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Demônios e Anjos

Demonologia Católica 101

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Crux Sacra Sit Mihi Lux/Non Draco Sit Mihi Dux
Vade Retro Sátana/Nunquam Suade Mihi Vana
Sunt Mala Quae Libas/Ipse Venena Bibas

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A Cruz Sagrada seja a minha luz / Não seja o dragão o meu guia.
Retira-te, Satanás / Nunca me aconselhes coisas vãs.
É mal o que tu me ofereces / Bebe tu mesmo os teus venenos.

– São Bento de Núrsia

O Catolicismo talvez seja o maior saco de pancadas da história das religiões – não que não tenha dado motivos para isso. Cruzadas, Inquisição e flertes contínuos com o poder político fizeram da Igreja Romana o alvo preferido tanto por parte dos ateus que a acusam de inventar o assustador mito do Diabo quanto por outras denominações cristãs que a acusam de servir a este mesmo ser do mal. Some a isto o fato de que a maior parte dos católicos sequer conhece os ensinamentos oficiais de sua própria Igreja e entenderá porque Hollywood sempre escolhe um Padre para contar suas histórias sobre o Capeta. Entretanto se você já teve a curiosidade de saber o que os documentos timbrados pelo Vaticano, a famosa “papelada oficial da igreja”, realmente tem a dizer sobre o assunto finalmente encontrou um artigo confiável.

A Bíblia por si só não serve de base para afirmarmos se de fato Satanás e os demônios existem ou não. Por esta razão os cristãos do mundo de hoje, em geral, deixam esta questão em aberto, alguns afirmam que o diabo é a representação da fraqueza e da maldade dos homens, outros que é apenas uma parte menor do plano divino e ainda há aqueles que afirmam que o sobrenatural “non ecziste”. Um católico, entretanto, não pode se dar a este luxo, pois historicamente a Igreja sempre teve uma posição muito bem definida sobre o Diabo. Na verdade é impossível citar um único homem entre os “Pais da Igreja” que não tenha destacado a importância deste conhecimento.

Assim toda afirmação feita a partir deste ponto neste texto terá como base um documento oficial da Igreja Católica, em especial o tomo do Ritual Romano, sobre Exorcismo, o Catecismo promulgado pela Carta Apostólica Laeatur Magnopere e a Constituição Apostólica Fidei Depositum por ocasião do Concílio Vaticano II. As informações destes textos fundamentais foram, por fim, enriquecidas com o conteúdo do documento Fé Cristã e Demonologia, assinado pela Congregação pela Doutrina da Fé, assinado em Roma em 1976.

 

I. A existência do Diabo

Quando um católico termina de rezar o Pai Nosso ele diz: “Livrai-nos do Mal”. Ele pode pensar que está pedindo para não ter uma dia Mal, uma vida Má ou mesmo que se livre da maldade humana que parece estar cada dia mais fora de controle. Entretanto, segundo o parágrafo 2851 do Catecismo de Igreja (doravante CI) este não é o caso:

“Nesta petição, o Mal não é uma abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus. O ‘Diabo’ (“dia-bolos”) é aquele que ‘se atravessa’ no desígnio de Deus e na sua obra de salvação realizada em Cristo”.

Assim, a Igreja Católica se opõe logo de início à tendência moderna de relativizar a existência do Diabo como um símbolo do Ego ou um mero arquétipo piscológico. O texto prossegue fazendo algumas citações da Bíblia 2852 CI:

“Assassino desde o princípio, […] mentiroso e pai da mentira» (Jo 8, 44), “Satanás, que seduz o universo inteiro” (Ap 12, 9), foi por ele que o pecado e a morte entraram no mundo, e é pela sua derrota definitiva que toda a criação será “liberta do pecado e da morte”.

