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Marcelo Ramos Motta
Está escrito no “Livro da Lei”: “Abrogados estão todos os rituais, todos os ordálios, todas as palavras e sinais.”
Isto significa que TODAS, as correntes religiosas do Æon passado perderam contato com os planos espirituais. Aqueles grandes iniciados que lhes deram origem retiraram-se ao Silêncio, aliando suas forças à gama vibratória do Novo Æon.
Thelemitas devem fazer um gesto de exorcismo ao passar por qualquer pessoa envergando o hábito de qualquer religião do Æon morto. Isto é por dois motivos: primeiro, porque a aura dessas pessoas é um foco de força estagnada; segundo, porque muitos membros desses cleros são, literalmente demônios encarnados.[1]
As tendências morais e emocionais que tornaram possível as espantosas perseguições e matanças religiosas do passado ainda existem na psiquê coletiva; não se manifestam abertamente apenas porque as forças construtivas da raça as mantém sob controle. Mesmo assim, ocasionalmente elas desenfreiam: os massacres do Vietnã, Polônia, Hungria, Checoslováquia, e outros países do bloco marxista; o recente genocídio de Hitler pode ser contrastado com as matanças (cuidadosamente censuradas nos jornais) de ingleses e palestinos, perpetrados por judeus a fim de fundar o Estado de Israel. Biafra, Uganda, Congo, Angola, Filipinas, e o Camboja, são mais recentes ainda; alguns continuam fontes de infames cabeçalhos.
Somente um leitor muito ingênuo pensará que o simples ato de retirar a força espiritual de uma corrente destrói instantaneamente as manifestações dessa no plano físico. A inércia do mundo material exige um grande esforço para encetarmos nele qualquer movimento; mas pelo mesmo motivo, uma vez o movimento encetado, será necessário um esforço grande para imobilizá-lo.
Iniciados não perdem tempo nem desperdiçam energia de tal maneira. Quando a fonte espiritual de uma corrente cessa, a força dinamizadora é aplicada a outros afazeres, inclusive a uma nova corrente; e o impulso anterior segue seu curso natural de automatismo até que seu embalo se esgote por completo.
Existe nisto uma analogia perfeita com um cadáver humano. A força espiritual responsável pela coesão da massa celular que se manifestou como um corpo vivo retira-se com a morte; mas o cascão material não se dissolve imediatamente com isto: vai se decompondo aos poucos em grupos celulares diversos, os quais vão sendo absorvidos por outros processos vivos em sua volta, contanto que esta ecologia não seja interrompida e desrespeitada por embalsamamento ou outras medias igualmente ilógicas.
Dessa mesma forma o cristianismo, o bramanismo, o islamismo, e o budismo, as quais são quatro correntes amaldiçoadas nO Livro da Lei, não desapareceram instantaneamente, a partir de abril de 1904, quando entramos na Nova Era do Novo Æon; apenas perderam a fonte sutil de origem. Essas correntes estão se desintegrando lentamente, decompondo-se em seitas e grupos litigiosos. Os membros mais adiantados de seus cleros respectivos estão se sintonizando com a Lei de Thelema, e desta forma são aparentemente, um novo impulso aos grupos que chefiam. Mas como a Lei de Thelema é totalmente diversa da teologia dessas religiões, gradualmente estas sub-correntes de reação se desintegrarão mais rápida do corpo de reação teológico ortodoxo de origem.
O Zen Budismo, tal como praticado por Suzuki, excelente místico japonês, nada tem a ver com o budismo supersticioso e preconceituoso que infestou a Ásia durante séculos. O Sofismo, tal como alardeado pelo sutil Gurdjieff, difere totalmente o islamismo que bradava morte aos infiéis. A doutrina Vivekananda, inspirada por seu mestre Ramakrishna, em nada se parece com o hinduísmo que sufocou a Índia durante séculos de passividade supersticiosa e estúpida; o nobre misticismo de Martins Buber, o filósofo judeu, em nada se parece com a sanguissedenta estreiteza cultural e elitismo tribal da ortoxia mosaica.
Esses homens sentindo-se atunados com as vibrações espirituais da nova era, buscaram interpretar suas correntes em termos da Lei de Thelema, e tem sido bem sucedidos, pois como está escrito: “A Lei é para todos”. Mas, assim fazendo, é inevitável que ela destrua a forma assumida por aquelas correntes de origem no Æon passado. A ortodoxia das correntes religiosas do velho Æon está fadada a desaparecer.
Há somente uma corrente religiosa do velho Æon que não tem exibido, desde abril de 1904 e.v., quaisquer líderes renovadores. Esta corrente é o cristianismo. Todas as tentativas de renovação dessa filosofia tem sido reacionárias; não é uma evolução que os cristãos tem buscado, mas uma regressão. Eles não aspiram ao progresso, mas sim ao regresso.
Isto deve-se ao fato que o cristianismo foi uma falsa fé desde sua origem. Com a oficialização do Credo de Nicéia, os patriarcas romanos-alexandrinos se alhearam por completo da corrente espiritual do Grande Iniciado que pregou o gnosticismo através do Oriente Médio, e que ficou conhecido como Diônisio. Este foi verdadeiro iniciador da Corrente Cristã, incorporado no Novo Testamento à figura composta de “Jesus” como Mestre de Rentidão dos Essênios, com o profeta Ionas (João Batista), e outros. Veja-se mais sobre esta infame mentida em “Carta a Maçom”.
Quando nossas vidas então baseadas sobre uma mentira, nós só temos duas alternativas: reconhecer que a base da nossa existência é falsa, e mudar radicalmente a nossa conduta e o nosso ponto de vista, ou persistir em nossa falsidade a qualquer preço.
As tentativas confusas e desajeitadas da Igreja Romana de adaptar a sua liturgia à nova gama vibratória vigente, e os remendos ansiosos que os cristãos em geral estão procurando efetuar nos farrapos de seu dogma, seriam patéticos se os cristãos merecessem qualquer simpatia de mentes esclarecidas. Mas eles não merecem.
O cristianismo foi, sempre que pode, o assassino da ciência, da arte, da filosofia, e da liberdade individual, especialmente a liberdade de pensamento, em todos os países que assumiu poderio econômico e político. Quando uma crença é falsa, basicamente ela é inecológica.
