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Certamente este texto não tem base apenas nas conversas com o CAIO, o vira-latas caramelo do ocultismo, mas também com outro amigo anônimo com quem tenho vastas conversas e debates interessantes. Tomarei o máximo de cuidado para não falar o nome do RAFAEL sem querer neste texto. Afinal, anonimato é tudo nesta vida, não é mesmo?
Quem já leu ou um outro dos meus textos aqui já deve ter percebido que eu não me isento de nomear pessoas que admiro dentro da senda ocultista ou aqueles que foram bons professores para mim. Desta forma, é mais do que justo dizer pessoas como Priscila Martinelli e Paulo Jacobina possuem papel fundamental nas correlações que faço entre magia e filosofia desde o início da minha jornada. Da mesma forma, estes dois amigos (dentre outros) também possuem fundamental importância nos debates e na busca por fontes boas e confiáveis, indicação de obras e conversas que podem ir parar em qualquer lugar.
Minha veia filosófica surgiu bem antes de qualquer estudo dentro do ocultismo, tendo surgido ainda quando eu era uma criança totalmente certa da não existência do divino. Eu não me encontrava na religião da minha família e precisava buscar uma base que justificasse as questões do mundo. Na filosofia eu encontrei o suficiente por muitos anos e foi nessa mesma filosofia que encontrei todas as bases das minhas crenças que fundamentam todo o meu trabalho enquanto magista.
Filosofia é base para toda e qualquer variante do pensamento humano e é realmente terrível que não seja ensinada ou passada adequadamente a cada um de nós. Para muito além da simples capacidade de desenvolver senso crítico ou buscar os mistérios da vida, é nas várias correntes filosóficas que somos capazes de encontrar partes latentes de nossa personalidade que não se mostram facilmente. Isso tampouco significa que todo mundo deveria sair por aí se autodenominando estoicos, socráticos ou peripatéticos.
Há partes de nós que parecem ser melhor explicadas pelos outros e isso é natural do ser humano. Talvez você já tenha se deparado com uma música que conecta contigo ou com um filme que te faz sentir mais íntimo de si mesmo e isso ocorre porque a Arte é em si mesma parte inerente do que nos torna humanos. Atribui-se a Nietzsche a frase “sem música a vida seria um erro” e é mais que evidente que podemos expandir esse entendimento para toda forma de Arte.
Posso certamente arriscar-me a dizer que um dos papeis da filosofia está justamente em tentar entender a Arte e explicá-la para nós mesmos. Não foram poucos os filósofos que tiveram formação nas artes liberais ou que tivessem contato direto com uma ou mais formas artísticas genuínas, daquelas que se provam no teste do tempo. E se ainda considerarmos que a Arte é em si mesma uma forma de filosofia na medida em que é capaz de nos explicar conceitos de pura abstração como a Beleza, a Justiça e a Verdade, poderíamos ainda dizer que Sócrates talvez seja menos filósofo que Homero e Bach.
Como magos devemos compreender não apenas a base filosófica necessária para discussões de bar ao longo da madrugada, com acalorados argumentos metafísicos de botequim incapazes de explicar por que sopa não é janta. Não! Precisamos compreender a base do pensamento inato das correntes mágicas que trabalhamos e parar de fingir que livros como o Sefer Yetzirah e o Bahir não são tratados filosóficos além de tudo o mais que são por si mesmos. Precisamos perder nossos receios de ser convertidos ao ler Tomás de Aquino e Agostinho e ter ciência de que o Plano das Ideias de Platão é uma forma muito interessante de tentar compreender a Yesod da Árvore da Vida.
Peripatético em seus estudos, estoico em sua preparação e socrático na conversa com Espíritos: talvez seja esta uma das melhores posturas para o mago que visa um trabalho verdadeiramente dedicado à sua Arte. Pois é, como se não bastasse todo o arcabouço necessário para iniciar estudos de forma aprofundada, ainda deve ser o mago capaz de reconhecer a chamada Forma da Arte e os conceitos mais abstratos que a técnica é capaz de gerar: muitos grimórios não são chamados de Ars sem motivo.
Na verdade, quem se dedica verdadeiramente aos estudos já deveria ter se perguntado por que Agrippa chamou sua obra de filosofia oculta mais do que os motivos pelos quais os grimórios são chamados de Arte. Ou pelo menos tentar compreender a influência de Tomás de Aquino em John Dee e mesmo a influência de nomes como Plotino, Proclo, Jâmblico e Hegel em tantas obras do ocultismo medieval.
Ainda dá para dizer que nem mesmo vertentes como Magia Moderna e Magia do Caos são capazes de escapar das influências de William Blake e Austin Osman Spare, na mesma medida em que existem os que consideram Crowley um filósofo para além de tudo o mais que ele fora.
A jornada do magista ultrapassa em muito a mera repetição de fórmulas e um estoque de velas coloridas e incensos baratos. O mago precisa conhecer as obras e conhecer as obras que formaram as obras: não conheça os autores, conheça o que eles leram.
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