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Cultos Afro-americanos

O Ritual Umbandista, As Giras

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Umbanda é a religião mais genuinamente brasileira que existe. Enquanto o Candomblé possui uma raiz puramente africana a umbanda sintetiza também elementos  da cultura europeia (espiritismo) e a religiosidade indígena. Para conhecê-la é importante conhecer o significado de algumas palavras e termos importantes para em seguida entender como funciona a Gira:

Amacys: Banhos e macerados de ervas que servem para a purificação, dissipação de energias negativas, curas físicas e espirituais.

Congá: é o santuário ou altar da Umbanda que reúne uma enorme quantidade de objetos: imagens, de santos católicos incluindo Jesus Cristo, pretos velhos, caboclos, e não seria de admirar se ali também fossem colocadas imagens de deuses hindus [e quem sabe, até, miniaturas de Harry Potter ou Papai Noel…]; velas, flores e até símbolos nacionais, como a bandeira do Brasil.

Erós: segredos

Gira de Umbanda: é um termo cujo significado é sessão umbandista, com cânticos, danças, rezas e passes magnéticos fluidificados. As giras internas são fechadas para os que estão se iniciando na religião, desenvolvendo a mediunidade; as giras externas, abertas ao público, destinam-se à promoção de curas e resolução dos mais diferentes problemas.

Guias: São colares que funcionam como amuletos, confeccionados com materiais magnéticos, por suas propriedade físicas ou su

Umbanda é a religião mais genuinamente brasileira que existe. Enquanto o Candomblé possui uma raiz puramente africana a umbanda sintetiza também elementos  da cultura europeia (espiritismo) e a religiosidade indígena. Para conhecê-la é importante conhecer o significado de algumas palavras e termos importantes para em seguida entender como funciona a Gira:

a força simbólica, como cristais de rocha, sementes, conchas do mar, fios de cobre, algodão ou alpaca. Servem para proteger os mediuns contra ataques de energias negativas. Não é o número de guias que garante a eficácia do recurso: uma só guia eficientemente imantada é suficiente para cumprir o objetivo a que se destina. As guias de miçangas coloridas têm apenas valor simbólico: funcionam como um placebo, “muleta psicológica” [PARRA].

Mironga: magia

Tronqueira: Casa de Força do Guardião, que na Umbanda é um Exú, é instalada na porta das Tendas de Umbanda: uma casinha de alvenaria onde são colocados materiais para fixação e desagregação de energias: positivas e negativas, respectivamente, oferendas destinadas a satisfazer ao Exú Guardião. Entre esses materiais destacam-se a água, defumadores, velas e aguardente. O aguardente [cachaça mesmo] serve para que o “Exú chefe da casa e para que todos os Exús possam haurir [absorver] esse elemento e fazer vibrar suas poderosas correntes higienizadoras…” [PARRA].

Pemba: Calcário margoso, caotim, espécie de gesso. Possui largo emprego na Umbanda. A pemba é obrigatoriamente encontrada em locais onde há liturgia propiciatória da abertura dos caminhos [Áscar Ribas. Izomba, p 132, Luanda: Tipografia angolana, 1965]. Pembas de diferentes cores são usadas para marcar ou traçar os pontos sobre o solo ou sobre tábuas de madeira. Também podem ter uso corporal e em outros locais. As cores obedecem às relações simbólicas das entidades: branco para Oxalá; verde, Oxóssi e caboclos; azul e vermelho, Xangô; preto e vermelho, Exu; vermelho, Ogum, etc.. As pembas são adquiridas em embalagens individuais – como pequenos bastões. Pemba também é preparado em pó de diferentes materiais. O pó é usado soprado ou colocado em locais especiais, sobre objetos e pessoas. Para fazer o pó de pemba são utilizados: penas, ossos, raízes, frutos, sementes, chifres etc.. [LODY, p 291]

Pontos Cantados: são cantos cuja entonação, pretendem os umbandistas, geram as freqüências vibratórias necessárias ao trabalho dos mediuns. Não são admitidos atabaques, tambores de qualquer tipo, chocalhos ou palmas, considerados perturbadores do astral. São uma espécie de versão “brazuca” de mantras e os mestres da religião afirmam que os “pontos de Raiz”, mais eficientes, são transmitidos por Espíritos. No entanto, as letras caberiam perfeitamente em qualquer roda de samba… Como, por exemplo: “Estrela Guia clareou, estrela guia iluminou, ele vem lá do Oriente com as ordens de Orixalá…

[PARRA]. Podem ser entoados em tons místicos [?], vibrantes, alegres, graves, melancólicos, suaves.

