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Eduardo Berlim[1]
Sabe aquelas conversas que você teve e não lembra com quem? Ou aquele livro que você não tem certeza se leu? Ou mesmo uma informação que você desconhece de onde tirou, mas que estranhamente parece correta? Bem… Devo alertar que este breve texto certamente tem este tipo de origem.
Não sou capaz de lembrar quando, como e nem com quem, mas lembro-me de conversar com alguém sobre a ideia do Espírito Santo. Certamente não foi alguém “do lado de lá” como algum guia ou entidade e tenho a séria impressão de que a conversa pode ter sido com alguém que não faz a mais vaga ideia do que seria o tal “Sagrado Anjo Guardião” e que foi a minha própria interpretação do que era dito que chegou neste resultado. Pensando bem, acho que pode ter sido uma conversa com meu falecido avô ou com minha ‘catolicíssima’ avó.
Enfim… O que importa aqui é expor a estranha teoria que surgiu nesta conversa e o ‘apartamento de quatro quartos’ que ela alugou na minha mente por algum tempo.
Têm-se por concepção que o ‘Sagrado Anjo Guardião’ seria não um simples guia, mas definitivamente o guia mais importante de todo ser humano. Ou melhor: de todo espírito humano!
Particularmente, entendo que o Espírito seja o ser absoluto e não-individual responsável pela criação de cada alma disponível para a humanidade – e não estou entrando na ideia de que só exista um único espírito humano. É do Espírito que se originam as Almas que habitam cada “encarnação” do teu próprio ser particular e por isso que, mesmo diferentes, todas buscam uma mesma Verdadeira Vontade, que é relativa ao teu espírito.
Pense assim, o Espírito é uma grande nuvem de chuva e cada gota d’água que dela cai é uma Alma encarnada. Se este Espírito é um “grande construtor de galáxias e estrelas na expansão celestial”, suas almas serão carpinteiros, pedreiros, mecânicos, engenheiros, arquitetos e até mesmo um médico-pesquisador que constrói corações artificiais. Quanto mais essas almas se aproximam da capacidade de ‘construir algo’, mais próximas estarão da Verdadeira Vontade do seu Espírito – e melhor será o desenrolar de suas próprias vidas.
E como é bem óbvio que nós somos estúpidos demais para nos guiarmos sozinhos, o nosso Espírito precisa de alguém que ajude e guie suas próprias emanações: o Sagrado Anjo Guardião.
A partir daqui as coisas podem ficar um pouco mais complicadas…
“E o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”
Genesis 1:1 – Bíblia King James, 1611
No início do texto bíblico nos deparamos com o tal “Espírito de Deus”, que em hebraico é descrito como Veruâch: uma palavra que costumeiramente é produzida como “sopro”, “pneuma” ou “espírito”. Em tradições cristãs esse “Espírito de Deus” é costumeiramente visto como o Messias, a própria manifestação do Cristos desde o início dos tempos, como parte indivisa do Altíssimo. Estranhamente, essa interpretação parece ignorar a terça parte da Trindade divina, o Espírito Santo.
Não seria estranho encontrar interpretações de esotéricos cristãos em que as “águas” seriam referenciadas como o Espírito Santo fazendo-se a correlação do elemento emotivo com a ideia de Shekinah: a “face feminina” de Deus. Poderíamos, com isso, trabalhar toda uma interpretação direta a partir do ponto de que é o Espírito Santo quem substitui a ‘Mãe’ nas trindades de religiões anteriores ao cristianismo e encontrar todas as correlações simbólicas entre a pomba e o feminino, mas esta não é a semente que quero plantar neste artigo.
Proponho fazermos um exercício diferente aqui e considerarmos que o próprio “Espírito de Deus” que paira sobre as águas é o Espírito Santo em si. Seguidamente devemos nos valer do fato de que Deus não pode ser considerado um Espírito sob qualquer circunstância, pois como imanifesto Criador não pode ele ser parte de sua criação. Temos então a primeira manifestação criada mesmo antes de haver-se a Luz do mundo e de sua criação: o Espírito de Deus.
Mas porque Deus precisaria de um espírito?
