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Lenda de Lâmia

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Shirlei Massapust

São Jerônimo substituiu Lilith por Lamia em Isaías 34:14 ao produzir a Vulgata. Procurei saber o que ou quem era Lâmia. O primeiro dicionário que vi pela frente forneceu três conceitos:

1. lamia, -ae, subs. F. Vampiro, papão com que se amedrontavam as crianças (Horacio. Arte Poética 340). 2. Lami, -ae, subs. Pr. M. Lâmia, sobrenome da família Élia (Cícero. Pro Sestio 29). 3. Lamianus, -a, -um, adj. De Lâmia (Cícero Epistulae as Atticum 12, 21, 2) [1].

Consultando as fontes verifiquei que Horácio aconselhava seus leitores a não misturar ficção com realidade: “Não exija a fábula que se acredite em qualquer coisa que queira, nem extraia vivo do ventre de Lâmia o menino por ela almoçado” (Arte Poética 339-340) [2].

Sobre o item 2, “sobrenome da família Élia”, Cícero (106 a.C. – 43 d.C.) criticou o cônsul romano que baniu e causou a morte de Lucius Lamia, pois ele era amigo íntimo deste e de sua família ao mesmo tempo em que era inimigo político do cônsul (Cícero. Pro Sestio 29).

A historiografia demonstra que alguns já detestavam a família Lamiae há muito tempo, pois o fragmento de katádesmos (séc. IV a.C) de referência IL 997 pertencente ao acervo do Museu de Ágora em Atenas atesta que havia um comerciante chamado Sósias de Lamian (Σωσία[ν] τòν Λάμιον) trabalhando em associação com dois ferreiros, Arista e Pirrían, cujas atividades e almas foram simbolicamente enterradas na base do muro de uma casa no antigo distrito comercial de Atenas por meio de uma maldição para causar má sorte ou morte. Logo, realmente havia uma família humana com esse patronímico [3].

Bruxaria Fabulosa

A comédia O Asno de Ouro rotula uma estalajadeira chamada Méroe, muito agradável apesar da idade, que transformou um andarilho chamado Sócrates (que não é o filósofo) em seu escravo sexual.

VIII. É uma mulher demoníaca. Contém tua língua, se não queres atrair nenhum malefício. (…) Mágica e adivinha, tem o poder de abaixar o céu, de suspender a terra, de petrificar as fontes, de diluir as montanhas, de sublimar os manes e derrubar os deuses, de apagar as estrelas e iluminar o Tártaro. (…) Queres saber, — disse ele, — uma ou duas de suas façanhas? Ou queres ouvir muitas? Faz-se amar até à loucura por homens que habitam, já não digo somente esta região, mas a Índia, mas as duas Etiópias, e até os antípodas, e para ela isto é a infância da arte, e mera bagatela. Mas ouve o que ela perpetrou, diante de diversas testemunhas. IX. Um de seus amantes cometeu a temeridade de lhe ser infiel. Com uma única palavra, ela o transformou em castor, a fim de que ele tivesse o destino daquele animal selvagem que, por temor do cativeiro, corta as partes genitais para se livrar dos caçadores. O dono de uma casa de prazer vizinha, e, que, por isso mesmo, lhe fazia concorrência, foi trocado por ela em rã. Agora, o velho nada no tonel e, mergulhado no limo, saúda com toda a cortesia, com os seus coaxos roucos, aqueles que outrora vinham beber do seu vinho. De outra feita, um advogado tinha falado contra ela. Foi transformado em carneiro, e agora temos um carneiro que advoga. A mulher de um de seus amantes se permitira, contra ela, umas brincadeiras um pouco ferinas. Essa mulher estava grávida: ela aprisionou no ventre o fruto e, demorando-lhe o desenvolvimento, condenou a moça a uma gravidez perpétua. Há oito anos, segundo a conta de alguns, a desgraçada arrasta seu fardo, com o ventre esticado, como se fosse dar à luz um elefante. X. A repetição de tais fatos, e o número das vítimas, fez crescer a indignação pública. Decidiu-se que, no dia seguinte, castigá-la-iam sem piedade, lapidando-a. Porém, ela previu o plano em virtude de seus sortilégios. Do mesmo modo que a famosa Medéia que, tendo obtido de Creon um dia somente de adiamento, consumiu nas chamas lançadas de uma coroa toda a casa do velho rei, sua filha e ele próprio, assim Méroe, operando sobre uma cova, com ritos sepulcrais, conforme me contou recentemente, num dia em que estava bêbada, manteve todos os habitantes da cidade fechados em suas casas pela força muda das potências divinas. Ninguém pôde forçar as fechaduras, nem arrancar as portas, nem mesmo furar as paredes, durante dois dias inteiros. Por fim, pela instigação de uns e outros, a uma só voz gritaram e juraram, com o juramento mais sagrado, que nenhum deles levantaria a mão contra ela, e que, se alguém resolvesse o contrário, ela encontraria neles auxílio e proteção. Sob estas condições, ela abrandou e libertou a cidade inteira. Quanto ao autor do plano, numa noite escura ela o transportou com toda a sua casa (…) para um lugar a cem milhas de distância, numa outra cidade, situada no mais alto pico do mais escarpado morro, e, por essa razão, privado de água. E, como as habitações estivessem muito apertadas para darem lugar a uma forasteira, atirou a casa diante da porta da cidade e se foi [4].