O marxismo, está começando a exibir exatamente os mesmos sintomas nos países onde se tornou dogma. Só as atitudes, iniciativas, maneiras de pensar, e até mesmo as descobertas científicas que não contradizem a religião oficial são permitidas ao cidadão soviético ou chinês. Mais: quando o dogma, por algum motivo sofre uma reviravolta, espera-se que os cidadãos, também, dêem uma cambalhota e passem a contradizer e a contrafazer suas palavras e seus atos de um dia atrás.
Qual a raiz desta loucura? Muito simples: é o medo de morrer, não fisicamente, mas moralmente e intelectualmente.
Se os padres admitissem por um momento que o Credo de Nicéia foi uma enormidade e um disparate, teriam que abandonar a roupeta e trabalhar como gente honesta; as ramificações internacionais do Vaticano teriam que abandonar a máscara de religião, e pagar impostos como qualquer empresa.
Uma classe sacerdotal tem de manter seu dogma a qualquer preço, ou resignar-se a morrer como classe e como dogma!
Mas o preço de todo progresso é uma mudança, e esta é uma espécie de morte.
Aqueles que temem perder sua vida nunca se tornarão iniciados, bem como aqueles que temem a dor e o desconforto decorrentes da admissão de nossos erros e da tentativa de reformular nossos valores, nunca aceitarão uma idéia nova.
O ódio de tais pessoas por quaisquer circunstâncias, que lhes tragam à mente a necessidade de mudança, a inevitabilidade de mudança, é tanto maior quanto maior for o seu medo de morrer. E se estes covardes morais e intelectuais estiverem em posições nodais na estrutura sociocultural, eles buscarão por todos os meios, mesmo os mais indefensáveis, destruir quer as circunstâncias, quer as pessoas, que buscaram trazer a realidade à baila.
Éliphas Lévi, escreveu a propósito de correntes mágickas: “O mago deve isolar-se no começo, e mostrar-se muito difícil em relações, para concentrar em si a sua força e escolher os pontos de contato; mas quanto mais for selvagem e inacessível nos primeiros tempos, tanto mais ver-lo-ão, mais tarde rodeado e popular, quando tiver imantado a sua cadeia e escolhido o seu lugar numa corrente de idéias e Luz”. ( Livro “Dogma e Ritual de Alta Magick”).
Até aí tudo bem; mas suponhamos que em vez de “escolher o seu lugar numa corrente de idéias e de luz”, o mago deseje criar uma nova corrente de idéias e luz?
Em tal caso ele pode esperar as mais tremendas provações, e a mais implacável perseguição por parte de todos aqueles que sentem que a criação de uma nova corrente obrará em detrimento da corrente de que fazem parte.
Quando Aleister Crowley morreu, uma revista católica romana de circulação eclesiástica publicou em latim o seguinte texto sobre as circunstâncias de sua morte:
“No dia dois de dezembro de 1947 a imprensa inglesa anunciou a morte de Aleister Crowley, descrito por um juiz como a pessoa mais pervertida da Inglaterra. Ao lhe ser perguntado, em certa ocasião, sobre a sua identidade, Crowley replicara: ‘Antes que Hitler fosse, EU SOU’ – uma deliberada blasfêmia sobre as escrituras. Antes de deixar este mundo, o Mago de setenta anos de idade amaldiçoou seu médico, o qual, muito corretamente, lhe havia recusado morfina porque Crowley a estava distribuindo entre menores. ‘Já que vou morrer sem morfina, você morrerá logo depois de mim.’ E isto aconteceu. O Jornal Daily Express do dia 2 de aril de 1948 relatou que o funeral do mago negro provocara protestos do Conselho Municipal da cidade de Brighton. O Conselheiro J. C. Sherrot declarou que, de acordo com os relatórios que recebera, o funeral de Crowley fora celebrado com ritual completo de Magick negra. Seus discípulos haviam recitado invocações infernais, “O Hino a Pã” composto pelo próprio Crowley, “O Hino a Satã”, escrito por Carducci, e as Coletas da Missa Gnóstica, composta por Crowley para seu templo satânico em Londres.”
Neste documento há diversos erros, para não dizermos calúnias, que passamos a detalhar.
Crowley nunca em sua vida, distribuiu drogas a menores.
O médico de Crowley não lhe recusou morfina, não foi amaldiçoado por ele, nem morreu pouco depois de Crowley.
Os tais relatórios recebidos pelo Conselheiro Sherrot foram fornecidos de Segunda mão. O Hino a Satã, de Corbucci, não foi recitado, pois este é um poema de “satanismo”. Quanto ao Hino a Pã poderá ser lido na brilhante tradução de Fernando Pessoa, por qualquer pessoa interessada em poesia.
Além destas falsidades surpreendentes, há ainda no documento em questão certas deturpações deliberadas dos fatos, a saber:
Crowley foi chamado por um juiz inglês, de “o pior homem do mundo”, que acabara de ouvir a leitura de alguns poemas pornográficos que Crowley escrevera e publicara em sua juventude. Estes poemas haviam sido deliberadamente baseados nas alucinações sexuais descritas em relatos canônicos das “Vidas dos Santos”.
A finalidade de Crowley, fora demonstrar a sexualidade recalcada que resulta do celibato forçado. Em outras ocasiões, escreveu uma série de poemas em louvor a Deusa Isis, baseados em textos egípcios, e maliciosamente publicou-os como sendo a “Virgem Maria”. Isto resultou em críticas elogiosas por parte de publicações católicos-romanas. Logo em seguida, Crowley publicou nova edição de poemas em sua forma original, e adicionou as críticas laudatórias dos teólogos romanos, como apêndice. Com finalidade de indicar que a “Virgem Maria” é uma mera imitação da Isis Egípcia. Infelizmente, em vez de compreenderem a lição que lhes estava sendo dada, os padres romanos se encolerizaram ainda mais contra o Magus do Æon, e redobraram suas calúnias e perseguições contra ele.
Sobre o que Crowley disse de Hitler publicamente, que este tinha ido longe demais, e que a destruição do Nazismo se tornara necessária. Acabara de lhe ser participado que os nazistas tinham queimado a edição em alemão dO Livro da Lei, tinham posto Karl Jhoannes Guermer, (Rei Alemão da Ordo Templi Orientis na época, e mais tarde sucessor de Crowley como Cabeça Externa da Ordem, e também foi meu Instrutor), num campo de Concentração Nazista.