“Eu disse: Vós sois Deuses, todos vós sois filhos do Altíssimo”
Salmos 82:6 – Livro dos Salmos (ed. Daemon)
Deus nunca precisou de um Espírito para si, pois é da natureza de Deus não precisar de nada. Em contrapartida, seu filho divino, o próprio Universo Manifesto, talvez precisasse de uma certa ajuda para encontrar o caminho adequado. E é aqui que chego ao ponto da conversa que tive com alguém que não me lembro: não seria o Espírito Santo aquele que guia a humanidade inteira?
Aqueles que trabalham a própria espiritualidade em algum nível possivelmente já se depararam com algum (ou alguns) guia em sua jornada. Pode ser uma voz dentro de sua consciência, uma visão estranha, alguém que lhe chega em sonhos e até mesmo o contato com o Sagrado Anjo Guardião – para aqueles dispostos a realmente caminhar nesta senda. Este ser, chame-o como quiser, vem com a missão de nos levar ao nosso destino. Mais do que um simples mapa ou um condutor, é um conselheiro e um professor, um ser disposto a esperar quantas encarnações forem necessárias para nos fazer completar as pequenas missões necessárias ao nosso Espírito.
Somos pequenos fragmentos de um Deus ainda imanifesto, um sucessor do Altíssimo Criador aprisionados em corpos mortais e em vidas esvaziadas de significado até que encontremos nossa Verdadeira Vontade, nossa motivação una e perfeita para que nosso legado seja perfeito. Isso parece grandioso e megalomaníaco, mas lembre-se que um Espírito cuja missão seja povoar a existência do cosmos irá gerar almas que encontrarão nos atos maternos e paternos sua felicidade absoluta – e não estou tirando a importância da Vontade dessas almas, mas mostrando que o corriqueiro é necessário a toda existência do cosmos.
Somos seres dotados de Vontade e é isso que nos diferencia dos Espíritos imutáveis que rondam e habitam os espaços. “Deus disse” e nós fomos também agraciados com o dom da Palavra por sermos os “Deuses filhos do Altíssimo”. E se cada um de nós, humanos mortais, divisões de um Espírito celeste, temos um SAG para chamar de nosso, por que não haveria o próprio Universo ter seu Sagrado Anjo Guardião?
Temos referências bíblicas em Gálatas, Romanos e Coríntios de como o Espírito Santo seria o próprio Espírito do Cristo. E no mesmo 1 Coríntios encontramos em 12:27 o trecho “Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular” (ref. Bíblia King James, 1611). Com certa interpretação poderíamos avaliar que somos partes físicas do próprio Cristo da mesma forma em que nossas Almas são partes descendentes do nosso Espírito celeste; uma divisão coesa e análoga do corpo físico do Universo manifestado com as partes do nosso próprio corpo físico em referência à Lei Hermética da Correspondência.
Átomos são análogos aos Sistemas Solares, nossos olhos lembram galáxias vistas de longe, o cosmos pulsa como um coração humano e toda forma física é o corpo de Cristo em analogia. Mas quem é Cristo nesta história toda?
Ora, quem ele é conhecido por ser: o filho de Deus!
Nesta linha de raciocínio ele só não é um ser humano… Mas todo o Universo manifestado!
Para quem crê no homem Jesus, em Sidarta Gautama, Krishna e outros homens iluminados, poderíamos interpretar esses surgimentos como “amostras” da iluminação presente no Cristo atual: uma presença iluminadora e poderosa, mas que ainda está crescendo em direção ao distante Criador de tudo.
E ele cresce guiado pelo seu próprio SAG, o Espírito Santo de todo o Universo manifesto, o guia criado antes do início dos tempos e que pairava sobre as águas desta manifestação. O Cristo, do qual todo o Universo é parte, segue em sua jornada de evolução enquanto filho do Deus onipotente e nós somos partes deste ser, pois nossos Espíritos são partes divididas de um Universo conhecendo a si mesmo pouco a pouco.
A parte mais estranha disso tudo é que tenho certeza de que tive essa conversa sóbrio…
Eduardo Berlim é músico, tarólogo e estudante de hermetismo com vasta curiosidade. Tem apetite por uma série de correntes diferentes de magia e se considera um eterno principiante. Assumidamente fanboy dos projetos da Daemon e das matérias do Morte Súbita inc.
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