O personagem Aristômenes encontrou seu amigo vivendo na mendicância e ficou surpreso, pois comparecera ao funeral simbólico que a família fizera diante do longo período de ausência do mesmo. Eles planejaram fugir, mas foram achados. A punição de Aristômenes foi bastante branda e humanamente possível:

XIII. Pância respondeu: “Que achas minha irmã, de primeiro despedaçarmos esse homem, como fazem as bacantes, ou de lhe ligarmos os membros, e cortar-lhe o instrumento da virilidade?” “Não”, replicou Méroe. (…) Depois, agachadas, com as pernas separadas acima de meu corpo, esvaziaram sobre mim a bexiga, e me deixaram inundado de imunda urina. (…) XVII. (…) As Lâmias me haviam emporcalhado [5].

A punição de Sócrates foi bastante surreal:

XII. Vejo duas mulheres de idade muito avançada; uma levava uma lâmpada acesa, outra uma esponja e uma espada nua. Assim equipadas, cercaram Sócrates, que dormia serenamente, e aquela que tinha a espada falou: “Aqui está ele, Pância, minha irmã, o caro Endimião; ei-lo, o meu Catâmito, que por muitos dias e muitas noites se aproveitou da minha idade terna demais, e aqui está, desprezando meu amor. Não contente de me difamar, ainda se prepara para fugir. E eu, sem dúvida, nova Calipso, abandonada pelo astucioso Ulisses, chorarei e lamentarei a minha solidão eterna”. (…) XIII. (…) E, inclinando para a direita a cabeça de Sócrates, mergulhou a espada inteira, até o punho, no lado esquerdo da garganta; depois, aproximou um odrezinho e recolheu o sangue que jorrava, diligenciando para que nenhuma gota se perdesse. (…) Para conservar, creio, a essa imolação, todas as características de um sacrifício, a doce Méroe introduziu a mão direita no ferimento, remexeu até o fundo das entranhas, e retirou o coração do meu desgraçado camarada. A violência do golpe tinha-lhe cortado a garganta e ele, deixando escapar pela fenda um som que não passava de um vago sopro, exalou o último suspiro. Pância, com uma esponja, tampou a larga abertura, dizendo: “Esponja, tu que nasceste no mar, guarda-te de atravessar um rio”. Feito isto, retiraram-se, empurrando o catre [6].

Sócrates permaneceu vivo e sem marcas de cortes durante várias horas até agachar para beber água fazendo a esponja cair. “Não tinha ainda atingido com os lábios a superfície da água, quando profundo e largo ferimento se abriu em seu pescoço, a esponja bruscamente escapou, seguida de um filete de sangue [7]”.

Bruxas Caçadas

Gordon Melton resumiu um episódio da Vida de Apolônio, narrado pelo antigo historiador grego Philostratus, onde um dos alunos de Apolônio, de nome Menipo, foi atraído por uma mulher fantasmagórica. Foi dito a ele quando poderia encontra-Ia num subúrbio da cidade de Corinto. O jovem apaixonou-se e pensou em casar-se com ela. Quando relatou essa história a Apolônio, este convenceu o rapaz de que ele estava sendo perseguido por uma serpente. Comparecendo à cerimônia do casório, Apolônio falou a Menipo sobre a noiva:

Esta bela mulher é uma das vampiras (empusai), isto é, um daqueles seres que muitos consideram lamiai e Demônio (mormolykiai). Esses seres se apaixonam, pois se dedicam aos prazeres de Afrodite, mas especialmente na carne dos seres humanos, e seduzem com delícias os que pretendem devorar em seus banquetes”. Apesar dos protestos de Menipo, Apolônio confrontou a lamia com os fatos. Um a um, os elementos de seu ambiente desapareceram. Ela finalmente admitiu seus planos e seu hábito de se alimentar “em corpos jovens e bonitos porque seu sangue é puro e forte [8].