Pouca gente sabe que o V da Vitória e o sinal do polegar para cima, usados justamente na época em que a reação contra o nazismo começou, foram lançados por Crowley.
Se fossemos corrigir aqui todos os exageros, e denunciar todas as falsidades contra Crowley, perpetrados pelo catolicismo-romano, teríamos que escrever uma série alentados de volumes, e para que? Conhece-los-eis pelos seus frutos.
Mencionamos a publicação acima, apenas para trazer a consciência de nossos leitores que é muito fácil mentir a respeito dos nossos adversários, quando fazemos numa língua que só é falada corretamente pela nossa patota, ou numa publicação que só circula entre ela.
Há decênios que se publica no Brasil as mais despudoradas calúnias, não só contra Crowley, mas contra muitos outros homens talentosos e justos, sem que esses homens tenham qualquer oportunidade de explicar mal-entendidos ou de se defenderem contra libelos. Entretanto, as conseqüências sociais de ostracismo e até a perseguição decorrem de tais publicações inescrupulosas. É a famosa lista negra. Trataremos desses casos mais a fundo no capítulo sobre Ocultismo e Política. Aqui nos interessam mais especialmente os aspectos mágickos e magnéticos da hostilidade das cadeias mortas.
A morte espiritual de uma cadeia mágicka não exime as pessoas que são alvo da hostilidade dessa cadeia dos danos que a cadeia lhes pode causar enquanto o impulso mágicko perdure. E se estas pessoas estão tentando criar uma nova cadeia para eventualmente substituir a cadeia morta, a hostilidade se torna indescritível.
Quando uma cadeia “morre espiritualmente”, isto significa simplesmente que o Iniciado que lhe deu origem se retira ao Silêncio, ou enceta outra obra. É como um exército que subtalmente perdesse o seu comandante chefe, com uma sutil diferença; o exército sempre pode nomear outro comandante chefe, mas em Magick é o Comandante quem nomeia o exército!
A dissolução de uma corrente espiritual eqüivale a uma ordem de debandar. Esta ordem é sentida pelas mentes mais avançadas que pertencem à cadeia como um vazio, um desnorteamento. O Santo dos Santos perdeu a Presença: o profeta chama seu Senhor, e este não responde.
Membros da cadeia, nesses casos, só tem duas alternativas:
1 – Procurar uma cadeia nova, ou fundar uma de mote próprio. Para isto é necessário, no primeiro caso, dor, sofrimento, e uma total revolução psíquica; adicione-se uma determinação, paciência e coragem moral a toda prova no segundo!
2 – Fazer das tripas coração, e continuar nossas atividades como se nada tivesse acontecido. Buscar até, se somos ambiciosos, ocupar o trono do Mestre, que sabemos estar vazio.
Deve-se notar que a sucessão hierárquica da representação de uma corrente no plano físico é sempre desta ultima forma. O Rei está morto; viva o Rei! Mas não se passa o mesmo quando a corrente morre. A fonte espiritual de uma corrente não é um homem, nem um Rei, é um Deus.[2] Sabe-se que um Deus não morre; se um Deus se retira, é sempre porque decidiu mudar a forma de seu trabalho. Neste caso aqueles que persistem em continuar a forma abandonada pelo Deus estão contrariando os propósitos d’Ele. Estão indo contra a o Movimento Universal, ou seja, estão regredindo não evoluindo. Suas intenções são as melhores possíveis, mas as Leis da Natureza não inexoráveis. As Leis naturais são as únicas leis divinas: se estamos dando veneno a um sedento, pensando que estamos lhe dando água, nossa sinceridade de nossa crença não impedirá que a vítima morra envenenada.
Se tal é o caso com correntes legítimas, quanto mais de uma corrente como a do cristianismo, que foi falsa desde o seu início! Seu sucesso deveu-se ao fato da gama vibratória do Æon passado tornar possível as atividades anímicas praticadas por cristãos. Um método de teurgia libera; mas toda religião restringe. Os dogmas centrais do cristianismo eram restritos; a idéia do rei morrer pelo seus súditos eliminava a possibilidade de indivíduos excepcionais sobreviverem e fecundarem a massa social; esperava-se deles sacrifícios, e não sucesso. A idéia da virgindade impedia o intercâmbio anímico sadio; a promessa de céu e a ameaça de inferno mantinham as pessoas moralmente imaturas, servis psiquicamente a uma Imagem Paterna premiadora, ou punidora; e a doutrina básica implícita nisto tudo, de “bem e de mal” como conceitos absolutos e opostos, não passava de um maniqueísmo disfarçado; produz até hoje a notória disparidade entre as palavras dos cristãos e seus atos.
É mais fácil morrer do que viver honrosamente; é mais fácil ceder que lutar; é mais fácil se abster do que agir. As atividades preconizadas pelos originadores do Credo de Nicéia eram mais fáceis que as verdadeiras atividades cristãs, preconizadas por Diônisio: estas exigem uma abertura do ego, uma expansão da nossa perspectiva, uma adaptação ecológica ao nosso meio-ambiente, com os conseqüentes riscos e desconfortos.
É fácil amar a teu próximo quando ele é apenas uma réplica de ti mesmo; não é tão fácil amá-lo, ou respeitá-lo, quando ele defende idéias universais totalmente diferentes da tua, e quando este parece estar mais feliz e mais bem sucedido com essa idéia.
Amar a teu próximo como a ti mesmo, significa dar o mesmo valor ao ego alheio que ao nosso. Isto não quer dizer que devamos abandonar nosso ponto de vista, para adotar sempre aos das pessoas, a idéia consiste em unir os dois pontos de vista, e através deste ato atingir um novo. O verdadeiro crescimento espiritual exige uma modificação constante, um progresso da natureza anímica.
