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Marie Laveau

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(1801-1881)

Embora existam muitas informações sobre Marie Laveau nas lendas e tradições de Nova Orleans, separar os fatos do mito tornou-se um desafio atualmente. Quase tudo o que se sabe sobre ela tem origem na tradição oral secreta dos praticantes do vodu, que foi embelezada com boatos e drama, transformando uma personalidade já grande em algo ainda maior que a própria vida. Marie Laveau, conhecida hoje como a Rainha Voodoo de Nova Orleans, era descendente de indigenas, colonos brancos, negros, tanto de escravizados estadunidenses como livres no Haiti.

Os primeiros colonos brancos da Louisiana eram franceses, geralmente a segunda geração de aristocratas que deixaram a França em busca de aventura no Novo Mundo. Esses franceses passaram a ser chamados de crioulos e constituíam a elite de Nova Orleans. A palavra foi usada posteriormente para se referir tanto aos franceses brancos quanto às pessoas de cor em Nova Orleans. Acredita-se que ela tenha nascido em 10 de setembro de 1801 no bairro francês de Nova Orleans, filha não reconhecida de Charles Laveau, um rico proprietário de plantação crioula e sua Marguerita negra, filha de indígenas Choctaw. Marie cresceu na plantação de seu pai, onde foi educada e estudou para se tornar cabeleireira.

Desde cedo recebeu uma educação católica mas também foi instruída nos mistérios tradicionais da Africa e América por sua mãe e principalmente sua avó. Ela nunca teve problema em misturar os caminhos espirituais e por toda vida praticou as crenças espirituais do lado materno ao mesmo tempo que ia – exortava que suas clientes fossem – a missa católica diariamente.

Em 4 de agosto de 1819, Marie Laveau casou-se com Jacques Paris, um carpinteiro negro livre do Haiti, e mudou-se para o bairro francês de Nova Orleans. A certidão de casamento do casal está preservada na Catedral de St. Louis em Nova Orleans e contém os nomes dos pais de Marie: Charles Laveau e Marguerite Darcantrel. Marie era descrita como alta, bonita e esbelta, com cabelos pretos cacheados e pele dourada. Seu marido fez parte de uma grande imigração haitiana para Nova Orleans que ocorreu em 1809, após a Revolução Haitiana de 1804 que ajudou a reviver i interesse pelo vodu e outras práticas culturais de base africana no Sul dos Estados Unidos.

Em 1824 o marido desaparece e é dado como morto. Não se tem mais notícia alguma sobre ele, mas Marie insistiu que ele havia morrido e que ela era viúva, embora haja evidências de que ele possa simplesmente ter abandonado. Seja como for, morto para ela,  Marie ficou com os dois filhos do casal para criar sozinha. Seguindo o costume da época, Laveau começou a se autodenominar a Viúva Paris e começou a trabalhar como cabelereira atendendo as ricas mulheres brancas e crioulas de Nova Orleans.

Com um trato social que beirava a genialidade, Marie atraiu naturalmente muitas dessas mulheres que a consideravam uma confidente, confessando a ela seus segredos e desejos mais íntimos sobre seus maridos e amantes, suas propriedades e famílias, as amantes e negócios de seus maridos. Marie as ajudava com orientações espirituais e remédios naturais a base de ervas e práticas tradicionais para afastar todo tipo de mal e atrair toda forma de fortuna. Muitas pessoas a procuravam em busca de orientação e ajuda com problemas de saúde e outros assuntos.

Por volta de 1826, se uniu em um relacionamento com Louis Christophe Dumesnil de Glapion, membro de uma importante família local com quem viveu com até sua morte em 1855. Contudo seu nome de solteira Marie Laveau já era forte e conhecido e ela o manteve até o fim da vida. Christophe e Marie nunca se casaram, mas tiveram quinze filhos, um atrás do outro até que em um dado momento ela largou a carreira de cabeleireira para dedicar completamente primeiro a criação dos mesmos e em seguida a suas atividades como líder espiritual.

Suas clientes do salão de beleza a acompanharam, e trouxeram outros interessados. Laveau combinava sem pudor as crenças vodu e tradições católicas – água benta, incenso, estátuas do santos e orações cristã, mas suas crenças básicas incluíam o reconhecimento de forças espirituais, que podem ser gentis ou maliciosas, que presidem a vida cotidiana e intercedem na vida de seus seguidores. A conexão com esses espíritos poderia ser alcançada por meio da dança, música, canto e pelo uso de cobras.

Marie Laveau rapidamente assumiu o domínio como a Rainha do Voodoo de Nova Orleans, assumindo o comando dos rituais e cerimônias públicas do Voodoo realizadas na Congo Square, um dos poucos locais na rigidamente segregada Nova Orleans onde pessoas de diferentes raças podiam se misturar livremente.  Laveau obteve uma boa renda e tornou-se célebre vendendo gris-gris (um patuá originário da África que se acredita proteger o usuário do mal ou trazer sorte), amuletos, pós mágicos para curar doenças, conceder desejos e confundir ou destruir os inimigos. Ela também lia a sorte, dava conselhos sobre amor e preparava gris-gris personalizados para quem precisasse efetuar uma cura, encantamento ou feitiço.