Portanto, a primeira coisa que um demonologista deve entender é que o Diabo não é um símbolo do individualismo e da maldade mas é um indivíduo maligno. Uma força real e independente da humanidade. As pessoas podem ser más, mas mesmo se não houvesse pessoas haveria o mal. 2853 CI conclui:

“Ao pedirmos para sermos libertados do Maligno, pedimos igualmente para sermos livres de todos os males, presentes, passados e futuros, dos quais ele é autor ou instigador.”

 

II. A origem do Mal

A explicação para a existência do Mal do mundo é oferecida pela Igreja como uma decorrência do mal uso do livre arbítrio. Em geral este é um mal uso feito pelos próprios seres humanos entretanto em 391 CI lemos que:

“Por detrás da opção de desobediência dos nossos primeiros pais, há uma voz sedutora, oposta a Deus, a qual, por inveja, os faz cair na morte. A Escritura e a Tradição da Igreja vêem neste ser um anjo decaído, chamado Satanás ou Diabo. Segundo o ensinamento da Igreja, ele foi primeiro um anjo bom, criado por Deus. ‘Diabolus enim et alii daemones a Deo quidem natura creati sunt boni, sed ipsi per se facti sunt mal’ – De facto, o Diabo e os outros demónios foram por Deus criados naturalmente bons; mas eles, por si, é que se fizeram maus”.

Portanto a Igreja Católica ensina que a “queda dos anjos” consiste na livre opção destes espíritos criados que, radical e irrevogavelmente, recusaram a Deus e a seu Reino. 393CI completa dizendo que “É o carácter irrevogável da sua opção, e não uma falha da infinita misericórdia de Deus, que faz com que o pecado dos anjos não possa ser perdoado.” Contudo a Igreja ensina (CI 2853) que  “a vitória sobre o “príncipe deste mundo” foi alcançada, de uma vez para sempre, na hora em que Jesus livremente se entregou à morte para nos dar a sua vida. Foi o julgamento deste mundo e o Príncipe Deste Mundo foi “lançado fora”. “Pôs-se a perseguir a Mulher”(Ap 12, 13), mas não logrou alcançá-la: a nova Eva, “cheia da graça” do Espírito Santo, foi preservada do pecado e da corrupção da morte (Imaculada Conceição e Assunção da Santíssima Mãe de Deus, Maria, sempre Virgem). Então, “furioso contra a Mulher, foi fazer guerra contra o resto da sua descendência” (Ap 12, 17).”

Esta é a situação do diabo hoje, incapaz de perverter Jesus no deserto ou Maria, hoje Rainha dos Céus, voltou-se contra a humanidade para assim atingir Deus indiretamente, associando os seres humanos a sua própria rebelião. Veremos mais sobre esta rebelião na próxima seção.

 

III. A Origem do Diabo e dos Demônios

Ao contrário que se popularizou no imaginário coletivo, um anjo não é uma criança loira com asas, nem um esguio guerreiro trajando uma armadura dourada. Essa iconografia possui sua relevância na história da igreja, mas sendo o diabo um anjo é importante entender com o que realmente estamos lidando. Anjo, no grego original – aggelos – foi a palavra usada para traduzir o termo original hebraico que indicava um mensageiro. Na tradução da Bíblia para o latim a palavra usada foi angelus. Originalmente, em hebraico, a palavra era indiferente à natureza do mensageiro, se divino ou humano; na Septuaginta encontramos o termo grego aggelos, que também pode ser aplicado tanto para homens quanto para criaturas celestiais. Foi na tradução latina que tal distinção foi criada, usando-se o termo angelus para mensageiros divinos e legatus ou nuntius para os mensageiros humanos, 329 CI rememora as palavras que Santo Agostinho registra a este respeito:

“Angelus […] officii nomen est, non naturae. Quaeris nomen naturae, spiritus est; quaeris officium, angelus est: ex eo quod est, spiritus est: ex eo quod agit, angelus”
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“Anjo é nome de ofício, não de natureza. Desejas saber o nome da natureza? Espírito. Desejas saber o do ofício? Anjo. Pelo que é, é espírito: pelo que faz, é anjo (anjo = mensageiro)”.