Aquilo que é desconhecido é temível: o ego de outra pessoa é uma ameaça para o nosso autismo. Mas, como disse o poeta latino, “Conta teus anos pelas tuas feridas”. E como disse Crowley aos seus discípulos; “Conquista toda aversão em ti mesmo, controla toda tua repulsa. Assimila tudo o que te parecer veneno, pois apenas nisso terás lucro. Aqueles que evitam o sofrimento, seja mental ou físico, permanecem sempre homens insignificantes, e não há virtudes neles. Porém cuidado para não caíres naquela heresia que considera sofrimento e o auto-sacrifício qual subornos oferecidos a um Deus corrupto como pagamento de algum imaginário prazer em alguma vida após a morte. Nem por outro lado, temas destruir teus complexos, julgando assim poderás perder o poder de criar alegria através do contraste entre a tua perspectiva e a de outras pessoas. Mas em cada Boda[3] sê corajoso e afirma o ardor espiritual do Orgasmo, fixando-o em algum talismã, seja este uma obra de arte, de Magick, ou de Teurgia.”[4]
Essa atitude egóica, necessita de disposição constante de experimentar Mudança. Essa aliás é uma atitude natural das crianças sadias. Necessita ainda de muita coragem moral e muita energia física, pois como toda alma pura sabe, existem experiências desagradáveis, e até mesmo mortais, que podem nos atingir; principalmente se entramos em contato com mentes fechadas pelo medo ou pelo ódio.
Certa vez uma moça, Probacionista da A\A\, e tentando executar o Ritual do Rubi Estrela (uma versão aperfeiçoada do Ritual Menor do Pentagrama), sofria as maiores dificuldades: no momento culminante da invocação ela ficava completamente tonta, e mais de uma vez perdeu os sentidos.
A invocação do Rubi Estrela reúne todas as forças astrais que cercam o executante, e as concentra em torno do centro de energia chamado Ajna pelos hindus. Quando o caso chegou ao nosso conhecimento, concluímos que ela estava sob o ataque permanente de alguma força hostil; alguém que tentava impedi-la de adquirir controle de seu Ajna etérico.[5] Um interrogatório sobre os antecedentes da moça elucidou o seguinte: aos nove anos de idade ele fora retirada, por insistência do pai, (de ascendência nordestina educado num seminário católico, enquanto a mãe fora educada como pensadora livre), de um colégio leigo e colocada num colégio de freiras. Este colégio, cujo nome não mencionaremos, possuía na época um método didático bastante curioso. Por exemplo: se uma aluna era chamada ao quadro negro para escrever, e cometia um erro, a freira professora agarrava a criança pelos cabelos e forçava-a a esfregar a cara no quadro para apagar o erro. Uma falta disciplinar era punida da seguinte forma: a culpada era forçada a se ajoelhar sobre caroços de milho, e as outras alunas, organizadas em fila, tinham que desfilar à sua frente e dar-lhe, cada qual, um tapa.[6]
Estas duas formas de punição eram as mais comuns, mas em certa ocasião algo mais grave aconteceu com a menina que viria a se tornar nossa Probacionista. Ela foi exorcizada.
O motivo do exorcismo foi o seguinte: na aula de ginástica, as crianças vestiam um macacão especial, de calças curtas e sem mangas. Como as freiras consideravam este uniforme demasiado ousado para ser usado sobre a pele, era ordem geral que sob o macacão, todas deveriam usar “combinação”, que era uma espécie de camisola fechada até o pescoço além da blusa normal do uniforme.
Infelizmente para a criança, na primeira vez que foi a ginástica ela ignorava esta ordem; muito serenamente tirou saia, blusa, combinação, e estava colocando o macacão de ginástica sobre suas calcinhas quando uma das freiras entrou no vestuário e a viu. A menina foi arrastada para a capela do colégio, onde um padre, após ouvir o relato de seu nefando crime, exorcizou-a formalmente, na presença da freira, de acordo com o ritual romano.
Isto ocorreu em 1960 e.v., justamente um ano antes de regressarmos ao Brasil. O local foi o Rio de Janeiro, presumivelmente uma cidade civilizada.
Após este incidente, a menina de nove anos de idade ainda ficou três meses no colégio, mas chorava copiosamente todas as manhãs antes de ser levada para ele. Finalmente sua avó materna, numa de suas visitas à família, observou esta conduta e disse à mãe que absolutamente não era normal que sua neta, uma criança alegre, expansiva e saudável, reagisse desta forma na hora de ir para o colégio; principalmente quando a escola leiga que cursara anteriormente, ela nunca reagira assim. A menina foi retirada daquele colégio, mas por exigência formal do pai, foi colocado em outro colégio de freiras.
Dois meses depois de sair do colégio onde fora exorcizada, a criança que tinha uma ótima saúde, fora vítima de febre tifóide. Desde então, até entrar em contato conosco, sua saúde tornou-se bastante precária: ela sofria de asma, dores de cabeça periódicas intensas, as quais fora diagnosticada por uma psiquiatra como “disritmia”,[7] e sua força nervosa se desgastava facilmente, forçando-a a descansos prolongados.
Não foi fácil elucidar os fatos acima: a própria moça os havia esquecido, como ocorre com freqüência conosco quando temos uma experiência penosa na infância.[8] Mas, tendo nos familiarizado com as circunstâncias, explicamos à jovem que ela estava sob ataque mágicko constante da corrente malsã do catolicismo romano; que o exorcismo fora uma forma de enfeitiçamento, tanto mais cruel por ter sido perpetrado contra uma criança inocente; e que sua aspiração de se tornar uma Thelemita, isto é, uma mulher Livre, nas vibrações do Novo Æon, exacerbara contra ela a hostilidade das correntes mortas.
Instruímos nossa Adepta da seguinte forma: você tem duas opções; ou abandona Thelema por completo, ou persistir nos seus rituais a despeito do que possa acontecer.
– Eu tenho medo de enlouquecer – confessou ela.
– Todos nós temos – replicamos. Em ocultismo, o preço da sanidade mental, como o preço da liberdade, é uma eterna vigilância. Os escravos possuem uma falsa segurança, mas os homens e as mulheres livres tem a cada momento que decidir sua conduta por si mesmos. Esta responsabilidade é um peso. A autonomia moral é rara porque contraria a tendência à inércia, que é enorme do mundo físico. Você nasceu com a vibração anímica do Novo Æon; foi isto que os cascões que infestavam aquele colégio pressentiram, e foi isto que eles tentaram destruir. Compete a você decidir.