Ela também dirigia outras operações na ‘Maison Blanche’ (a Casa Branca) que funcionava  tanto como um local para reuniões secretas de vodu como como um bordel. As luxuosas festas realizadas na Maison Blanche ofereciam champanhe, boa comida, vinho, música e orgias.

Alguns estudiosos acreditam que os temidos poderes mágicos de adivinhação de Laveau foram, na verdade, baseados em sua rede de informantes que ela desenvolveu enquanto trabalhava como cabeleireira nas casas dos proeminentes. Ao visitar seus clientes (principalmente brancos), ela ouvia atentamente suas fofocas. Ela também parecia se destacar em obter informações privilegiadas sobre seus patronos ricos, instilando medo em seus servos, a quem ela pagava ou “curava” de doenças misteriosas.

Embora um jornal local uma vez tenha se referido a ela como “a notória bruxa que reina sobre os ignorantes e supersticiosos como a Rainha dos Voodoos”, ela também era universalmente temida por seu poder (com inúmeras histórias do que ‘aconteceu’ com quem quer que a ofendesse). As festas no Maison Blanche nunca foram invadidas pela polícia, que também temia as consequências de cruzar a linha com Marie.

Ao mesmo tempo, ela curava os doentes e era considerada por muitos admiradores como uma santa viva devido ao seu trabalho humanitário. Ricos e pobres buscaram a ajuda de seus poderes sombrios para atrair amantes, ganhar fama e fortuna, engravidar e se vingar de outras pessoas.

Marie II

Sua filha mais notável foi Marie Laveau Glapion – aka Marie II. Ela nasceu em 2 de fevereiro de 1827, e foi uma das 15 crianças que lotavam a casa de Saint Ann Street. Nunca se soube se sua mãe escolheu o papel para sua filha, ou se Marie II escolheu por si mesma seguir os passos de sua mãe. Segundo alguns relatos, ela compartilhava muitas características de sua mãe e era em muitas ocasiões confundida com ela e provou ser uma talentosa alcoviteira, capaz de satisfazer os desejos de qualquer homem por um preço.

Embora Marie II tentasse seguir os passos da mãe no seu trabalho vodu, ela nunca igualou a fama de sua mãe por aparentemente, não possuir nem o mesmo calor, nem a mesma compaixão de sua mãe e por inspirar mais medo e menos encanto do que ela. Ela supostamente se afogou em uma grande tempestade no Lago Pontchartrain na década de 1890. Estranhamente, quando Marie II morreu, Marie I parecia passar para a obscuridade. Como o público não fazia distinção entre mãe e filha, a morte de uma acabou com a carreira da outra.

Foi por volta de 1875 que Marie Laveau I fez sua última aparição pública e anunciou que estava se retirando para sua casa na pacífica Saint Ann Street, no bairro antigo. Mas ela nunca se aposentou completamente e continuou seu trabalho até pelo menos 1875, época em que se dedicou a visitar ativamente os pobres e presos, e ainda ofertar leitura oracular em sua casa. Com suas habilidades curandeira realizava pequenas cirurgias, mas principalmente prestava os últimos cuidados aos prisioneiros no corredor da morte.

Em 15 de junho de 1881, Marie Laveau morreu pacificamente em sua casa na Saint Ann Street aos 86 anos. Há relatos contudo de que ela continuou sendo vista na cidade após esta data. O eminente escritor Lafcadio Hearn referiu-se a ela como “uma das mulheres mais gentis que já viveu”. Sua fama garantiu obituários proeminentes no New Orleans Times-Picayune e no New York Times. Os repórteres a pintaram nos termos mais gloriosos – uma figura santa que cuidou dos enfermos e orou incessantemente com os doentes e condenados.

Marie Laveau foi enterrada em Saint Louis Cemetery na cripta da família Laveau-Glapion. Os enterros estão em abóbadas acima da superfície do solo; a maioria construída nos séculos XVIII e XIX. As tumbas acima do solo são necessárias aqui porque os níveis do lençol freático tornam o enterro impraticável em Nova Orleans. Os três cemitérios permanecem relativamente intactos após o furacão Katrina.

Angela Bassett interpreta Marie Laveau em AHS

Como não poderia deixar de ser seu túmulo é o que atrai mais visitantes. A cada ano centenas de visitantes fazem uma peregrinação regular ao local onde, segundo a tradição, o espírito de Marie interviria pessoalmente para qualquer um que deixasse uma oferenda de moedas, contas de Mardi Gras, flores, rum ou velas.Há outra cripta no cemitério nº 2, conhecida como Wishing Vault ou Voodoo Vault (Cofre dos Desejos ou Codre Voodoo), onde os visitantes ilegalmente desenham ‘XXX’ em sua laje branca, na esperança de que o espírito de Laveau lhes conceda um desejo.

Como ocorreu com muitos ocultistas na história a figura de Marie Laveau tornou-se conhecida e ela tornou-se um personagem popular em diversas peças. Neil Gaiman a apresenta em American Gods, Thomas Wheeler em The Arcanum, Jewell Parker Rhodes em Voodoo Dreams. No cinema, ela é mencionada como antepassada de um lobisomem em “Cry of the Werewolf” e na terceira temporada de American Horror Story, é personificada pela atriz Angela Bassett.

FONTES:
Women in History
Wikipedia: Marie Laveau
The Marie Laveau Phenomenon
Marie Laveau: New Orleans Voodoo Queen

pesquisa de Natalia Maraani


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