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Rá: O Deus-Sol no Antigo Egito

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Por Ícaro Aron Soares

Rá era a antiga divindade egípcia do Sol. Na Quinta Dinastia, nos séculos 25 e 24 AEC, ele se tornou um dos deuses mais importantes da religião egípcia antiga, identificado principalmente com o sol do meio-dia. Rá governava em todas as partes do mundo criado: o céu, a Terra e o submundo. Acredita-se que ele tenha governado como o primeiro faraó do Antigo Egito. Ele era o deus do sol, da ordem, dos reis e do céu.

Rá era retratado como um falcão e compartilhava características com o deus do céu Hórus. Às vezes, as duas divindades se fundiam como Rá-Horakhty, “Rá, que é Hórus dos Dois Horizontes”. Quando o deus Amon ganhou destaque durante o Novo Reino do Egito, ele se fundiu com Rá como Amon-Rá.

O culto do touro Mnévis, uma personificação de Rá, tinha seu centro em Heliópolis e havia um cemitério formal para os touros sacrificados ao norte da cidade.

Acreditava-se que todas as formas de vida foram criadas por Rá. Em alguns relatos, os humanos foram criados a partir das lágrimas e do suor de Rá, por isso os egípcios se autodenominam “Gado de Rá”. No mito da Vaca Celestial, é contado como a humanidade conspirou contra Rá e como ele enviou seu olho como a deusa Sekhmet para puni-los.

A OBRA SOLAR:

De acordo com o mito egípcio, quando Rá ficou velho e cansado demais para reinar na Terra, ele desistiu e foi para os céus. Como o deus-Sol, uma de suas funções era carregar o Sol através do céu em sua barca solar para iluminar o dia. Mas quando o sol se põe e chega o crepúsculo, ele e sua embarcação atravessam o akhet, o horizonte, no oeste, e viajam para o submundo. Às vezes, o horizonte é descrito como um portão ou porta que leva ao Duat. Lá ele teria que navegar no Nilo subterrâneo e atravessar os doze portões e regiões. No decorrer da jornada ao submundo, ele se transformava em sua forma de cabeça de carneiro. Todas as noites Apófis tentava atacar Rá e impedir a viagem do barco solar. Após derrotar a serpente, Rá deixaria o submundo, retornando emergindo ao amanhecer, iluminando novamente o dia. Dizia-se que ele viajava pelo céu em sua forma com cabeça de falcão na Barca Mandjet durante as horas do dia, e então mudava para a Barca Mesektet em sua forma com cabeça de carneiro para descer ao submundo durante as horas da noite.

RÁ, O DEUS-SOL COMO O CRIADOR:

O Sol é o doador da vida, controlando o amadurecimento das colheitas que foram trabalhadas pelo homem. Por causa das qualidades vivificantes do Sol, os egípcios adoravam o Sol como um deus. O criador do universo e doador da vida, o Sol ou Rá representava a vida, o calor e o crescimento. Como as pessoas consideravam Rá o deus principal, o criador do universo e a fonte da vida, ele exercia forte influência sobre elas, o que o levou a ser um dos mais adorados de todos os deuses egípcios e até mesmo considerado o Rei dos Deuses.

Num período inicial da história egípcia, a sua influência espalhou-se por todo o país, trazendo múltiplas representações na forma e no nome. As combinações de formas mais comuns são com Atum (sua forma humana), Khepri (o escaravelho) e Hórus (o falcão). A forma em que costuma aparecer é a de um homem com cabeça de falcão, o que se deve à sua combinação com Hórus, outro deus do céu. No topo de sua cabeça está um disco solar com uma serpente, que em muitos mitos representa o Olho de Rá. No início dos tempos, quando não havia nada além do caos, o deus-sol existia sozinho na massa aquosa de Nun que preenchia o universo. O universo foi extasiado por uma vasta massa de águas primordiais, e o Benben, um monte piramidal, emergiu em meio a esse caos primordial. Havia uma flor de lótus com o Benben, e desta, quando floresceu, surgiu Rá.

“Eu sou Atum quando ele estava sozinho em Nun, eu sou Rá quando ele amanheceu, quando ele começou a governar aquilo que ele havia feito.”

Esta passagem fala sobre como Atum criou tudo em forma humana a partir do caos e como Rá então começou a governar a Terra onde humanos e seres divinos coexistiam. Ele criou Shu, o deus do ar, e a deusa da umidade, Tefnut. Os irmãos simbolizavam os dois princípios universais do ser humano: a vida e o direito (justiça). Acreditava-se que Rá criou todas as formas de vida, chamando-as à existência ao pronunciar seus nomes secretos. Em alguns relatos, os humanos foram criados a partir das lágrimas e do suor de Rá.