A narrativa descreve a acusação de uma bruxa. Não é impossível que existissem canibais na Grécia posto que outro historiador grego, Pausânias, visitou o santuário de Zeus no alto do monte Licáon na Arcádia, onde ouviu rumores sobre rituais secretos oficiados no topo, rituais esses instituídos por um povo que os gregos definiam como “mais velho do que a lua”. O ritual causava indignação dos não participantes, inclusive de Pausânias que guardou os costumes da piedade clássica, recusando-se a divulgar detalhes sobre aquilo que outros chamaram de “o inominável sacrifício” — o assassinato anual, esquartejamento e repasto comunitário de uma criança no cume da montanha — e escreveu: “Não senti nenhum prazer em sondar a respeito deste sacrifício. Deixemos ficar como está e como sempre foi desde os primórdios” [9].

O problema é que talvez esta “bruxa” específica fosse alvo de falsa acusação, pois existe a acusação da realização de algo humanamente impossível no relato compilado por Philostratus: A saber, o aparecimento e desaparecimento instantâneo de metais preciosos! Supondo que esta lâmia existisse e que trabalhasse em conjunto com ferreiros, assim como o comerciante ateniense Sósias de Lamian, esta mulher de naturalidade fenícia, dona de um estabelecimento no subúrbio de Cencreas (hoje Kenri), em Corinto, poderia armazenar obras de ourivesaria que ficavam lá hora sim hora não. Quando Menipo viu-a cercada de ouro e prata pensou que era extraordinariamente rica, mas Apolônio equiparou o armazém da oficina metalúrgica com “os jardins de Tântalo, que são embora não sejam” [10]. Ele fez com que todos os objetos valiosos sumissem (possivelmente carregado embora). Quando a noiva avistou o galpão vazio ela começou a chorar e implorou que eles não a acusassem de crime:

 Cuando las copas de oro y lo que parecía plata demostraron ser cosas vanas y volaron todas de sus ajas, y los escanciadores, cocineros y toda la servidumbre de este jaez se esfumaron al ser refutados por Apolonio, la aparición pareció echarse a llorar y pedía que no se la torturara ni se la forzara a reconocer lo que era. Al insistir Apolonio y no dejarla escapar, reconoció que era una empusa y que cebaba de placeres a Menipo con vistas a devorar su cuerpo, pues acostumbraba a comer cuerpos hermosos y jóvenes porque la sangre de éstos era pura.

En esta narración, precisamente la más famosa de las de Apolonio, me he extendido por obligación, pues la mayoría de la gente sabe que tuvo lugar en media de Grecia, pero tienen idea en general de que venció una vez en Corinto a una lamia, pero lo que hacía y que fue en favor de Menipo, no lo saben aún [11].

Seria cômodo se Apolônio agisse como sicofantas para livrar seu companheiro da noiva que, naturalmente, teria de se auto-exilar para escapar dos credores. Assim “lâmia” poderia desaparecer do mapa como se fantasma fosse. Tal como a mitológica Medéia, guardiã do velocino de ouro, a mulher estrangeira se encantou por um grego sem poder lhe dar filhos de sangue puro (os gregos eram extremamente racistas). Casando com ela, Menipo estaria se condenando ao esquecimento ou oblivio nos tempos futuros (pior coisa que poderia acontecer com um grego). E ainda contrairia matrimônio com uma companheira bárbara de classe média ou baixa. Então Apolônio acreditava estar fazendo um bem a Menipo.

Foi somente após o advento do cristianismo que a família Lâmia encontrou a paz social e aceitação na comunidade. Lucius Lamia, cristão, foi o seu último mártir.

Vitimas de maldições

Conforme exposto a historiografia não prova que o clã Lamiæ era composto por feiticeiros canibais. Por contrário, às vezes a lâmia (λάμια) e o lâmion (λάμιον) pareciam ser vitimas da inveja e pelo menos uma vez foi feita feitiçaria contra eles. Assim diz o katádesmos (séc. IV a.C) ou tablete de chumbo IL 997 do Museu de Ágora:

Eu enterro Arista[rchos] (…) e sua atividade de forja em bronze no fundo da terra junto com Pyrrias, o metalúrgico, seus respectivos ofícios e almas. Deles e de Sósias de Lamian, sua atividade e alma. E Agesion para sempre. Agesion, a Beócia [12].

