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Uma coisa que todo animal predador faz bem é observar suas presas. São hipnotizantes a paciência do crocodilo e o olhar da naja. É portanto um erro dos satanistas, ou de qualquer pessoa que tente explorar o melhor de si, viver como se apenas ele existisse e ignorar a multidão de ovelhas que berra ao seu redor. Essa postura, tem um nome: Solipsismo, um dos pecados satânicos considerada por Anton LaVey em seus textos clássicos é justamente a prática de ignorar as outras pessoas. As pessoas medíocres, os cordeiros e ovelhas do mundo estão ai e não vão embora. A questão que devemos colocar é: o que podemos aprender com elas? Muita coisa
A parte boa de estudar as pessoas comuns é que elas são muito fáceis de se encontrar. Sem dúvida a maior parte das pessoas com que você interagiu durante sua vida são aquilo que os tribunais da Inquisição chamava de ‘pauper simplex’, pessoas simplórias que não iam para a fogueira porque eram apenas vítimas das manipulações do diabo. Elas ainda estão por ai e o diabo ainda as usa. Mas seu principal uso não é o de sacrificar virgens, mas sim servirem de mal exemplo. É importante o satanista conhecer o comportamento das ovelhas para poder identificar e extirpar em si mesmo estes padrões sempre que eles começarem a aparecer.
As ovelhas são uma série de contradições ambulantes. É possível identificar três contradições básicas em seu comportamento:
Ovelhas são procrastinadoras mas também imediatistas
As pessoas médias são imediatistas acomodadas. São pessoas que querem tudo para agora exceto o trabalho. Buscam resultados o quanto antes e deixam todos os esforços para amanhã. A procrastinação crônica é uma epidemia que se caracteriza por postergar todos os planos para mais tarde. São as dietas que começam na segunda e os projetos pessoais que não saem da gaveta. Para não fazer parte desta estatística deprimente identifique e comece a executar os planos da sua vida que você tenha adiado antes que não haja mais dias na sua vida para você adiar. Alguém que dá um pequeno passo todos os dias vai muito mais longe do que quem planeja passos gigantes que nunca acontecem.
Por outro lado o imediatismo significa que as ovelhas preferem qualquer coisa agora do que algo melhor amanhã. O prêmio sem a prova. O importante é que não ter que esperar muito. O famoso Experimento do Machimelo da Universidade de Stanford oferecia um doce para crianças e dizia que se elas esperasse apenas alguns minutos sem comer, ganhariam um segundo doce. A maioria das crianças obviamente não aguentava esperar. Mas o mais importante é que as pesquisas de acompanhamento nos anos seguintes mostraram que as poucas crianças que pensaram no longo prazo tiveram no futuro melhores notas nos colégios, maior satisfação pessoal, relacionamentos mais felizes e renda e patrimônio maiores que as demais.
Seja na saúde, nas relações sociais, nas finanças e nas realizações pessoais a chave para não cair na primeira contradição das ovelhas é simples: avance todos os dias naquilo que deseja realizar, mesmo que seja apenas um pouco e tenha sempre a mente focada nos resultados de longo prazo. Se quer escrever um livro, obrigue-se a escrever nem que seja uma única página todos os dias. Se quer uma saúde melhor comece a fazer caminhadas leves. Essa tática é conhecida como o modelo da mudança mínima e é usada por forças militares desde a segunda guerra mundial. A ideia por trás dela é que qualquer avanço, por menor que seja, se for constante é melhor do que a inação. Alguém que queira introduzir o hábito da meditação em sua vida deve iniciar com sessões de 1 ou 2 minutos e então ir avançando milimetricamente todos os dias. O grande erro é querer começar grande antes de ter passado por todo caminho. Usando o modelo da mudança mínima é possível superar tanto o comodismo como o imediatismo.
Ovelhas são irracionais mas também emocionalmente transtornadas
Não há surpresa que cordeiros e ovelhas tenham dificuldades com a razão. Mas além da dificuldade possuem também um profundo desinteresse em cultivar o pensamento lógico. Não se trata ainda de ter ou não conhecimento (isso veremos mais adiante) mas em não se esforçar para clarear a própria mente. Dois pesquisadores da Universidade de Cornell, Justin Kruger e David Dunning, mostraram que quanto mais incompetente uma pessoa é menos consciência tem de sua própria incompetência. Além disso a maior parte das pessoas acredita ser mais inteligente do que a maioria, o que é estatisticamente impossível. Se este não é seu caso o primeiro passo e ver onde seu raciocínio cotidiano pode ser aperfeiçoado.
