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E quanto a nossa segunda investigação, quais classes de mulheres são mais supersticiosas que outras e estão infectadas pela bruxaria, deve se dizer, como se mostrou no estudo precedente, que três vícios gerais parecem ter um especial domínio sobre as mulheres más, a saber: a infidelidade, a ambição e a luxuria. Portanto, inclina-se mais que outras à bruxaria, aquelas que mais se entregam a estes vícios. Além do que, dos três vícios, o último é o predominante, sendo as mulheres insaciáveis, etc. Daí que entre as mulheres ambiciosas, resultam mais profundamente infectadas aquelas com temperamento ardoroso para satisfazer seus repugnantes apetites; e essas são as adúlteras, as fornicadoras e as concubinas do Grande. Agora bem, como se diz na Bula papal, existem sete métodos por meio dos quais infectam de bruxaria o ato venéreo e a concepção do útero: Primeiro, levando a mente dos homens a uma paixão desenfreada. Segundo, obstruindo sua força de gestação. Terceiro, eliminando os membros destinados a esse ato.
Quarto, convertendo os homens em animais por meio de artes mágicas. Quinto, destruindo a força de gestação das mulheres. Sexto, provocando o aborto. Sétimo, oferecendo as crianças aos demônios. Isso tudo, sem levar em conta, outros animais e frutos da terra com os quais se operam muitos danos. E tudo isso será considerado mais adiante; no momento dediquemos nossa reflexão aos danos causados aos homens. E antes de mais nada, a respeito de quem é enfeitiçado por amor ou ódio desmesurado, assunto de uma categoria difícil de analisar ante a indulgência geral. No entanto deve ser admitido como um fato. Porque São Tomás IV, 34, ao tratar das obstruções provocadas pelas bruxas, mostra que Deus outorga ao demônio maior poder sobre os atos sexuais dos homens, do que contra outras ações; e dá o seguinte motivo: e é possível que assim seja, já que têm, mais tendência de serem bruxas as mulheres mais dispostas a tais atos. Também diz, que desde a primeira corrupção do pecado, na qual o homem se tornou escravo do demônio, o legado chegou até nós pelo ato de engendrar; portanto Deus concede ao demônio maior poder neste ato que em todos os demais. Além do que, o poder das bruxas é mais evidente nas serpentes, como já dissemos, que em outros animais, porque por meio de uma serpente o diabo tentou a mulher. E também por esta razão: como se mostrará depois, mesmo o matrimônio sendo obra de Deus, instituído por Ele, é às vezes destruído pela obra do demônio; e não, em verdade, pela força, o que o faria ser considerado mais forte que Deus, mas é, com a permissão Dele mediante a provocação de algum impedimento temporário ou permanente no ato conjugal. E a respeito disso, podemos dizer do que se conhece pela experiência; que estas mulheres satisfazem seus sujos apetites, não só por si mesmas, mais inclusive através dos poderosos da vez, sejam eles de qualquer classe ou condição, e por todo tipo de bruxarias provocam a morte da alma devido à excessiva ânsia do amor carnal, de tal maneira, que nenhuma vergonha ou persuasão poderia dissuadi-las de tais atos. E por meio desses homens, já que as bruxas não permitem que lhes ocorra dano algum, seja por eles mesmos ou por outros, e uma vez os tendo sob seus poderes, surge o grande perigo da época, isto é, o extermínio da Fé. E deste modo aumentam as bruxas todos os dias. E queira Deus isto não fosse verdadeiro como o diz a experiência. Mas a verdade é que a bruxaria desperta tal ódio entre aqueles que foram unidos no Sacramento do Matrimônio e bloqueia a força de gestação, tornando os homens incapazes de executar a ação necessária para engendrar filhos. Mas como o amor e o ódio existem na alma, na qual nem sequer o demônio pode entrar, é preciso pesquisar tais coisas, não só porque pareçam inacreditáveis para alguns; mas no confronto de argumento contra argumento, o assunto ficará claro. Examinemos como, por meio do movimento local, pode o demônio excitar a fantasia e as percepções sensoriais internas de um homem, isto por meio de aparições e ações impulsivas. É de assinalar que Aristóteles (de Somno et Vigília) atribui ao fato que, quando um animal dorme, o sangue flui à sede mais íntima dos sentidos, dos quais emanam movimentos ou impressões que perduram de impressões passadas, conservadas na mente ou percepção interna; e são a Fantasia ou Imaginação, que segundo São Tomás é a mesma coisa. Porque a fantasia ou imaginação é, por assim dizer, o tesouro das idéias recebidas através dos sentidos. E assim ocorrem quando os demônios agitam de tal modo as percepciones internas, ou seja, o poder de conservar imagens, que parecem ser uma nova impressão decidida no momento, a partir de coisas exteriores. É certo que não todos concordam a respeito disso; mas se alguém deseja se ocupar deste assunto, deve considerar a quantidade e as funções das percepções internas. Segundo Avicenna, em seu livro Sobre a Mente, são cinco, a saber: o Bom Sentido; a Fantasia, a Imaginação, o Pensamento e a Memória. Mas São Tomás, na Primeira Parte da Pergunta 79, diz que são apenas quatro, já que a Fantasia e a Imaginação são a mesma coisa. Por temer à prolixidade, omito