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Segredos e Conspirações

A ausência dos mais pobres nas Ordens Secretas e porque isso é um problema

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Rodrigo Lamore (@rodrigolamorerock)

Em uma Ordem em que fiz parte por um pequeno período, onde o fundador e primeiro Comendador usava como nome mágiko, uma entidade sagrada do povo Inca, e outro Soberano Comendador que tinha como mote, um nome de origem indígena (ou para os Umbandistas, um caboclo), tinha como umas das suas práticas informais de alguns iniciados, zombar das religiões de origem africana e brasileira, respectivamente: Candomblé e Umbanda. Aliás, uma coisa que percebi ao fazer parte ou de frequentar reuniões de Ordens Secretas no Rio de Janeiro, é que umas sempre falavam mal das outras, como se cada uma detivesse a verdade sagrada que a outra não tinha, e assim, cada uma se sentia no direito de fazer chacota com a que não possuía a “chave para a iluminação”. Também era comum ver alguns fazendo apologia à Ditadura Militar, sendo que certos membros, ou eram policiais ou militares ou parentes de militares. Isso foi em meados de 2014 e 2016, portanto havia certamente comentários contra a presidenta em exercício na época, contra o seu partido, e um sentimento que, anos depois vimos no que descambou, mas que naquele momento era simbolizado e resumido na seguinte frase: “contra tudo o que está aí”.

Fazendo uma simples análise, nas minhas experiências na Ordem em que fui iniciado e nas outras em que apenas frequentava as reuniões abertas, percebi que todas elas, mesmo com suas diferenças e particularidades, tinham algo em comum: a ausência de pessoas das classes baixas. Obviamente, o leitor já pode deduzir que a presença de pessoas afro brasileiras era quase zero, isso porque o debate de raça passa pelas questões econômicas. Mas como não quero que meu texto seja acusado de identitário, vou me ater apenas às questões de classes, pois ela engloba a todos e não deixa margem para duplas interpretações.

Apesar de hoje eu ser considerado uma pessoa pertencente a um espectro da classe média, e morar no Rio de Janeiro, minha origem é de classe baixa, do interior da Bahia, de uma cidade onde só foi ter água de boa qualidade para consumo em 2012. Assim, foi possível uma visão diferenciada a toda aquela situação, pois foi feito por “alguém de fora”, e dessa forma minhas observações são baseadas no conhecimento concreto anterior.

Quais poderiam ser os problemas acarretados para o mundo do Ocultismo, com a baixa presença das classes desprivilegiadas economicamente, e consequentemente o excesso ou mesmo a quase unanimidade da presença de membros oriundos das classes médias e médias altas nas Ordens? Engana-se quem acha que a espiritualidade está desconectada das questões sociais, ou que no momento em que o indivíduo, ao adentrar os “templos sagrados”, são despidos de toda a simbologia do mundo secular ou mundano, e que a partir daquele momento todos seriam iguais, pois, como dizem os últimos cristãos: “todos somos irmãos perante Deus”. Ledo engano. Só para termos um exemplo inicial, quando fui iniciado nessa Ordem, eu tinha como um dos objetivos principais, adquirir o máximo de conhecimento, para colocar em prática uma das coisas que sempre quis fazer, que era ajudar os moradores de rua. Eis que, um dos iniciados de alto grau me responde que isso não deve ser feito, pois, segundo ele: “moradores de rua não podem ser ajudados pois estão ‘infestados de elementais’”. Ou, outro exemplo da falta de conexão daquelas pessoas com a vida real, e a total falta de empatia, foi quando essa mesma pessoa disse que, aquilo que é ensinado na Umbanda sobre fazer caridade, na verdade era algo errado, pois “não devemos interferir no livre arbítrio das pessoas” e que a verdadeira caridade era “rezar pela pessoa necessitada”. Permita-me, amigo leitor, uma pausa pra rir (kkkkkkkkkkkkkkkkkk).

Vamos fazer um exercício de imaginação: imagine um grande caldeirão, em que é colocado dentro dele, uma quantidade enorme de água, sem interrupções. O que irá acontecer em algum momento? Obviamente a água irá transbordar. Mas e se esse caldeirão estiver fechado de tal forma que, apenas é permitido colocar a água e sem permitir o transbordamento? O que irá acontecer, é que o caldeirão vai se partir para que o líquido saia, ou seja, o objeto de concreto irá se quebrar. Agora mude esses elementos do nosso exemplo para o iniciado e os conhecimentos adquiridos ao estudar os ensinamentos sagrados, sendo o caldeirão o iniciado, e a água o conhecimento. Na prática, é isso o que acontece simbolicamente, e aparentemente os membros das Ordens Secretas, mesmo aqueles que já estão nos últimos graus, não sabem, ou preferem não saber.

