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Texto de G. B. Marian. Traduzido por Caio Ferreira Peres
Discutindo o Horror de Amityville, a maior farsa paranormal americana da década de 1970 e sua influência no Pânico Satânico da década de 1980.
O Horror em Amityville começou como uma farsa inventada pelo falecido George Lutz, que se baseou no caso real de Ronald DeFeo. DeFeo assassinou sua família em uma noite no número 112 da Ocean Avenue, em Amityville, Long Island, em 1973, e a família Lutz foi a primeira a se mudar para esse endereço depois disso. Eles só ficaram lá por um mês, durante o qual alegaram serem assediados por vozes demoníacas, porcos fantasmas, bandas invisíveis e um misterioso líquido negro que escorria das paredes. Nenhuma dessas histórias jamais foi comprovada, mas Lutz conseguiu um contrato com o autor Jay Anson, que romanceou a história como The Amityville Horror (Prentice Hall, 1977). Posteriormente, essa história foi adaptada em um filme de 1979, estrelado por James Brolin e Margot Kidder. Por alguma razão, esse filme se tornou um dos mais bem-sucedidos financeiramente da década de 1970, apesar de ter sido produzido pela American International Pictures (mais conhecida por seus filmes baratos de drive-in das décadas de 1950 e 1960) e pelo fato de ser chato pra caralho.
Amityville foi tão bem-sucedido, de fato, que gerou rapidamente uma prequela: Amityville II: The Possession (1982). Esse segundo filme é ostensivamente sobre a família DeFeo, mas toma tantas liberdades doentias com suas vidas que não posso recomendar que o assista. Ele se inspira na defesa do assassinato de Ronald DeFeo, em que seu advogado, William Weber, tentou seriamente insistir na alegação de “possessão demoníaca” no tribunal. Isso parece especialmente de mau gosto considerando que George Lutz e William Weber acabaram se tornando cúmplices um do outro na época. (Não por muito tempo, no entanto; Lutz logo tentou processar Weber, bem como várias outras pessoas, por dizer coisas sobre ele de que não gostava. Esse cara parece ter passado mais tempo processando pessoas do que trabalhando em um emprego honesto). No entanto, Amityville II também foi bem-sucedido nas bilheterias, o que significava que outro filme logo viria em seguida. Assim, em 1983, a Orion Pictures nos presenteou com Amityville 3D, que é comumente considerado ainda pior do que o Amityville original.
O fato é que eu realmente gosto bastante de Amityville 3D; na verdade, acho que é o melhor filme de Amityville já feito. (Não fique muito animado agora—isso não quer dizer muita coisa!) Uma coisa que eu gosto nesse filme é o fato de que ele não é “baseado em uma história real”; é completamente fictício e nunca afirma o contrário. Claro, a história é abismalmente estúpida e os personagens são mais bidimensionais do que você pode imaginar. Não consigo nem me lembrar do nome de nenhum deles; só me lembro que Tony Roberts interpreta um cético idiota que se muda para o 112 Ocean Avenue e se recusa obstinadamente a acreditar que é assombrada. Não importa o fato de que ela mata seu melhor amigo (Candy Clark) e sua filha (Lori Loughlin). Então, ele e sua ex-esposa Tess Harper recebem ajuda do Dr. Robert Joy para libertar a alma de sua filha da casa. Há também um monstro viscoso com olhos de inseto que vive no porão e parece ser responsável por todas as coisas estranhas que acontecem na casa. Esse é praticamente todo o enredo; não há nada sobre os DeFeos ou os Lutzes, e ninguém ligado à farsa de Horror em Amityville parece ter recebido qualquer royalties por esse registro (o que automaticamente o torna melhor do que qualquer um de seus antecessores, na minha opinião).
Lembre-se de que Amityville 3D não é, de forma alguma, o que eu chamaria de um filme “bom”. É que ele opta por explorar um truque bobo de cinema (fotografia com câmera 3D) em vez de um caso de assassinato da vida real, o que considero muito mais perdoável. No entanto, há algumas coisas nesse filme que eu realmente gosto. Por um lado, ele me assustou muito quando o vi pela primeira vez quando era criança. Em uma sequência que descaradamente copia A Profecia (1976), a personagem de Candy Clark descobre um rosto demoníaco nas fotos que ela tirou da propriedade 112 Ocean Avenue. Ela se apavora e vai avisar Tony Roberts, mas depois é assediada por uma mosca demoníaca enquanto dirige seu carro. Ela bate o veículo e é incendiada e, quando morre, dá um dos gritos de dor mais convincentes que já ouvi em um filme de terror. Até esse ponto do filme, Clark foi construída como a principal protagonista feminina, por isso foi realmente inesperado (para não dizer perturbador) vê-la ser eliminada dessa forma. Não é uma cena fácil para eu assistir mesmo sendo adulto, por isso tenho de dar à equipe criativa por trás de Amityville 3D um grande crédito por ter me assustado bastante.
A infame casa de Amityville (112 Ocean Avenue) em 1973.
