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Iniciação no Candomblé

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No Candomblé, a Iniciação, que corresponde a uma espécie de batismo, segundo os preceitos ortodoxos, é demorada e exige uma forte disposição para o desapego em relação aos afazeres e prazeres mundanos. Segundo alguns autores, nos centros de culto menos rígidos, é possível fazer uma iniciação resumida em 21 dias mas, na verdade, isso é um equívoco: na verdade, os 21 dias são apenas uma fase inicial destinada a uma espécie purificação; no ritual tradicional, o correto e verdadeiro procedimento iniciático, demanda seis meses de reclusão no Terreiro. Sobre aquela suposta Iniciação “compactada”  de quse um mês, escreve J.R.R. Abrahão:

“A Iniciação… é tipicamente shamânica… com práticas primitivas… raspar os cabelos da cabeça, esfregar folhas em partes do corpo, fazer cortes… [na] cabeça, testa, mãos, pés, língua, braços… passar pós mágicos nos cortes abertos, Kuras, sacrificar animais deixando o sangue escorrer nos chacras… requerendo total submissão do Iniciando Iaô ao Sacerdote ou Sacerdotisa… que guarda os cabelos daquele tendo, assim, meios de impor sua autoridade á força… A Iniciação no Candomblé é lenta… A pessoa terá de se submeter aos ditames do Sacerdote, devendo comer o que lhe é permitido, com algumas restrições por toda a vida, falar quando lhe é permitido, usar roupas nas cores autorizadas, mais uma vez com restrições para o resto da vida… O Sacertote também deverá ditar… quais as atividades sociais e profissionais que o Iniciado poderá exercer dali por diante…”

Durante a Iniciação verdadeira, de seis meses, o “noviço” , ou ndumbi  [aqui, a nomenclatura é confusa, e o iniciado é também chamado ìyàwó, ficando a dúvida se é ìyàwó desde o começo da Iniciação ou se somente quando concluído todo o processo], veste-se de branco, come com as mãos e somente pode se sentar no chão. Aqueles 21 dias, mencionados J.R.R. Abrahão, na verdade destinam-se à “limpeza física e espiritual, através de banhos rituais [àgbo] e sacrifícios [ëbö]” [Douglas de Oyá Igbalé]. Depois da limpeza, o aprendiz passa a ocupar o hunkô ou quarto sagrado de onde somente sairá para outros aposentos da Casa ou para rituais em lugares sagrados, como praias, cachoeiras, matas, rios etc..

A Iniciação inclui a identificação do orixá pessoal, os rituais, incluindo sacrifício de animais específicos destinados a esse orixá, o aprendizado de cantos, danças e rezas. Quando a Iniciação está completa, o novo adepto ou novos adeptos são apresentados à comunidade em cerimônia pública. Todas as minúcias da Iniciação no Candomblé podem ser encontrados no texto de Douglas de Oyá Igbalé, online, indicado na bibliografia no final deste texto.

De iniciado a sacerdote

É na Iniciação que começa, também, a extensa lista de sacramentos do Candomblé. Este é outro ponto onde o sincretismo gera enormes dificuldades no estudo desta religião. No Candomblé de Angola, onde os Orixás são chamados Nkisis, os sacramentos são os seguintes e parecem constituir o caminho que leva o adepto a se tornar um Zelador de Santo, em meio às diferenças, há também esta: o Candomblé de algumas nações chamam o sacerdote de Pai ou Mãe de Santo, outras linhas preferem o título “Zelador” de Santo”. A lista de sacramentos do Candomblé de Angola ilustra bem a complexidade da trajetória entre a condição de Iniciado e Sacerdote:

1 – Massangá: Ritual de batismo de água doce (menha), na cabeça (mutue), do iniciado (ndumbi), usando-se ainda o kezu (Obi).

2 – Nkudiá Mutuè: (Bori)- ritual de colocação de forças (Kalla ou Ngunzu(Angola)= Asé(Axé) = Muki(Congo)), através do sangue (menga) de pequenos animais.

3 – Nguecè Benguè Kamutué: ritual de raspagem, vulgarmente chamado de feitura de santo.

4 – Nguecè Kamuxi Muvu: Ritual de obrigação de 1 ano.

5 – Nguecè Katàtu Muvu: Ritual de obrigação de 3 anos (Nguece = obrigação), nessa obrigação, faz-se o ritual de mudança de grau de santo.

6 – Nguecè Katuno Muvu: Ritual de obrigação de 5 anos, preparação quase que idêntica a de um ano, só que acompanhada de muitas frutas.

7 – Nguecè Kassambá Muvu:ritual de obrigação de 7 anos, quando o iniciado receberá seu cargo, passado na vista do público, sendo elevado ao grau de Tata Nkisi (Zelador) ou Mametu Nkisi (Zeladora). [FONTE: FIETRECA]

* Veja no final do texto algumas tabelas, elaboradas por Reginaldo Prandi, professor titular de Sociologia da USP e especialista no assunto, mostrando mais características dos Orixás e correlações entre as principais linhas do Candomblé.

Além destes sacramentos e das restrições cotidianas que os adeptos devem observar para “agradar” ao “santo”, seu orixá, existem também obrigações maiores a serem renovadas de sete em sete anos: realmente, não é fácil ser e se manter adepto do Candomblé. Nesta religião, seja qual for a nação a que pertença o culto, existe também uma hierarquia que define as funções dos membros mais graduados, como no Candomblé da Nação Ketu:

Iyalorixá ou Babalorixá: A palavra iyá do yoruba significa mãe, babá significa pai.

Iyakekerê (mulher): mãe pequena, segunda sacerdotisa.

Babakekerê (homem): pai pequeno, segundo sacerdote.

Iyalaxé (mulher): cuida dos objetos ritual.

Agibonã: mãe criadeira, supervisiona e ajuda na iniciação.

Egbomi: Ou Egbomi são pessoas que já cumpriram o período de sete anos da iniciação (significado: meu irmão mais velho).

Iyabassê: (mulher): responsável pela preparação das comidas-de-santo.

Iaô [ìyàwó]: filho-de-santo, que já incorpora Orixás [que, por tudo o que já foi estudado, supõe-se, ainda não terminou a Iniciação de seis meses].

Abiã ou abian: Novato.

Axogun: responsável pelo sacrifício dos animais. (não entram em transe).

Alagbê: Responsável pelos atabaques e pelos toques. (não entram em transe).

Ogâ ou Ogan: Tocadores de atabaques (não entram em transe).

Ajoiê ou ekedi: Camareira do Orixá (não entram em transe).

Para concluir esta breve descrição do processo iniciático, vale chamar a atenção para o fato de que tornar-se um adepto do Candomblé não é barato, isso em termos de gastos; ao contrário, custa um bom dinheiro, cerca de 7 mil reais! empregados entre trajes rituais e animais destinados aos sacrifícios sem contar o tempo em que o noviço ou noviça tem de passar afastado de suas atividades normais o quê implica não trabalhar [GRACIANO | Planeta Online, p 01]. Essa questão do dinheiro além de ser um dos pontos mais criticados pelos “parentes próximos”, os umbandistas, e apontada como fator que contribui para número decrescente de pessoas que escolhem o Candomblé para ser a religião de suas vidas.

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