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Guaita nasceu num sábado, 6 de abril de 1861 às 5 horas da manhã, em Altevi-lle, perto de Nancy, na Lorraine Francesa. Seu signo ascendente posicionou-se aos 27º 30´ de Peixes e seu signo solar colocou-se em Áries. Era filho de François Paul de Guaita e de Marie Amélie de Guaita, católica fervorosa. Seu pai provinha de uma antiga família de origem ger-mânica, vinda da Itália no reino de Carlos Magno. Seus antepassados foram homens de guerra, religiosos e poetas. Em 1715, o tataravô de Stanislas de Guaita estabeleceu-se em Frankfurt, casando-se com uma jovem alemã. Durante o império napoleônico, o avô de Guaita alistou-se no exército Francês e adquiriu a nacionalidade francesa. O pai do ocultista fixou-se em Altevi-lle, onde nasceu o Mestre. A família de sua mãe era de descendência francesa.
O brasão dos Guaita possuía um escudo dividido horizontalmente. Na parte superior, uma águia imperial, bicéfala, destacava-se em negro, tendo sobre sua cabeça uma coroa. A parte inferior do escudo era em prata com três esquadros de lápis lazúli, com bordas de triângulos alternadas, em prata e negro.
Os autores que escreveram sobre Stanislas de Guaita não chegaram a nos forne-cer muitos dados sobre a sua vida iniciática. Aprofundaram-se apenas na doutrina que ele pró-prio expôs em seus livros; os dados sobre sua vida particular, que poderiam interessar a todos aqueles que o admiram através de sua obra, referem-se apenas a aspectos exteriores. Apenas sua correspondência com Joséphin Péladan deixa entrever a natureza oculta e séria de seus trabalhos iniciáticos.
Na verdade, pouco antes do nascimento de Stanislas de Guaita, estava na moda o espiritualismo esotérico. Segundo o Mestre Papus, por volta de 1850, os Rosa+Cruzes ti-nham recebido a missão de encetar uma reação contra o materialismo oficial. Tinham se orga-nizado centros Mart.: e parecia que o espírito cristão voltava a renascer. Este foi o clima no qual Guaita veio ao mundo das formas.
Entretanto, é impossível apresentar o interior de um Inicidado de sua enverga-dura e revela-lo ao publico, sem efetuar uma grande profanação. O homem interior só se deixa revelar à própria Divindade. Aqueles que vivem no exterior recebem apenas os reflexos de sua grande luz. Da mesa do Senhor as migalhas caem no chão e são digeridas por todos aqueles que aspiram a poder, algum dia, partilhar do celeste ágape.
Possam todos os iniciados que se baseiam na vida e obra dos divinos Mestres da Humanidade, um dia participar de tão glorioso banquete.
No colégio dos Jesuítas em Nancy, Stanislas de Guaita teve como companheiro Maurice Barrès, poeta que chegou a ingressar na Academia Francesa. Na primavera de 1880, Guaita e Barrès, jovens aprendizes de filósofo, viveram em Nancy com plena independência. Assim diria Barrès, referindo-se àquela época: “Esse tempo continua sendo o mais agradável de minha vida… O dia todo, e eu poderia dizer, a noite toda, da mesma forma, líamos poemas em voz alta um para o outro. Guaita, que possuía uma saúde magnifica e não abusava dela, deixava-me somente tarde da noite, mas ao amanhecer ia contemplar a elevação das brumas sobre as colinas que rodeavam Nancy”.
A poesia foi pois, a primeira manifestação literária de Stanislas de Guaita. Es-creveu Les Oiseaux de Passage em 1881, com 20 anos de idade, La Muse Noire em 1883 e Rosa Mystica em 1885. Em 1882 desembarcou na capital, juntamente com seu inseparável companheiro Maurice Barrès. Nessa época já se havia iniciado nos estudos ocultistas e efetu-ado um bom relacionamento com os esoteristas parisienses. Barrès procurou logo o mundo das artes, enquanto Stanislas de Guaita fez apenas um pequeno giro de reconhecimento da cidade e se concentrou em seus livros. Guaita renunciou sem vacilar à poesia. Tinha encontrado em outra parte o seu caminho. O objetivo de seu deslocamento para Paris era a Faculdade de Di-reito. Procurava algo mais elevado, embora não tivesse ainda total certeza do que se tratava. Sua vocação foi decididamente encontrada através da leitura de livros de Eliphas Levy e da obra O Vício Supremo, de Joséphin Péladan, pois encontrou no Sâr um mestre vivo. O pri-meiro contato entre ambos deu-se através de uma correspondência endereçada por Stanislas de Guaita a Joséphin Péladan em 1884, quando o remetente possuía 23 anos e Péladan 25. Esta carta foi o prenúncio de uma amizade que mesmo vindo a ser posteriormente abalada, perdu-rou praticamente até a morte de Stanislas de Guaita. Datada de 3 de novembro, nela Guaita expressava-se ele mesmo, a Péladan “por falta de amigos comuns”, na esperança que o autor lhe esclarecesse alguns pontos que o intrigavam. Mais tarde, descobriria que Péladan era um assíduo leitor de Eliphas Levy, possuindo praticamente todas as suas obras. Stanislas de Guaita confessou que considerava a Cabala uma Ciência magnífica, possuidora de “dogmas grandio-sos e mitos incomparáveis”. Nessa época já assinava com um aleph, o que demonstra a linha-gem cabalística do jovem ocultista.