Aqui temos duas informações relevantes nos dizendo que os Anjos possuem:

1. Uma Natureza: Anjos são seres puramente espirituais (Espírito), não possuem assim um corpo físico como nós embora com permissão de Deus possam se manifestar visualmente. 330 CI esclarece: “Enquanto criaturas puramente espirituais, são dotados de inteligência e vontade: são criaturas pessoais e imortais). Excedem em perfeição todas as criaturas visíveis. O esplendor da sua glória assim o atesta.”

2. Um Ofício: Anjo é um cargo. São Mensageiros de Deus, executores de Sua Vontade. Nesse aspecto anjo é algo que se faz não algo que se é.

A ‘Queda dos anjos’ significa no contexto católico o abandono do ofício mas não o abandono da natureza. O Diabo é assim um ser puramente espiritual, imortal e dotado de inteligência e uma vontade que optou por não servir Deus. Isso é o que o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica no artigo 37 ensina ao dizer que no princípio do mundo, antes da criação do homem, ocorreu a queda dos anjos, uma rebelião entre os anjos contra Deus. A distinção entre anjos bons e maus constantemente aparece na Bíblia, mas não existe qualquer sinal de dualismo ou conflito entre os dois princípios – bem e mal. Este conflito é mostrado em disputas que surgem na Terra entre o Reino de Deus e o Reino do Maligno, mas a inferioridade do último é sempre dada como certo.

IV. Da queda dos anjos nas Sagradas Escrituras

A tomada de consciência judaica neste ponto é claramente definida nas escrituras sagradas, o relato da queda de nossos primeiros pais (Gênesis 3) é colocado de tal forma que não restam dúvidas de que tratam do reconhecimento de um princípio do mal que possuia grande inveja da raça humana. Em Gênesis 6:1 onde lemos que os “filhos de Deus” se casaram com as filhas dos homens é explicada a queda dos anjos – em Enoque VI-XI e nos códices D,E,F a A da Septuaginta frequentemente encontramos o termo “oi aggeloi tou theou” para designar os “Filhos de Deus”. Também vale notar que a palavra hebraica nephilim, traduzida como “gigantes” (Gen 6,4) também pode significar “caídos”.

Em Jó 1 e 2, temos a primeira individualização do anjo caído, Satã, que suge como um intruso que tem inveja de Jó. Esta passagem nos mostra que mesmo com seus poderes, pode apenas tocar em Jó com a permissão de Deus. Um exemplo interessante disso surge da comparação de duas passagens Bíblicas, respectivamente 2 Samuel 24,1 e 1Crônicas 21,1, onde na primeira passagem lemos que o pecado de Davi foi causado pela ira do Senhor, que “foi despertada em Davi”, na segunda lemos que “Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar a Israel”.

Voltando a Jó, 4,18, encontramos uma declaração clara da queda: “Eis que ele não confia nos seus servos e aos seus anjos atribui loucura”. No livro de Jó da Septuaginta existem passagens instrutivas a respeito de anjos vingadores que podemos encarar como espíritos caídos, em 33,23: “Se mil anjos da morte se colocassem (contra ele) nenhum deles seria capaz de feri-lo”; e 36,14, onde lêmos: “A sua alma morre na mocidade, e a sua vida perece entre os anjos impuros”, entre outros.

É em Isaias 14 e em Ezequiel 28 que temos a descrição da queda factual:

“Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!” Isaías 14,12

e finalmente:

“Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti. Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti. Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre a terra, aos olhos de todos os que te vêem.” Ezequiel 28,14-18

Ambas as passagens sendo resumidas por Lucas, quando recebeu a inspiração de Deus e escreveu: “Eu via Satanás, como raio, cair do céu.” Lucas 10,18