Certa vez, assisti uma palestra, na internet, de um senhor coach charlatão, do interior de São Paulo e, confirmando a frase dos Racionais MC’s: “Até no lixão nasce flor”, havia algo de ali que era aproveitável, quando ele disse que, se existisse, hipoteticamente, uma partida de futebol apenas com jogadores que fossem deuses, a partida ficaria empatada em zero a zero, pois não há a possibilidade de um duelo, onde todos estão num nível máximo de desenvolvimento, pois em uma competição, a graça reside no fato de que um lado é mais forte que o outro, mesmo que essa força seja apenas momentânea, mas ela precisa existir para fazer sentido um evento competitivo. Dessa forma, entre esses fictícios jogadores, não haveria sentido, nem alegria, nem descontração, nem prazer em jogar contra seus iguais. Nessas circunstâncias, qual deveria ser então, a real fonte de diversão dos jogadores deuses? A única possível seria ensinar outras pessoas a jogarem como eles. BINGO!

Nesse ponto, já está claro aonde quero chegar? A explicação é simples e direta: todo iniciado, ao adquirir conhecimento, e como consequência disso, adquire também, poder, deve dividir esse conhecimento e poder entre as outras pessoas. O modo como isso deve ocorrer vai ao gosto do mesmo, mas ela deve acontecer.

Porém o que vemos é o total oposto acontecendo nas Ordens, não só com relação a isso, mas muitas outras coisas problemáticas. É o que eu venho mostrando nos meus artigos aqui no site, como por exemplo, nos textos: https://mortesubita.net/thelema/redes-sociais/ e https://mortesubita.net/thelema/primeiro-a-meditacao-depois-a-diversao-senao/.

No caso específico abordado nesse texto, a polêmica gira em torno da mentalidade dos indivíduos que carregam todo o ranço, preconceitos e ideologias que são gestadas, desenvolvidas e manifestadas dentro da sua respectiva classe social. A economia do continente americano foi estruturada a partir da experiência da escravidão humana, focada no uso de mão de obra de pessoas oriundas do continente africano, sendo o Brasil, o ultimo a extinguir essa atividade, portanto, toda a nossa sociedade é, ainda hoje influenciada por essa antiga estrutura que permanece, mesmo que em menor intensidade.

Ao se fazer chacota das religiões de matriz africana, ao se mostrar contrário à ajuda aos sem teto, ao não incluir a ajuda material na lista de formas de auxílio a quem necessita, etc, estão implícitos nesses atos a aversão ao pobre, com a intensidade aumentando proporcionalmente a quantidade de melanina que os desafetos possuem. Toda a origem disso está no passado, mas com a persistência atual.

Não precisamos nem ir muito longe, para identificarmos esse péssimo comportamento: as igrejas evangélicas e até mesmo o Espiritismo condenam o Candomblé e Umbanda, sendo o Espiritismo um dos que pregam barbaridades como, dizer que o orixá Exú é um ser maligno, por ele fumar e tomar pinga. Eles não entendem nada sobre instrumentos de trabalho.

Toda vez que qualquer coisa é tomada por pessoas das classes média e alta, o elemento privado se faz presente. Palavras como Vip, exclusivo, personalité, meritocracia, são todas relacionadas às pessoas ricas, e elas acreditam no fundo dos seus inconscientes que, caso esse comportamento de bolha não esteja vigente, eles irão perder suas “fortunas” para as pessoas que não tem essas tais fortunas, e nada disso poderia ser diferente dentro das Ordens, uma vez que elas estão recheadas de integrantes dessas classes. A espiritualidade se envolve com o manto da mesquinhez, avareza e apatia, e vê-se também um aumento dos aspectos baixos do ser humano, como a vingança, ódio, ignorância, raiva, mediocridade, etc.

E por que a solução seria o aumento de componentes da chamada classe trabalhadora?

Como uma pessoa que é de criação humilde, posso dizer com total conhecimento de causa, que hospitalidade, companheirismo, caridade, ajuda, empatia, auxílio, são todos os tipos de comportamentos banais e corriqueiros de quem nasceu ou vive na periferia, favela, ou qualquer bairro pobre em todas as cidades do país. Um padrão presente no dia a dia de pessoas desse estrato, é emprestar coisas, convidar vizinhos e amigos diversos pro churrasco do fim de semana, dar esmola para sem tetos, conversar com transeuntes na rua, ajudar financeiramente os amigos, dividir o lanche, etc. Muitas outras coisas que elas também são obrigadas a dividir, pois a situação econômica exige, como dividir o assento no ônibus, permanecer juntos na fila do banco, dividir o assento no posto público de saúde pra ser atendido, etc. A vida autêntica passa pela coletividade, e a noção de que vivemos em sociedade e não na selva, onde reina o caos da lei do mais forte.

Possuindo essa consciência diária da congregação social, e da certeza de que ninguém vive sozinho e todos necessitam da ajuda de todos, ao associar-se a qualquer Escola de Mistérios, essas pessoas imediatamente entenderiam que elas agora possuem uma grande responsabilidade e não é nem preciso falar para elas sobre a relevância da colaboração e comunhão, pois elas já vivem isso e a assimilação desse saber é instantâneo. A obviedade de que, quanto mais conhecimento, mais a urgência em se usar esse conhecimento para o bem geral, é gritante, e não demoraria muito para vermos os resultados satisfatórios na sociedade, produzidos a partir das obras das pessoas das classes baixas, tendo em mãos as técnicas da Arte Real, para o melhoramento da vida do cidadão brasileiro.