Depois de ter conhecido Péladan, Guaita relacionou-se sucessivamente com Barlet, Papus e Julien Lejay. Já eram seus amigos o Abade Roca (Alta) e Saint-Yves d´Alveydre. Intensificou, a partir desse momento, suas pesquisas ocultistas e a busca de livros raros nos sebos das margens do rio Sena. Montou uma invejável biblioteca cabalística, cuida-dosamente encadernada e catalogada.
Péladan tinha uma brilhante erudição, mas de pouca profundidade. Os dois ocultistas, em sua correspondências assinavam Mérodack, Péladan, e Nébo, Stanislas de Guai-ta.
Mérodack, nome caldaico que expressa os atributos de Júpiter; Nébo, igual-mente de origem caldéia que se refere aos de Mercúrio.
Em sua obra Os Filhos das Estrelas, Joséphin Péladan diria:
“Espírito de Mérodack! Ó Júpiter! Espírito de Força e de Misericórdia, Senhor mui generoso, magnânimo imperador de Deus, senhor do templo e do palácio, chefe dos ma-gos e dos reis, astro do cetro e da mitra, fazê-nos render a todos a honra que nos foi dada.”
Espírito de Nébo! O! Mercúrio! Espírito de sutilidade e de magia, que ensina as partes, possuidor dos secretos, senhor dos talismãs, árbitro do destino, desenvolve em nós o espírito profético e sagrado; permite-nos descobrir o mistério celeste, astro de inteligência, de sucesso, de milagres.”
Por sua vez, Stanislas de Guaita, demonstrando o respeito que possuía por Pé-ladan, numa de suas cartas diria:
“Eu sei, eu SINTO que vós sois uma Inteligência superior à minha… Vós sois um gênio de espontaneidade e de síntese; eu sou um talento de paciência e de análise… Em vossos contatos amistosos, vós tendes o verdadeiro tato: aquele da Inteligência do Coração.”
Posteriormente, por ocasião do afastamento de seu amigo a quem chegou a chamar de “grande fanático”, sua admiração por Péladan arrefeceria. Em verdade, os conheci-mentos de Péladan fundamentavam-se naquilo que lhe ensinara seu irmão e mestre o Dr. Adrien Péladan que Guaita não chegou a conhecer, bem como, no companheirismo do sábio cabalista Albert Jounet, diretor da revista “A Estrela”, poeta esotérico que escreveu As Lysis Negras e O Livro do Juízo e que também foi amigo de Guaita.
Escrevendo a Maurice Barrès, Stanislas de Guaita diria:
“Leia os livros de Eliphas Levy e você verá que não há nada mais belo do que a Cabala. E eu, que sou relativamente versado em Química, não me admiro ao ver até que ponto os alquimistas eram sábios verdadeiros; com certeza a pedra filosofal não é nenhum embuste. A ciência mais contemporânea e mais esclarecida tende a confirmar hoje as geniais hipóteses dos magos de 6 mil anos atrás.”
Stanislas de Guaita sempre foi um reconciliador, e a impressão que se tem é de que ele sempre estava procurando formar um grupo de Homens de Desejo, em torno de si e talvez de Saint-Yves d´Alveydre. Isto poderá explicar sua paciência na busca da reconciliação de uns e outros possíveis candidatos ao adeptado.
Stanislas de Guaita encontrou em Papus e Barlet as duas colunas de seu edifício intelectual. O trio tinha em Eliphas Levy, Fabre d´Olivet, Khunrath, Martinez de Pasqually, Saint Martin e Jacob Boheme os guias invisíveis que iluminavam a senda por onde deveriam passar não somente esses homens de vontade, mas todo aquele rebanho por eles apascentado. Seguindo as pistas de Jacob Boheme, de Eckhartaussen, de Pico della Mirandola, de Marcelo Ficin e de Knorr de Rosenroth é que Guaita chegou a Saint Yves d´Alveydre.
Stanislas, Papus e Barlet, apoiavam-se nas obras dos mestres e na Cabala Ju-daica, fundamento da Alta Magia. “Agora que fiz a síntese absoluta de minyhas idéias sobre Cabala”, disse Guaita, “estou em condições de lhe dizer: meu caro amigo (Péladan), estou CERTO. Hermeticamente falando, estou absolutamente certo de estar na tradição ortodoxa… estou convencido de que te falo com conhecimento de causa. Ah! se pudesse em algumas li-nhas comunicar-te a claridade que me inunda… Parece-me que a luz se faz em meu espírito, e que os Arcanos se esclarecem. ”
Percebe-se, que assim como Papus, Guaita representava a Senda Ativa da Inici-ação, aquela que conduz o Adepto a tomar “o céu por assalto”. Por isso, quando o mestre Gé-rard Encause fundou em Lyon a Escola de Magnetismo, tendo Philippe Nizier como seu Dire-tor, nomeou como professores a Guaita, Sedir, Barlet, Péladan, Chamuel, Marc Haven, Mau-rice Barrès e a Victor Emile Michelet. A finalidade oculta dessa escola era a de recrutar mem-bros para as Sociedades Iniciáticas dirigidas por Papus e Guaita. Nessa escola, ensinavam He-braico, Cabala, Tarot, Astrologia, História Oculta, Magia e Medicina Oculta. Papus, numa de suas obras, falando de Guaita, afirma que ele, foi um sábio cabalista contemporâneo, de-mons-trando seu respeito pela figura de Stanislas.