Para não cair nesse erro. Nunca parta do princípio que você tem uma mente superior. Se você não a tiver passará por idiota e se tiver perderá com isso a possibilidade de se tornar-se ainda melhor. É mais astuto garantir que sua cabeça funcione sempre da melhor forma possível. Para isso procure conhecer as principais falácias argumentativas como a ad hominem, ad Ignorantiam, ad populum, ad hoc e non sequitur, etc.. Também busque conhecer como você mesmo pode se enganar por meio de vieses cognitivos como o viés da confirmação, aversão irracional a risco, wishful thinking, self-serving, in-group, entre outros. Conheça ainda ferramentas lógicas práticas como fundamentos de estatística, a navalha de ocan, a lei de hume e princípio do ônus da prova.
Mas não caia na tentação de entrar em debates, principalmente na internet, pois estes são raramente produtivos. Com exceção de grupos de debate e retórica organizados por algumas universidades. Em vez disso tente sempre que possível acompanhar invisível estes debates note como é comum o desvio de raciocínio. Você verá como é fácil refutar uma pessoa comum mas como é difícil convencê-la de que foi refutada. Algumas dessas pessoas se orgulham de dizer que são mais emocionais do que racionais. O problema é que em geral elas também são emocionalmente perturbadas. Esta é a segunda contradição dos ruminantes: elas são irracionais e ao mesmo tempo emocionalmente perturbadas. A maior parte das pessoas apresenta evidências de possuir algum transtorno emocional leve e a Organização Mundial da Saúde (OMS) garante que 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e depressão.
Curiosamente uma das coisa que você pode fazer por sua saúde emocional é cuidar melhor do seu corpo. Diversas pesquisas demonstraram que atividades física regulares podem reduzir os sintomas de depressão, ansiedade, estresse, síndrome do panico para citar alguns dos transtornos mais comuns. A atividade física proporciona distração e convívio social, além de liberar substâncias como endorfina e serotonina. E não é necessário tornar-se um viciado em academia ou mestre de yoga para você sentir os efeitos positivos no seu equilíbrio emocional. Outra forma de trabalhar sua esfera inteligência emocional é iniciar uma rotina de meditação. E é claro, buscar ajuda profissional nos casos mais graves como a depressão e ansiedade crônica. Só não caia na armadilha de buscar “paz de espírito” a todo custo. Stress faz parte da vida e sacrificar todos os seus sonhos e vontades em troca de calma é exatamente o problema que Freud descreveu em “O Mal-Estar da Civilização” e uma das formas mais sofisticadas de covardia.
Ovelhas são ignorantes mas pensam que sabem tudo
Existe realmente uma diferença entre inteligencia e erudição mas os ruminantes não estão interessados em nenhum dos dois. Outra característica marcante das ovelhas e carneiros é que suas opiniões não são fruto do seu próprio pensamento, mas sim baseadas no pacote de crenças do círculo social a que pertencem e que geralmente é o mesmo no qual nasceram e irão morrer. A preocupação do povo-gado não é com a pesquisa ou a reflexão mas sim, em concordar com as pessoas ao seu redor. Como resultado surge um total desinteresse e preconceito sobre outros grupos sociais com que não tenham contato direto e uma tendência a doutrinação tribal por contato social. Na prática ovelhas e cordeiros seguem a agenda dos grandes meios de comunicação mas não sabem explicar suas próprias ideologias. Da mesma forma são superficialmente religiosos mas não conhecem muito sobre sua própria religião. Suas falas são repetições vagas das opiniões de alguma ovelha ao lado que consegue berrar mais alto.
Para evitar essa situação é essencial manter-se informado e estar aberto para ouvir o maior número de narrativas possíveis sobre um mesmo assunto. Isso é claro leva tempo e portanto deve vir acompanhado de um senso crítico capaz de avaliar quais assuntos são relevantes e quais são mera futilidade. Como um programa mínimo e prático você pode mirar em fazer um curso por ano, um livro por mês e um jornal por semana. Lembre-se também de alternar entre os produtos culturais de culturas distantes e as várias alternativas presentes da cultura atual. E o mais importante: sempre que você tiver certeza de que tem uma visão completa e irrefutável sobre um assunto busque ouvir os argumentos contrários com ainda mais atenção.
Conclusão
Se as ovelhas não tivessem nada para ensinar aos lobos eles não perderiam tanto tempo observando-as por trás dos arbustos. A consequência lógica de tudo o que foi exposto é bastante óbvia: as pessoas médias são por definição medíocres. Não podemos esperar muito do pauper simplex. Qualquer sentimento de surpresa ou indignação com o comportamento delas é sempre injustificado. Toda frustração com as pessoas comuns só ocorre porque alguém acreditou demais na capacidade delas. Mas mesmo nesses casos a manada ruminante pode ser bem usada se não esquecermos que elas agem segundo suas próprias limitações. Até o deus neurótico do antigo testamento sabe que as ovelhas e cordeiros podem ser úteis. Mesmo que seja para serem usados como sacrifícios. No fundo a coisa mais importante que o lobo pode aprender com as ovelhas é como não ser uma delas.
Morbitvs Vividvs
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