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Magia sem Lágrimas: Crowley explica tudo

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Tamosauskas.

A Oficina Palimpsestus recentemente trouxe uma grande alegria para os estudantes de ocultismo ao anunciar a publicação em português do livro Magia sem Lágrimas (Magick Without Tears), de Aleister Crowley. Para se ter uma ideia da importância dessa obra, basta imaginar como seria poder voltar no tempo e trocar cartas diretamente com Crowley, tirando as dúvidas que surgissem em seus estudos de magick e Thelema. Com esse livro em mãos, você poderá experimentar algo próximo a isso, sem o inconveniente de ter que conviver com ele.

Por muitos anos, Mega Therion sentiu a necessidade de criar um material didático voltado para os iniciantes no estudo das artes mágicas e das ciências ocultas. Esta obra buscou preencher essa lacuna, orientando tanto aqueles que desejam se aprofundar nos mistérios da magia quanto os que têm apenas curiosidade pelo assunto. Crowley sempre procurou tornar seu conhecimento acessível ao público comum, mas mesmo os admiradores de sua obra reconhecem que, muitas vezes, ele não atingiu totalmente esse objetivo em seus escritos anteriores.

A origem do livro remonta a 1943, quando Crowley foi procurado por uma senhora que desejava sua opinião sobre temas ocultistas e espirituais. Ele gostou da ideia e incentivou outras pessoas, dos mais variados graus de práticas a fazerem perguntas, registrando as respostas em uma correspondência que daria forma a Magia Sem Lágrimas. Surgiu assim uma coleção de 80 cartas com perguntas e respostas destinadas aos estudantes de magia. Esta obra se destaca como uma das mais acessíveis e claras de toda a produção do mago, oferecendo um guia direto e pessoal para aqueles que buscam aprender sob sua orientação.

Para esquentar a divulgação do novo livro, após compilar o conteúdo, Crowley enviou uma circular a amigos e discípulos, declarando:

“O autor d’O Livro de Thoth ficou muito grato por receber tantas cartas demonstrando apreciação, agradecendo-o por não ‘escrevê-lo utilizando-se de linguagem ininteligível’ e por ‘tornar tudo tão claro que, mesmo com minha inteligência limitada, eu posso compreendê-lo, ou ao menos acho que posso.'”

Contudo a obra só foi publicada postumamente, (Crowley morreu em 1947). Ler este livro do início ao fim é como ter o autor como tutor pessoal, guiando o leitor ao longo de meses de estudo, inclusive respondendo perguntas que você ainda não pensou em fazer. Ele contém um nível de clareza e até boa vontade que não se encontra em muitos de seus textos anteriores. Revelando-se uma figura eloquente, bem-humorada e, surpreendentemente, gentil, ele revela facetas de sua personalidade pouco conhecidas do “homem mais perverso do mundo”

Crowley discorre sobre Cabala, tratando-a mais como uma ferramenta prática do que como um sistema dogmático, e sobre Filosofia, abordando-a como uma atividade prática, não apenas teórica. Ele explora simbolismo, etimologia, escolas de magia e compartilha sua perspectiva sobre a vida e o uso dos poderes mágicos que ela desperta.

Além disso, Crowley fornece orientações sobre práticas como meditação, projeção astral, I-Ching, Tarot, Astrologia, Talismãs, lamens e pentáculos, além de reflexões sobre deuses, coincidências e profecias. Ele discute, ainda, os princípios de funcionamento da magia e, claro, Thelema. Cada tema tratado é abordado de forma abrangente e detalhada, tocando em praticamente todos os aspectos do conhecimento místico.

Crowley, que em vida foi conhecido por sua personalidade controversa surge aqui sob uma luz distinta: a de um professor paciente e generoso. Esse contraste talvez se deva ao fato de que Magia sem Lágrimas foi escrito no ápice de sua maturidade em uma fase mais reservada e introspectiva. Muitos consideram essa obra uma prova de que Crowley, apesar de sua vida louca e seu vício em heroína, permaneceu intelectualmente ativo e perspicaz até o fim da vida..

Além de responder a dúvidas e incitar a curiosidade, as cartas oferecem ao leitor uma rara oportunidade de conhecer um lado mais humano de Crowley. Complementando essa experiência, a edição publicada em 1991 inclui uma introdução de Israel Regardie, que foi secretário e discípulo do mago. A edição da Palimpsestus, por sua vez, será enriquecida com um prefácio e comentários de Alan Chapman e contará com a tradução de Rogério Bettoni, conhecido por ter realizado, no mundo da tradução, o equivalente aos doze trabalhos de Hércules ao trazer para o português a obra de Austin Osman Spare.

Outro diferencial desta edição é que o livro não sofrerá cortes, ao contrário do que ocorreu na edição de 1954. Além disso, ele virá acompanhado de um conjunto especial que inclui uma nova versão do Tarot de Thoth, reinterpretada pela artista plástica Elisa Riemer, o clássico O Livro de Thoth traduzido por Johann Heiss, e o inédito Desvendando o Tarô de Thoth, de Marcia Seabra.

O conteúdo de Magia sem Lágrimas comprova a profundidade do conhecimento de Crowley, evidenciando suas contribuições ao estudo do oculto e seu ideal de liberdade individual e autoexploração, contrastando com as abordagens monásticas e ascéticas das tradições mágicas anteriores. Além disso, Crowley mostra uma abordagem aberta ao integrar as ciências convencionais de sua época ao ocultismo. O maior valor desta obra, no entanto, talvez resida nas entrelinhas, onde o autor incentiva o leitor a descobrir e trilhar seu próprio caminho.


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