Como foi dito por mim, num texto anterior, sobre a influência do sol nas mudanças dos aeons, sendo o atual o aeon de Aquário-Leão, tendo como os principais aspectos dessa nova era, o individualismo e a tecnologia, caso não tratarmos com responsabilidade o nosso futuro e, elevarmos as oitavas altas desses signos na vida da humanidade, misturando ao fato da alta presença das pessoas das classes altas que já são em sua natureza, individualistas e tendo acesso às novas tecnologias, o que ocorrerá, é que uma situação similar ao ocorrido na Segunda Guerra Mundial, quando pessoas decidiram arbitrariamente que outras pessoas são inferiores a elas, e que isso lhes davam o direito de perseguir e matar, não será exagero crer que isso possa se repetir, com o apoio direto e concreto das Ordens.

Ironicamente falando, quem hoje está mais alinhado a mensagem de união e fraternidade no mundo é a Igreja Católica, mas sei também que isso é apenas uma jogada certeira de marketing para se diferenciar das igrejas neopentecostais, que hoje ganham dinheiro e clientes, destilando ódio, ou pegando emprestado da linguagem iniciática: estimulando as oitavas baixas dos seus seguidores.

Quem tem olhos, que veja, e perceba que as mudanças na sociedade não devem estar soltas e agarradas ao acaso, até porque se um lado não está no comando, o outro lado irá comandar, pois o vácuo se preenche sempre com algo, e ele nunca está vazio. Sejamos então o conteúdo que preenche o vácuo. As revoluções que permitiram o pontapé inicial para a libertação da humanidade, após a Idade das Trevas não aconteceram por acaso. Todas elas foram estabelecidas e administradas pelos antigos iniciados, de várias Ordens, desde Maçonaria, Rosa Cruz, Carbonários. O fim do regime escravocrata no continente americano, a Independência do Brasil, e muitos outros avanços, foram produzidos por irmãos mágikos. Mas os iniciados atuais estão promovendo um retrocesso no mundo, e é necessário chamar a luz e a luta o outro lado, o lado dos que querem a conservação do desenvolvimento humano, da prosperidade dos povos, da continuação da Revolução Francesa, que ficou pela metade, ao colocar a burguesia no poder, mas deixando de fora, a plebe. Sejamos aqueles que mantêm as conquistas dos nossos antepassados e também, que dê prosseguimento às mudanças benéficas para a população mundial (colocando a plebe também no poder).

A individualidade do novo aeon é importante e deve ser encoraja e respeitada, mas ela deve ser feita com maturidade, com equilíbrio, e com a certeza de que, apenas assim será possível que ela se manifeste de forma integral, contínua e saudável, caso contrário, o caos se instalará e ninguém conseguirá viver sua Verdadeira Vontade. Um mundo onde deuses se enfrentam em guerra é um mundo fadado ao fracasso e a auto destruição. “tu não tens direito senão fazer a tua vontade. Faze aquilo, e nenhum outro dirá não” AL I 42-3

Ter conosco os indivíduos das classes baixa e média baixa, nos garantirá a presença da energia que falta para o alargamento das nossas forças e poder mágiko, a energia da confraternidade, além de dar a capacidade e abertura para que essas pessoas tenham acesso ao conhecimento superior, visto que eles já estão sendo vitimas da lavagem cerebral dos pastores e padres mal intencionados, que escolhem o Antigo Testamento como fonte para pregar noções criminosas de vingança, ódio, assassinato, para tipos ideais de comportamento, ao invés de se focarem no Novo Testamento, que é o extremo oposto, pois este fala de amor e perdão. Então, já que o Cristianismo está falhando na educação espiritual do povo, que possamos ser aqueles que educam da maneira correta, construtiva e baseada em Lux, e não em Nox, pois esse segundo não precisa de professores, mas o primeiro, sim.

O primeiro parágrafo desse texto foi escrito por um motivo bem sério e pode ter passado batido pelo leitor, mas está lá descrito a situação que vi naquela Ordem, onde altos iniciados, pioneiros, utilizando como nomes mágikos, personagens de religiões nativas, como a Umbanda, e ao mesmo tempo, ter membros zombando dessa religião, sem ao menos perceber que estavam indiretamente zombando dos seus superiores. O que pode ser mais ignorante, baixo e elitista do que isso?


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Uma resposta em “A ausência dos mais pobres nas Ordens Secretas e porque isso é um problema”

A Iluminação presumiria entre outras qualidades vencer seus próprios medos e limitações. E me chega um playboyzinho em Ordem Secreta com medinho de ajudar sem teto porque não quer encarar elementais???

Só pode ser piada…

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