Stanislas de Guaita passava cinco meses do ano no seu apartamento térreo da Avenida Trudaine, em Paris, na zona norte da cidade, onde recebia seus amigos ocultistas e onde mantinha uma segunda biblioteca. Seu salão, todo decorado de vermelho, obrigava a sé-rias meditações. As conversas com os amigos, assim como leituras cabalísticas, eram estimu-lantes para o espírito. Maurice Barrès, seu amigo de infância, dizia que ele era capaz de ficar semanas inteiras sem sair do apartamento. Muitas vezes cortava esse isolamento voluntário pela “caça” aos livros e raramente regressava sem trazer um exemplar raro. Os sete meses res-tantes do ano eram passados no campo, em seu castelo de Alteville, com sua mãe, certamente cuidando de sua produção material. No entanto, jamais se descuidava de seus estudos ocultos e procurava visitar os doentes nos vilarejos vizinhos, exercendo uma medicina caseira herdada de seu pai. Tinha um quarto da casa transformado “Laboratório alquímico”, para uma atividade que dizia exercer desde sua tenra juventude. Esse recinto era guardado, segundo acreditavam alguns criados e alguns amigos que freqüentavam sua intimidade, por um fantasma.
Tinha ele, nesse local, outra biblioteca e era, certamente, o local de reunião al-ternativo dos Rosa+Cruz, da qual foi o seu verdadeiro renovador. Seu Laboratório químico proporcionava a transformação dos elementos por inúmeras combinações; da mesma forma, ocorria em seu ser uma transformação espiritual, testemunhada por seus escritos e pelas con-versas sempre estimulantes, que acalentavam os corações de todos os seus irmãos. Os traba-lhos realizados em Alteville, com seus companheiros mais íntimos, efetuavam-se com muita harmonia, apesar da oposição de sua mãe, católica praticamente. Segundo contaria posterior-mente seu secretário, Oswald Wirth, desde muito jovem têm-se notícia de que Stanislas de Guaita ousava escrever livros que pareciam heréticos à sua mãe viúva, embora ela não pudesse compreender que eram de um escritor esotérico e cristão. Ela não entendia a independência religiosa do filho e temia pela sua condenação eterna. “Confesso a divindade do Cristo-Espí-rito”, escrevia-lhe o filho, “e professo o cristianismo universal ou catolicismo…(1890)… Creio em Deus e na Providência e não há um dia em que eu não eleve várias vezes minha alma em direção da Absoluta Bondade ou meu espírito em direção da Verdade Absoluta.”
Esta incompreensão familiar, estendeu-se pela sua cidade natal, e o próprio clero e a igreja passaram a condenar seus escritos, sendo perseguido e banido da comunidade eclesiástica. Posteriormente, um padre seu amigo, conseguiu, após árdua luta, reconciliar Sta-nislas de Guaita com o poder monacal.
Apesar de ter nascido com imensa bagagem espiritual, jamais deixou de consul-tar a opinião dos antigos ocultistas, através de seus livros. Pois a verdade não se inventa: ela existe há séculos e cabe a nós encontrá-la na literatura, na Natureza e em nosso próprio inte-rior. A opinião daqueles que dedicaram uma vida inteira à busca do conhecimento não pode ser negligenciada. Daí a grande importância das leituras. Guaita sabia disso e dialogava diaria-mente com Eliphas Levy, Fabre d´Olivet, Trithemo, Paracelso, Saint-Martin e com outros pais da espiritualidade ocidental, não apenas através de seus escritos, mas também através da Luz Astral.
O ambiente de sua biblioteca parecia exaltar os mais puros pensamentos e lá as pessoas esqueciam-se do tempo. Guaita lia raramente os jornais, mas concentravam-se nos seus grimó-rios, pantáculos e nos grandes clássicos do Ocultismo. Vivendo nessa atmosfera a maior parte do tempo, pairava acima das condições mundanas de sua época, podendo elevar os seus pen-samentos às mais puras abstrações. Segundo Barlet: “ele via sábios pretenderem en-globar no ciclo de suas descobertas todo o infinito do mundo, a ciência revoltar-se contra a fé, o espírito novo lançar-se contra a experiência dos séculos e o dogma do progresso material predominar sobre o da perfeição espiritual e moral”.
Para Stanislas de Guaita, o importante era alcançar a beleza da alma, e para isso, em primeiro lugar era necessário vencer o orgulho. Era necessário transformar o instinto em sentimento e o sentimento em ideal. Era necessário renunciar aos prazeres sociais em seu aspecto coletivo, para que pudesse nascer a individualidade. “A sabedoria é o único egoísmo permitido, a glória é a única realidade aceitável quando ela é conquistada nas alturas” diria ele. “Não devemos deixar que a vida nos lastime, que entorpeça pelas circunstâncias exteriores o esforço de perfeição individual. O mago deve libertar-se do mundo, e não sofrer nele.” – “Para ser mago, é necessário ser um gênio, um elo da corrente dos homens predestinados que transmitem, uns aos outros, de idade em idade, a chama da luz” diria Divoire, completando seus pensamentos.
