturezas.»

Que Deus seja eternamente bendito. Amem.

Passemos, agora, com a permissão de Deus, à segunda operação que é o branqueamento da nossa terra pura. Toma duas partes de terra fixa ou Cabeça de corvo; tritura-a subtilmente e com precaução num almofariz muito limpo, junta-lhe uma parte da Água filosófica que conheces (é a água que guardaste). Aplica-te a juntá-las, embebendo, pouco a pouco, de água a terra seca, até que ela tenha saciado a sua sede; tritura e mescla tão bem que a união do corpo, da alma e da água seja perfeita e íntima; feito isto, colocarás tudo num matrás hermeticamente selado, a fim de que nada saia e colocá-lo-ás num pequeno leito liso, morno e sempre quente para que, ao suar, desembarace as suas entranhas do líquido que bebeu. Deixá-lo-ás aí oito dias, até que a terra branqueie em parte. Então, tomarás a Pedra, pulverizá-la-ás, embebê-la-ás de novo de Leite virginal, moendo, até que tenha matado a sua sede; remetê-la-ás ao matrás sobre o seu pequeno leito morno, para que desseque, suando, como se disse acima. Recomeçarás quatro vezes esta operação, seguindo a mesma ordem: imbibição da terra pela água até à união perfeita, dessecação e calcinação. Assim, terás cozido suficientemente a terra da nossa mui preciosa pedra. Seguindo esta ordem: cocção, pulverização, imbibição pela água, dessecação e calcinação, purificaste suficientemente a Cabeça do corvo da terra negra e fétida, conduziste-a à brancura pela força do fogo, do calor e da Água branqueadora. Escolhe a terra branca e guarda-a, porque é um bem precioso; é a terra foliácea branca, Enxofre branco, Magnésia branca, etc. Morien fala dela quando diz: «Putrefaz esta terra com a sua água, para que ela se purifique e, com a ajuda de Deus, terminarás o Magistério.» Hermes diz, também que o Azoth lava o latão e despoja-o de todas as impurezas.

Nesta última operação reproduzimos a verdadeira conjunção dos elementos, porque a água uniu-se à terra e o ar ao fogo. É a união do homem e da mulher, do macho e da fêmea, do ouro e da prata, do Enxofre seco e da Água celeste impura. Também houve ressurreição dos corpos mortos. Por isso um filósofo disse: «Aqueles que não sabem matar e ressuscitar abandonem a arte.» E, noutro lugar: «Aqueles que sabem matar e ressuscitar tirarão proveito da nossa ciência. Aquele que saiba fazer as duas coisas, será Príncipe da Arte.» Outro filósofo disse: «A nossa Terra seca não dará nenhum fruto se não for embebida de Água da chuva. A nossa Terra seca tem grande sede; logo que começa a beber, bebeu até às fezes.»

Um outro afirma: «A nossa Terra bebe a Água fecundante que aguardava, sacia a sede, depois produz centenas de frutos.» Encontram-se muitas outras passagens semelhantes nos livros dos filósofos, mas estão em forma de parábola, para que os indignos não as possam entender. Pela graça de Deus, possuis, agora, a nossa Terra branca foliácea, preparada para sofrer a fermentação que lhe dará alento. Também disseram os filósofos: «Branqueai a terra negra antes de lhe juntar o fermento.» Um outro afirma: «Semeai o vosso ouro na Terra foliácea branca…e ela vos dará fruto centuplicado.» Glória a Deus. Amen.