O porque de Deus permitir uma rebelião da onde nasceu tantos males é um Mistério para a Igreja, Mistério que é acompanhado pela confiança de que da liberdade mal usada do diabo Deus fará nascer um bem ainda maior. O Papa João Paulo II definiu em seu pronunciamento Salvifici Dolores  que o mal “é uma certa falta, limitação ou distorção do bem”. No Compêndio do Catecismo 57 e 58 lemos que Deus “não permitiria o mal se do próprio mal não extraísse o bem.” O exemplo mais marcante disso seria a morte e ressurreição de Jesus, que, sendo o maior mal moral, trouxe a salvação para a humanidade. Seja como for o mal existe hoje e pode ser visto e experimentado todos os dias e o Diabo não está sozinho mas acompanhado de uma enorme legião.

V. O Diabo e Os Demônios

Nas escrituras e na teologia católica a palavra ‘demônio’ acabou, com o tempo, tendo um significado muito semelhante a ‘diabo’, e denota um dos espíritos do mal, ou anjos caídos. Inclusive em alguns lugares do Novo Testamento o original daemonium foi traduzido como diabo. A principal distinção entre os dois termos, no uso eclesiástico, pode ser encontrada na famosa expressão presente no decreto do Quarto Concílio de Latrão, convocado pelo Papa Inocêncio III pela bula “Vineam Domini Sabaoth”, de novembro de 1215: “Diabolus enim et alii daemones” – O Diabo e os outros demônios – que mostra que todos são demônios, e ao chefe dos demônios damos o título de diabo.

Esta distinção é observada no Novo Testamento da Vulgata, onde diabolus é usado como tradução para o “diabolos” grego, e em quase todos os momentos faz alusão ao próprio Satã, enquanto todos os seus subordinado são sempre descritos como daemones ou daemonia. Mas isso não deve ser entendido como uma diferença entre as naturezas do diabo e dos demônios, pois Satã está claramente incluso entre os daemones em Tiago 2,19 e Lucas 11,15-18.

Nos aprofundando mais ainda, diz o Proêmio do Ritual Romano sobre Exorcismo que “na Sagrada Escritura, o Diabo e os demônios são identificados com vários nomes alguns dos quais, de certa forma, indicam sua natureza e função”. Embora a rebeldia de recusar a Deus tenha partido de um espírito, hoje identificado como “O Diabo”, “O Maligno”, “O Tentador” entre tantos outros nomes, os espíritos malignos que lhe deram ouvidos e razão são chamados demônios, ou anjos de Satanás (cf. Mt 25,41; 2Cor 12,7; Ap 12,7.9).

Foi com o Novo Testamento que ganhamos a clara visão de dois reinos espirituais distintos. A tradição ensina que Apocalipse 12,4 é uma descrição figurativa de um terço dos anjos que escolheram seguir a Satanás em sua rebelião, tornando-se demônios. Deus então nomeia o Diabo de “Príncipe deste Mundo” (João 14,30), o tentador da raça humana que tenta arrastá-la com ele em sua própria queda (Mateus 25,41, 2Pedro 2,4, Efésios 6,12, Coríntios 11,14 e 12:7). É, também, graças ao Novo Testamento que temos uma imagem do Diabo (Apo 9,11-15 e 12,7-9), onde é denominado “o anjo do poço sem fundo”, “o dragão”, “a velha serpente”, etc., além de ser mostrado como aquele que já travou combate com o arcanjo Miguel, o que nos revela uma guerra celestial que pode ter precedido a queda do Diabo e de seus demônios.

A parte boa é que se um terço dos anjos seguiram a rebelião então para cada demônio que existe nos sugerindo o mal hoje, existem dois anjos nos recomendando o bem.

 

VI. O Alcance do Poder dos Demônios

Para entendermos a natureza de Satanás devemos entender qual a natureza dos anjos segundo o Catolicismo. Como vimos acima  enquanto o homem são compostos de corpo e espírito, os demônios são “criaturas puramente espirituais, dotadas de inteligência e vontade: são criaturas pessoais e imortais. 328CI diz que tratam-se de “seres espirituais, não-corporais”. A iconografia monstruosa da tradição é parcialmente uma referência de sua degradação moral e parcialmente herdada pela tradição da imagem dos antigos deuses pagãos e não devem ser consideradas senão como simbólicas.