Stanislas de Guaita, esse jovem ocultista, que possuía o mais vivo desejo de atingir o Nirvana, e que congregava uma plêiade de cabalistas do mais alto nível, a partir da última década do século XIX, como Papus, Barlet, Julien Lejay, Chaboseau, Polty, Marc Ha-ven, Victor Emile Michelet, Sedir, Péladan, Oswald Wirth e outros, não deixou de fundar uma sociedade que congregasse os maiores talentos da época, vivificadores da Santa Cabala, e que ressuscitasse dos velhos santuários o simbolismo da Rosa+Cruz.
Seu conhecimento com Oswald Wirth teria ocorrido em 1887, a quem uma en-ferma à qual houvera magnetizado, lhe anunciara que recebia uma carta lacrada em vermelho e com armas da nobreza, endereçada por um homem jovem, de cabelos e pele clara e de olhos azuis, com idêntico interesse que o de Wirth. Efetivamente, essa carta foi escrita por Guaita na sexta-feira santa daquele ano, convidando Oswald Wirth para um almoço no dia seguinte, para travarem conhecimento pessoal.
Esse encontro entre os dois eminentes ocultistas, acabou produzindo, dois anos depois, em 1889, a união do simbolismo maçônico que Wirth estudara em 1884, com o signifi-cado interior do tarô, professado por Guaita, na publicação das cartas desenhadas pelo pri-meiro, sob o título: O Taro dos imaginários da Idade Média.
A Sociedade fundada por aqueles talentosos ocultistas da época, teria sido fun-dada e tornada pública pela necessidade de denunciar publicamente o abade Boullan, de cujos ensinamentos Guaita desconfiou, encarregando Wirth de investigar a verdadeira essência de sua doutrina.
Verificou-se que Boullan recorria à Missa Negra, a orgias sexuais entre os membros da seita e a outros fenômenos prejudiciais à saúde dos mais fracos. Concluiu-se que Boullan era discípulo de Eugênio Vintras, o feiticeiro desmascarado por Eliphas Levy, Vintras fundara a seita do Carmelo, cujas aberrações Guaita revelou no Templo de Satã, denunciando-as à opinião pública. Boullan foi condenado à retratação pública por um tribunal de Adeptos Rosa+Cruzes e, tendo-se agravado seu desequilíbrio psicológico, imaginou que Guaita teria sobre ele lançado algum enfeitiçamento. Guaita acabou sendo acusado de práticas mágicas contra Boullan por Jules Blois dos jornais “Le Figaro” e “Gil Blas”. Esse caso explica os due-los de Jules Blois com Guaita e Papus, que felizmente não ocasionou nenhuma gravidade maior.
A Rosa+Cruz tinha na época como objetivo, além de recrutar intelectuais capa-zes de adaptar a tradição esotérica do século que estava entrando, explica-nos Stanislas de Guaita, combater a feitiçaria em todos os lugares onde ela pudesse ser praticada. “Nós os con-denamos ao batismo da luz” enfatiza Guaita em O Templo de Satã. Ele procurava conhecer todas as artimanhas do maligno para combatê-lo com toda potência possível.
O acesso aos graus da Rosa+Cruz Cabalística era efetuado mediante exame, sendo que para o último grau era necessário a defesa de uma tese sobre um tema estabelecido pelo Supremo Conselho, o qual era formado por seis membros conhecidos e por seis ocultos. Os membros conhecidos eram Guaita, Papus, Barlet, Polti, Péladan e Agur.
François Charles Barlet, escrevia a respeito da obra de Guaita: “A harmonia dos contrários é a fórmula mais indicada para caracterizar a tua obra… Teu método é, ao mesmo tempo, analítico e intuitivo… Nem pontífice nem inovador: tu serás o fiel apóstolo das verda-des que recebestes…”
Com a demissão de Péladan da Rosa+Cruz Cabalística, foi admitido o abade Roca, pseudônimo da Alfa. Ele, convocado pelo bispo de Perpignam a retratar-se de seu cristi-anismo esotérico não o fez, e assim, foi afastado do poder clerical, perdendo o seu título de canônico honorário.
Quando a Ordem adquiriu o número suficiente de membros, de acordo com a sua constituição, foi rigorosamente fechada. Ela dirigia outros grupos de iniciados de graus inferiores, propagando as doutrinas esotéricas no seio da coletividade, através de publicações das teses de doutoramento em Cabala.
Esse procedimento não só permitiu a formação de homens com bom conheci-mento de Cabala, como propagou seus ensinamentos no meio ocultista. A cabala propõe a síntese da doutrina dos magos, a Alta e Divina Magia herdada dos Caldeus através de Abraão, reformulada por Moisés e Esdras e divinizada pelo próprio Jesus Cristo. É a tradição primor-dial do Ocidente, que procurava desenvolver a positividade do homem, tornando-o um ser de vontade.
Conforme André Billy, a Ordem Cabalística da Rosa+Cruz era administrada por um conselho supremo composto por três câmaras: Câmara de Direção (Baret e Papus), a Câ-mara de Justiça (Paul Adam, Julien Lejay e Alta), e a Câmara de Administração (Wirth e Cha-boseau). As três reunidas compunham o Supremo Conselho e todas elas eram submetidas à direção do Grão Mestre, Stanislas de Guaita.
