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Pense em uma maçã.
A maioria das pessoas conseguirá fazer isso sem maiores dificuldades. Mesmo que o indivíduo jamais tenha visto uma maçã, se já viu uma na TV, poderá usar essa imagem como referência a fim de construí-la em sua tela mental, com maior ou menor grau de detalhes a respeito. Isso significa que você, como a maioria das pessoas, consegue transformar informações previamente descritas, como paisagens, objetos e faces, em cenas e imagens.
A experiência de conceber uma imagem mental é conhecida como Qualia, um fenômeno fascinante que nos permite imaginar e perceber virtualmente uma infinidade de elementos sensoriais. Surpreendentemente, mais de 97% da população global possui a capacidade de criar essas representações mentais de objetos tangíveis e intangíveis, seres vivos, ambientes, eventos e até mesmo sensações físicas e emocionais.
No entanto, algumas pessoas, ao tentarem “pensar em uma maçã”, não conseguirão formar qualquer imagem em sua tela mental.
O termo “afantasia” deriva da palavra grega phantasia, que significa “imaginação”, e do prefixo “a”, que significa “sem”.
Esse termo, contudo, só surgiu em 2015, quando a condição foi descrita e nomeada pelo neurologista britânico Adam Zeman, professor de neurologia cognitiva na Universidade de Exeter. Seus estudos se basearam em casos, exames de imagem e testes clínicos, onde foi observada a ausência da capacidade de visualização.
A afantasia, também conhecida como “imaginação cega”, descreve uma condição em que certos indivíduos são incapazes de visualizar qualquer imagem em sua mente. No entanto, isso não afeta a forma como esses indivíduos percebem o mundo, nem o reconhecimento de objetos, rostos, paisagens etc.
O indivíduo sabe o que é uma maçã, lembra-se da última vez que viu uma, lembra do sabor, da cor, do cheiro, mas ainda assim, sua mente não será capaz de replicar a imagem. Tudo o que esse indivíduo vê é uma tela preta.
Estima-se que cerca de 2,5% da população mundial sofra de afantasia, um fato interessante observado é que boa parte das pessoas afetadas descreviam a ideia de visualização como algo metafórico, o que explica a ausência de questionamento sobre o assunto. A afantasia está relacionada à forma como o cérebro processa informações visuais e pode resultar de uma variedade de causas, incluindo lesões cerebrais, traumas emocionais ou variações naturais na estrutura cerebral.
Pesquisas recentes sugerem que a afantasia pode estar ligada a diferenças na atividade e conectividade de certas áreas do cérebro, como o córtex visual primário e secundário, regiões que desempenham um papel fundamental na geração de imagens mentais.
Hoje é de conhecimento comum que a capacidade de visualização se divide em níveis, desde uma visualização rica em detalhes e extremamente realista até uma ausência total de visualizações, e tudo o que fica entre ambas. E, caso seja de interesse do indivíduo, há sim a possibilidade de aprimorar a capacidade de visualização através de práticas, mas se faz necessário possuir a habilidade inicial.
A incapacidade de visualização apresenta um desafio para aqueles que possuem afantasia, pois não se trata de uma mera ausência de treino. A boa notícia é que o cérebro humano é conhecido por sua capacidade de compensar uma inabilidade com um melhor desempenho de outras habilidades.
Neuroplasticidade
A neuroplasticidade representa a habilidade do cérebro de reorganizar suas conexões neuronais, formar novas sinapses e até mesmo realocar funções de áreas danificadas para regiões intactas. Essa plasticidade pode ocorrer em diferentes escalas de tempo, desde mudanças microscópicas em nível celular até remodelações macroscópicas de circuitos neuronais inteiros.
A neuroplasticidade é um fenômeno intrigante que desempenha um papel crucial não apenas no aprendizado e na memória, mas em toda a nossa experiência cognitiva. Quando nos aventuramos em novas atividades ou adquirimos novas habilidades, nosso cérebro não apenas fortalece as conexões entre os neurônios relevantes, mas também pode gerar o surgimento de novas vias neurais, ampliando ainda mais nossas capacidades cognitivas. Além disso, a exposição repetida a estímulos específicos não só leva à reconfiguração das redes neurais, mas também pode influenciar a plasticidade sináptica, contribuindo para a adaptação do comportamento e do pensamento ao longo do tempo.
Essa capacidade de remodelação cerebral não apenas nos permite aprender e crescer, mas também nos desafia a explorar os limites de nossa própria mente e potencial humano.
Hiperfantasia
A hiperfantasia, que também pode ser chamada de fantasia intensa ou extrema, é um fenômeno que se caracteriza pela capacidade de criar e vivenciar imagens mentais extremamente vívidas e detalhadas.
Enquanto muitas pessoas conseguem visualizar elementos em suas mentes, aqueles com hiperfantasia possuem uma habilidade aprimorada que lhes permite mergulhar em cenários altamente imersivos e repletos de detalhes.
A definição de hiperfantasia geralmente engloba características como uma imaginação extremamente vívida e um alto grau de controle sobre as imagens mentais. Pessoas com hiperfantasia frequentemente relatam a capacidade de visualizar com grande clareza e precisão, sendo capazes de manipular, alterar e explorar seus cenários mentais de maneira semelhante à realidade.
Pesquisas sugerem que a hiperfantasia pode ter uma base neurobiológica distinta. Estudos de imagem, por exemplo, demonstraram diferenças na atividade cerebral entre aqueles com hiperfantasia e indivíduos com capacidades de visualização mental mais convencionais. Essas descobertas indicam que a hiperfantasia pode estar relacionada a padrões únicos de conectividade neural ou variações na estrutura cerebral que facilitam uma imaginação excepcionalmente rica.
Além disso, a hiperfantasia pode influenciar diversos aspectos da vida cotidiana. Muitas pessoas que possuem essa habilidade relatam que ela desempenha um papel significativo em suas atividades criativas, permitindo-lhes visualizar cenas complexas para a escrita, arte ou outras formas de expressão.
É fundamental ressaltar que a hiperfantasia ocorre em um espectro, com variações na intensidade e experiência entre os indivíduos. Enquanto algumas pessoas podem ter hiperfantasia apenas em áreas específicas, como visualização espacial, outras podem experimentar uma riqueza de detalhes em todos os aspectos de sua imaginação.
Em última análise, a hiperfantasia proporciona uma visão singular sobre o potencial da mente humana e as complexidades da imaginação. Ao compreender melhor esse fenômeno, podemos explorar suas aplicações criativas, sua relação com a cognição e até mesmo suas implicações para a compreensão da consciência e da percepção.
Conclusão
Embora a afantasia e a hiperfantasia representem extremos opostos do espectro de capacidade de imaginação, é importante reconhecer que a maioria das pessoas está em algum lugar entre esses dois extremos, com uma capacidade de imaginação que varia em intensidade e vividez.
O cérebro é uma ferramenta fascinante, capaz de se adaptar e criar novos atalhos para sanar problemas de desempenho. Assim, mesmo que o indivíduo seja afantásico, há sim a possibilidade de trabalhar outros sentidos e também a memória a fim de suprir a experiência obtida na visualização, entregando outra forma de experimentar a operação realizada e obter sucesso.
Por hoje ficamos por aqui. Façam parte do problema.
Rafaella Fernandez. Taróloga. Praticante de magia natural e cerimonial. Colaboradora fixa nos projetos: Morte Súbita, enochiano.com.br, lemegeton.com.br e trithemius.com.br
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