De acordo com um mito, a primeira porção da Terra surgiu quando o deus sol a convocou da massa aquosa de Nun. No mito da Vaca Celestial (o céu era considerado uma vaca enorme, a deusa Meht-urt) é contado como a humanidade conspirou contra Rá e como ele enviou seu olho, como a deusa Sekhmet, para puni-los. Extensões do poder de Rá eram frequentemente mostradas como o Olho de Rá, que eram as versões femininas do deus-sol. Rá teve três filhas, Bastet, Sekhmet e Hathor, todas consideradas o Olho de Rá, que buscariam sua vingança. Sekhmet era o Olho de Rá e foi criada pelo fogo no olho de Rá. Ela era violenta e enviada para massacrar as pessoas que traíram Rá, mas quando se acalmou ela se tornou a deusa Hathor mais gentil e misericordiosa. Sekhmet era a poderosa guerreira e protetora, enquanto Bastet, que era retratado como uma gata, era mostrado como gentil e carinhosa.

A JORNADA DE RÁ PELO SUBMUNDO:

Acreditava-se que Rá viajava nos Atet, duas barcas solares chamadas Mandjet (o Barco de Milhões de Anos) ou barco matinal e Mesektet ou barco noturno. Esses barcos o levavam em sua jornada pelo céu e pelo Duat – doze horas da noite, que também é literalmente o submundo do Egito. Enquanto Rá estava no Mesektet, ele estava em sua forma com cabeça de carneiro. Quando Rá viajava em seu barco solar, ele estava acompanhado por várias outras divindades, incluindo Sia (a percepção) e Hu (o comando), bem como Heka (o poder mágico). Às vezes, membros da Enéada o ajudavam em sua jornada, incluindo Set, que vencia a serpente Apófis, e Mehen, que defendia contra os monstros do submundo. Quando Rá estava no submundo, ele visitava todas as suas diversas formas.

Apófis, o deus do caos (isfet), era uma enorme serpente que tentava interromper a jornada do barco solar todas as noites, consumindo-o ou parando-o com um olhar hipnótico. Durante a noite, os egípcios acreditavam que Rá se definia como Atum ou na forma de um carneiro. O barco noturno o levaria através do submundo e de volta ao leste, em preparação para seu renascimento. Esses mitos de Rá representavam o nascer do sol como o renascimento do sol pela deusa do céu Nut; atribuindo assim o conceito de renascimento e renovação a Rá e fortalecendo também seu papel como deus criador.

Quando Rá estava no submundo, ele se fundia com Osíris, o deus dos mortos.

OS DIVERSOS ASPECTOS DE RÁ:

Rá era retratado como um homem com cabeça provavelmente de um falcão-peregrino, adornado com um disco solar com uma serpente ao redor, e compartilhava características com o deus do céu Hórus.

Rá era representado de várias formas. Outras formas comuns são um homem com cabeça de besouro (em sua forma de Khepri) ou um homem com cabeça de carneiro. Rá também era retratado como um carneiro, besouro, fênix, garça, serpente, touro, gato ou leão encorpado, entre outros.

Ele era mais comumente apresentado com uma cabeça de carneiro no submundo. Nesta forma, Rá é descrito como sendo o “carneiro do oeste” ou “carneiro encarregado de seu harém”.

Em alguns textos, Rá é descrito como um rei idoso com carne dourada, ossos prateados e cabelo de lápis-lazúli.

ADORAÇÃO A RÁ NO ANTIGO EGITO:

O principal centro de culto de Rá era Iunu “o Lugar dos Pilares”, mais tarde conhecido no Reino Ptolomaico como Heliópolis, a Cidade do Sol, e hoje localizada nos subúrbios do Cairo. Ele era identificado com o deus do sol local, Atum. Como Atum ou Atum-Rá, ele era considerado o primeiro ser e o originador da Enéada (“Os Nove”), que consistia em Shu, Tefnut, Geb, Nut, Osíris, Set, Ísis e Néftis.