A Probacionista decidiu persistir. Sua luta para controlar as forças hostis que a atacavam durante a execução do Ritual do Rubi Estrela levou um ano; mas eventualmente os desmaios foram perdendo sua intensidade, e finalmente desapareceram por completo. Atualmente ela é uma Neófito da A\A\, e seus sintomas de “disritmia” desapareceram por completo.[9]
Ainda no assunto das correntes mágickas, Lévi nos diz o seguinte: “Todo entusiasmo propagado numa sociedade por uma continuidade de comunicações e práticas firmes produz uma corrente magnética, e se conserva ou aumenta pela corrente. A ação da corrente é arrastar e, muitas vezes, exaltar fora da medida as pessoas impressionáveis e fracas, as personalidades nervosas, os temperamentos dispostos ao histerismo ou às alucinações. Estas pessoas logo se tornam poderosos veículos da força mágicka, e projetam com força a luz astral na própria direção da corrente; opor-se, então as manifestações de força séria de um acerto modo, combater a fatalidade.”
Quando a corrente tem uma origem espiritual legítima, esta influência descrita por Lévi é ecológica, isto é: biologicamente construtiva tanto para o indivíduo quanto para o meio ambiente. Exemplo deste tipo de corrente foi aquela iniciada pelos “rosacruzes” medievais a qual floresceu na Renascença, e na incrementação do espírito científico que resultou nas três grandes revoluções sociais da época: a Americana, a Francesa, e a Russa.[10]
Quando a corrente não tem origem espiritual, mas é uma deturpação, ou um reflexo quiphótico da corrente original, como é o caso do cristianismo romano, ela tende a restringir a liberdade individual e a padronizar a massa social. Então as pessoas de mentalidade fracas, sentimentais, ou com tendências a histerismo, se tornam como demônios: focos venenosos da influência malsã da corrente. São mortos que julgamos vivos, e que falam a falsa linguagem e os falsos pensamentos da legião a que pertencem.[11]
Em 1961 e.v. nós nos prontificamos a imprimir, aqui no Brasil, a primeira edição mundial de “Liber Aleph”, uma das mais brilhantes obras de Mestre Therion. Nessa ocasião recebemos a seguinte carta de aviso de nosso Frater Superior, Saturnus Xº .: [12]:
“Imprimir e publicar este livro é um grande ato mágicko. Se for bem sucedido, você terá passado em um alto teste iniciático. Você ofereceu isto voluntariamente, portanto não duvido que seja parte de sua Verdadeira Vontade. Mas não subestime por um momento os obstáculos que serão levantados contra o livro e contra você: você descobrirá que forças das mais hostis utilizarão truques mesquinhos, bobos, sutis, e injustos, para criar impedimentos ao seu Trabalho: estranhas insinuações lhe desviarão, ou farão com que você duvide de tudo. Estou escrevendo esta para o seu novo endereço, na esperança que seja mais seguro.[13] Nada mais direi a respeito de assuntos pessoais, a não ser declarar que você será muito sábio ao não confiar em qualquer pessoa fora do seu círculo.”
Esta carta nos teria sido utilíssima se tivesse chegado às nossas mãos na época em que foi escrita; mas ela foi enviada por um inexplicável extravio do correio (…) para a Bolívia, e só nos chegou às mãos três meses depois, quando já havíamos atravessado a Ordália a que se referia.
Toda pessoa que enfrentar o impulso cego de uma corrente morta, experimentará o mesmo tipo de dificuldade e empecilho. Como diz Éliphas Lévi: “As obsessões diabólicas e a maior parte das doenças nervosas que afetam o celebro são ferimentos feitos no aparelho nervoso pela luz astral pervertida, isto é, absorvida ou projetada em condições doentias. Todas as tensões extranaturais da vontade predispõe às obsessões e doenças nervosas: o celibato forçado, o ascetismo, o ódio, a inveja, o despeito, são principais geradores de formas e influências infernais. A Alma aspira, exatamente como o corpo. Ela aspira o que crê ser felicidade, e expira idéias que são produto de suas sensações íntimas. As almas doentes tem mau hálito, e viciam a sua atmosfera moral, isto é: misturam seus reflexos impuros com a luz astral que penetra em suas auras, e nela estabelecem correntes deletérias. Muitas vezes ficamos admirados de sermos assaltados, em nossa vida diária, com pensamentos maus de que nos julgávamos incapazes; e não percebemos que isto é devido a alguma vizinhança mórbida. A sístole e diástole magnéticas produzem em redor de cada alma uma irradiação de que a alma é o centro, e ela rodeia-se do reflexo de suas criações, que lhe fazem um céu ou um inferno. Não há atos solitários, e não poderia haver atos ocultos: tudo o que realmente queremos, tudo que confirmamos pelo nossos atos, fica escrito na luz astral, onde se conservam os nossos reflexos: estes reflexos influem continuamente sobre o nosso pensamento através do nosso corpo astral.
A luz astral dirige os instintos animais[14] e da combate a inteligência do homem, que tende a perverter pelo luxo de seus reflexos e a mentira das suas imagens;[15] ação fatal e necessária, que os espíritos elementares e as almas sem desenvolvimento dirigem e tornam mais funesta ainda, com suas vontades imperfeitas que procuram simpatias em nossas fraquezas e nos tentam, menos para nos perder do que para adquirir amigos!
As pessoas que renunciam ao império da razão, e gostam de desviar sua vontade em perseguição de reflexos da luz astral, estão sujeitas a alternativas de furor e tristeza que fizeram imaginar todas as maravilhas da possessão do demônio. A Igreja Romana, em seus Exorcismos, consagrou a sua crença em todas essas coisas, e pode-se dizer que a Magick negra e o seu príncipe tenebroso, são uma criação real, viva terrível do catolicismo romano; até, que são a sua obra especial e característica, porque os padres não inventaram Deus.
Algum tempo passado, o Papa Paulo VI declarou publicamente a necessidade dos “cristãos” defenderem a existência do Diabo, sem a qual, não há justificativas teológicas para a existência da igreja romana.
Transcreveremos a seguir um trecho de um exorcismo executado num convento de freiras franciscanas nos Estados Unidos da América:
Exorcista: Em nome de Jesus e Sua Bendita Mãe, Maria a Imaculada, que esmagou a cabeça da serpente, dize-me a verdade: quem é o chefe, ou príncipe, entre vocês? Qual é o teu nome?
