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Argumenta-se que não; pois, já foi demonstrado que no Segundo Livro das Sentenças e todos os doutores concordam que e ilícito usar do auxilio de diabos, uma vez que isso envolve a apostasia da fé. E, continua o argumento, nenhuma bruxaria pode ser removida sem a ajuda de diabos. Pois e assente que ela só pode ser curada pelo poder humano, pelo diabólico ou pelo poder divino. Não pode ser pelo primeiro, pois o poder inferior não pode contra-atacar o superior, não tendo nenhum controle sobre o que esta fora de sua capacidade natural. Nem pode ser também pelo poder divino, pois isso seria um milagre, que Deus realiza somente de vontade própria e não a pedido dos homens. Pois quando sua mãe solicitou a Cristo que fizesse um milagre para fornecer o vinho, ele respondeu: “Mulher, que tenho haver contigo?” E os doutores explicam o significado disso: “Que associação existe entre nós para que eu faça um milagre?” (.) Parece também muito raro que homens sejam liberados de um feitiço apelando pelo auxilio de Deus ou preces aos santos. Portanto, conclui-se que só se pode liberar com o auxilio de diabos. Entretando é ilegal procurar tal auxílio.
Novamente se aponta aqui que o método pratico comum de remover um feitiço, apesar de ser bastante ilícito, e que as pessoas enfeitiçadas recorram a mulheres sabias, por quem são freqüentemente curadas, e não a padres e exorcistas. Assim, mostra a experiência que tais curas são efetuadas pelo auxilio de diabos, o qual e ilícito procurar; portanto não pode ser licito curar assim um feitiço, devendo ele ser pacientemente suportado.
Argumenta-se também que Santo Tomas e Sao Boaventura no livro IV, dist. 34,.que um feitiço deve ser permanente visto que se existe um remédio, e desconhecido dos homens ou ilícito. E considera-se que essas palavras significam que essa enfermidade e incurável; e eles acrescentam que, mesmo que Deus forneça o remédio coagindo o diabo e o diabo remova a praga do homem e o homem se cure, essa cura não seria humana. Portanto, a menos que Deus cure, é ilícito para o próprio homem tentar de alguma maneira procurar uma cura.
No mesmo lugar, esses dois doutores acrescentam que e ilícito ate mesmo procurar um remédio por meio de mais uma bruxaria. Pois, dizem eles, que, sendo isso possível e o encantamento primeiro removido, a bruxaria continuara sendo considerada permanente; pois não e de forma alguma licito invocar o auxilio do diabo por meio de bruxaria.
Mais adiante e afirmado que os exorcismos da Igreja nem sempre são eficientes na repressão de diabos, no que concerne a aflições corporais, uma vez que essas são curadas apenas a critério divino, mas são sempre eficazes contra as moléstias do diabo, para cujo combate foram principalmente instituídos, como, por exemplo, no combate a homens que são possuídos e no exorcismo de crianças.
E novamente não se pode concluir que, por ter o diabo recebido poder sobre alguém por causa de seus pecados, esse poder chegue a um fim de cessar o pecado. Pois muitas vezes um homem pode parar de pecar, mas seus pecados ainda persistem. Portanto, parece decorrer dessas afirmações que os dois doutores que citamos são da opinião de que e ilícito remover um feitiço, que ao contrario ele deve ser suportado assim como foi permitido por Deus Nosso Senhor, que pode removê-lo quando Ihe parecer conveniente.
Contra essa opinião argumenta-se. que como Deus e a natureza não abundam em coisas supérfluas, também não os defendem em necessidades; e constitui uma necessidade que também remédios curativos sejam fornecidos aos fiéis, contra as obras do diabo. Pois, de outra maneira, os fieis não seriam suficientemente providos por Deus e as obras do diabo pareceriam mais fortes que a obra de Deus.
Há também aquele comentário sobre o texto de Jó: “Não ha poder na terra”, etc. Diz o comentário que, apesar de o diabo ter poder sobre todas as coisas humanas, ele esta sujeito aos méritos dos santos e até mesmo aos méritos de homens de vida santificada. E ainda Santo Agostinho diz: “Nenhum anjo é mais poderoso que nossa mente, quando nos ligamos fortemente a Deus. Pois, se o poder é uma virtude neste mundo, então a mente que se mantém próxima a Deus é mais sublime que todo o mundo. Portanto, tais mentes podem desfazer as obras do diabo”.