Passemos à terceira operação que é a fermentação da terra branca. É preciso animar o corpo morto e ressuscitá-lo, para multiplicar a sua força até ao infinito e fazê-la passar ao estado de Elixir branco que transmuta o Mercúrio em Lua perfeita e verdadeira. Lembra-te que o fermento não pode penetrar o corpo morto, senão por intermédio da água que faz o casamento e serve de laço entre a terra branca e o fermento. Por isso, em toda a fermentação é preciso observar o peso de cada coisa. Portanto, se queres fermentar a Terra foliácea branca para a transformar em elixir branco que encerre um excesso de tintura, necessitas tomar três partes de Terra branca ou Corpo morto foliáceo, duas partes de Aguardente, que puseste de reserva e uma parte e meia de fermento. Prepara o fermento de tal forma que seja reduzido numa cal branca, ténue e fixa, se vais fazer o elixir branco. Se vais fazer o elixir vermelho, serve-te da cal do ouro bem amarelo, preparado segundo a Arte. Não há outros fermentos além destes. O fermento da prata, é a prata, o do ouro, é o ouro, não os procures noutro lado. A razão disto, é que esses corpos são luminosos e encerram raios deslumbrantes que comunicam a outros corpos a verdadeira vermelhidão e brancura. São de uma natureza semelhante à do Enxofre mais puro da matéria, da espécie das pedras.

De maneira que, deverás extrair de cada espécie da sua espécie e cada género do seu género. A obra ao branco, tem por finalidade branquear, a obra ao vermelho, avermelhar. Sobretudo, não mistures as duas Obras, senão não farás nada de proveitoso.

Todos os filósofos dizem que a nossa Pedra se compõe de três coisas: o corpo, o espírito e a alma. Ora bem: a terra branca foliácea é o corpo, o fermento, a alma que lhe dá vida, a água intermédia, o espírito. Reúne estas três coisas numa pelo casamento, moendo-as bem numa pedra limpa, de modo a uni-las nas suas mais ínfimas partículas, constituindo um caos confuso. Quando de tudo fizeres um só corpo, coloca-o num matrás especial que porás sobre um leito quente, para que a mescla se coagule, se fixe e se torne branca. Tomarás essa pedra branca bendita, moê-la-ás subtilmente sobre uma pedra bem limpa e embebê-la-ás com um terço do seu peso de água, para acalmar a sua sede. Seguidamente, remetê-la-ás no matrás claro idóneo, sobre o seu leito temperado e quente, para que ela comece a suar, a restituir a sua água e, finalmente, deixarás dessecar as suas entranhas. Repete diversas vezes até que, por este procedimento, tenhas preparado a nossa excelente Pedra branca, fixa, que penetra rapidamente as partes dos corpos mais íntimas, fluindo como a água fixa quando se coloca sobre o fogo, transmutando os corpos imperfeitos em verdadeira prata, comparada em tudo à prata natural. Observa que, se repetes diversas vezes todas estas operações pela mesma ordem: dissolver, coagular, moer e cozer, a tua medicina será muito melhor, a sua excelência aumentará muito mais. Quando mais trabalhares a Pedra para aumentar a sua virtude, tanto mais rendimento obterás quando fizeres a projecção sobre os corpos imperfeitos. De modo que, se depois de uma operação, uma parte do Elixir converte cem partes de não importa que corpo da Lua, depois de duas operações, transmuta mil, depois de três, dez mil, de quatro, cem mil, de cinco, um milhão e depois de seis, milhares de milhão e, assim, sucessivamente, até ao infinito. Por isso, todos os adeptos elogiam a grande máxima dos filósofos sobre a perseverança para repetir esta operação. Se fosse suficiente uma imbibição, não se discorreria tanto sobre isto. Graças sejam dadas a Deus. Amen.

Se desejas converter esta Pedra gloriosa, esse Rei branco que transmuta e tinge o Mercúrio e todos os corpos imperfeitos em verdadeira Lua; se desejas, digo, convertê-la em Pedra vermelha que transmuta e tinge o Mercúrio, a Lua e os outros metais em verdadeiro Sol, opera assim.