muitas outras coisas que se disse a respeito. Só isto deve ser dito: que a fantasia é o tesouro das idéias, mas a memória parece ser algo diferente. Pois a fantasia é o tesouro ou o depósito das idéias recebidas através dos sentidos; mas a memória é o tesouro dos instintos, que não se recebe pelos sentidos. Porque quando um homem vê um lobo, ele foge, não por sua cor feia ou aspecto, que são idéias recebidas através dos sentidos exteriores e conservadas em suas fantasias; mas foge porque o lobo é seu inimigo natural. E isso ele sabe por algum instinto ou temor, aparte do pensamento, que reconhece o lobo como hostil, mas o cão como amistoso. Mas o depósito destes instintos é a memória. E a recepção e a retenção são duas coisas diferentes na natureza animal; pois quem é por natureza criativo, percebe com maior facilidade, e retêm o mal; e o contrário ocorre com aqueles que são de humor seco. Para voltar ao tema. Os aparecimentos que surgem nos sonhos dos dormentes procedem das idéias conservadas no depósito da mente, por meio de um movimento local e natural, causado pelo fluxo de sangue para a primeira e mais íntima sede de suas faculdades de percepção; e falamos de um movimento local intrínseco na cabeça e nas células do cérebro. E isto também pode ocorrer devido a um movimento local similar criado por demônios. Estas coisas também ocorrem, não só a quem dorme, mas inclusive a quem esta desperto. Pois com isso os demônios também podem fortalecer e excitar as percepções e humores internos, de modo que as idéias conservadas nos depósitos da mente sejam extraídas e evidenciadas as faculdades da fantasia e da imaginação, para que levem os homens a imaginarem que essas coisas são verdadeiras. E isto se chama tentação interior. E não é estranho que o demônio possa fazê-lo por seu próprio poder natural, já que qualquer homem por si mesmo, acordado e gozando do uso de sua razão, pode extrair de forma voluntária, de seus depósitos, as imagens que conservou neles; de tal forma, que convoque as imagens das coisas que lhe interessa. E admitindo isto, é fácil entender o assunto do excessivo ardor no amor. Agora bem, há duas maneiras, como já foi dito que os demônios podem provocar este tipo de imagens. Às vezes atuam sem encadear a razão humana, como dissemos no que se refere à tentação e no exemplo da imaginação voluntária. Mas em certas ocasiões o uso da razão está encadeado por inteiro; e isto pode ser exemplificado em certas pessoas defeituosas por natureza, e com os loucos e os bêbados. Portanto, não é estranho que, com a permissão de Deus, os demônios possam encadear a razão; e a esses homens chama-los delirantes, porque seus sentidos foram arrebatados pelo demônio. E fazem-no de duas maneiras, com ou sem a ajuda das bruxas. Pois Aristóteles, na obra que citamos, – diz que quem vive em paixão é movido por pouca coisa, como o apaixonado pela aparência mais remota de seu amor, e o mesmo acontece no caso de quem sente ódio. Portanto os demônios, que aprenderam dos atos dos homens e, as paixões que estão principalmente submetidos, aos incitar a esse tipo de amor ou ódio desmesurado, impõem seu objetivo sobre a imaginação dos homens, com tanto mais força e eficácia quanta maior é a facilidade com que podem o fazer. E isso lhes resulta tanto mais fácil, quanto é mais singelo a um apaixonado, convocar a imagem de seu amor na memória, e a conservar prazerosamente em seus pensamentos. Mas agem por bruxaria quando fazem estas coisas pela instância das bruxas, em razão de um pacto convindo com elas. Mas não é possível tratar destes assuntos em detalhe, devido à grande quantidade de fatos, tanto entre os clérigos como entre os laicos. Pois quantos adúlteros abandonaram as mais belas esposas em razão de sua luxuria, pelas mais vis mulheres! Sabemos de uma mulher idosa que, segundo a versão comum dos irmãos desse monastério, inclusive até a atualidade, não só embruxou dessa forma três abades, um após o outro, mais inclusive os matou, e da mesma forma enlouqueceu um quarto. Pois ela mesma confessou em público, e não temeu em dizer: “… o fiz e faço de novo, e não poderão deixar de me amar porque comeram tanto de meu esterco… e mede certamente o tamanho do seu braço…” E além do mais, confesso que desde então não tivemos motivos para incriminá-la ou a levar perante os tribunais, e ainda sobrevive na atualidade. Recordaremos que foi dito que o demônio compele de forma invisível o homem ao pecado, não só por meio da persuasão, como dissemos, mais também por meio da própria disposição. Ainda que isto não seja muito pertinente, digamos que por uma admoestação similar da disposição do humor dos homens, faz que alguns tendam mais a cólera, a concupiscência ou a outras paixões. Pois é manifesto que um homem que possui no corpo essa disposição é mais propenso à concupiscência, a ira e a tais paixões; e quando despertos, possuem mais tendência a se submeter a elas. Mas como fica difícil citar precedentes, é preciso encontrar um meio mais fácil de declarar, para admoestação da gente. E na Segunda Parte deste livro trataremos dos remédios pelos quais podem ser libertados os homens assim enfeitiçados.
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