Resposta: Eis duas opiniões de peso que, ao que parece, são absolutamente discordantes entre si. Pois existem certos teólogos e canonistas que concordam ser lícito remover bruxaria mesmo por meios supersticiosos e escusos. E são dessa opinião Duns Scotus, Henry de Segusio e Godfrey e todos os canonistas. Porém, a opinião de outros teólogos – especialmente os mais antigos e alguns modernos – que, conforme Santo Tomas, São Boaventura, o bem-aventurado Alberto, Pedro Palude e muitos outros, em nenhum caso o bem pode resultar do mal e que um homem deve preferir morrer a consentir em ser curado por superstições ou meios escusos.
Examinemos agora suas opiniões, com a finalidade de levá-las tanto quanto possível a uma concordância: Scotus, em seu Quarto Livro, dist. 34, sobre obstruções e impotência causadas por bruxaria, diz ser tolo sustentar que e ilícito remover um feitiço mesmo por meios supersticiosos ou escusos e que fazê-lo não é de forma alguma contrário a fé pois aquele que destrói o trabalho do diabo não e acessório desses trabalhos, mas acredita que o diabo tem poder e inclinação para auxiliar a infligir uma injuria apenas enquanto perdure um sinal ou símbolo externo dessa injuria. Portanto, quando esse símbolo e destruído, colocado esta um fim na injuria. E acrescenta ele que e meritório destruir as obras do diabo. Mas, com ele fala de sinais, daremos um exemplo…
. Ha mulheres que descobrem uma bruxa pelo seguinte sinal. Quando a cota de leite de uma vaca diminuiu por bruxaria, elas penduram um balde de leite sobre o fogo e, formulando algumas palavras supersticiosas, batem no balde com um bastão. E, apesar de ser apenas o balde batido pelas mulheres, o diabo transmite todos esses golpes para as costas da bruxa e dessa maneira tanto a bruxa quanto o diabo são afetados. Mas o diabo faz isso a fim de poder levar a mulher que bate no balde a praticas piores. E assim, não fosse pelo risco que implica, não haveria dificuldade em aceitar a opinião desse respeitado doutor. Muitos outros exemplos poderiam ser dados.
Henry de Segusio, em sua eloquente Summa sobre impotência genital causada por bruxaria, diz que em tais casos deve-se recorrer aos remédios dos médicos: e apesar de alguns desses remédios parecerem ser apenas talismãs e encantamentos escusos e supersticiosos, todos devem ser confiados em sua própria profissão e a Igreja deve tolerar a supressão de coisas escusas por meio de outras coisas escusas.
Ubertinus também, em seu Quarto Livro usa essas palavras: “Um feitiço pode ser removido ou pela oração ou pela mesma arte pela qual foi infligido”. Godfrey diz em sua Summa: “Um feitiço nem sempre pode ser removido por aquele que o causa, ou porque já esta morto ou porque não sabe como curá-lo ou porque o encanto necessário se perdeu. Mas, se esse souber como efetivar o alivio, é-lhe licito curar”.. Nosso autor fala contra os que disseram que uma obstrução ao ato carnal não poderia ser causada por bruxaria e que nunca poderia ser permanente e, portanto, não anularia um casamento já contratado.
Alem disso, aqueles que sustentavam que nenhum encantamento e permanente foram levados a isso peIas seguintes razoes: pensaram que todo encantamento poderia ser removido por meio de outro encantamento ou pelos exorcismos da Igreja que são dedicados a supressão do poder do diabo ou pela verdadeira penitencia, desde que o diabo tem poder apenas sobre pecadores. Assim, quanto ao primeiro ponto, eles concordam com a opinião de outros, isto e, que um encantamento pode ser ‘removido por meios supersticiosos.
Porem, Santo Tomas e de opinião contraria quando diz: um encantamento não pode ser removido exceto por meios ilícitos. tais como o auxilio do diabo ou algo no estilo, ainda que se saiba que pode ser removido assim, deve, no entanto, ser considerado permanente, uma vez que o remédio e ilícito”.
Da mesma opinião são São Boaventura, Pedro Palude, o bem-aventurado Alberto e todos os teólogos. Pois, tocando brevemente na questão de invocar o auxílio do diabo quer tácita, quer expressamente, eles parecem sustentar que tais encantamentos podem ser removidos apenas por meio de exorcismo lícito ou sincera penitencia, sendo removidos, ao que parece, pelas considerações mencionadas anteriormente.
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