Sabendo que tanto anjos como demônios são portanto inteligências sem corpos, livres portando de muitas das limitações do corpo humano não ressurrecto, não devemos achar que o poder do Diabo é infinito. CI 395 deixa claro que:

“Satanás é uma simples criatura, poderosa pelo facto de ser puro espírito, mas, de qualquer modo, criatura: impotente para impedir a edificação do Reino de Deus. Ele tem o poder de estar em qualquer lugar que quiser a qualquer momento, como os Santos pode estar em vários lugares ao mesmo tempo. Satanás exerce no mundo “sua ação de ódio contra Deus e seu reinado em Jesus Cristo” e pode causar graves prejuízos – de natureza espiritual e indiretamente, também, de natureza física – pois se não pode levantar um simples peso de papel, pode por suas sugestões, certamente levar os homens a fazer sua vontade, incluindo homens poderosos.

Seu modo de agir é perfeitamente descrito logo no início das Sagradas Escrituras, na história de Gênese onde por meio de sugestões erradas Adão e Eva acabam sendo expulsos do jardim do Éden. Os demônios nos tenta com idéias e vontades que parecem ser nossas mesmas. Na verdade é muito difícil de distinguir entre uma má inclinação pessoal e uma má sugestão dmeoniaca, pois o homem também pode errar sozinho.

Contudo assim como os demônios são livres para desobedecer Deus, por outro lado os homens também são livres para desobedecer os demônios.

VII. Servos do Diabo

 

Embora muitas pessoas sejam tentadas e enganadas pelo Diabo é verdade também que algumas pessoas voluntariamente são partidárias de suas idéias. Na bula Summis desiderantes o Papa Inocêncio VIII torna este conhecimento oficial:

“Muitas pessoas de ambos os sexos, sem se importar com a própria salvação e desviando-se da fé católica, abandonaram-se a demônios, íncubos e súcubos, e por seus encantamentos, feitiços, conjurações e outros encantos malditos e atrocidades, sortilégios e crimes horríveis, matam bebês ainda no ventre da mãe, como também as crias do gado, estragam a produção da terra, as uvas da vinha, os frutos das árvores, e o pior de tudo: homens e mulheres. Esses miseráveis ​​ainda afligem e atormentam homens e mulheres, bestas domésticas e animais selvagens, bem como animais de outras espécies, com dores terríveis e provocam doenças dolorosas, tanto internas como externas, impedem os homens de realizar o ato sexual e as mulheres de conceber, e maridos não podem conhecer suas esposas, nem as esposas receber seus maridos; e acima de tudo isso eles blasfemam renunciando a fé que é deles pelo Sacramento do Batismo, e por instigação do inimigo da humanidade não se furtam de cometer e perpetrar as mais vis abominações e excessos imundos para o perigo mortal de suas próprias almas, causam indignação na Majestade Divina e são causa de escândalo e de perigo para muitos (…) as abominações e atrocidades em questão não devem permanecerr impunes pois representam perigo aberto para as almas de muitos e perigo de condenação eterna. ”

A bula acima foi o ponto de partida para a Inquisição que se seguiu. Ela não entra em detalhes de como as bruxas trabalham ou como uma tortura deve ser feita, sobre isso leia no item IX a verdade sobre o Malleus Malleficarum, o infame manual da caça as bruxas. A istória nos mostra que ao não querer deixar inpune os servos de Satã muitos males e crueldades foram realizados por homens dentro da própria Igreja. Isso nos fazendo pensar se não era esse o plano de Satanás desde o início.

Ainda hoje existem bruxas e feiticeiros que fazem exatamente o que está descrito na bula acima, como o Papa João Paulo em seu discurso de 1987, no santuário de São Miguel Arcanjo: “o demônio continua vivo e ativo no mundo”.