Exorcizada: Beelzebub.
Exorcista: Você se chama a si mesmo de Beelzebub[16]. Não é você Lúcifer, o príncipe dos demônios?
Exorcizada: Não o príncipe, o chefe; mas um dos líderes.[17]
Exorcista: Portanto, você não foi jamais um ser humano, mas é um dos anjos caídos, os quais com orgulho egoísta quiseram ser iguais a Deus?[18]
Demônio: (com dentes sorridentes)[19] Sim, é isso mesmo. Ah, como nós o detestamos!
Exorcista: Por que você é chamado de Beelzebub, se você não é o príncipe dos demônios?
Demônio: Basta; meu nome é Beelzebub.[20]
Exorcista: Do ponto de vista de influência e dignidade, você deve ter uma posição próxima a Lúcifer; ou você provém do coro mais baixo dos anjos?[21]
Demônio: No passado eu pertenci ao coro dos Serafins.[22]
Exorcista: Que faria você, se Deus lhe tornasse possível expiar a injustiça que você cometeu contra Ele?
Demônio: (com zombaria e desdém) Você é um teólogo competente? [23]
Exorcista: Há quanto tempo você está torturando esta pobre mulher?
Demônio: Desde que ela chegou aos quatorze anos de idade. [24]
Exorcista: como foi que você ousou entrar nessa pobre menina e torturá-la de tal forma? [25]
Demônio: (desdenhoso) Pois não foi o próprio pai dela que nos introduziu ao amaldiçoá-la? [26]
Exorcista: Mas por que você, Beelzebub, tomou posse dela? Quem lhe deu essa permissão? [27]
Demônio: Não diga bobagens. Então eu não tenho que obedecer a Satã?
Exorcista: Então, você está aqui sob orientação, e por ordens de Lúcifer?
Demônio: Ora, e poderia ser de outra maneira?
Seria inútil continuarmos a relatar este caso de exorcismo, pois assemelha-se a dezenas de outros. Após muitos fenômenos aparentemente miraculosos, após muitos diálogos e muitos xingamentos mútuos por parte de ambos (demônio e exorcista), a eficácia dos rituais crististas se tornou suficiente para curar a doente. Posteriormente este panfleto o qual traduzimos um trecho foi publicado para “provar” a existência de demônios, e a glória da autoridade da Igreja de Roma….
O que os teólogos católicos romanos convenientemente esquecem é que casos de possessão, e o exorcismo desta, abundam em todas as religiões, todas as seitas no mundo. A seqüência dos acontecimentos é sempre a mesma: os demônios se manifestam, tornam-se suficientemente incômodos para atrair a atenção dos líderes religiosos da comunidade, e após um período de escarcéu que pode virar horas e meses se retiram, “derrotados”, pela eficácia dos ritos de exorcismo do credo a que a vítima pertence.
Não existe no mundo inteiro, um caso documentado de exorcismo em que o possesso pertencesse a outra religião que não a dos exorcistas, ou em que o possesso fosse um ateu desde o berço.
A fé cega é invocada como virtude para cobrir os absurdos de um falso raciocínio, e a evidência dos fatos é sempre menos importante para o fanático que os remendos do seu dogma.
Um humorista norte-americano publicou uma piada em que uma pessoa se achega a um gordo prelado e lhe pergunta:
-Quantas religiões existem no mundo?
-Uma apenas – responde o gordinho.
-Então, por que existem tantas denominações de diversas religiões?
-Para quebrar a monotonia.
Quiséramos que os ilustres sacerdotes dos mais diversos credos tivessem suficiente sabedoria para perceber o bom senso contido nesta resposta!
Terminando, desejamos observar que este capítulo deve ser lido e estudado em conexão com o capítulo seguinte; “Ocultismo e Política.” Os leitores devem se lembrar que as estruturas sócio-econômicas de qualquer nação, e do mundo atual, sempre resultam do código de moralidade praticados, e que tiveram suas origens em alguma religião, do Æon passado. Portanto, estão sempre relacionados com alguma das correntes mortas. A presente confusão e desorientação ética mundial resulta da Passagem dos Æons.
[1] O gesto consiste em mover um dos braços em arco diagonalmente em frente do corpo e para trás, desviando ao mesmo tempo a vista e dizendo claramente, mesmo em voz baixa, as palavras: “Apo pantos Kakodaimonos”, que em grego significam “Para trás de mim os espíritos de discórdia”. O mesmo gesto deve ser feito e pronunciada as palavras ao entrar em edificações em que essas religiões celebrem seus cultos, e que contenham membros de seus cleros.
[2] Iniciados que cruzaram o Abismo são chamados de “Deuses”. O fundador de uma corrente é sempre um Magus, isto é, um Iniciado da Segunda Sephira acima do abismo.
[3] Boda alquímica é uma palavra dos místicos medievais, e corresponde a Samadhi na nomenclatura hindu. Adhi, entretanto, pressupõe que Samadhi é apenas como o “Senhor” Adhi, ou Adonai, em hebraico: note-se a semelhança.
[4] A palavra “Orgasmo” é, novamente um sinônimo de Boda Alquímica, ou Samadhi. O leitor não deve-se condicionar na teoria cristã e não deve pensar que a finalidade desta nota é excluir o orgasmo sexual da categoria de êxtase místico. Pelo contrário, o orgasmo sexual é a única forma de Samadhi disponível a qualquer ser humano no presente estágio evolutivo da nossa espécie. Qualquer um pode tê-lo, por mais destreinado que seja em misticismo.
[5] O Ajna etérico controla as energias nervosas que equilibram os dois hemisférios celebrais. Por isto, entre outros motivos, a lobotomia é uma operação absolutamente reprovável. Note-se que recentemente um livro pseudo-ocultistas, escrito por um charlatão de certa habilidade literária, recomenda precisamente esta mutilação como meio de ativar o “Terceiro Olho”!
[6] Isto ocorreu na década dos anos sessenta da era vulgar, e não, conforme pode ser pensado, na Idade Média! É uma variação do famoso “corredor polonês”, que era a diversão favorita dos veteranos no pátio de recreio na época que ingressamos no Colégio Militar do Rio de Janeiro. Mais tarde outros tipos de trotes violentes, foram proibidos pelo, Coronel Jair Dantas Ribeiro, a quem devemos gratidão, não só por isso como por atender ao nosso pedido de nos dispensar das aulas de catecismo, que abominávamos.