 

Pontos Riscados: Os Pontos Riscados são símbolos traçados com pemba. Servem como meio para estabelecer contato entre os mediuns e os Espíritos. É uma método presente na Magia ocidental segundo a qual as entidades desencarnadas e outros seres do invisível vêem os seres vivos como formas geométricas em emanações luminosas. No entendimento umbandista os sinais atraem ou repelem “correntes de energia” e são traçados pelos próprios espíritos. Além disso, cada espírito tem seu signo de identificação e outros signos para suas suas mirongas [magias]. Abaixo, alguns destes pontos riscados conhecidos e divulgáveis [porque outros são secretos]:

 

* FALASCO, Pontos Riscados na Umbanda [veja bibliografia]

Os pontos riscados de Umbanda assemelham-se, em sua utilização, aos Talismãs empregados na Alta Magia Ocidental, tal como exposto na obra do mestre Ocultista Papus. A ciência dos talismãs, segundo Papus, são uma herança muito antiga que pode ser rastreada em um livro raro, cujo original tem versões deturpadas há muitos séculos. Trata-se das Clavículas de Salomão, texto que ensina a evocar e submeter os espíritos e elementais com o auxílio dos símbolos que lhes são correspondentes. Os talismãs são “considerados representações exatas das formas criadoras do astral” [PAPUS. Tratado Elementar de magia Prática. [Trad. E.P.]São Paulo: Pensamento, 1995.].

Os pontos riscados da Umbanda são, ao que tudo indica, parte do sincretismo desta “religião” que apropriando-se deste conhecimento clássico da magia européia, mas que certamente tem  raízes em culturas orientais adaptou-o às suas práticas espíritas, embora os teóricos umbandistas apresentem seus símbolos como expressão original de uma magia superior à dos povos que, de fato, detêm a primazia deste saber.

Como acontece a Gira

A Gira, sessão espírita da Umbanda, começa com o medium líder, que é chamado Babá, Pai de Santo, Mestre entre outras denominações, defumando e enfumaçando os seguidores e firmando o Congá. Firmar o Congá é encher taças com água, para condensar energia, acender sete velas, uma para cada Orixá e fazer uma oração mental “edificante”. Depois, “firma a Tronqueira da casa” acendendo uma vela e servindo cachaça para o Exú chefe. Outro sincretismo da “religião original”, posto que no Candomblé, mais antigo, todos os rituais começam com oferenda a Exú, aquele que é intermediário entre homens e Orixás. A seguir, mais fumaça nos consulentes.

Os mediuns vestidos de branco posicionam-se, em relação ao Congá: mulheres à esquerda; homens à direita e os consulentes sentados. O medium-chefe, então, pede a proteção dos Orixás e das entidades e faz uma palestra de abertura para sintonizar a platéia com vibrações positivas. Começam os pontos cantados e os mediuns, incorporando os Eres, os espíritos de “crianças” para fazer o atendimento espiritual.

Encerradas as consultas, após 10 minutos de intervalo, começa outra Gira que deverá convocar os espíritos dos caboclos, novamente embalados pelos cantos. Com os caboclos, mais fumaça, porque estas entidades gostam de charutos. Repete-se o intervalo que precede a terceira sessão: a Gira dos Pretos-Velhos, que preferem fumar em cachimbos. Finalmente, procede-se à Gira dos Exús que também são fumantes de charutos e têm a função de cumprir as determinações deliberadas nas Giras anteriores, ou seja, fazer o serviço. Como já foi mencionado, existem também as Giras internas, fechadas ao público, destinadas aos adeptos que precisam “desenvolver a mediunidade”, estudar a “doutrina” ou, ainda, para a limpeza espiritual da Tenda.

por Ligia Cabús


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