A respeito da apologia do Misticismo feita por Oswald Wirth, respondeu-lhe Guaita: “…Quando esses Iniciados – considerando-se quase como egrégoras, pastores de almas errantes, Sacerdotes e Franco-Juizes -, quando esses Iniciados chegam a praticar, passando pela terra, algum bem a seus semelhantes, isto é, a seus irmãos menores, acreditai, eles nada mais têm a desejar e possuem em verdade a paz profunda do Rosa+Cruz!”.
Dentre os membros do Supremo Conselho, havia um que não aceitava a lide-rança de outra pessoa que não fosse ele próprio: Joséphin Példan. Não admitia tornar-se discí-pulo tendo sido o primeiro mestre de Stanislas de Guaita. Além disso, suas concepções im-pregnadas de catolicismo romano exagerado, conflitavam com a opinião independente dos demais Rosa+Cruz. Suas concepções acerca de Jesus, Maria e de outros personagens do cristi-anismo não se diferenciavam das opiniões de um padre católico.
Dizia-lhe Stanislas de Guaita: “…Deus irá te conceder uma ou várias entrevistas, para que possas ver a Luz integral do Cristianismo esotérico, e isto sem renegar uma sílaba de teu credo, sem eliminar uma das arestas do Dogma Eterno. Pois estás destinado para o futuro; o céu assim o deseja… Sou, pois, Sacerdote do Oculto, como foram em todas as épocas todos os adeptos do 3º grau e tenho todos os poderes para exercer o culto in secretis, magicamente e não sacerdotalmente”.
“Seria capaz de sacrificar-me por tudo aquilo que creio verdadeiro, belo e justo” diria Guaita em outra ocasião.
Péladan não entendia o significado profundo e oculto dessas palavras e não admitia que seu ex-discípulo lhe falasse por parábolas, e assim, passou a editar bulas e exco-munhões em nome da Rosa+Cruz. Advertido pelo Grão-Mestre, criou sua própria sociedade, a Ordem Rosa+Cruz Católica do Templo do Graal, separando-se do Grupo em 1890. Guaita, Jacques Papus e Charles Barlet declararam Joséphin Péladan cismático e apóstata denunciando seus atos e sua ordem ao tribunal da opinião pública.
Essa; separação foi, sem dúvida nenhuma, muito desencantadora para Guaita. Viu todos os esforços, no sentido de encaminhar Péladan na Senda, caírem por terra. Entre 1882 e 1891 Guaita procuraria acalentar o espírito do amigo e fortificar a sua fé, ausente em seu íntimo.
Stanislas de Guaita buscara sempre ser um mediador e um médico de almas. Numa correspondência a Péladan, diria: “Para curar uma alma, um Dirigente prudente usará alternativamente o Rigor e a Misericórdia. Assim um bom médico poderá curar um corpo so-frido, pelos Semelhantes ou pelos Contrários… Eu reconheço que a homeopatia é a medicina esotérica; é o magnetismo curativo quem sintetiza o emprego do medicamento.”
Acreditava ele que para penetrar a Sabedoria Divina existente além da ciência humana, são necessários o Amor e a Fé. Dizia que “A inteligência voluntária é, entre nós, o princípio ativo; mas a fé é passional e passiva. A Grande Obra é o casamento do ativo e do passivo; é como dizia Basile Valentin, o Fixo do Volátil e o Volátil do Fixo.”
A falta de fé está intimamente associada à ausência de tolerância, que é, em úl-tima análise, um desamor em relação a todos os nossos semelhantes.
Guaita nunca deixou de prestar suas homenagens aos Mestres que lhe precede-ram. Dizia ele: “Tenho uma infinidade de livros de todos os séculos e li com atenção na Biblio-teca Nacional quase todos os mestres; inclino-me diante de Eliphas Levy como diante do MESTRE DOS MESTRES (como Arnaud de Vila Nova chamou a Geber). Ninguém, que eu saiba, penetrou tão profundamente no problema, e ninguém construiu uma síntese tão esplên-dida, tão imensa e tão inabalável.”
Em 1886, Stanislas escreveu a Péladan dizendo-lhe que estava preparando para os próximos anos a publicação de uma obra que deveria denominar Os Três Mundos, com uma introdução longa, destinada a familiarizar o espírito do leitor com as matérias esotéricas de maior profundidade discutidas nos tomos seguintes. Essa introdução foi publicada inicialmente na Revista Contemporânea, dando origem ao seu primeiro livro: No Umbral do Mistério.
Já nessa época, Stanislas de Guaita prenunciava sua passagem para o Oriente Eterno, e em algumas de suas cartas, sua caligrafia demonstrava os sofrimentos corporais de que era vítima, chegando a tornar-se ilegível pela dor que o atormentava.
“Preparai-vos – disse ela a Péladan convidando-o para com ele encontrar-se em Paris – eu estarei aqui por pouco tempo e tenho sede de vossa companhia”. – “Eu vos escrevo no leito, sofrendo, como podeis ver por minha escrita. – “Procuro diminuir minha Morfina, mas isto me é muito difícil”.