[7] Esta psiquiatra, que era católica romana, disse a mãe da menina que ela se tornaria esquizofrênica antes dos vinte anos de idade. Este tipo de predição é clinicamente impossível.
51 É o chamado “bloqueio psicológico”, que Freud descreveu com tanto brilho. Trata-se de um processo de autodefesa: a experiência é tão penosa que, relembrada por uma criatura de pouca vivência, pode deformar por completo o desenvolvimento da personalidade. Portanto, é relegada a um esquecimento forçado, da mesma forma como as células físicas rodeiam e bloqueiam um foco de infeção orgânica. É necessário que o trauma aflore à consciência na idade adulta, para que a personalidade possa examiná-lo, julgá-lo, e coordenar a experiência que ele representa com o resto de seu Psicossoma. Se assim não for feito, a personalidade nunca será completamente adulta. Um dos meios usados para re-exame é a psicanálise. Pelo uso cauteloso e controlado de certas drogas, o processo de psicanálise, que as vezes levam anos, pode ser realizado em poucos dias. Outro meio foi o que utilizamos aqui.
[9] A disritmia resulta de um desequilíbrio energético entre os dois hemisférios celebrais, e é muito comum em épocas em que temos que decidir entre dois cursos de ação, principalmente quando um dos cursos nos atrai em termos de nossa individualidade, mas contraria o condicionamento cultural do nosso meio-ambiente.
[10] É preciso frisar que o único documento legítimo sobre esta fraternidade foi a Fama Fraternitatis, publicada no século dezessete por Johann Valentin Andrea. Uma das condições a que os membros estavam jurados, era a de nunca se identificarem publicamente como “rosacruzes”. Consequentemente, todo grupo ou movimento que afirma representar aquela antiga organização, está enganada, ou enganando. Qualquer afirmativa de que alguma figura histórica, seja falecida ou não foi ou é membra da Ordem, é falsa: pois um Rosacruz só poderia ser conhecido por outro, e em tal caso nenhum dos dois afirmaria publicamente a legitimidade do outro, uma vez que isto afirmaria a sua própria. Andrea publicou a Fama anonimamente, e jamais afirmou ser membro da Sociedade por ele descrita.
Certo pseudo-ocultistas chegam ao ponto de declarar que a Fraternidade teve sua origem no antigo Egito, o que denota sua ignorância. É claro, da leitura da Fama Faternitatis, que o simbolismo teve sua origem na Europa e no Oriente Médio, e que a organização tinha como propósito defender e propagar a doutrina de Diôniso, isto é, a verdadeira corrente cristã. O movimento “rosacruz” pode ser responsabilizado magicamente pela organização da Maçomaria, pela Reforma, pela Renascença que seguiu a Reforma, e pelo espírito científico, com suas conseqüentes revoluções sociais. Assim os “rosacruzes” foram os mais encarniçados, e os mais bem sucedidos, inimigos do catolicismo romano.
[11] Fernando Pessoa, o grande iniciado Thelemico português, a fim de diferenciar o falso cristianismo do Dogma de Nicéia do verdadeiro cristianismo gnóstico, criou um neologismo e chamava o pensamento teológico romano-alexandrino de “cristianismo”. Se os leitores tiverem dificuldade em encarar como mortos o pseudo-cristianismo dos católicos romanos e suas diversas variações, as seitas protestantes, então considerem o marxismo-leninismo, outra corrente malsã, um desvirtuamento da Lei de Thelema, que está começando a apresentar os mesmo sintomas.
[12] Karl Johannes Germer, o discípulo favorito e sucessor de Crowley na chefia mundial da O.T.O. e da Ordem de Thelema.
[13] Resolvemos alugar uma caixa postal, porque nosso pai carnal, que era um kadercista nato e odiava Thelema, não tivesse acesso a mesma. Fiscalizava nossa correspondência, influenciando do pelos cascões que infestavam a sua aura. Infelizmente, saímos da vigilância domiciliar apenas para a vigilância dos múltiplos serviços secretos que vasculhavam e continuam a vasculhar as correspondências de Thelemitas.
[14] A luz astral é inerte, e tende sempre na direção do menor esforço; ora é mais fácil ser animal que humano. Lévi dá nesta nota uma tendência “fatal” à luz astral que ela não possui. O agente magnético simplesmente tende ao equilíbrio, e a quietude. Mas esta é uma base na existência dos instintos e reflexos. A perversidade é o risco que o homem corre na busca por se tornar humano. Certa vez disse um sábio: “O homem é um macaco que enlouqueceu e resolveu descer do galho”.
[15] É errôneo dizer que a luz astral dá combate a inteligência do homem: ela é o perfeito agente-reagente. É a multiplicidade de escolha, decorrente da nossa existência como microcosmos, e que pode produzir confusão ou desvio em nossa conduta. Este é o preço que toda entidade paga pela liberdade: a necessidade de escolher a cada momento a melhor conduta incorrendo sempre no risco de errar. Os nossos acertos e sucessos estão ligados sobre a base dos erros e dos fracassos daqueles pioneiros que foram nossos antecessores. Como bem disse Crowley : “Ninguém pode agir sem errar: antes errar do que não agir! “Onde estaríamos agora se Galileo, Lutero, Newton, Darwin , Einstein, e incontestáveis outros tivessem temido agir?”
[16] Embora o exorcista estivesse falando com uma mulher, uma pessoa com uma identidade e um nome, ele cooperava para exacerbar a ilusão de que ela sofre, dirigindo-se ao demônio em vez de a doente, e assim conduz telepaticamente a intenção do diálogo na direção de influências mórbidas da corrente morta à qual tanto ele quanto a exorcizada estão ligados.
[17] Esta resposta segue a demonologia tradicional do catolicismo romano. A empatia telepática entre o padre e sua vítima produz um diálogo em que esta adivinhava intuitivamente a resposta desejada pelo exorcista.