O culto local de Rá começou a crescer aproximadamente a partir da Segunda Dinastia, estabelecendo-o como uma divindade solar. Na Quarta Dinastia, os faraós eram vistos como manifestações de Rá na Terra, chamados de “Filhos de Rá”. Rá era chamado de o primeiro rei do Egito, por isso acreditava-se que os faraós eram seus descendentes e sucessores. Sua adoração aumentou enormemente na Quinta Dinastia, quando Rá se tornou uma divindade estatal e os faraós construíram pirâmides, obeliscos e templos solares especialmente alinhados em sua homenagem. Os governantes da Quinta Dinastia disseram aos seus seguidores que eles eram filhos do próprio Rá e da esposa do sumo sacerdote de Heliópolis. Esses faraós gastaram grande parte do dinheiro do Egito em templos solares. Os primeiros Textos das Pirâmides começaram a surgir, dando a Rá cada vez mais significado na jornada do faraó através do Duat (submundo).

Durante o Império Médio, Rá foi cada vez mais afiliado e combinado com outras divindades principais, especialmente Amon e Osíris.

Na época do Novo Reino do Egito, a adoração de Rá tornou-se mais complicada e grandiosa. As paredes das tumbas eram dedicadas a textos extremamente detalhados que retratavam a jornada de Rá pelo submundo. Dizia-se que Rá carregava as orações e bênçãos dos vivos com as almas dos mortos no barco solar. A ideia de que Rá envelheceu com o sol tornou-se mais popular durante a ascensão do Novo Reino.

Muitos atos de adoração incluíam hinos, orações e feitiços para ajudar Rá e o barco solar a superar Apófis.

A ascensão do Cristianismo no Império Romano pôs fim à adoração de Rá.

RELACIONAMENTO DE RÁ COM OUTROS DEUSES:

Tal como acontece com as divindades egípcias mais adoradas, a identidade de Rá era frequentemente combinada com a de outros deuses, formando uma interconexão entre as divindades.

AMON E AMON-RÁ, O DEUS OCULTO:

Amon era um membro da Ogdóada, representando as energias da criação com Amaunet, e um dos primeiros padroeiros de Tebas. Acreditava-se que ele criava através da respiração e, portanto, era identificado com o vento e não com o Sol. À medida que os cultos de Amon e Rá se tornaram cada vez mais populares no Alto e no Baixo Egito, respectivamente, eles foram combinados para criar Amon-Rá, um deus criador solar. É difícil distinguir exatamente quando esta combinação aconteceu, mas referências a Amon-Rá apareceram em textos piramidais já na Quinta Dinastia. A crença mais comum é que Amon-Rá foi inventado como uma nova divindade estatal pelos governantes tebanos do Novo Reino para unir os adoradores de Amon com o antigo culto de Rá por volta da 18ª Dinastia. Amon-Rá recebeu o título oficial de “Rei dos Deuses” pelos adoradores, e as imagens mostram a divindade combinada como um homem de olhos vermelhos com uma cabeça de leão que tinha um disco solar ao redor.

ATUM E ATUM-RÁ, O SOL PRIMORDIAL:

Atum-Rá (ou Rá-Atum) era outra divindade composta formada por duas divindades completamente separadas; no entanto, Rá compartilhava mais semelhanças com Atum do que com Amon. Atum estava mais intimamente ligado ao Sol e também era o deus criador da Enéada. Tanto Rá quanto Atum eram considerados os pais das divindades e dos faraós e eram amplamente adorados. Nos mitos mais antigos, Atum era o criador de Tefnut e Shu, e nasceu do oceano Nun.

RÁ-HORAKHTY, O HÓRUS DOS HORIZONTES:

Na mitologia egípcia posterior, Rá-Horakhty era mais um título ou manifestação do que uma divindade composta. É traduzido como “Rá (que é) Hórus dos Horizontes”. A intenção era ligar Horakhty (como um aspecto de Hórus orientado ao nascer do sol) a Rá. Foi sugerido que Ra-Horakhty simplesmente se refere à jornada do sol de horizonte a horizonte como Rá, ou que significa mostrar Rá como uma divindade simbólica de esperança e renascimento.

Ele é proclamado rei dos deuses no túmulo de Horemheb. O Faraó Tutmés III dedicou os pilares de Heliópolis a Horakhty.

Rá-Horakhty está muito presente no Livro dos Mortos do 3º Período Intermediário. Ele pode ser visto sentado em seu trono no Livro dos Mortos de Nedjmet, Padikhons, Nestanebetisheru, Djedkhonsiusankh, Tameniu e no Papiro Amduat inscrito para Nesitaset.

