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I. Introdução
O vampiro é o predador de humanos. Todas as relações na natureza são determinadas pelo contraste entre predador e presa, dominador e dominado – aqueles que têm e os que não têm poder. A humanidade, em sua história, sempre encarou com reservas a possibilidade de lidar com força superior à sua própria na grande hierarquia natural. O elemento central do desenvolvimento vampírico, portanto, é a transcendência da condição humana e a assunção de uma nova postura, uma nova visão. A superação das limitações impostas pelos medos, vícios e crenças humanas é condição indispensável para o sucesso na metamorfose vampírica.
II. Terminologia
Por força vital entende-se, a priori, o elemento responsável pela sustentação de toda a vida. O emprego do termo “força vital” é necessário para que se estabeleça diferença ante os demais conceitos que se formaram a respeito do tema. Força é tudo aquilo que genericamente exerce relação de causa e efeito com os demais elementos do universo. Por vital, atribui-se à força a qualidade especialíssima de ser causa de toda a vida.
O conceito de força vital, por sua generalidade, transcende aqueles que tradicionalmente atribuem à uma coisa a razão da vida: sangue, ar, energias. É termo que não se preocupa em definir algo que porventura possa ser indefinível, não tornando em crença algo que apenas faz sentido quando elemento da experiência.
III. Os Quatro Estágios
O contato é a experiência da força vital como parte da realidade. Pela percepção da força vital, tem o vampiro ciência de uma dimensão para muitos inexistente, oculta sob a ofuscação causada pelos cinco sentidos. A crença de que a realidade experimentada pelos cinco sentidos é o absoluto daquilo que existe é limitante, devendo ser sua transcendência o primeiro passo. Aberto para um campo sensorial até então ignorado, o vampiro transcende suas firmes convicções nos limites que separam realidade de fantasia, ultrapassando assim seus próprios limites.
O vampirismo é êxtase. Êxtase, em significado, tem sua origem no verbo grego exista’nai, que significa “deslocar”. A penetração é o processo de deslocação da vontade. Usa-se, com isso, a experiência da força vital para permitir a interpenetração da força vital do vampiro com a de sua vítima, sucedendo-se a transferência da força vital desta para aquele.
\Iniciando-se a transferência de força vital, ou tomada, o vampiro trás acúmulo para sua própria reserva de força vital, mediante a de outro. A força vital é o centro de toda a prática vampírica. Pelo conhecimento, controle e domínio da força vital, o vampirismo encontra sentido e orientação como meio para o atingimento de um fim.
Finalmente, o ato de vampirismo é direcionado com uma intenção em mente. Toda intenção é inútil sem uma conclusão. Terminar uma tarefa é tão importante quanto começá-la. Portanto, o rompimento é o ato que encerra a drenagem, pondo termo à penetração. Coroando o processo com seu fim, pode o vampiro celebrar os próprios frutos de seu completo ato de vontade. Falhar nesse ponto pode resultar tanto em uma potencial e drenagem crônica de força vital por parte do humano como uma também crônica e inconsciente drenagem pelo vampiro.
IV. Fases de desenvolvimento
O conhecimento da realidade da força vital abre ao vampiro uma porta que o permite transgredir ainda outros limites impostos por sua educação humana. O plano em que se manifesta a força vital é distinto daquele ao qual as coisas materiais se submetem. As regras desse plano são outras, alheias às leis da física convencional. Portanto, o acesso a esse novo plano demanda uma nova postura, desvinculada de velhos hábitos associados ao tratamento que é dado às coisas da matéria. Esse tratamento fundamenta-se, essencialmente, em dois conceitos: o de tempo e o de espaço. Coisa material, por definição, é toda aquela que ocupa lugar no espaço à certo instante de tempo.
Todos os métodos de drenagem objetivam o mesmo e único fim: desenvolver e ampliar a percepção da realidade da força vital. O desenvolvimento promovido por esses métodos são enquadrados, em suma, em fases específicas da potencialidade vampírica: física, visual, simpática e mental.
A diferença entre as quatro fases de desenvolvimento está no nível de transgressão que cada uma promove à crença nos limites de tempo e espaço. Na fase de contato físico, a transgressão é mínima, visto estarem os corpos em contato em um mesmo instante de tempo. Diferentemente do que ocorre no contato visual, onde a primeira barreira, o espaço, é demolida. E assim se sucede quanto às demais fases, onde na simpática se leva ao mínimo a noção de ambos, até o puro contato mental. Ao final, o vampiro liberto dos grilhões da crença e da matéria pode desfrutar dos prazeres da ampla e irrestrita experiência mística do outro lado.
Torna-se, em verdade, um morto vivo – morto, de fato, para o mundo que um dia conheceu.
Por: Anton
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