 

VIII. Sobre o ritual de Exorcismo

O parágrafo 1673CI destaca que:

“Quando a Igreja pede publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa ou objeto seja protegido contra a ação do Maligno e subtraído ao seu domínio, fala-se de exorcismo. Jesus praticou-o – e é d’Ele que a Igreja obtém o poder e encargo de exorcizar.”

Entretanto o Código de Direito Canônico estabelece no canon 1172 que a ninguém é lícito proferir exorcismo a não ser com permissão do bispo do lugar e este por sua vez só pode dar este direito a um padre dotado de piedade, sabedoria, prudência e integridade de vida. Desta forma segue que o Vaticano torna ilícito aos fiéis leigos utilizar a fórmula de exorcismo contra Satanás e seus anjos apóstatas muito menos lhes é lícito aplicar o texto inteiro do Ritual Romano.

O exorcismo solene, chamado “Grande Exorcismo”, foi promulgado por ordem do Papa Leão XIII e seu funcionamento se baseia na tradição da Igreja que confirma a autoridade espiritual que Jesus transmitiu aos seus apóstolos para expulsar os demônios e estes por sua vez transmitiram aos bispos e presbíteros até chegar os dias de hoje. Qualquer pessoa que não tenha recebido as ‘chaves’ necessárias e alegue pode expulsar os demônios está, segundo a tradição católica, enganando ou sendo enganada.  CI1673 estabelece ainda que esse ritual deve ser realizado “com prudência, observando estritamente as regras estabelecidas pela Igreja. Muito diferente é o caso das doenças, sobretudo psíquicas, cujo tratamento depende da ciência médica. Por isso, antes de se proceder ao exorcismo, é importante ter a certeza de que se trata duma presença diabólica e não de uma doença ou êngodo e para isso a pessoa deve passar por todos os canais médicos competentes a fim de se certificar que seu mal não tem natureza física ou psíquica.

 

IX. A luta contra os diabo e seus demônios

Embora o Ritual do Exorcismo seja regulado pelo Direito Canônico, um outro documento chamado ‘Epistula Ordinariis locorum missa: in mentem normae vigentes de exorcismis revocantur, de 1985 destaca que:

“A formulação destas normas de modo nenhum deve dissuadir os fiéis de rezar para que, como Jesus nos ensinou, sejam livres do mal (cf. Mt 6,13). Além disso, os Pastores poderão valer-se desta oportunidade para lembrar o que a Tradição da Igreja ensina a respeito da função própria dos Sacramentos e a propósito da intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, dos Anjos e dos Santos na luta espiritual dos cristãos contra os espíritos malignos.”

Na verdade toda Igreja Católica existe em função de estabelecer o Reino dos Céus na Terra (Vinde a nós o vosso Reino), sendo assim, cada aspecto nela existe como parte de uma contínua luta contra o diabo e seus demônios. Ou seja, embora a autoridade para expulsar os demônios de outras pessoas, lugares e objetos sejam uma prerrogativa dos presbíteros com permissão do episcopado, toda vida do cristão é, em si uma longa batalha, no qual ele busca livrar a si mesmo da influência nefasta do Diabo e seus demônios. CI1237 mostra que logo durante o batismo pronuncia-se um ou vários exorcismos sobre o candidato. Mas isso por si só não basta, pois não tendo os demônios corpos eles não se cansam. É preciso deixá-los entediados com suas investidas infrutíferas e horrorizados de santidade. É necessário constante vigília e em caso de queda constante, humildade para o arrependimento e retorno.

Esse é o propósito da Liturgia, diz o documento Fé Cristã e Demonologia, citado acima:

“Ela inteira é a expressão concreta da fé vivida, sem com isso atiçar a curiosidade infrutifera sobre a natureza dos demônios, suas categorias e seus nomes.’ A liturgia insiste somente no essencial, na existência de demônios e a ameaça para os cristãos, lembrando-se de que a vida dos batizados é uma luta empreendida, com a graça de Cristo e o poder do seu Espírito, contra o mundo, a carne e os seres demoníacos.”

