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Se a influência de Phineas Taylor Barnum não é tão evidente nas obras de Anton LaVey como são a de outros autores, o mesmo certamente não acontece se voltarmos nossos olhos para sua vida pessoal e comportamento. Durante sua vida este sempre estudou sobre o ocultismo e sua história, conheceu a vida e as obras de homens como Rasputim, Agrippa, Aleister Crowley e por isso mesmo sabia que todo magista é um pouco charlatão, e todo charlatão é um pouco magista. Não é a toa que Aleister Crowley cita Peter Barnum no capítulo 88 de seu “Livro das Mentiras”:
“Ensina-nos Teu segredo, Mestre!”, tagarelam meus selvagens. Então, para a dureza dos seus corações e para a sutileza das suas cabeças, eu os ensinei Magick. Mas… ai…”Ensina-nos Teu segredo real, Mestre! Como tornar-se invisível, como conseguir amor, e oh! além de tudo, como fazer ouro!”,
“Mas quanto ouro vocês me darão pelo Segredo das Riquezas Infinitas? Então disse o primeiro e mais estúpido: “Mestre, isso não é nada; mas aqui estão cem mil libras.” Isto eu aceitei condescendente, e sussurrei em sua orelha este segredo: “NASCE UM OTÁRIO A CADA MINUTO.”
“Nasce um otário a cada minuto”, esta frase é historicamente creditada a Phineas Taylor Barnum , pródigo orador, escritor de diversos bestsellers, investidor, político, showman, empresário, inventor do circo moderno e do concurso de beleza, e é claro um charlatão de primeira. A influência deste sobre o satanismo moderno é tamanha que Layey chega a criar um corolário para sua célebre frase: ”Nasce um otário a cada minuto, e com a explosão populacional devem estar nascendo CINCO otários por minuto.”
LaVey não só viveu parte de sua vida no circo, como foi lá que aprendeu a psicologia do espetáculo que o levou ao sucesso. Foi com essa atitude que Anton fez sua Bíblia Satânica despertar a curiosidade do público e da crítica, que o levou a estar sempre envolvido com figurões de Hollywood e com astros do rock e do cinema, e que o fez transformar sua própria vida em uma grande atração satânica, mesmo que para isso tivesse que exagerar um pouco e maquiar sua história para torna-la mais atraente.
Barnum era da mesma forma que Lavey, um partidário do exagero. Seu lema de “quanto mais melhor” foi uma de suas chaves para conquistar a classe média norte-americana. Para ele “definir um fato da maneira ordinária é permitir duvidas sobre o que foi dito”, por este motivo, mantinha a sua volta sempre um ar circense de espetáculo e grandiosidade.
Barnum começou sua carreira num jornal regional. Suas matérias eram tão acidas que acabou sendo condenado a seis meses de prisão graças a um processo de calunia e difamação. No dia que saiu da prisão foi surpreendido por uma carruagem puxada por seis cavalos acompanhada por uma comitiva ao som de uma banda. Peter ficou fascinado sobre o efeito que aquele pequeno show causava nas pessoas. Neste momento era plantada a semente daquele que viria a ser o pai do maior espetáculo da terra. Deste momento em diante Barnum dedicou-se a busca e coleção de raridades e curiosidades. Sua primeira aquisição foi uma escrava negra de supostos 161 anos que dizia ter conhecido George Washington. Joice foi exibida por mais de seis meses até sua morte. Após a autópsia os médicos revelaram que esta devia ter no máximo 80 anos.
Poucos anos depois, Barnum comprou o Museu Americano, um desacreditado edifício com cerca de “500.000 curiosidades artificiais e naturais” em pleno centro antigo de Nova Yorque. Durante sua direção, atraiu 40 milhões de pessoas as suas portas, o equivalente a população americana na época. Foi graças a Burnom que o Museu conheceu suas mais peculiares atrações como os gêmeos siameses Chang e Eng, o pequenino General Tom Thumb, conhecido como o menor anão do mundo, e outras aberrações como o fajuto fóssil da “Sereia Fiji”. Esta “sereia” revelou-se mais tarde como a junção artesanal da parte superior de um macaco com a parte inferior de um peixe avantajado.
Em 1855, resolve se aposentar do mundo do entretenimento e passa a viver em Bridgeport com sua segunda esposa. Barnum passa então por um período envolvido na política local, torna-se prefeito da cidade em 1875 e mais tarde firma-se como deputado estadual. Após perder grande parte de sua fortuna em um negócio arriscado. Em 1887 Barnun convida James Bailey a se unir a ele como sócio naquele que seria mais o mais famoso circo dos Estados Unidos: o Barnum and Bailey Circus – “O Maior Espetáculo da Terra”.
O Barnum and Bailey Circus percorreu de trem toda a América. Era um circo sem Lona responsável pela tradição de apresentar aberrações e monstruosidades como atrações principais de cidade em cidade. O sucesso foi tremendo e Barnum tornou-se o segundo milionário a surgir nas Américas, comandando três companhias simultaneamente e empregando milhares de pessoas e construindo uma rede de influência poderosíssima por todo os Estados Unidos até sua morte tranqüila enquanto dormia no dia 7 de abril de 1891.
P.T. Barnum percebeu que toda a publicidade é uma boa publicidade, portanto não se preocupava com as acusações de ser um enganador e um charlatão, permitia e até incentivava boatos e rumores infelizes sobre si mesmo. Ele descobriu que ser visto como uma fraude, um showman ou um charlatão era simplesmente melhor do que não ser visto, ele até mesmo eventualmente publicava rumores críticos sobre si mesmo sob um falso nome, rumores que é claro tornavam sua pessoa ainda mais fascinante.
É disto que se trata o espetáculo. É tudo aquilo que faz da realidade um lugar mais interessante, pode ser uma apresentação teatral, um circo, um livro, ou mesmo um individuo, trata-se de tudo aquilo que fascina as pessoas, chama atenção, prende os sentidos e por isso mesmo exerce poder sobre elas. O espetáculo deve ser algo único, especial. As pessoas gostam de achar que fazem parte de uma elite, uma comunidade privilegiada. O espetáculo tem que ser sentido como algo exclusivo que é finalmente é revelado.
Barnum via a si mesmo como um showman, e era exatamente isto o que ele era. Ele criou o show, não as atrações. Hoje existem muitos críticos e entusiastas de Barnum, mas seja para ser louvado ou odiado ele teve uma influência inegável, não só na vida de Lavey como em toda a Era satânica em formação. Ele descobriu o poder e o sucesso da propaganda como ninguém antes dele havia feito. Ele percebeu o poder da imagem pública e usou estes poderes para criar o seu próprio império. Ele conhecia a necessidade humana do fantástico, e na prática sabia como satisfazer esta necessidade no mais puro estilo, “me engana que eu gosto”. Ele entendeu a força do espetáculo e soube usar ela para seus próprios fins. E estes são conhecimentos que todo o iniciado deveria ter.
1810 – 1891
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