Este tipo de empatia existe também na psicanálise, onde é chamado de “rapport”. A principal fraqueza do método pesicanalítico é que, a não ser o psicanalista seja uma pessoa totalmente equilibrada, ele tenderá a ler as suas próprias psicoses e recalques nas respostas de seus pacientes, em detrimento das necessidades dos mesmos. Outras técnicas desenvolvidas pela magia ou misticismo, ou auto-análise são preferenciais.
[18] Esta forma de pergunta não é permitida em tribunais de países desenvolvidos, pois o interrogador está procurando obter uma resposta preconcebida da boca da interrogada. Note-se a ênfase dada ao fato do demônio não ter sido nunca uma pessoa humana. O exorcista está defendendo contra a possibilidade de que a possessa seja um médium, ou alma de um morto que seria espiritismo, uma teoria que a Igreja romana não admite.
[19] O autor deste relato nunca se referiu a exorcizada, mas sim ao demônio, desde o início. Fomos nós que a denominamos assim por motivo de clareza. O estilo “dentes sorridentes”: estas notas descritivas que acompanham este relato são sintomáticas ao nível mental e moral dos padres participantes, quanto o diálogo entre si.
[20] Esta resposta indica que a mulher obcecada poderia estar em contato com uma legítima entidade demoníaca: há Quatro Grandes Príncipes do Mal no Mundo, como está escrito em a Sagrada Magia de Abramelin o Mago, e Beelzebub não é um deles. O desdém da entidade em explicar isto ao exorcista advém do fato na falsa teologia do catolicismo romano; e a tragi-comédia do exorcismo era uma pura representação teatral com este fim. Repetimos que entidades demoníacas não podem ser controladas por pessoas que não estejam em contato com o seu Sagrado Anjo Guardião, e sejam obedientes a Ele.
[21] Esta pergunta dá uma penosa indicação da atitude moral do exorcista. As palavras influências e dignidade, são extremamente sugestivas, assim como a preocupação com a posição hierárquica!
[22] Outra grande mentira. A entidade está se divertindo a custa do snobismo inconsciente do exorcista.
É bastante difícil para os teólogos compreenderem que a “Queda” é uma invenção teológica. Nunca houve queda. O processo evolutivo, é exatamente de acordo com as premissas estabelecidas por Darwin. Quando os hebreus pressentiram a existência do Abismo, isto é, aquele hiato que separa o homem do Deus que existe dentro de cada ser humano, eles poderiam ter tomado duas atitudes diversas para se expressarem:
1) poderiam ter admitido que o homem é uma criatura perfeita (Adão no Paraíso) que se perdera por descuido. Por pura vaidade egóica, eles escolheram a Segunda explicação: é mais romântico ser um nobre num exílio do que um plebeu em vias de se tornar um novo rico! Entretanto, nós nos lembramos da célebre resposta de um pebleu enriquecido a um nobre que lhe lembrou sua origem humilde: “a minha nobreza começa comigo; a sua acabou com o senhor.”
[23] Nota-se agora o desdém que a entidade tem pelo exorcista.
[24] Isto é desde que ela atingiu a puberdade, e as restrições antinaturais impostas pela falsa moralidade “cristista” a forçaram a reprimir um libido provavelmente bem acima da média, o que é sinal de boa saúde. Note-se a pronta e franca resposta da entidade. Se o exorcista tivesse mantido suas perguntas num clima de objetividade e interesse sadio, é provável que tivesse angariado o respeito da entidade. Infelizmente, ele não pode escapar aos seus preconceitos arraigados.
[25] A pergunta mais correta seria: O que será necessário para você deixar de atormentá-la? O próprio verbo Ousar, é uma provocação para uma entidade demoníaca.
[26] Este importante ponto da conversa, escapou por completo do exorcista romano. A entidade estava lhe explicando que foram as condições anormais de vida impostas pelo pai da menina que produziram a perturbação psíquica em que ela se encontrava, agora, trinta anos depois.
[27] A entidade havia tentado dar ao exorcista uma indicação da situação psíquica da possessa e da causa da situação: a má orientação paterna na adolescência, etc. Mas a preocupação do exorcista com teologismos, e seu descaso pela pessoa humana da moça sendo exorcizada, despertaram o desprezo da entidade, que passou a mentir sutilmente e a zombar dele. O exorcista não estava preocupado em curar a moça, e sim em provar a existência de possessão demoníaca, e a existência de um Diabo.
Esta sua preocupação fez dele um brinquedo nas mãos da entidade. É evidente que o exorcista confunde Satã com Lúcifer, e isto diverte a entidade. Na realidade há quatro Príncipes do Mal no Mundo: Satã, Lúcifer, Léviatã, e Belial; e Belezebub está sob comando de Belial, não de Lúcifer ou Satã ou Léviatã.
Nem se deve acreditar que a entidade a se manifestar através da doente fosse Beelzebub: casos de possessão são manifestações Qliphóticas, e a aura do médium se torna um lamaçal de larvas, cascões, baixos Elementais, e influências demoníacas grosseiras. As correntes mortas se concentram em torno de tais infelizes, que se tornam focos para elas. O termo para este estado de coisas é “Muitos. Chamo-me Legião – diz uma entidade obsessora numa fábula evangélica – porque somos muitos”.
Necessário se faz diferenciar o termo “Muitos” daquela influência psíquica que é chamada de “Todos, ou Pã”. Todos, é uma influência equilibrada, enquanto “Muitos” é necessariamente desequilibrada. A situação pode ser visualizada num campo de forças da física: se formos calcular a gravitação de um sistema de forças com base apenas em “muitos” dos focos de força, nosso resultado será errôneo, pois não incluirá todos os fatores. Mas se nossos cálculos incluírem “todos” os componentes do sistema, o nosso resultado será correto.
A verdadeira Vontade de uma pessoa pode ser definida como a resultante da posição no tempo e no espaço da pessoa com relação ao resto da humanidade. Exemplo: Queda Livre, no espaço resulta do equilíbrio do sistema de forças do qual qualquer objeto no espaço faça parte. Satélites caem livremente em planetas, estes caem também nas estrelas, estas se movem dentro das galáxias, e as galáxias, também se movem em relação a outras galáxias. Como bem o disse Crowley: “a colisão é o único crime no Cosmos.” E mesmo a colisão, quando ocorre é acidental e efêmera.
Alimente sua alma com mais:
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