O personagem de Robert Joy é um parapsicólogo que trabalha em uma universidade ou instituto sem nome em algum lugar e que é, ao mesmo tempo, um “crente” e um “cético”. Ele claramente acredita no paranormal, mas é lento para aceitar qualquer afirmação específica sobre ele sem evidências suficientes. É provável que ele só tenha sido incluído no filme para torná-lo mais parecido com Poltergeist: O Fenômeno, de 1982 (que apresenta vários personagens semelhantes), mas gosto de sua presença mesmo assim. Os outros personagens são rápidos demais para acreditar em qualquer besteira que ouvem (como Candy Clark e Tess Harper), rápidos demais para rejeitá-la (como Tony Roberts) ou rápidos demais para brincar com ela (como Lori Loughlin e suas amigas adolescentes). É claro que, no final, os crentes acabam tendo razão em tudo, mas Robert Joy parece ser a única pessoa em Amityville com uma boa cabeça entre os ombros, além de ser charmoso e simpático.
É muito fácil criticar esse filme por tudo o que ele faz de errado; minha única reclamação séria contra ele é que simplesmente não há o suficiente do monstro pegajoso que aparece no final. Teria sido muito mais impressionante se os roteiristas tivessem decidido soltar essa fera no início do último ato, para que ele pudesse causar um grande inferno nos últimos 20 minutos ou mais. Assim, só vemos a maldita coisa por alguns segundos antes de queimar o rosto de Robert Joy e arrastá-lo para o inferno. Em seguida, temos um pouco de luta telecinética quando Tony Roberts, Tess Harper e o restante da equipe de investigação de Robert Joy são jogados por forças invisíveis por toda a casa. Essa parte é realmente muito divertida (especialmente a cena em que a porta do porão explode e bate em um dos cientistas, lembrando um segmento de ação ao vivo dos Looney Tunes); mas eu realmente queria ver um pouco de luta com monstros. Bem, pelo menos a casa explode; se não posso me satisfazer com a bondade viscosa da glopola, me contento com uma bela explosão aleatória!
Afinal, o que diabos É essa coisa?
Nos primeiros filmes, o mal da casa é “confrontado” pela Igreja Católica Romana. O primeiro filme apresenta Rod Steiger como um padre que tenta ajudar os Lutz de longe, mas que realmente não consegue nada de útil no final; ele simplesmente perde a cabeça e depois o filme se esquece dele. O segundo filme apresenta um padre que tenta realizar um exorcismo no personagem de Ronald DeFeo, mas, em vez disso, ele só consegue ficar possuído. Em Amityville 3D, o personagem de Robert Joy é um pouco mais bem-sucedido em lidar com o mal. (Quero dizer, ele se irrita o suficiente para fazê-lo explodir sua própria casa em pedacinhos; isso deve contar para alguma coisa, certo?) Essa transição da confiança na religião organizada para a confiança na pseudociência maluca em busca de respostas foi característica do início da década de 1980. Essa foi a época em que o movimento da Nova Era realmente se popularizou e quando os “astronautas antigos” estavam na moda. Não que eu esteja criticando alguém por acreditar nessas coisas, se é nisso que deseja acreditar; apenas acho fascinante que os cineastas de Amityville tenham optado por esse caminho. O objetivo de Horror em Amityville, de 1979, era lucrar com filmes anteriores como O Exorcista (1973), que é praticamente um anúncio publicitário noturno para a Igreja Católica. Amityville 3D é mais parecido com o enteado bastardo de The Stone Tape (1972), de Nigel Kneale, que usa especulação científica para explicar seus eventos sobrenaturais.
Se parece que estou sendo muito duro com os Lutz e seus companheiros de conspiração, é porque sua pequena farsa foi apenas uma das várias que alimentaram o Pânico Satânico da década de 1980. De todos os investigadores paranormais que já examinaram a história deles, Ed e Lorraine Warren são talvez os mais famosos e conhecidos. Talvez você se lembre dos nomes deles em todos os filmes Invocação do Mal e Annabelle que foram produzidos na última década. Ed e Lorraine eram um autodenominado demonologista e clarividente, respectivamente, que alegavam ter investigado mais de 10.000 assombrações juntos entre 1952 e 2006. E durante o final dos anos 1970 e 1980, eles apareceram em quase todos os especiais de TV sobre o paranormal que você queira mencionar. Minha primeira exposição a eles foi no Scream Greats Volume 2: Satanism and Witchcraft, um “documentário” direto para vídeo de 1986, no qual os Warrens insistiam que o “abuso ritualístico satânico” (ARS [N. T.: SRA, satanic ritual abuse]) organizado era absolutamente real. Esses vendedores ambulantes fizeram fortuna enganando as pessoas para que pensassem que religiões minoritárias como a minha querem abusar e massacrar seus filhos, e a farsa de Amityville foi o que facilitou sua ascensão à fama. É verdade que os Warrens não eram os únicos divulgadores de ARS em atividade na época e certamente não eram os piores. Mas sempre que vejo um trailer de mais um filme do “Universo Invocação do Mal” que provavelmente custou cerca de US$ 140 milhões para ser produzido, fico um pouco enjoado, sabe?
Há vários outros filmes de Amityville que foram lançados depois de Amityville 3D, mas apenas um deles—o remake de 2005 estrelado por Ryan Reynolds—foi lançado nos cinemas. Os demais são todos diretos para vídeo ou feitos para a TV. Os que foram produzidos por Steve White—Amityville: The Evil Escapes (1989), Amityville: It’s About Time (1992), Amityville: A New Generation (1993) e Amityville: Dollhouse (1996)—são, na verdade, bastante agradáveis em minha opinião; mas eles não têm quase nada a ver com Amityville ou com a casa do número 112 da Ocean Avenue, de modo que seus títulos são, na melhor das hipóteses, enganosos.
Link para o original: https://desertofset.com/2020/06/17/amityville/
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