Toma a Pedra branca e divide-a em duas partes; uma, aumentá-la-ás ao estado de elixir branco com a sua Água branca, como foi dito antes, de modo que a possua indefinidamente. Põe a outra no novo leito dos filósofos, limpo, transparente e esférico, colocando tudo no forno de digestão. Aumentarás o fogo até que, pela sua força, a matéria seja convertida em pedra muito vermelha que os filósofos chamam Sangue, Ouro púrpura, Coral vermelho e Enxofre vermelho. Quando vejas esta cor e que o vermelho seja tão brilhante como o açafrão seco calcinado, então, toma alegremente o Rei, coloca-o preciosamente de lado. Se o desejas converter em tintura do mui poderoso Elixir vermelho, transmutando e tingindo o Mercúrio, a Lua e todo outro metal imperfeito em Sol verdadeiro, coloca a fermentar três partes com uma parte e meia de ouro puro em cal ténue e bem amarela e duas partes de Água solidificada. Faz uma mescla perfeita, conforme as regras da Arte, até que não distingas mais os seus constituintes. Remete no matrás sobre um fogo que amadureça, para lhe dar perfeição. Logo que apareça a verdadeira Pedra sanguínea vermelha, adicionarás, gradualmente, Água sólida.

Aumentarás, pouco a pouco, o fogo de digestão. Aumentarás a sua perfeição, recomeçando a operação. É necessário adicionar, cada vez, Água sólida (que guardaste) que convém à sua natureza; ela multiplica a sua potência até ao infinito, sem mudar nada à sua essência. Uma parte de Elixir perfeito ao primeiro grau, projectado sobre cem partes de Mercúrio (lavado com vinagre e sal, como deves saber) colocado num cadinho com fogo fraco até que apareçam vapores, transmuta-o de imediato em verdadeiro Sol, melhor que o natural. O mesmo sucede, substituindo o Mercúrio pela Lua.

Para cada grau de maior perfeição do Elixir, é o mesmo que para o Elixir branco, até que, por fim, tinja de Sol quantidades infinitas de Mercúrio e de Lua. Agora, possuis um precioso arcano, um tesouro infinito. Por isso, os filósofos dizem: «A nossa Pedra tem três cores: negra no princípio, branca no meio e vermelha no fim.» Um filósofo afirma: «O calor, actuando, primeiramente, sobre o húmido, engendra negrura, a sua acção sobre o seco engendra brancura e, sobre esta, engendra a vermelhidão. Porque a brancura não é mais que a privação completa de negrura. O branco fortemente condensado pela força do fogo, engendra o vermelho.» «Todos vós, investigadores que trabalhais a Arte – disse outro sábio – Quando vejais aparecer o branco no vaso, sabei que o vermelho está oculto nesse branco. Falta-vos extraí-lo dele, e, para isso, é preciso aquecer fortemente, até à aparição do vermelho.»

Agora, damos graças a Deus, sublime e glorioso Soberano da Natureza, que criou esta substância e lhe deu uma propriedade que não se encontra em nenhum outro corpo. Ela é a que, colocada sobre o fogo, entabula combate com ele e lhe resiste valentemente. Todos os outros corpos fogem ou são exterminados pelo fogo.

Recolhei as minhas palavras, lembrai-vos quantos mistérios encerram, porque neste curto trabalho reuni e expliquei o que de mais secreto há na alquimia; tudo foi dito simples e claramente, não omiti nada, tudo se encontra brevemente indicado e tomo Deus por testemunha de que nos livros dos Filósofos não se pode encontrar nada melhor do que aquilo que vos disse. Por isso, te suplico, não confies este tratado a ninguém, não o deixes cair em mãos ímpias, porque encerra segredos dos filósofos de todos os séculos. Tal quantidade de pérolas preciosas não deve ser deitada aos porcos e aos indignos. Se, não obstante, isso suceder, rogo, então a Deus todo poderoso que não consigas terminar, jamais, esta Obra divina.

Bendito seja Deus, uno em três pessoas. Amen.

GLOSSÁRIO

Medidas de Peso

Escruplo – Antiga medida de peso correspondente a 1,296g.

Grão – Medida de peso correspondente a 0,0648g.

Gros – Antiga medida de peso equivalente a 3,55g.

Libra – Unidade de massa equivalente a 453,59 (Inglaterra).

Lots – Antiga medida de peso alemã equivalente a 14,17g.

Marco – Antiga medida de peso para o ouro e para a prata, correspondente a 16,6g.

Onça – Medida de peso equivalente a 28,349g.

FIM

por Alberto o Grande

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