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A Umbanda “oficial”, aquela que se declara seguidora do Caboclo das Sete Encruzilhadas, inaugurada pelo medium Zélio Fernandino, em 1908, nega enfaticamente que o sacrifício de animais faça parte de seus rituais. Esta Umbanda “do bem” assume unicamente as oferendas de flores, incensos e frutas. Todavia, oferece charutos, fumo em geral e cachaça aos Espíritos.
As singelas oferendas de de flores, incensos e frutas são justificadas pela necessidade de “sustentáculos físicos” para garantir a eficácia de “trabalhos magísticos”. Segundo a teoria, os espíritos precisam “haurir as energias elementares da natureza”. Nas palavras de Eduardo Parra, em Ponto de Convergência: Fundamentos e Práticas de Umbanda as entidades precisam absorver as emanações desses elementos a fim de agregar energias positivas e desagregar as negativas.
Os espíritos solicitam muitas vezes charutos, fumo em cachimbos e cachaça. Dizem os umbandistas que tais substâncias favorecem a sintonia com a vibração dos espíritos. Essa vibração que somente se ajusta pelo consumo de tabaco e álcool é nos leva a conclusão lógica de que tais espíritos desencarnados dos seus corpos físicos continuam apegados aos vícios adquiridos na vida terrena.
Na primeira manifestação dos Caboclos, em 16 de novembro de 1908, “baixou um preto-velho chamado Pai Antônio. Muito humilde, a entidade, incorporada em Zélio Fernandino, acocorada em um canto, recusou sentar na mesa alegando: “Nego num senta não meu sinhô… Isso é coisa de sinhô branco… nêgo fica nu tôco que é lugá de nêgo…” Perguntado se sentia saudade de alguma coisa que havia deixado na Terra, Pai Antônio respondeu: “Minha cachimba, nêgo qué o pito que deixou no toco…” [LOPES, Manuel. A Historia da Umbanda, 2002.].
A Polêmica do Apego Material
Inevitavelmente vem a pergunta: como podem entidades tão elevadas espiritualmente serem, assim, fissuradas [necessitadas de] em fumo e álcool? Em algumas Tendas/Terreiros, segundo testemunho de freqüentadores, há espíritos que chegam a determinar a marca daqueles produtos; há os que fumam Holywood mesmo e/ou pedem cigarrilhas e uísque importados…
Evidentemente, os umbandistas “do bem” indignar-se-ão com o texto acima e alegarão que esta articulista nada entende de vibrações espirituais porém o fumacê [cof, cof…] e a água dura, a manguaça nas Tendas é inegável. Não somente nas Tronqueiras, servida aos Exús, a birita também é consumida pelos mediuns por solicitação dos espíritos que ocupam seus corpos. Dirão que os excessos são praticados nos centros desprovidos de seriedade e que tal seriedade pode ser avaliada pela harmonia estética dos Congás e além disso, Tendas/Terreiros confiáveis não usam tambores nem palmas em seus cantos.
Ocorre que “harmonia estética” é um conceito relativo e, para muitos, a maioria dos Congás carece desta harmonia como pode ser comprovado nas numerosas fotografias disponíveis em sites da internet pertencentes a algumas destas tendas que se dizem seriíssimas. E quanto à música, a diversidade ritual no âmbito desta religião “superior” faz com que em muitas casas umbandistas se pratique uma espécie de culto híbrido, Umbandomblé, que agrega elementos do Candomblé, o que inclui os atabaques e palmas, e nem por isso, tais cultos deveriam ser, em princípio, depreciados.
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por Ligia Cabús
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