Nunca entretanto, deixou de ocupar-se do ocultismo, escrevendo continua-mente sobre os temas que se tornaram o seu Verdadeiro Ideal.
Dizia ele que a chave de tudo está na Luz Astral. Nesse sentido concebeu a sua obra baseado nas lâminas do Tarô, procurando desvendar o tríplice significado de Nahash, a alma astral do mundo. “Dominar a Luz Astral em si e na Natureza é ter descoberto e formu-lado o incomunicável Grande Arcano. É a matéria-prima que solve e coagula para a realização da Grande Obra. A Fé, a Ciência e a Vontade, são instrumentos de emancipação do Verbo Humano e de sua reintegração no Verbo Divino, promovendo o casamento místico do homem com a divindade.”
Seus ensaios de Ciências Malditas, deveriam compreender, cinco volumes a saber: 1º Volume – No Humbral do Mistério – introdução geral.
2º Volume – O Templo de Satã.
3º Volume – A Chave da Magia Negra.
4º Volume – O Problema do Mal.
5º Volume – Conclusão, a Apoteose.
No Umbral do Mistério foi publicado em 1886, em formato pequeno sem os apêndices. Para o meio ocultista da época foi uma revelação. Todos os Homens de Desejo encontraram a luz que buscavam na chama viva que era Stanislas de Guaita. Ele foi o primeiro a surpreender-se com o inusitado sucesso de seu livro. Em 1890 foi publicada uma segunda edição, três vezes maior, contendo dois pantáculos de Henry Khunrath. Em setembro de 1894 houve uma terceira edição, na qual, utilizando o prólogo, Stanislas de Guaita fala do sentido verdadeiro da Alta Magia como síntese geral, duplamente fundamentada na observação posi-tiva e na indução por analogia.
Guaita confessava-se discípulo fervoroso de Eliphas Levy e de Fabre d´Olivet e não pensava ser mais do que um simples discípulo. Não esperava nenhum apostolado, mas sua primeira obra ocultista, revelou-se por inspiração divina e pelo ardor de seus leitores.
Aceitou com naturalidade, aos vinte e cinco anos, a missão que se descortinou para ele, preparando-se ainda com mais afinco para o fiel cumprimento do alto dever que con-traiu com o próprio Reparador. Dedicou toda a sua vida a procurar a verdade e a transmitir as teorias ocultistas dentro de um estilo claro, que logo se tornou clássico. Numa época em que todos se ocupavam em alimentar as paixões da alma e os instintos do corpo , obteve grande reputação em razão de seu trabalho desinteressado, que não tinha outro objetivo a não ser conduzir, elevar e iluminar a alma humana.
Raphael Germinal, em seu livro, O Destino Religioso da Humanidade, diz que: “O nome de Jesus simboliza então, admiravelmente, a queda da divindade no espaço e no tempo, pelos ciclos geradores da Senda Universal. “Guaita, escreveu: “O número da queda, é também o número da vontade, e a vontade é o instrumento da reintegração.”
O Templo de Satã, foi publicado em 1891, abordando as sete primeiras lâminas do Tarô, focalizando a história física do ocultismo inferior e os procedimentos da baixa magia. Ele é o primeiro volume da Serpente da Gênese.
Para esclarecer o sentido figurado, Guaita elaborou a Chave da Magia Negra. Nahash, a luz astral, agente tanto de obras boas como más. Seu domínio fornece a chave da Magia Negra, permitindo analisar as causas e os efeitos dos ritos e dos fenômenos descritos em O Templo de Satã. A Chave da Magia Negra foi editada em 1897, ano da morte de Guaita, e O Problema do Mal não chegou a ser concluído, sendo completados, os poucos capítulos que o autor chegou a redigir, por Oswald Wirth e por Marius Lepage. Muitos anos depois, em 1949, Lepage fazia notar que Stanislas tinha 35 anos quando começou a escrever O Problema do Mal, e que Oswald Wirth se aproximava dos sessenta quando retomou o livro inacabado. Nesse intervalo, muita água correra sob a ponte do esoterismo. De qualquer forma, Wirth pro-curou seguir de perto as indicações das lâminas do Tarô. Ele que amara a Guaita como a um irmão, continuava sentindo a sua presença quase tangível. Legou a Lepage o manuscrito por ele concluído do Problema do Mal, com a missão de que Lepage o terminasse em forma defi-nitiva. Lepage por modéstia, concluiu que: “Quanto mais eu estudava as folhas que me haviam sido passadas, mais eu compreendia que era a obra de uma única alma em dois corpos. “Wirth e Lepage deram conclusão a essa obra póstuma de Stanislas de Guaita, seguindo à risca os ensinamentos do mestre. O livro possui aproximadamente 100 páginas escritas ou ditadas por Guaita, 10 ou 12 completadas por Wirth e mais ou menos 60 por conclusões e comentários de Lepage (conf. A. Billy).
Se Guaita tivesse tido tempo para concluir esse livro, provavelmente a evolução de seu pensamento nos teria presenteado escritos da mais alta profundidade, em razão do ama-durecimento de suas doutrinas. Com O Problema do Mal, os leitores encontrariam as chaves que conduzem à Iluminação Divina, se a Providência não tivesse arrancado o autor do conví-vio de seus iniciados. Os amigos de Guaita pensavam, em 1897, que a Providência Divina não aprovara a conclusão da obra, repleta de revelações que deveriam permanecer ocultas e restri-tas a um pequeno número de Homens de Desejo. De qualquer forma, essa sua obra somente foi publicada 50 anos após a sua morte.
