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Sitra Achra

A sombra como via transformadora – Satanomicon

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A sombra é a parte rejeitada da personalidade em benefício de um ego ideal. Este ego ideal é aquilo que realmente o ser humano aprecia e quer mostrar a sociedade. Não obstante, se uma parte de nós é reprimida, ela se locomove para o inconsciente e, então, torna-se hostil. Por outro lado, a sombra é extremamente vital e criativa, mágica mesmo. Ela contém não só a nossa porção infantil, problemas emocionais, repressão neurótica, mas também nossos dons não desenvolvidos. Por fim, a sombra também possui aspectos positivos, que, por alguma razão, não se desenvolveram de forma adequada, ou seja, que não atingiram o nível da consciência.

O maior enfoque satânico no trabalho com a sombra está nas palavras do psicanalista junguiano Erich Neumann: “O self fica escondido na sombra; ela é a guardiã dos portais, a guardiã da entrada. O caminho para o self é através dela; por trás do aspecto escuro que ela representa esta o aspecto da totalidade, e é só fazendo amizade com a sombra que ganhamos a amizade do self.”  Este é o sentido mais profundo, religioso, em que o homem estabelece contato com o centro divino inerente a si mesmo. Jung já dizia que “Uma pessoa não se torna iluminada ao imaginar formas luminosas, mas sim ao tornar consciente a escuridão. Esse último procedimento, no entanto, é desagradável e, portanto, impopular”.

 

O segundo enfoque é que todo o conjunto representado pela sombra traduz o poder oculto do lado obscuro da natureza humana. O método de trabalho com a sombra, como via de transformação, traz as seguintes vantagens:

·        Estabelecer a auto-aceitação total, baseada no auto-conhecimento.

·        Trabalhar o lado negativo de forma producente

·        Eliminar qualquer senso de culpa em relação à aceitação desse lado negativo

·        Reconhecer as projeções em cima de terceiros, como espelho de si mesmo

·        Tornar-se mais autêntico, mais íntegro, mais centrado no cotidiano e, por via de conseqüência, um ego sadio

·        Extravasar o riso e a alegria, que conduzem a uma forte personalidade

·        Revelar os talentos ocultos no inconsciente

·        Liberar toda a energia reprimida

·        Conduzir adequadamente o sexo oposto, dentro de si

·        Usar a imaginação criativa em todos os aspectos da vida, inclusive a arte da magia, o estudo do sonho e a eliminação da ilusão

·        Permitir o acesso às experiências transpessoais mais profundas

O constante combate do ser humano com a sombra, através da sua força de vontade, apenas joga energia ao inconsciente, de onde ele se manifestará de forma perniciosa, compulsiva e projetada.  A razão é que a sombra representa padrões energeticamente carregados e esta energia não pode ser simplesmente detida pela vontade e, se pudesse, converter-se-ia numa espécie de água estagnada, mortífera. É necessária uma recanalização, transformação ou absorção, o que impõe a aceitação e a percepção da sombra como via de desenvolvimento pessoal. Jung já dizia que nenhum complexo é patológico por si, ou seja, qualquer complexo só é patológico se está oculto ao ser humano, pois passa a lhe dominar.

Tudo o que veementemente acusamos ou aceitamos nos outros, bem como os atos falhos, sintomas de vergonha ou culpa etc. são pistas para o reconhecimento da sombra.

Um ego forte não é egolátra. Na verdade, a egolatria é sinônimo de ego fraco. O ego forte possui um relacionamento adequado tanto com a sombra, quanto com o Self. O ego nunca é diminuído no processo de integração, apenas se torna menos rígido, mais volátil.  A individuação só ocorre com um ego forte.

Diz a obra[1] que “Ajudar os filhos a se desenvolver corretamente a esse respeito, no entanto, não é nada simples. A pregação moralista por parte dos pais, da igreja, da sociedade etc., geralmente é ineficaz ou até mesmo perigosa. De muito maior importância é o tipo de vida que os pais realmente levam e o grau de honestidade psicológica que possuem. A pregação moralista por parte dos pais hipócritas é mais do que inútil.” Continuando… “Quando a criança fica furiosa com seu irmão, talvez uma atitude do gênero, ‘Eu entendo que você esteja furioso com seu irmão, mas você não pode jogar uma pedra nele’, possa encorajar a criança a desenvolver a repressão necessária sobre seus instintos e afetos mais violentos, sem se afastar do seu lado escuro.” Isto também evita o problema da sombra branca ou positiva.

O problema de a pessoa fixar-se única e exclusivamente na sombra seria o mesmo que criar uma sombra branca, neste caso o lado bom é que seria reprimido, enquanto o lado mau seria expresso pelo ego. Tal situação decorre principalmente por estados patológicos na infância, que levaria a uma personalidade psicopática. A pessoa se torna uma espécie de Mr. Hyde sem o Dr. Jekyll. Então, o mal arrasta a si, a todo mundo à sua volta e, ao final, destrói a própria pessoa. Por esta razão é que grupos pseudo-satanistas, que se envolvem na prática de sacrifícios humanos, cultuando exclusivamente o lado negativo, não conseguem sobreviver muito tempo, sempre ocorre uma desgraça e o grupo se dissolve. Quando a pessoa é incapaz de valorizar o seu potencial positivo e se desvaloriza em excesso ou, ainda, quando é o seu próprio lado negativo quem toma conta da personalidade, ocorre então a chamada sombra branca. Neste caso, são os valores positivos é que passam a fazer parte da sombra. Ao invés disso, o Satanismo trabalha através da aceitação da sombra, mas SEM reprimir o lado positivo, que já está naturalmente (ou quase naturalmente) assentado. O resultado é que o ser humano se torna mais centrado, íntegro, e permite o restabelecimento do eixo ego-Self.


[1] Idem.


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