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Magia, Yoga & Fenomenologia

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Texto de Robert Prince. Traduzido por Caio Ferreira Peres

Este ensaio examina as semelhanças entre a Magia, o Yoga e o método filosófico conhecido como “Fenomenologia”. Essas semelhanças serão discutidas em relação ao modelo iogue de psicologia, conforme estabelecido por Pantanjali, muitos séculos atrás.  O “Yoga Sutra” de Pantanjali é o primeiro texto sistemático sobre psicologia do yoga, no qual o yoga é explicado em termos de controle ou gerenciamento dos “vrittis”, ou modificações da mente.

O “Yoga Sutra” de Pantanjali define yoga como “restringir a matéria mental (chitta) de assumir várias formas (vrittis)”. Em outras palavras, a linha de pensamento de um indivíduo está fluindo do sensorium que é percebido ou modelado pelos cinco sentidos. O resumo clássico de Pantanjali sobre o yoga, “chitta vritti nirodha”, traduz-se aproximadamente como “yoga é a suspensão (nirodha) das flutuações (vritti) do pensamento (chitta)”. Assim, nirodha é uma técnica de meditação rigorosa cujo objetivo é uma percepção purificada (purusha) não contaminada por condicionamento mental ou hábitos como paixões presentes, desejos futuros ou impressões passadas (karma). Nirodha é o caminho para alcançar a consciência pura (samadhi), que está além da mente psicológica (chitta) e envolve a divisão entre o percebedor e o percebido. Como conhecimento puro e evidente, o samadhi só pode ser ocupado pelo praticante, mas nunca descrito, pois fazer isso seria transformar a experiência em um objeto e, portanto, distorcer seu significado.

Embora a metodologia do Yoga seja muito diferente da Magia, elas levam ao mesmo destino. Crowley elabora esse contraste de método em “Equinox Volume Um, Número Três” (pág. 143): “Aprender a Vontade é a chave do reino, cuja porta contém duas fechaduras, ou melhor, dois ferrolhos em uma fechadura, um girando para a direita e o outro para a esquerda. Ou a imaginação se enche de imagens e mais imagens até que o próprio Reino de Deus seja tomado de assalto; ou se retira um símbolo após o outro até que as paredes sejam minadas e as “torres cobertas de nuvens” caiam por terra.” No mesmo volume do Equinox, Crowley continua a expor o método da Magia: “Os sentidos e as faculdades devem participar do trabalho, pelo menos é esse o ditado da Magia Cerimonial Ocidental. E assim encontramos o mago colocando pedra sobre pedra na construção de seu Templo. Ou seja, colocando pantáculo sobre pantáculo e protegendo a ideia única por meio de espadas, punhais, varinhas, anéis, perfumes, defumações, vestes, talismãs, coroas, quadrados mágicos, mapas astrológicos e milhares de outras coisas, ideias e estados, todos refletindo a ideia única; de modo que ele possa construir um monte poderoso e, a partir dele, saltar sobre a grande muralha que está diante dele como uma divisória entre dois mundos”.

Voltando ao modelo psicológico do yoga, o mago está semeando chitta com formas de pensamento – para causar mudanças em conformidade com a Vontade – usando símbolos, incenso, cores, sons, etc. Em outras palavras, o mago está empregando fenômenos sensoriais (vrittis) para imprimir a ideia em chitta ou mente. Nesse ponto, o mago começou a programar conscientemente sua psicologia em vez de permanecer em um ciclo de feedback passivo entre fenômenos externos e samskaras condicionados (a palavra samskara significa tendência ou hábito. Depois que um número suficiente de impressões semelhantes em chitta se aglutina, elas se tornam reflexos psicológicos habituais). A magia é um artifício para reorientar a trajetória da psicologia do indivíduo por meio da manipulação consciente das formas de pensamento. Deve-se observar que, em estágios muito avançados da prática espiritual, até mesmo essas sementes de consciência devem ser transcendidas (no nível de samadhi chamado “asamprajnati” ou samadhi sem semente no sistema de Pantanjali).

Então, como a filosofia da fenomenologia está de acordo com o Yoga e a Magia? A fenomenologia é o estudo das estruturas da consciência conforme vivenciadas do ponto de vista da primeira pessoa. A estrutura central de uma experiência é sua intencionalidade, o fato de ser direcionada para algo, pois é uma experiência de ou sobre algum objeto (**Vontade**).  Os tipos de experiências estudados pela fenomenologia incluem percepção, pensamento, memória, imaginação, emoção, desejo, atividade social e atividade linguística. A estrutura dessas formas de experiência normalmente inclui o que o filósofo Husserl chamou de “intencionalidade”, ou seja, o direcionamento do espírito para determinados objetos no mundo ou estados de consciência.

A fenomenologia em geral busca compreender o mundo percebido ou vivido antes das categorizações metafísicas. Isso é possível por meio de um método radical de reflexão conhecido como “redução fenomenológica” ou epoché, talvez melhor explicado como uma suspensão absoluta de crença, dúvida ou qualquer tipo de pré-suposição sobre a existência do mundo e de seus objetos. Estudos comparativos anteriores sobre fenomenologia enfatizaram esse aspecto específico da fenomenologia, definido pela primeira vez na abordagem transcendental inicial de Husserl, como convergente com as práticas meditativas do yoga. Certos aspectos da literatura do yoga mostram uma consonância com a epoché da fenomenologia transcendental – isso é especialmente evidente no “Yoga Sutra” de Pantanjali, onde o termo sânscrito “Nirodha” pode se aproximar da epoché de Husserl. Parece também que há correlações estreitas entre a ideia de Crowley de “a voz no silêncio” e Nirodha.

De maneira notavelmente semelhante, Husserl distingue o “eu oculto” da subjetividade transcendental do ego psicológico que ainda está imerso na bifurcação sujeito-objeto. Assim como Patanjali, ele defende a transformação das estruturas mentais que inibem a percepção clara a fim de desenvolver uma consciência reflexiva e testemunhal em relação ao nosso processo de percepção do mundo. Incorporado a ambas as teorias está o ideal de uma consciência pura que permanece como resíduo desse processo de limpeza metodológica. Uma subjetividade a priori ou pura, distinta de um mundo externo e objetivo.

Link para o original: https://thelemicunion.com/magick-yoga-phenomenology/


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