Na crendice popular da época os que tinham os nomes e atividades escritos em chumbo e enterrados dessa forma estavam condenados a enfraquecer até a morte por meios mágicos. A propósito, se não ocorreu caso de homonímia e eles fossem mesmo descendentes de uma Rainha da Líbia, nunca vi gente tão azarada quanto essa família: Eles eram nobres que se tornaram comerciantes expatriados, caçados e mortos sob as acusações mais estapafúrdias, tal como Lucius Lamia e talvez a noiva de Menipo.

Mitologia Grega

Acredito que a lâmia da narrativa de Philostratus, se for personagem histórico, não era uma canibal. Afinal ela foi tremendamente constrangida e chorou pedindo para não ser acusada. Porém a personagem mitológica de nome ou título homônimo era uma criatura sanguinolenta e inumana.

Lâmia era o nome de um monstro feminino que roubava crianças. Dizia-se que era filha de Belo e de Líbia. Também se dizia que Zeus, unido a Lâmia, dera-lhe diversos filhos. Mas toda vez Hera, ciumenta, mandava matar a criança. Desesperada, Lâmia se escondeu numa caverna e transformou-se num monstro ciumento da felicidade das mães e devorador de meninos. Diz-se que para completar sua vingança Hera lhe tirou o sono, e ela jamais dormia. Mas Zeus se apiedou e deu-lhe o poder de tirar os olhos e colocá-los quando lhe aprouvesse. Quando bebia muito vinho, Lâmia tirava os olhos e os colocava num vaso junto dela, e então dormia, e não era de temer. De outras vezes errava noite e dia, sem dormir, e roubava crianças para comer [13].

O jovem personagem Alcioneu quase se transformou numa vítima:

Havia um jovem de Delfos, cujo nome era Alcioneu, dotado de grande beleza e de costumes exemplares. Nesse tempo, nas encostas do Monte Círfis, nas cercanias de Delfos, vivia numa gruta um monstro, chamado Lâmia, ou ainda Síbaris. Saía da sua furna e andava pelas vizinhanças, devastando rebanhos e matando gente. Os habitantes da cidade foram consultar o oráculo, para saberem como se desembaraçar de semelhante flagelo. Apólo ordenou que se oferecesse em sacrifício ao monstro um moço da cidade, e a sorte recaiu em Alcioneu. Os sacerdotes o coroaram e o levaram em procissão para junto do monstro. No caminho encontraram Euríbates, filho de Efêmio, um jovem nobre, descendente do Rio Áxio. O moço perguntou a razão da cerimônia. Soube que iam sacrificar Alcioneu e, vendo-o tão belo, se apaixonou perdidamente por ele. Não podendo libertá-lo pela violência, pediu para ser sacrificado em seu lugar. Os sacerdotes consentiram na troca e lá se foi Euríbates, coroado, para a caverna do monstro. Mal atingiram a entrada da gruta, ele ali penetrou rapidamente, agarrou Lâmia, arrastou-a para fora, e bateu-lhe com a cabeça repetidas vezes contra os rochedos. Estalando a cabeça do monstro, este desapareceu e em seu lugar jorrou uma fonte que se chamou Síbaris [14].

Parece que essa Lâmia monstruosa era neta da semideusa Lâmia, filha de Poseidom, que foi Rainha da Líbia. Existem outras lamiæ mitológicas posteriores acusadas de causar calamidade. Gordon Melton apresenta novidades:

Lamia, posteriormente, virou protótipo de uma classe de seres modelados à sua imagem, descritos como mulheres de aparência rude, deformadas e com a parte inferior do corpo em forma de serpente. Os pés não eram emparelhados, sendo um feito de latão e o outro com a forma de pata de animal, geralmente a de um bode, jumento ou boi. As lamia eram tidas principalmente como seres demoníacos que sugavam o sangue de crianças pequenas; entretanto, tinham o poder de se transformar em lindas donzelas a fim de atrair e seduzir homens jovens. (…) As pessoas logo perderam seu medo das lamia e, mesmo em tempos ancestrais, elas tinham se tornado um meio de os pais assustarem seus filhos. Entretanto, quando uma criança morre de repente de causa desconhecida, um ditado ainda popular na Grécia sugere que a criança foi estrangulada por uma lâmia [16].

