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Alquimia

A obra de Ireneu Filaleto

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Rubellus Petrinus

VIA DOS AMÁLGAMAS, VIA HÚMIDA OU AMBAS?

Todos os alquimistas experientes sabem que a via de Filaleto tal como a de Flamel é uma via dos amálgamas, mas se lerdes cuidadosamente a Entrada Aberta ao Palácio Fechado do Rei e a Medula da Alquimia do mesmo autor talvez ficareis com uma ideia completamente diferente.

Medula da Alquimia

«Alguns usaram as Pombas de Diana para preparar a água, labor tedioso, e, para descobri-lo correctamente, um raro artista pode errar duas vezes em cada; o outro modo sumamente secreto recomendamo-lo a todos os que intentam ser artistas.»

«Pois quando a besta se acercou ao manancial como assustadas, as águas se retiraram; a ajuda de Vulcano não valeu de nada. Então apareceram as Pombas de Diana em adereço brilhante. O ar foi acalmado com as suas asas puras e prateadas nas quais o dragão perdeu a sua picadura.»

Entrada Aberta ao Palácio Fechado do Rei, Capítulo Sétimo – IV:

«…Que Diana aqui te favoreça, que saiba domar as bestas selvagens e cujas duas pombas (que foram encontradas voando sem asas nos bosques da Ninfa Vénus) temperem com as suas plumas a malignidade do ar; para que o jovem entre facilmente pelos poros, logo abale as águas superiores, que não foram comovidas pelos maus odores, e suscite nuvem negra; aí verterás as águas, até que apareça a brancura da Lua. As trevas que estavam sobre a face do abismo serão dissipadas pelo espírito movendo-se sobre as águas.»

Capítulo Décimo, II e III:

«…É graças a este enxofre que o nosso Mercúrio é Hermafrodita, quer dizer, que a partir do mesmo grau visível de digestão ele contém ao mesmo tempo um princípio activo e um princípio passivo. E se é unido com o Sol, abranda-o, liquefazendo-o pelo calor temperado que exige o composto; pelo mesmo fogo ele coagula-se, e a sua coagulação produz o Sol e a Lua, à vontade do artista.»

«…Esta coagulação faz-se na forma de creme de leite como terra sobre nadando as águas. Mas quando se une ao Sol, não somente ele se coagula, mas sendo assim composto, a cada dia assume um aspecto mais mole até que, o corpo estando bem dissolvido, os espíritos começam a coagular-se, assumindo nigérrima cor e desprendendo odor extremamente fétido.»

Capítulo Décimo Primeiro – IX a XIV

«Então, procurando mais ainda este enxofre activo, os magos (alquimistas) o encontraram profundamente escondido na casa de Áries. O filho de Saturno acolheu-o com avidez, sendo ele mesmo matéria metálica puríssima, muito branda e próxima do estado primeiro dos metais, completamente desprovida de enxofre actual, mas capaz de receber o enxofre. Por esta razão ela o atrai como um imã, o absorve e oculta nas suas entranhas. E o Todo-Poderoso, para perfazer esta obra, imprime-lhe o seu selo real. Então rejubilaram-se os magos (alquimistas), não somente por ter encontrado o enxofre mas por vê-lo preparado.»

«Tentaram se servir dele para purgar o Mercúrio, mas sem sucesso….Por esta causa tentaram temperar esta malignidade do ar com as pombas de Diana, e tiveram êxito. Então, misturaram a vida com a vida, humectaram a seca pela líquida, subtilizaram a passiva pela activa, e vivificaram a morte pela vida. O céu ficou nublado por um pouco; mas depois das abundantes chuvas, reencontrou a sua serenidade.»

«Daqui surgiu um Mercúrio Hermafrodita. Puseram-no sobre o fogo coagularam-no em pouco tempo; na sua coagulação, encontraram o Sol e a Lua (Enxofre filosófico).»

«Por fim, esses sábios (alquimistas), para si mesmos, observaram que o mercúrio assim purificado e ainda não coagulado não era mais metal, mas era bastante volátil para não deixar nenhum depósito no fundo do vaso, na sua destilação. Por isso chamaram-no o seu Sol ainda não amadurecido e a sua Lua.»

«Por isso aí puseram o Sol; e para sua grande surpresa, o que no Mercúrio era fixo tornou-se volátil, o corpo duro, abrandou-se, e o que era coagulado encontrou-se dissolvido, para surpresa da própria natureza.»

«Foi o que os levou a conjugar estes dois corpos; encerraram-nos num vidro, o qual puseram sobre o fogo, e prosseguiram a sua obra, como a natureza o exigia, durante um longo período. Assim, foi revivificado o morto e morreu o vivo, o corpo putrefez-se, o espírito exaltou-se, glorioso, e a alma foi exaltada numa quintessência, medicina soberana (medicina universal) para os animais, metais e vegetais.»

Na nossa opinião o segredo desta versão húmida da Obra de Filaleto são as Pombas de Diana. O que são então, estas famosas Pombas de Diana?

Na via dos amálgamas são o Caput da destilação (Lua e Vénus) para animação do Mercúrio Filosófico mas aqui não, porquê?

Elas são a “chave” (segredo) da versão húmida desta via a mais difícil como o Mestre diz.

Reparai bem no texto: «O céu permaneceu nublado por um pouco; mas depois das abundantes chuvas, reencontrou a sua serenidade».

Na via dos amálgamas não há nuvens, nem abundantes chuvas. Isto é característica de uma via húmida. Se o régulo Solar amalgamado com o Mercúrio for colocado num matrás de vidro selado com dois sais (as duas pombas) muito conhecidos deste a antiguidade pelos alquimistas os quais são descritos na segunda Chave de Basílio Valentim, num forno em banho de areia, há uma violenta reacção química que dissolve o composto, provoca nuvens (por isso o céu será temporariamente nublado) e chuva.

Esta violenta reacção química depois de se iniciar não há forma de a parar e, por isso, a quem tentar fazer esta operação depois de conhecer as matérias e o modus operandi, lhe recomendamos muita prudência. O matrás se não for suficientemente forte e grande pode explodir.

Assim, este mercúrio será Hermafrodita porque tem no seu seio o Enxofre de Marte e do Sol e não é mais metal. Pode ser coagulado “per se” e fazer assim a obra ou então destilado e depois cozido com o Sol. Pois como Filaleto diz, “onde o ouro pode ser semeado”.

Tudo isto faz-nos supor que esta operação alquímica pelas suas características corresponde também à via húmida de Artéfius.

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