Por volta de 1888 Papus reanimara a Or.: Mart.: e Stanislas de Guaita chegou a presidir uma cerimônia de Inic.:. Essa Ord.: fundada por Martinez de Pasqually por volta de 1750, continuada por Louis Claude de Saint Martin – “O Filósofo Desconhecido” e depois por Jean Baptiste Willermoz até 1810, tendo Lyon como sede, tomou grande vigor a partir de 1887 devido à multiplicação dos iniciados livres e pela constituição do Supremo Conselho da Ordem em Paris. A Ord.: Mart.: conservara intactas as constituições das altas fraternidades iniciáticas que precederam à revolução maçônica de 1773. A Ord.: Mart.: era essencialmente espiritualista e combatia com todas as suas forças o ateísmo e o materialismo. Outorgava ao simbolismo, o grande papel que lhe estava reservado em qualquer iniciação séria. Nunca se ocupava de política nem de questões de cultos religiosos. Permitia estudar e não abandonava a mais absoluta das tolerâncias. Lá não adentrava aquele que queria, mas aquele que tendo reu-nido méritos para tal, para isto era convidado. O iniciador não podia ser conhecido a não ser por duas pessoas: aquela que havia sido iniciada, e o iniciador do próprio iniciador. Estabele-cia-se assim uma corrente de silêncio iniciático.
Numa recepção Mart.: presidia por Stanislas de Guaita, estas foram as suas pa-lavras: “Aqui não tratamos de impor convicções dogmáticas. Que tu acredites ser materialista ou idealista, que professes o budismo ou o cristianismo, que te proclames livre pensador ou que somente aceites o cepticismo absoluto, pouco nos importa realmente. Nós não contradi-zemos teu coração incomodando o teu espírito com problemas que não deves resolver a não ser frente à tua própria consciência e no solene silêncio de tuas paixões aplacadas… Dá ao amor dos homens, teus irmãos, a denominação que quiseres: Amor, Solidariedade, Altruísmo, Fraternidade ou Caridade… As palavras não são nada… Mas, sejas quem fores, não te esqueças jamais que, em todas as religiões realmente verdadeiras e profundas, isto é, fundamentadas no esoterismo, colocar tudo isto em prática, através do sentimento, é o primeiro ensinamento, capital, essencial… Nenhum dogma religioso ou filosófico pode ser imposto à tua fé. Quanto às doutrinas, cujos princípios essenciais resumidos para ti, pedimos tão somente que as medites como melhor te parecer e sem idéias preconcebidas… Abrimos para ti os selos do livro, agora deves primeiro conhecer a letra e, posteriormente penetrar no Espírito dos mistérios que este livro encerra…”
Afastado da Ord.: da R+C.:, Stanislas de Guaita, prenunciando a sua passagem para o Oriente Eterno, viveu cada vez mais solitário e longe da turbulência mundana. Charles Barlet, que o visitara em 1896, pedindo-lhe colaboração para uma pequena revista, assim des-creve parte de sua visita: “Seus olhos azuis… de uma calma impressionante… seus traços imó-veis, enquadrados pela barba e pelos cabelos loiros, davam à sua fisionomia algo do aspecto hierático que se imagina nos sábios da Grécia e nos Profetas da Bíblia.”
Encerrando em seu castelo com livros de esoterismo reunidos durante toda a sua vida, Stanislas de Guaita desinteressara-se pelas lutas políticas e sociais que, nessa época, opunham franceses contra franceses. Ao contrário de Barrés e Péladan, ignorava as coisas temporais, não tendo pensamentos a não ser para o invisível. Realizou a solidão temporal da Lâmina IX.
Ele que combatera o mal, chegara a uma conclusão definitiva sobre sua exis-tência no mundo da forma, em oposição ao bem: “Sem dúvida, pode-se dizer que Deus não criou o Mal, mas admitiu-o como possibilidade para o caso de que, livremente, o homem qui-sesse cometê-lo.”
A esse respeito, dissera ainda: “Eis aqui a árvore da ciência do Bem e do Mal; seu tronco bifurcado eleva-se sobre uma única raiz. Eis aqui a virgem simbólica que Apolônio encontrou às margens da Hiphasis e cujo corpo está dividido numa metade branca e numa me-tade negra. Eis aqui o misterioso cristal do pantáculo de Tritheme; no triângulo superior, brilha o esquema Divino, o Tetragrama incomunicável a imagem de Satã ri nas trevas do triângulo inferior.”
Para Guaita, o ocultismo comporta um tríplice objeto de estudos: Deus, o Ho-mem e o Universo. As duas colunas do templo são Jakin e Booz e os métodos complemen-tares para aquisição do conhecimento são a experiência e a tradição. As duas são necessárias, pois que uma única, somente forma iniciados incompletos. A analogia é o método duplo, ao mesmo tempo indutivo e dedutivo, de grande valor para os iniciados que caminham na senda do ocul-tismo.