KHEPRI E KHNUM, OS DEUSES DO DIA E DA NOITE:

Khepri era um escaravelho que rolava o Sol pela manhã e às vezes era visto como a manifestação matinal de Rá. Da mesma forma, o deus com cabeça de carneiro Khnum também era visto como a manifestação noturna de Rá. A ideia de diferentes divindades (ou diferentes aspectos de Rá) governando diferentes horários do dia era bastante comum, mas variável. Com Khepri e Khnum tendo precedência sobre o nascer e o pôr do sol, Rá frequentemente era a representação do meio-dia, quando o sol atingia seu pico ao meio-dia. Às vezes, diferentes aspectos de Hórus eram usados em vez dos aspectos de Rá.

MONTU E MONTU-RÁ, O SOL ABRASADOR:

Um deus muito antigo, Montu era originalmente uma manifestação do efeito abrasador de Rá, o sol – e como tal frequentemente aparecia sob o epíteto Montu-Rá. É possível que Montu-Rá e Atum-Rá simbolizassem os dois reinados, respectivamente, do Alto e do Baixo Egito. Montu teve vários consortes, incluindo um aspecto feminino de Rá, Raet-Tawy. Na arte egípcia, Montu era retratado com a cabeça encimada pelo disco solar, devido à sua ligação conceitual com Rá.

RAET TAWY, O ASPECTO FEMININO DE RÁ:

Raet ou Raet-Tawy era um aspecto feminino de Rá; ela não tinha muita importância independente dele. Em alguns mitos ela era considerada esposa ou filha de Rá, bem como esposa de Montu.

O OLHO DE RÁ, AS DEUSAS VINGADORAS CRIADAS POR RÁ:

Em alguns mitos, pensava-se que Rá havia criado quase todos os outros deuses egípcios.

BASTET, A DEUSA-GATA:

Bastet (também chamada de Bast) às vezes é conhecida como a “gata de Rá”. Ela também é filha dele com Ísis e está associada ao instrumento de vingança de Rá, o olho do deus-sol. Bastet é conhecida por decapitar a serpente Apófis (o inimigo jurado de Rá e o “Deus” do Caos) para proteger Rá. Em um mito, Rá enviou Bastet como leoa para a Núbia.

SEKHMET, A DEUSA-LEOA:

Sekhmet é outra filha de Rá. Sekhmet era retratada como uma leoa ou uma gata grande, e era um “olho de Rá”, ou um instrumento da vingança do deus sol. Em um mito, Sekhmet estava tão cheia de raiva que Rá foi forçado a transformá-la em uma vaca para que ela não causasse danos desnecessários. Em outro mito, Rá teme que a humanidade esteja conspirando contra ele e envia Hathor (outra filha de Rá) para punir a humanidade. Ao massacrar humanos, ela assume a forma de Sekhmet. Para evitar que ela mate toda a humanidade, Rá ordena que a cerveja seja tingida de vermelho e derramada na terra. Confundindo a cerveja com sangue, Sekhmet bebe e, ao ficar embriagada, volta à sua forma pacificada, Hathor.

HATOR, A DEUSA DOS PRAZERES:

Hathor é outra filha de Rá. Quando Rá temeu que a humanidade estivesse conspirando contra ele, ele enviou Hathor como um “olho de Rá”. Em um mito, Hathor dançou nua na frente de Rá até ele rir para curá-lo de um ataque de mau humor. Quando Rá ficou sem Hathor, ele caiu em um estado de profunda depressão. No Novo Reino, Rá passou a ser associado ao epíteto “Kamutef” (‘Touro de sua mãe’) ao lado de Amon. Como Kamutef, ele era visto como filho e marido de Hathor, que engravida a própria mãe para dar à luz a si mesmo.

OUTROS DEUSES RELACIONADOS A RÁ:

PTAH, O CRIADOR DO UNIVERSO:

Ptah raramente é mencionado na literatura das pirâmides do Império Antigo. Alguns acreditam que isso seja o resultado das pessoas de Heliópolis, adoradoras de Rá, serem as principais escritoras dessas inscrições.

ÍSIS, A DEUSA DA MAGIA:

Em um mito, Ísis criou uma serpente para envenenar Rá e só lhe deu o antídoto quando ele lhe revelou seu verdadeiro nome. Ísis passou esse nome para Hórus, reforçando sua autoridade real.

APEP, A SERPENTE DO CAOS:

Apep, também chamado de Apófis, era o deus do caos e arquiinimigo de Rá. Dizia-se que ele estava logo abaixo da linha do horizonte, tentando devorar Rá enquanto Rá viajava pelo submundo.

ATON, O DISCO SOLAR:

Aton foi o foco do Atenismo, o sistema religioso estabelecido no antigo Egito pelo faraó Akhenaton da Décima Oitava Dinastia. O Aton era o disco do sol e originalmente era um aspecto de Rá.


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