Ruth Guimarães define lâmias como “seres meio mulheres, meio pássaros, como as Estriges e como as Harpias”. Outros dizem que lâmias possuem pés de bode. Outros ainda afirmam que lâmias não possuem pés nem pernas porque os corpos, da cintura para baixo, são como as caudas das serpentes. “Transformavam-se em animais para mutilar os cadáveres”.[17] Chamavam-se também Lâmias aos “gênios femininos que sugavam o sangue dos jovens [18]”. Com o pasar do tempo o mito continuou a mudar conforme a imaginação dos compiladores. Jean Bodin conhecia um tratado de bruxaria chamado De Lamÿs, de autoria de Pierre Marmor, dedicado ao imperador Sigsmund, que dava à lâmia o poder de metamorfose do lobisomem.

De acordo com Matthew Bunson “as lamiae foram também chamas larvae e lemures, as vezes confundidas com a empusa”. Foi digno de nota informar que a personagem Miriam Blaylock do livro The Hunger (1981), de Whtley Strieber, declarava-se lâmia. [19] Uma lâmia gótica moderninha que, na versão cinematográfica de 1983, assiste show ao vivo da banda Bauhaus, se envolve com um personagem interpretado por David Bowie e usa um punhal disfarçado de pingente na forma de ānkh egípcio para sangrar seus amantes.

Mormō, a mulher lobo 

Philostratus fala como se Lâmia fosse um equivalente a Mormō (Μορμώ), um monstro mitológico de sexo feminino. Aristófanes usa Mormō (Μορμώ) em sentido figurado para descrever a expressão facial de pessoas emburradas, feias como as máscaras votivas que representavam aquela monstrenga (Archanians 582ff; Peace, 474ff). A forma estendida comum Mormolykia (Μορμολύκια), Mormolykeia (Μορμολύκεια), Mormolykeio (μορμολύκειο) ou Mormolykê (Μορμολυκη), parece indicar um ente cinocéfalo; ou seja, com cabeça de lobo (λύκος). É portanto uma mulher lobo.

Notas:

[1] FARIA, Ernesto (org). Dicionário Escolar Latino-Português. Brasil, 1969. Ministério de Educação e Cultura, p 546.

[2] Em latim “ne quodcumque volet poscat sibi fabula credi neu pransae Lamiae vivum puerum extrahat alvo”. (Horacio. Arte Poética 339-340).

[3] CANDIDO, Maria Regina. A Feitiçaria na Atenas Clássica. Rio de Janeiro, Faperj, 2004, p 109.

[4] APULEIO. O Asno de Ouro. Trd. Ruth Guimarães. São Paulo, Cultrix, 1968, p 22.

[5] APULEIO. Obra citada, p 24-26.

[6] APULEIO. Obra citada, p 23-24.

[7] APULEIO. Obra citada, p 2

[8] MELTON, J Gordon. O Livro dos Vampiros. Trd. James Sunderlank Cook.  SP, Makron, 1995, p 341-342.

[9] WALTER, Burker. Homo Necans: The anthropology of ancient greek sacrificial ritual and myths. Berkeley, University of California Press, 1983, p 85. Em: TIERNEY, Patrick. O Altar Supremo. Trd. Dilson Bento de Faria Ferreira Lima. Rio de Janeiro, Bertand Brasil, 1993, p 25.

[10] FILÓSTRATO. Vida de Apolonio de Tiana. Trd. Alberto Pajares. Madrid, Editorial Gredos, 1992, p 252.

[11] FILÓSTRATO. Vida de Apolonio de Tiana. Trd. Alberto Pajares. Madrid, Editorial Gredos, 1992, p 253.

[12] CANDIDO, Maria Regina. A Feitiçaria na Atenas Clássica. Rio de Janeiro, Faperj, 2004, p 43 e 109.

[13] GUINARÃES, Ruth. Dicionário da Mitologia Grega. São Paulo, Cultrix, 1995, p 197.

[14] GUIMARÃES, Ruth. Obra citada, p 32.

[15] MELTON, J Gordon. O Livro dos Vampiros. Trd. James Sunderlank Cook.  SP, Makron, 1995, p 341-342.

[16] GUIMARÃES, Ruth. Nota de rodapé em: APULEIO. Obra citada, p 229.

[17] GUIMARÃES, Ruth. Nota de rodapé em: APULEIO. Obra citada, p 229.

[18] GUIMARÃES, Ruth. Dicionário da Mitologia Grega. São Paulo, 1993. Cultrix, p 197.

[19] BUNSON, Matthew. The Vampire Enciclopedia. New York, Three Rivers Press, 1993, p 150.

[20] BODIN, Jean. De La Demonomanie des Sorcieres, à Monseigneur M. Christoƒle de Thou, chevalier, seigneur de Coeli, premir président de la cour de parlement, conseiller du Roy em son privé Conseil. Paris, Jacques Du Puys, 1587, p 108.


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