“Existem quatro diferentes caminhos para o homem, – diz Stanislas de Guaita, – em primeiro lugar a vida universal, à qual se vincula pela vida de sua espécie. Depois, a sua própria vida, que é inerente a seu ser individual. Depois, a vida refletida, a vida particular de cada uma das células cujo agrupamento orgânico constitui seu próprio corpo. E, finalmente, num grau inferior, a vida química dos átomos da matéria que se agrupam eles mesmos para formar a célula.”
A cada ser humano é dado viver com maior ou menor intensidade aquela dessas vidas que mais atrai a sua própria alma. Uns fundamentam-se na ciência humana, outros na Ciência Divina. Os Iniciados, em ambas, para realizarem o equilíbrio universal.
Stanislas de Guaita foi assim, um Cabalista e um Alquimista, embora nunca te-nha admitido pessoalmente essa condição. Para ele, entre outros, Guilhaume Postel, Reutchlin, Khunrath, Nicolas Flamel, Saint Martin e Fabre d´Olivet eram Mestres da Cabala, e ele seguia-lhes os passos juntamente com Victor Emile Michelet desde os 20 anos de idade, quando fo-ram apresentados por Barrès, um ao outro. Michelet foi o último sobrevivente do grupo de Guaita, passando para o Oriente Eterno em 13 de janeiro de 1938.
O Destino não permitiu que Stanislas de Guaita concluísse seu terceiro setená-rio, ocasionando sua morte através do mesmo mal que atacou seu pai em 1880: a uremia. Já antes de 1886, Guaita queixava-se desse mal, cujo reflexo é uma dor de cabeça terrível. Mas o mal foi-se acentuando, e em 1897 Guaita chamou em Ateville seu mais fiel companheiro, Pa-pus, para transmitir-lhe a sucessão na Ordem Cabalística da Rosa+Cruz, dizendo-lhe que es-tava tudo acabado e que o Destino não lhe permitiria dizer mais nada. “Talves eu assista ao nascimento de meu livro (A Chave da Magia Negra), mas creio que não poderei ir mais longe”. Alguns dias mais tarde, Papus sentiu que um nascimento estava prestes a ocorrer no Invisível: viu inúmeros sinais misteriosos, enchendo seu coração de tristeza, e isso significava a morte do companheiro que tanto estimava. Três dias depois Stanislas de Guaita estava morto, vítima de uremia. Seu espírito galgando as alturas das regiões celestes, foi atuar no mundo das almas glorificadas, na Comunhão dos Iniciados.
Não deixou testamento literário ou filosófico, na opinião de seus biógrafos e amigos. Muitos acreditam que seus últimos desejos não foram transmitidos aos amigos de Pa-ris. A biblioteca que valia no mínimo, 38 mil francos, foi vendida por apenas 15 mil à livraria Dorbon. Os livros raros, com notas do punho do Adepto, foram dispersados. A família recusou todo tipo de oferta dos amigos pela biblioteca parisiense. Muitos manuscritos seus foram queimados, assim como diversos documentos. Sua família via na atividade iniciática do Mestre a causa de sua morte, esquecendo-se de que o pai fora atingido pelo mesmo mal em 1880.
O mal que ele tanto procurou combater, reside na imaginação corrompida das pessoas, nos corações endurecidos pelo orgulho e pelo ódio. Reside no egoísmo e nos falsos valores da humanidade. A morte física é o sofrimento da saudade para os encarnados, mas também é a desvinculação das necessidades físicas. E ele poderá viver na Luz e pela Luz, con-tribuindo para a emancipação de seus semelhantes que ainda permaneceram para trás na escala evolutiva.
Um novo século se aproxima e novos iniciados realizarão igualmente a sua obra. Eles encontrarão o caminho um pouco mais facilitado pelo trabalho de seus antepassa-dos, Filhos da Luz, como foi Stanislas de Guaita.
Dois anos após a morte de Stanislas de Guaita, Péladan, que não lhe guardara nenhum rancor pelas admoestações recebidas, dedicou-lhe sua obra L´Occulte Catholique (1899), endereçando-lhe palavras que todos os iniciados, no momento em que se reverencia sua memória, igualmente fazem suas:
“…Tua morte prematura assegurou toda a purificação de teu destino, e tu és agora um eleito. Eu me recomendo à tua amizade, celestialmente destinada, em testemunho daquela que nos uniu por muito tempo e que nos reunirá, eu o espero, na própria eternidade. Assim seja.”
O Mestre Stanislas de Guaita, passou para o Oriente Eterno a 19 de Dezembro de 1897, quando contava com 36 anos de idade.
OBRAS RESUMIDAS NESTE TRABALHO:
1) Lettres Inédites de Stanislas de Guaita au Sâr Joséphin Péladan (150 exem–
plares impressos p/Editions Rosicruciennes em Suiça, 1952).
2) O Tarot dos Bohemios – (Papus) – Editorial Kier – 4ª Ed., 1977
3) No Umbral do Mistério – Edições Grafosul – Porto Alegre – 1979
4) História e Doutrina do Mart.: – Coleção interna – Bethel.
5) Stanislas de Guaita – Príncipe del Esoterismo – Série Incógnita/ Poderes
1ª Edição – Barcelona – 1981.
6) A Cabala (Papus) – Editora do Brasil – SCA – 1983.
7) No Umbral do Mistério – Editora Martins Fontes – 1ª Edição/1985.
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