Expulsar o demônio neste sentido não é apenas uma tarefa do padre, mas de todo católico. O documento reforça por fim que:

“Seria um erro lamentável a agir como se a história já estivesse terminada e a Redenção atingido todos os seus efeitos, como se não houvesse necessidade de continuar a conduzir o combate de que fala o Novo Testamento e os mestres da vida espiritual”.

Para isso existe um verdadeiro arsenal a disposição dos cristãos leigos: a participação nos Sacramentos (em especial o da Penitência e Reconciliação e Eucaristia), a leitura da Sagrada Escritura, o uso de sacramentais consagrados (cruficixos, água benta, sal, óleo e vela consagrados) e a prática da oração com destaque para o terço de Nossa Senhora. E mais importante ainda, viver o evangelho sem esquecer do conselho dado por Jesus aos apóstolos: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.” (Mt 26,41).

 

X. Para saber mais

A ‘Epistula Ordinariis locorum missa’ mencionada acima, ao destacar que a Liturgia insiste apenas no essencial sobre demeonologia e de certa forma assim previne os cristãos de desenvolver um interesse demasiado pelo Diabo e seus anjos caídos. O estudo dos demônios não é proibido pelo Vaticano mas desaconselhado na medida em que pode apresenta alguns riscos: à superstição, a preocupação obsessiva com Satanás e seus demônios ou em casos mais graves a práticas de adivinhação, magia e por fim idolatria. A postura de conhecer seu inimígo é importante, mas pode ser também um caminho de ruína se este conhecimento torna-se desordenado. Falando aos cristãos de Antioquia, São João Crisóstomo declarou: “Certamente não me dá prazer falar com vocês sobre o diabo, mas o ensinamento deste assunto me dá a oportunidade de expor algo da maior utilidade para vocês”.

Além destes cuidados, deve-se ter vigia redobrada sobre qual material é ou não confiavel para leitura. O já citado Malleus Maleficarum, por exemplo, entrou para a história como o manual da Caça às Bruxas, mas apesar de ter sido escrito por um sacerdote poucos sabem que este livro foi proibido por Roma logo no ano de sua publicação, em 1487, por ser considerado supersticioso e antiético sendo inclusive parte da Lista de Obras Proibidas (Index Librorum Prohibitorum) daquela época. Com isso em mente, seguem algumas sugestões de leitura fiéis aos ensinamentos da Igreja e conduta católica. Os livros estão na ordem sugerida de leitura para quem quer uma formação sólida sobre o assunto:

  • Catecismo de Igreja Católica. Indicado por ser o compêndio sistematico dos ensinamentos oficiais da Igreja Católica. Não se aprofunde no assunto de demonologia se ainda não conhecer o básico da doutrina católica.
  • O Diabo Hoje, Georges Huber. Indicado para quem acha que os demônios são apenas símbolos ou não está convencido de que o diabo é um ser real.
  • Summa Daemoniaca, Padre José Antonio Fortea. O mais completo tratado de demonologia atualmente existente na Igreja Católica e atualmente usado na formação dos seminaristas.
  • Diabo: …Vivo e Atuante no Mundo, Corrado Balducci SJ. Monsenhor Balducci é um dos principais demonologistas da Igreja. Neste livro ele mostra como a presença do diabo e seus demônios podem ser identificadas por sinais ordinários e extraordinários e sugere meios para a sua prevenção e cura.
  • Un esorcista racconta, Gabriele Amort. Existe uma tradução em português sob o título “Um exorcista conta-nos”. Este, assim como qualquer outro livro de Gabriele Amorth é indicado por ser ele a principal autoridade sobre exorcismo no Vaticano atualmente. Contudo certifique-se de ler os livros acima primeiro.

Octávio e Thiago


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