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Popularmente conhecido com a primeira encarnação histórica do diabo, o deus egípcio Set (ou Seth) possui a fama de ser o patrono do caos, da intriga e da violência. Não podemos contudo limitar sua expressão ao imaginário cristão e o objetivo deste artigo é se aprofundar um pouco mais em sua lendária figura.
A mitologia egípcia atribui a ele ao mesmo tempo o assassinato de seu irmão de Osíris e a fundação do Egito como civilização. O marido e irmão de Néftis nasceu rasgando o ventre de sua mãe Nut com as próprias garras e originalmente auxiliava Rá em sua eterna luta contra a serpente Apep.
Set era o Deus oficial da cidade de Tukh, que ficava há uns 35 km de Luxor, associada à cidade de Naqada há uns 4 km. Em Naqada há cerâmicas associadas ao estranho animal simbólico de Set. Isto no período pré-dinástico e na 1ª dinastia egípcia. Nesta cidade há uma enigmática “pirâmide”. Naqada não é apenas uma cidade, mas o nome que a egiptologia empresta a uma cultura local, que se estendeu por vasta região, realizando comercio com outros povos, especialmente com a Mesopotâmia. Naqada que se desenvolve desde 4000 A.C. corresponde à transição do período pré-dinástico que provinha da pré-história neolítica (desde 10.000 A.C.), até a primeira dinastia em 2920 A.C. Destarte, Set pode ser considerado um Deus extremamente antigo até mesmo para os padrões egípcios. Há controvérsias sobre a extensão do culto à Set no antigo Egito, porém indiscutivelmente a figura mitológica que conhecemos hoje como Set foi o Deus oficial da casa Real do Faraó Seti I.
Seti I foi um dos maiores Faraós do antigo Egito e reinou de 1305 à 1289 A.C., possuindo um dos mais misteriosos túmulos daquele antigo país de antigas memórias. Ele, Seti I era sacerdote de Set, e soldado. Set tinha um templo na cidade de Avaris, e Seti I reconstruiu este templo em opulência e poder. Seti I tentou desfazer a obra de Aknaton, aquele que tentou impor um Deus único ao antigo Egito… em um governo de paz e amor. Seti era um guerreiro, sacerdote do Deus guerreiro por excelência, o Deus Set.
Antropológicamente falando certamente não dá para dizer que os antigos egípcios eram politeístas no sentido grego do termo, isto é um reducionismo leigo. Sequer dá para falar que praticavam uma religião, termo muito desgastado e muito questionado pela antropologia, que prefere a categoria analítica “cosmologia de mundo”. Para os egípcios, um rio não era apenas um rio, mas uma porta para tudo aquilo que o rio significava…assim também os Deuses, que se mesclavam uns aos outros como significados se mesclam em seus pontos comuns.
Portanto, Set era um Deus, sem a menor dúvida, mas o que era um Deus para os egípcios?
Certamente não era algo como percebemos hoje. Esta muito associado, segundo a egiptologia o indica, à experiência que os clarividentes tem, qual seja, ao olhar para algo eles vem tudo o que está associado a este algo….como se tudo fosse flídico. Na antiga religião egípcia o adepto religioso dizia, como sabe, Eu sou Thoth, Eu sou Set, Eu sou Isis, e assim por diante. Uma postura assustadoramente próxima a da aproximação do satanismo atual com os arquétipos.
Vale notar que no egípcio arcaico temos os termos naquela língua:
Se = homem
Set = mulher
Para um bom entendedor meia palavra basta, o Deus Guerreiro, senhor dos desertos em torno do Nilo habitável era um homônimo de mulher. Ora numa religião onde os significados se misturam. Em relação à noite, à lua em oposição ao Deus Sol, o Rá egípcio e ao Sol de Aknaton ou Aton como era chamado em oposição ao patriarcalismo semítico e até egípcio e além nas raízes de muita coisa hoje em dia. O satanista experiente lembrará agora do sétimo pecado satânico sugerido por LaVey, a saber a “Negligência dos Ortodoxos Passados” pois estas coisas não estão mortas só mudaram de nome. As egrégoras são muito versáteis.
Infelizmente para Set, após a invasão dos hicsos, estes se associaram ao Deus Set como sendo o Deus Hicso. Os hicsos foram muito odiados pelos egípcios pois foram muito cruéis em sua invasão e governo do Egito por eles conquistados. Quando os gregos invadiram por sua vez o Egito o identificaram ao Deus Tifon, arqueinimigo do Deus Zeus.
A serpente nunca foi um animal de Set durante o culto egípcio. Só tardiamente quando o Deus caiu em desgraça foi a ela identificada, pois Tifon era uma serpente. Com isto o mito e a egrégora de Set sofreu uma “demonificação” no mal sentido do termo num lento processo histórico que culminou com a formação do Templo of Seth nos anos 70, o primeira grande cisma da Church of Satan.
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